Origem: Livro: Breves Meditações sobre os Salmos
Apêndice 1: Pensamentos Sobre os Salmos Finais
Mas esses Salmos finais, posso observar, não apresentam diante de nós os elementos do mundo milenar. Jerusalém, Israel, as nações com seus reis, príncipes e juízes, os céus e a Terra, e toda a criação em toda a sua ordem, são contemplados como na “restauração” e no “refrigério”, mas são detalhados, como lá, apenas em suas circunstâncias. É antes o louvor de tudo o que se ouve. O salmista antecipa as harpas em vez das glórias do reino; e isso é maravilhosamente característico.
Louvores coroam a cena. A visão passa diante de nós com o entoar de todos os tipos de cânticos. O homem tomou o instrumento de alegria em suas mãos; para tocá-lo, no entanto, apenas para a glória de Deus. E este é o resultado perfeito de todas as coisas – a criatura é feliz e Deus glorificado. “Majestade e esplendor há diante d’Ele, força e alegria, no Seu lugar” (1 Cr 16:27).
Que encerramento dos Salmos de Davi! Que encerramento dos caminhos de Deus! A alegria, de fato, veio pela manhã e entoou sua nota para o “único dia eterno”. Louvado seja o Senhor! Amém.
Sim, louvor, todo louvor; fruto incansável e satisfatório de lábios que expressam a alegria da criação e o reconhecimento da glória d’Aquele Bendito. Essa é a justa felicidade.
E aqui, em conexão com isso, e ao encerrar essas meditações, que o pensamento nos anime, amados, de que a felicidade é nossa e para sempre. Pode ter havido um caminho através do Calvário, do desprezo do mundo e da sepultura na morte; mas isso levou à alegria e aos prazeres eternos. O caminho por um período passou pelas águas da Babilônia, mas Jerusalém foi recuperada – como nossos Salmos nos mostraram. O vale de Baca era o caminho para a casa de Deus. Pode ter havido “tribulação”; mas “outra vez vos verei”, disse Jesus.
Quanto ao nosso título a isso, não deve haver nenhuma reserva, nenhuma suspeita em nossa alma. Essa é a nossa porção divinamente designada. Não alcançar a felicidade será o destino apenas de corações rebeldes. Nosso título para aguardá-la vem do próprio Deus. Nosso título reside no sangue de Jesus, o Filho de Deus, o Deus-Homem dado por nós nas riquezas da graça divina; e a fé em nós lê, entende e pleiteia esse título. E não há motivo para hesitar em desfrutar de seus resultados e benefícios – nenhum sequer. Não há mais motivo do que Adão teria para questionar seu direito de desfrutar do jardim do Éden, porque ele nunca o plantou; nem para o arraial de Israel no deserto beber da água da rocha, porque eles nunca a abriram. O jardim foi plantado para Adão, a rocha foi aberta para Israel, assim como o Salvador, e toda a alegria que Sua salvação traz consigo mesma, foi tão simples e seguramente provida para os pecadores. Nossa alma deve fazer disso uma questão de glória de Cristo, e não de nossa dignidade. Ele agiu assim quando Ele estava aqui. Ele nunca levou alguém doente ou mutilado a investigar sobre sua própria aptidão, mas simplesmente a reconhecer Sua mão e Sua glória. “Se tu pode crer”, ou seja, se você está pronto para Me glorificar, para ser devedor a Mim por essa bênção, então aceite-a e seja bem-vindo.
Então, quanto aos nossos recursos. Não se trata apenas de amor, o poder também está de nosso lado. Amor e poder juntos formarão a cena que devemos contemplar para sempre, como esses têm sido nossos “cooperadores” desde o início, ensinando-nos a respeito dos nossos maravilhosos recursos.
Veja-os assim trabalhando juntos em alguns pequenos momentos nos dias do Senhor Jesus. Cinco mil são alimentados com cinco pães e dois peixes. Alimentado até a saciedade – e doze cestos de pedaços sobraram! Isso fala da riqueza do Senhor do banquete, bem como Sua bondade. E que satisfação de coração isso transmite! Se aproveitarmos a generosidade de outra pessoa e tivermos motivos para temer que tenhamos participado do que ela precisava para si mesma, nosso desfrutar diminuirá. Esse temor se intrometerá, e com razão, e estragará nossa tranquilidade enquanto estivermos assentados à sua mesa. Mas quando sabemos que por trás da mesa que nos está preparada, há provisão na casa, esses temores são suprimidos. O pensamento da riqueza do anfitrião, bem como de seu amor, deixa todos à vontade. E deve ser assim conosco em nosso desfrute de Cristo.
Portanto, ao usar Sua força, bem como Sua riqueza, Seus recursos são incomensuráveis. Veja isso na cena de perigo no lago da Galileia. Ele Se mostra no alto, acima de toda a dificuldade que aterrorizava os discípulos. Ele caminha no topo daquelas ondas e em meio aos sopros daqueles ventos, que estavam levando os discípulos ao “limite da capacidade” deles. Que alívio triunfante foi esse para eles! O perigo não era nada na presença de tal Libertador. Quão facilmente Ele poderia manejar um barco para eles na tempestade, Ele mesmo que assim controlava a tempestade sem barco algum! Havia força suficiente e de sobra aqui, assim como havia pão suficiente e de sobra antes, e eles não podiam perecer (veja Marcos 6).
Aqui estão figuras dos nossos recursos! Recorremos a um Senhor rico, bem como amoroso. Usamos um braço poderoso e estendido. Consultamos um Médico que pode curar tanto a morte quanto a doença. É como Davi fala: “de beneficência de Deus” desfrutamos. “A plenitude reside em Jesus, nosso Cabeça”. Somos alimentados, resgatados e curados de maneiras dignas d’Aquele cuja riqueza, força e habilidade não conhecem medida. Seus recursos, e, portanto, os nossos, são gloriosos e insondáveis, e sobram pedaços deixados para quem quiser tomar deles. E o reino vindouro os revelará com perfeição.
Então, depois de assim inspecionar nosso título e nossos recursos, posso somente dizer que, quanto ao caráter da alegria em si, será digno de seu Doador, e se expressará, como encontramos nestes Salmos, em júbilo, como de corações transbordantes, em todos os tipos de melodias. E será uma alegria de qualidade tão rara, da qual nunca se saciará, nunca se cansará, nunca terminará, mas ainda surgirá com mais do que o seu frescor inicial.
Como sabemos, haverá, então, diversas ordens de glória. “Uma é a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres”. Mas ambas serão glória – e glória é o fruto do amor, ou a manifestação do que o amor preparou para o seu objeto.
E esse dia vindouro teve suas sombras no passado. A alegria de Adão no Éden com seus dias de coroação e esposório (Gn 2), o estabelecimento na terra sob José (Gn 47), o encontro com Jetro e o arraial de Israel no monte de Deus (Êx 18); a festa dos Tabernáculos e o ano do Jubileu (Lv 23, 25); os dias brilhantes e prósperos de Salomão, com as nações prestando honras e colhendo suas alegrias em Jerusalém (2 Cr 1-9); o monte santo e suas duas companhias (Mt 17): essas são algumas entre as passadas ou fugidas sombras dessas glórias futuras brilhando juntas, ou em suas várias esferas. Em espírito, podemos cantá-las de antemão e também distinguir suas ordens, celestiais e terrenais, como estes versos de nosso hino testemunham:
“Abençoada manhã! Há muito esperada,
Eis que eles enchem o ar povoado!
Enlutados uma vez, pelo homem rejeitados,
Eles, com Ele exaltado ali,
Cantam Seus louvores,
E compartilham Seu trono de glória.
“Rei dos reis! Que a Terra O adore,
Nas alturas em Seu trono exaltado;
Curvem-se, nações! Curvem-se diante d’Ele,
E Seu cetro justo reconheçam:
Toda a glória
Seja para Ele e para Ele somente!”
Oh, que tenhamos poder para ansiar por tais alegrias nos desejos insatisfeitos de nosso coração no presente! Devemos confiar ampla e ricamente, com certeza desmedida, que somos indescritivelmente felizes.
Mas há que haver reserva neste ponto – que tomemos cuidado para que nossa felicidade esperada seja justa felicidade, tal como Deus pode garantir e o próprio Jesus pode compartilhar (veja Salmo 132). E isso não pode estar na Terra como ela está agora. O evangelho não se propõe a produzir um mundo feliz, ou a replantar o Éden aqui. O retorno da glória, a presença do Senhor, deve fazer isso. Pois onde está a glória, somente ali estão as cenas de regozijos e expectativas corretas. Se a glória deixou a Terra, nossas expectativas também devem deixá-la. Quando ela retornar, nossos deleites e perspectivas podem retornar com ela. Cena feliz, quando tudo voltar a falar de Deus, e Ele encontrar na Terra um descanso para Seus pés tão agradável a Ele em seu lugar quanto Seu trono no céu! E então haverá uma rebelião nas nações por não encontrar sua alegria aqui. O pão dos enlutados não devia ser comido diante do Senhor. E assim, quando se diz de Jerusalém: “O Senhor está lá”, se as nações não subirem para celebrar a festa dos Tabernáculos, se elas se recusarem a se alegrar diante do Senhor, o Rei, elas sofrerão a repreensão e o juízo.
Oh, que, com corações desmamados do mundo e afeições desejosas por Ele mesmo, pudéssemos realmente dizer: “Vem, Senhor Jesus”.
Grande Pai de misericórdias, nós nos curvamos,
Com agradecimentos por nossa liderança acima!
Nem menos, santo Jesus, és Tu
O objeto de louvor e de amor!
Nas três Pessoas gloriosas em Deus,
Cuja soberania todos adorarão,
Por meio de Cristo, e pela fé em Seu sangue,
Nós nos gloriaremos e exultaremos para sempre.
