Origem: Livro: Os Evangelistas
Mateus 26-28
Mateus 26 – 27:61
Esses capítulos nos dão o assunto essencial, as cenas finais da vida de nosso Senhor aqui; Sua morte e ressurreição; tal como é comum a todos os Evangelhos, e também, quanto a um objeto geral, é o mesmo em todos. Há, no entanto, mesmo nessas narrativas comuns, marcas que são características; tal como observei em minhas meditações sobre Lucas e João, já mencionadas.
Em Mateus, não precisamos dessas marcas em partes destacadas da narrativa: é todo este Evangelho, como observei antes, que revela seu propósito, deixando-nos saber que estamos lendo a respeito da questão do Messias com o Israel de Seus dias. Ele assume um caráter bem definido, como vimos agora; sua estrutura e suas partes nos deixam sem dúvidas quanto à sua intenção e objetivo. Ainda assim, encontramos marcas características de uma natureza mais detalhada, se as procurássemos; muitas dessas eu tive ocasião de exibir, enquanto meditava no Evangelho de Lucas. E eu agora gostaria de notar algumas outras coisas que são peculiares a Mateus, e características dele, nestes últimos capítulos.
Acho que podemos observar que nem em Mateus nem em Marcos o Senhor é apresentado tanto em pensamentos de Sua própria elevação e glória pessoal como em Lucas ou João. Ele é visto antes como Alguém que está conscientemente nas mãos do homem, rendendo-se àquela inimizade que, de acordo com este Evangelho, estava em ação contra Ele desde o princípio. Pois a cruz, cumprindo necessariamente o conselho de Deus, na realização da redenção, sob outra luz, era o fruto da inimizade Judaica, o fruto do coração reprovado e revoltado do homem. Ao matar o Senhor Jesus, o homem estava fazendo, por sua própria impiedade, o que Deus, em Suas próprias riquezas de graça, havia determinado antes que fosse feito (Atos 4:28). E Mateus e Marcos colocam esse caráter sobre esse feito.
Em Mateus e Marcos, consequentemente, temos essa cena bem parecida. E ainda assim Mateus tem algumas coisas que o distinguem.
Por exemplo, ele é o único evangelista que percebe a palavra do profeta sobre o campo do oleiro. Aquele campo foi comprado com o preço do sangue do Senhor, e foi feito o lugar para enterrar estrangeiros. E isso tinha um significado para Israel, com quem Mateus tem a ver. O ato de Judas foi o ato de Israel. Ele foi o guia para aqueles que levaram Jesus (Atos 1:16). Foram eles que com mãos perversas o crucificaram e mataram, como o apóstolo lhes diz, e sua terra é “Aceldama” até hoje (Joel 3:21). É o campo de sangue, e o túmulo de estrangeiros. É uma terra contaminada, e os gentios a têm em possessão.
Então, a resposta da multidão a Pilatos, para que pudessem acalmar todos os escrúpulos de sua mente, e que ele pudesse ser levado a fazer com Jesus o que eles desejassem – isso é igualmente peculiar a Mateus. O povo parece ter percebido a hesitação do governador; e, para se certificarem de sua presa, eles dizem a ele: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. E, eu pergunto, pode haver algo mais característico? Isso não nos diz solenemente que a morte do Senhor, como vista em Mateus, foi a morte de um Mártir nas mãos dos Judeus?
Isto é muito significativo. Certamente sabemos que foi a morte ou imolação do Cordeiro de Deus, sob a mão de Deus; mas certamente também, foi a morte ou martírio do Justo, nas mãos de homens ímpios.
