Origem: Livro: Os Evangelistas
João 9 – 10
Assim, nesse caráter, Ele é separado de Israel. Israel é deixado em trevas, e a coluna de Deus avança. Jesus, a “Luz do mundo”, sai e encontra alguém que era cego de nascença; e em tal pessoa Suas obras bem poderiam ser manifestadas.
O Senhor Deus, é bem verdade, é um grande Rei, e age como um Soberano. Ele é o Oleiro que tem poder sobre o barro. Mas o Filho não veio como do trono do Rei, mas do Pai. Ele veio para manifestar o Pai. Os cegos podem estar no mundo, mas o Filho veio como a luz do mundo: e, consequentemente, como Tal, Ele Se aplica ao Seu bendito trabalho de graça e poder, e abre os olhos deste mendigo cego.
Mas o que era isso para Jerusalém? Havia trevas ali; e a luz pode brilhar, mas não será compreendida. Em vez disso, como lemos aqui, “levaram, pois, aos fariseus o que dantes era cego”. Havia um tribunal superior de inquisição em Jerusalém, e ele precisava julgar os caminhos do Filho de Deus. Em vez de acolhê-Lo como antigamente, quando a coluna de Deus se erguia, e dizer: “levanta-Te, SENHOR, e dissipados sejam os Teus inimigos”, eles amam suas próprias trevas, e andarão nela.
A princípio, eles interrogam o próprio homem. Mas não o achando exatamente adequado ao seu propósito, eles entregam o caso a testemunhas, que, eles julgam, estavam em seu próprio poder. Eles chamam seus pais. Mas novamente eles falham. O fato de que a luz havia brilhado entre eles não pode ser negado. Eles então procuram desviar todo o assunto para um rumo que deixaria intocado seu próprio orgulho e mundanismo, e eles dizem: “Dá glória a Deus; nós sabemos que Esse Homem é pecador”. Mas isso também não resolve. A pobre alma mantém sua integridade; e então eles o amedrontam separando-o de todos os fundamentos reconhecidos de segurança. “Discípulo d’Ele és Tu” (ARA), dizem eles, “nós, porém, somos discípulos de Moisés”. Mas ele fica firme; e não apenas fica, mas é conduzido “de força em força”. Ele tem, e mais lhe é dado. Ele segue como a luz conduz, até que finalmente ela brilha a ponto de reprovar as trevas dos fariseus; e eles o expulsam para fora do arraial.
Mas onde eles o lançam? Exatamente onde todo pecador solitário e rejeitado pode se encontrar – onde o samaritano imundo e a adúltera condenada se encontraram antes – na presença e a sós com o Filho de Deus; e essa é a própria porta dos céus. Pois o Senhor tinha ido para fora do arraial antes dele. Esta ovelha do rebanho foi agora colocada para fora; mas foi apenas para encontrar o Pastor, que tinha ido antes. Naquele lugar de vergonha e exposição, eles se encontram. Lá ele foi encontrado por Alguém que havia sido ferido pelos flecheiros. O encontro ali foi um encontro de fato. Este pobre israelita, enquanto estava dentro do arraial, tinha conhecido Jesus como seu Curador; mas agora que ele é colocado para fora, ele O encontra como o Filho de Deus. Ele O encontra para conhecê-Lo como Aquele que, quando ele era cego, tinha aberto seus olhos, e, agora que ele é rejeitado, fala com ele. E, amados, esta é sempre a maneira de encontrarmos Jesus, como pecadores e rejeitados, no lugar imundo. Se Ele nos levar até lá, deve ser na plena graça do Filho de Deus, o Salvador. E assim nosso caráter como pecadores nos leva às mais doces e queridas intimidades do Senhor da vida e da glória. Como criaturas, conhecemos a força de Sua mão, Sua Divindade, sabedoria e bondade; mas como pecadores, conhecemos o amor de Seu coração e todos os tesouros de Sua graça e glória.
E percebo o timbre alterado deste pobre mendigo. Na presença dos fariseus, ele era firme e inflexível. Ele não diminui o tom de retidão e verdade conscientes o tempo todo. Ele fixou seu rosto como um seixo e suportou a dureza. Mas no momento em que ele entra na presença do Senhor, ele é todo humildade e gentileza. Ele se derrete, por assim dizer, aos pés de Jesus. Oh, que doce amostra é esta da obra do Espírito de Deus! Coragem diante do homem, mas os derretimentos do amor e as reverências da adoração diante do Senhor que nos amou e nos redimiu.
Mas este lugar imundo fora do arraial, onde o Senhor do céu e da Terra agora estava com este pecador favorecido, não era apenas o lugar de liberdade e gozo para o pecador, mas o amplo campo de observação para o Senhor. Deste lugar, Ele examina a Si mesmo, o mendigo e todo o arraial de Israel, para fora do qual Ele tinha ido com Seu eleito; e na parábola do Bom Pastor, Ele extrai a moral de tudo isso. Na cena do capítulo 9, Ele mostrou que havia entrado pela porta no aprisco das ovelhas; pois Ele tinha vindo fazendo as obras do Pai e, dessa forma, havia Se aprovado para estar na confiança do Dono do aprisco, o Pastor aprovado de Seu rebanho. Ele estava afastado de Israel; mas, como Moisés em tal caso, Ele deveria manter o rebanho de Seu Pai em outros pastos, perto do monte de Deus. Os fariseus, porque estavam resistindo a Ele, devem, portanto, ser “ladrões e salteadores”, subindo ao aprisco de alguma outra maneira. E o pobre mendigo cego era uma amostra do rebanho, que, embora rejeite a voz dos estranhos, ouve e conhece a voz d’Aquele que entrou pela porta; e, entrando por Ele, “a Porta das ovelhas”, encontra segurança, descanso e pasto.
Tudo isso havia sido estabelecido na cena diante de nós, e é expresso na parábola. A parábola, portanto, transmite um bendito comentário sobre a condição atual deste pobre rejeitado. Os Judeus, sem dúvida, julgaram (e teriam desejado que ele julgasse da mesma forma) que ele agora havia sido excluído da segurança, por estar cortado deles. Mas Jesus mostra que até agora ele não estava em segurança; que se tivesse sido deixado onde estava, ele teria se tornado uma presa para aqueles que estavam roubando, matando e destruindo; mas que agora ele foi encontrado e levado por Aquele que, para lhe dar vida, daria a Sua própria. (Posso apenas notar como foi que esse pobre fraco de Deus rompeu o laço do passarinheiro. Vemos em seus caminhos duas coisas: primeiro, que ele seguia honesto e fielmente a luz, como lhe foi dada, e como ela brilhou nele mais e mais intensamente; segundo, sua simples defesa das obras e caminhos de Jesus, seu Libertador e Amigo, em resposta a todas as sugestões do inimigo. Essa era sua segurança; e essa é a nossa também, quer sejamos pressionados ou enredados por Satanás.)
Tudo isso temos, tanto na narrativa quanto na parábola. E é neste ponto do nosso Evangelho que o Senhor e o remanescente se encontram; “as pobres ovelhas do rebanho” são aqui manifestadas, seus próprios pastores não se compadecem delas; e o Pastor do céu as toma com todo o Seu cuidado, para guardá-las e alimentá-las (Zc 11).
Mas o amor e o cuidado d’Aquele que Lhe disse: “Apascenta as ovelhas da matança” (Zc 11:4), também é visto aqui de forma mais bendita. É, talvez, a coisa mais doce da parábola. Aprendemos a mente do Pai em relação ao rebanho. Pois o Senhor diz: “Assim como o Pai Me conhece a Mim, também Eu conheço o Pai e dou a Minha vida pelas ovelhas”; deixando-nos saber que um dos segredos mais profundos do coração do Pai era o Seu amor e cuidado pelas ovelhas. O rebanho, de fato, era do Pai antes de ser confiado a Cristo, o Pastor. “Eram Teus, e Tu Mos deste”. Eles estavam na mão do Pai antes de serem colocados na mão de Cristo. Eles eram do Pai por eleição antes que o mundo existisse, e se tornaram de Cristo pelo dom do Pai, e pela compra de sangue. E toda a ternura e cuidado diligente do Pastor expressa a mente do Dono para com o Seu rebanho. O Pastor e o Dono do rebanho são um. Como o Senhor diz, “Eu e o Pai somos Um”. Um, é verdade, em glória, mas Um também em Seu amor e cuidado com Seu pobre rebanho de pecadores redimidos. Cristo satisfez a mente do Pai quando amou a Igreja, e Se entregou por ela; e Eles permanecem para sempre Um naquele amor, tão certamente quanto permanecem Um em Sua própria glória. Esta é uma verdade de precioso conforto para nós. “Nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo” Aprendemos, de fato, que Deus é amor; e no momento em que descobrimos isso, obtemos nosso descanso em Deus; pois o coração cansado e quebrantado do pecador não pode descansar em nenhum outro lugar, a não ser no amor. “Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele”.
Aqui, então, “as pobres ovelhas do rebanho” se alimentam e se deitam. Mas Beleza (JND) e Laços devem ser quebradas. As varas do Pastor que teriam liderado e guardado Israel agora devem ser lançadas fora. Era apenas um remanescente que conhecia Sua voz. Quem pode ouvir a voz de um Salvador senão um pecador? O todo não precisa do médico. E assim, neste lugar, os tratamentos de nosso Senhor com Israel se encerram. Ele Se recusa a alimentá-los mais: “Não vos apascentarei mais; o que morrer, morra; e o que for destruído, seja destruído” (Zc 11:9 – ACF).
E posso notar que Seu tratamento com Israel se encerra aqui de uma forma totalmente característica deste Evangelho de João. Eles procuram apedrejá-Lo, como lemos, porque Ele, sendo um Homem, havia feito a Si mesmo Deus. Nos outros Evangelhos, a alma de Israel O detesta (como Zacarias fala) por outras razões; porque, por exemplo, Ele recebeu pecadores, ou invalidou suas tradições, ou tocou em seu sábado. Mas neste Evangelho é Sua afirmação de Filiação do Pai, a afirmação das honras divinas de Sua Pessoa, que principalmente levanta o conflito (veja João 5, 8, 10). Neste lugar observamos que o Senhor, em resposta aos Judeus, evidencia a manifestação que Ele agora havia dado de Si mesmo, como outros haviam feito em Israel antes d’Ele. Outros, colocados em autoridade, haviam sido chamados de “deuses”, porque haviam manifestado Deus em Seu lugar de autoridade e julgamento, e eram os poderes que Deus havia ordenado. E Ele, da mesma maneira, agora havia manifestado o Pai. Os juízes e reis poderiam ter mostrado que a Palavra de Deus tinha vindo a eles, entregando-lhes a espada de Deus. E Jesus tinha Se mostrado o Enviado do Pai, cheio de graça e verdade, trabalhando entre eles agora, como o Pai tinha trabalhado até então, no exercício da graça, restaurando, curando e abençoando pecadores. Assim, Ele tinha mostrado que o Pai estava n’Ele, e Ele no Pai. Mas o coração deles estava endurecido. As trevas não podiam compreender a Luz e Ele tem que escapar de suas mãos, e assumir novamente uma posição na Terra à parte da nação revoltada (veja João 2:13, 6:4, 7:2, 11:55). Neste Evangelho, observo que as festas são chamadas de “festas dos Judeus”, como se o Espírito de Deus as olhasse como algo agora estranho à Sua mente. Isto é altamente característico deste Evangelho, no qual, como observei, o Espírito está separado das lembranças Judaicas, porque Ele está traçando o caminho do Filho de Deus, o Filho do Pai, que está acima da conexão Judaica. Similarmente a isto, no Velho Testamento, Horebe, ou Sinai, é chamado de “o Monte de Deus”; mas no Novo, sob a mão de Paulo, é chamado de “Monte Sinai na Arábia”; o Espírito de Deus não mais o reconhece, mas deixa-o simplesmente para sua descrição terrenal.
Aqui termina a segunda seção do nosso Evangelho. Ela nos apresentou as controvérsias de nosso Senhor com os Judeus, no curso das quais Ele deixou de lado uma coisa Judaica após a outra, e Se colocou a Si mesmo no lugar dela. No capítulo 5, Ele deixou de lado Betesda, a última testemunha da obra do Pai em Israel, e tomou seu lugar, como Ministro da graça. Nos capítulos 6 e 7, Ele deixou de lado as festas; a páscoa e os tabernáculos (a primeira das quais iniciava o ano Judaico com a vida da nação, enquanto a segunda terminava o ano com a glória dela), tomando o lugar dessas ordenanças Ele mesmo, mostrando que Ele era a única Fonte de vida e glória. No capítulo 8, depois de expor a total inadequação da lei ao homem, por causa do mal e da fraqueza do homem, Ele toma Seu lugar como “a Luz do mundo”, como Aquele por Quem somente, e não pela lei, os pecadores deveriam encontrar seu caminho para a verdade, a liberdade e o lar de Deus. E então, no capítulo 9, neste caráter da Luz do mundo, Ele sai de Israel. Ele estava lançando Seus raios sobre aquele povo, mas eles não O compreenderam. Ele sai, portanto, e atrai os pobres do rebanho atrás de Si; e no capítulo 10 exibe a Si mesmo e a eles fora do arraial, deixando a terra de Israel, como o profeta havia falado, um caos sem forma e vazio. A Palavra do Senhor, que a teria chamado à beleza e ordem, foi recusada; e, agora, o lugar da antiga lavoura de Jeová, na qual Seus olhos repousavam do início ao fim do ano, e que Ele regava com a chuva de Seus próprios céus, é entregue para se tornar o deserto e a sombra da morte.
