Origem: Livro: Os Patriarcas
História de Estêvão
Estêvão aparece apenas por um momento no curso da história divina; mas é para ocupar um lugar muito eminente e distinto. A ocasião em que ele é visto e em que age é cheia de significado. A inimizade Judaica estava novamente realizando seus atos sombrios, e o Deus da glória estava novamente revelando Seus propósitos mais brilhantes.
Estêvão é outra testemunha da passagem do Senhor da Terra para o céu, deixando a Terra por um período em sua incredulidade e apostasia, e chamando um povo para os lugares celestiais.
O tempo de Estevão foi uma outra separação. O de Abraão foi assim, e o de José também, e o de Moisés, e o do “Justo”, Jesus. A ocasião da separação de parentes para estrangeiros (ou seja, da Terra para o céu) pode ser diferente, mas é igualmente uma separação. Abraão foi separado porque Deus estava deixando um mundo contaminado sem julgamento; e numa contaminação não julgada Deus não pode fazer Sua habitação, nem permitir que ela seja a habitação de Seus eleitos. O mundo depois do dilúvio se contaminou, e o Senhor o estava deixando em sua contaminação, não o purificando por um segundo dilúvio; e, portanto, Ele mesmo Se torna um estrangeiro nele e chama Seus eleitos para fora dele com Ele. Desta forma, Abraão é um homem separado. José em sua época era outro; separado de casa e parentes, como Abraão; e assim também Moisés. Mas José e Moisés não foram separados como Abraão, simplesmente pelo chamado de Deus para sair da contaminação sem julgamento, mas pela inimizade e perseguições de seus irmãos. E assim Jesus, “os Seus”, e o mundo feito por Ele O rejeitaram e não O conheceram. Mãos iníquas O mataram, e os céus O receberam. E assim, Estêvão também.
Estêvão está em companhia destes separados – Abraão, José, Moisés e “o Justo”. E ele é naturalmente dirigido pelo Espírito para percorrer suas histórias neste capítulo maravilhoso. E esses separados, em diferentes épocas ou intervalos, no progresso do caminho de Deus na Terra, demarcaram ou prefiguraram Seus propósitos mais elevados ou mais ricos em relação ao céu. Porque os seus tempos, como falamos, eram de transição.
O tempo de Estevão era assim. Até aos seus dias, a cena dos “Atos dos Apóstolos” é colocada na Terra. Em Atos 1, o Senhor ressuscitado falou aos Seus apóstolos sobre “o reino de Deus”. No mesmo capítulo, os anjos desviaram os olhos dos homens da Galileia, como chamam os discípulos, que olhavam para o céu, para olharem a promessa de que Jesus retornaria à Terra. Quando o Espírito Santo é dado em Seu batismo, como em Atos 2, é das coisas da Terra que os apóstolos falam. Eles testificam que Jesus deveria assentar-Se à direita de Deus no céu, até que Seus inimigos na Terra fossem postos por escabelo de Seus pés. Eles então pregam que, havendo o arrependimento de Israel, Jesus retornaria à Terra com tempos de refrigério e restauração, e que Ele foi exaltado para dar arrependimento e remissão de pecados a Israel. Israel é o povo, e a Terra o cenário, contemplados na ação ou testemunho do Espírito nos apóstolos nestes primeiros capítulos.
Mas a inimizade Judaica novamente toma o seu caminho, como já havia acontecido em muitos outros dias, desde o início; e a graça divina também segue seu caminho, como também havia acontecido em outros dias. E Estevão, sob o Espírito de Deus, toma esse momento como seu texto. Ele olha para trás, para o caminho da nação, incircuncisa, de coração e de ouvido, resistindo ao Senhor em um ou outro de Seus testemunhos; e ele também olha para trás, para o caminho do Deus da glória, chamando para uma bênção nova e peculiar aqueles que a poluição terrena ou a inimizade Judaica estavam separando ou expulsando.
Desta forma, a sua própria condição naquele momento era o seu texto, tal como a condição das coisas no capítulo 2 tinha sido o texto de Pedro. Pedro pregou sobre o dom de línguas; Estêvão, como posso dizer, por seu próprio rosto então brilhando como o rosto de um anjo, e pela inimizade dos Judeus que o pressionava e ameaçava. O Espírito em Estêvão ocupa o momento. Foi um momento de transição. Foi a hora do rosto brilhante e das pedras mortais, da inimizade da Terra e das descobertas ainda mais brilhantes e ricas da graça que chamam ao céu. E Estêvão relembra outras histórias, histórias de outros eleitos, que já haviam preenchido momentos semelhantes no caminho de Deus. Pois as pessoas da Terra agora estão resistindo a Deus na pessoa de Estevão, como O resistiram em outros. Como ele lhes diz, eles sempre resistiram ao Espírito Santo; os filhos e os pais eram iguais nisso, em todas as gerações da nação.
Portanto, em Estêvão somos chamados a testemunhar outro grande momento de transição. É um tal momento no livro de Atos, como o de José no livro de Gênesis. Isto liga Estêvão e José, e dá ocasião natural ao Espírito Santo em Estêvão para fazer referência, como Ele faz, a José. Mas se a Terra está recusando um lugar a Estêvão, como seus irmãos recusaram a José um lugar na Terra de seus pais, o céu se abrirá para Estêvão. A graça em Deus estará ativa assim como a inimizade no homem está ativa – e do comedor sairá comida. E o céu, portanto, se abre em Atos 7. Um raio sai de lá e cai suavemente, mas brilhantemente, sobre o rosto de Estêvão, enquanto o povo da Terra o expulsava. E assim selado do céu e para o céu, ele fala do céu, e o próprio céu se abre para ele, e então o próprio Espírito Santo guia seus olhos diretamente para o céu, e então seu espírito é recebido do Senhor Jesus no céu. Tudo é céu. Estêvão recebe primeiramente a garantia ou o penhor disso, depois a visão disso em suas glórias plenamente manifestadas e, então, seu lugar ali com Jesus.
Nada pode exceder, ainda no corpo, o brilho de tal momento. Foi a transfiguração do livro dos Atos dos Apóstolos. Estava além da medida da Betel do patriarca; pois aqui o topo da escada foi revelado, e Estevão foi ensinado a conhecer seu lugar para estar ali com o Senhor, e não simplesmente ao pé dela com Jacó. O momento foi de transição, o que não foi no tempo de Gênesis 28. Teve sua previsão antes de o rejeitado e proscrito José encontrar suas alegrias mais ricas e honras mais brilhantes entre os distantes gentios no Egito. Ou melhor, se quisermos, a história de José e a história de Estêvão são, cada uma delas em sua época e de maneira diferente, o prenúncio e o penhor daquela glória e herança no céu para a qual a Igreja, a eleição desta época, está chamada.
Simples e necessariamente, portanto, José e Estêvão estão ligados entre si, como encontramos em Atos 7. Cada um deles preencheu o mesmo lugar de transição – de fato mais vividamente marcado em Estêvão, e de forma adequada – mas cada um deles o preencheu. Tudo era novo e celestial, como vimos, com Estêvão. Não é para baixo, mas para cima que ele é ordenado a olhar. Os anjos disseram aos homens da Galileia em Atos 1 para tirarem os olhos do céu; o próprio Espírito ordenou a Estêvão, em Atos 7, que dirigisse seus olhos diretamente para o céu. A glória do terrenal era uma, a glória do celestial agora é outra. Mesmo o dom de línguas não havia prometido o céu aos discípulos em Atos 2. Não houve transfiguração então, nenhum rosto brilhando como o rosto de um anjo. O Espírito Santo estava sobre a assembleia em Jerusalém, mas a própria assembleia não estava à vista do céu como seu lar e herança. Mas Estevão estava nas fronteiras dos dois mundos. Seu corpo foi vítima da inimizade do mundo dos homens, seu espírito estava prestes a ser recebido em meio às glórias do mundo de Cristo. Ele foi rejeitado por seus irmãos, aceito por Deus. Tudo foi transitório – e ele olha apropriadamente para José e Moisés, que estiveram em tal lugar antes dele.
