Origem: Livro: Princípios da Guerra Espiritual

A Posição Cristã- Josué 3-4

Eles “passaram o rio a pé” (Sl 66:6).

“Que tiveste tu, ó Jordão, que tornaste atrás?” (Sl 114:5).

A passagem de Israel pelo Jordão é geralmente considerada uma figura da entrada do crente no céu após a morte, mas há mais do que simplesmente isso.

Israel foi libertado do julgamento sobre o Egito pela Páscoa. Na passagem do Mar Vermelho, a perseguição do Faraó chegou ao fim, e Israel foi libertado do seu poder. Eles passaram a pé enxuto pelas águas que ameaçavam se tornar seu túmulo, e ali seu perseguidor e seu exército foram sepultados. Eles foram libertados do Egito e de seu rei, e colocados na margem oposta, um grupo de peregrinos com destino a Canaã. Mas a passagem do Mar Vermelho não os trouxe para Canaã; isso foi realizado cruzando o Jordão.

Antes de atravessar o rio, o povo deveria, primeiro, observar a arca; e, segundo, santificar-se.

No deserto, se a arca permanecesse sob suas cortinas, o povo permanecia em suas tendas; se ela avançasse, eles a seguiriam. E agora, como eles estão prestes a trilhar um caminho até então não trilhado – um caminho do qual eles não têm conhecimento – de uma maneira especial, eles devem observar as direções da arca, para que eles soubessem “o caminho pelo qual haveis de ir, porquanto por este caminho nunca passastes antes”. No entanto, embora devessem observar a arca e segui-la, é dito a eles: “Não vos aproximeis dela”, mas deveria manter uma distância definida entre ela e eles, um espaço medido de dois mil côvados.

Em segundo lugar, eles deveriam se santificar, por causa das “maravilhas” que o Senhor faria no meio deles no dia seguinte.

A arca é uma figura de Cristo. O caminho da fé é necessariamente um caminho sempre novo para o povo de Deus, e é simplesmente olhando para Jesus que qualquer um de nós sabe “o caminho pelo qual devemos ir”. Israel não deveria pressionar a arca, e o Cristão deve dar ao Senhor Jesus o pleno lugar, pois em todas as coisas Ele deve ter a preeminência (Cl 1:18). Há uma distância divina entre Ele e Seu povo. Se o povo não tivesse deixado um espaço entre si e a arca, as primeiras fileiras teriam impedido aqueles que vinham atrás de vê-la. E o Cristão deve sempre ter uma visão completa de Cristo, se ele quiser andar no caminho de Deus.

Mas como seguiremos a Cristo? “Santificai-vos”, foi a palavra de Deus para Israel, quanto mais, então, para nós! Verdadeiramente, não há como seguir o Senhor Jesus, exceto com passos santos. Não há como se aproximar das “maravilhas” de Deus, exceto como Moisés se aproximou da sarça. Então, como “nos santificaremos”? Nossa única santificação é Cristo – “o Qual para nós foi feito por Deus santificação” (1 Co 1:30). Não há poder para separação do mal, exceto por Cristo. E quanto mais de perto olhamos para a santificação cerimonial judaica, mais evidentemente vemos que tudo apontava para Cristo.

A arca do Senhor, na passagem do Jordão, era chamada de “A arca do concerto do Senhor de toda a Terra”. O Senhor Jesus disse: “É-me dado todo o poder no céu e na Terra” (Mt 28:18), pois o Pai confiou tudo em Suas mãos.

O rio Jordão barrava a entrada de Israel em Canaã. Exceto através desse rio, Deus não tinha caminho para Seu povo entrar na terra prometida. Quando Israel chegou às suas margens, era época de colheita, e “o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da sega”; assim, o ribeiro estava aumentado em uma torrente poderosa, e estendeu suas amplas águas sobre o vale. Podemos facilmente imaginar o exército de Israel, com os “homens de guerra”, as mulheres e os pequenos, aglomerados perto de sua borda; e podemos imaginar a arca do Senhor, carregada pelos levitas, dois mil côvados na frente do exército. Todos os olhos estão fixos na arca do Senhor, pois todos estão plenamente cientes de que, se quiserem entrar em Canaã, deve ser pela arca. Certamente ninguém entre aquela vasta companhia duvida por um momento do poder de Deus; não, porém eles estão esperando ver Suas “maravilhas” operadas em sua presença.

E assim, “quando os que levavam a arca chegaram até ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que levavam a arca se molharam na borda das águas pararam-se as águas que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adã, que está da banda de Sartã; e as que desciam ao mar das Campinas, que é o mar Salgado, faltavam de todo e separaram-se”. No Mar Morto, o Rio da Morte foi engolido. E a maré ameaçadora de águas revoltas se levantou num montão diante da arca do Senhor. Haveria naquela companhia um coração que temesse que o “transbordamento do Jordão” o submergisse? Antes que uma gota da maré pudesse tocar o mais fraco israelita, a arca de Deus precisaria ter sido varrida.

“Até que todo o povo acabou de passar o Jordão”, a arca ficou diante das águas amontoadas; mas, quando “as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco, as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar e corriam, como antes, sobre todas as suas ribanceiras”. Esta é uma figura do Senhor segurando o derramamento do julgamento até que Seu povo seja primeiro reunido em casa. Consideração solene para aquele que não conhece Cristo como Aquele que liberta da morte! Oh, considere que as águas do julgamento há muito represadas certamente varrerão esta Terra com poder irresistível, e se o último do exército passar diante de você, e você for deixado para trás, como você encontrará sua entrada na terra de luz e amor além? Que Deus em Sua misericórdia lhe conceda, caro leitor, atravessar enquanto o caminho ainda está aberto.

Deus não permitiu que Israel atravessasse o Jordão, exceto por aquele caminho que Sua arca abriu. Israel, trinta e oito anos antes, por vontade própria, se esforçou para lutar para entrar em Canaã, eles tentaram o máximo em sua incredulidade para alcançá-la – mas em vão; e o Senhor agora lhes mostrou que Seu caminho deve ser trilhado somente na força da arca. Se um israelita não pode ganhar a herança terrenal por sua própria força, como o pecador ganhará o céu por seus próprios esforços?

Agora, como um Jordão, a morte limita este mundo desértico, através do qual os homens estão viajando, e não há vau, nem balsa, nem ponte, por onde possamos cruzar o rio. Mais cedo ou mais tarde, cada um dos filhos dos homens deve chegar à beira do rio, mas ninguém entrará na terra da vida além, exceto pelo próprio caminho escolhido por Deus.

Assim como na figura diante de nós, o curso de Israel, como andarilhos murmuradores e incrédulos, terminou no Jordão, assim nossa história, como homens na carne, termina, aos olhos de Deus, na morte de Seu Filho. Na graça e no poder de Deus, o que o Filho realizou, Ele realizou para todos. E para cada um de Seu povo. O Senhor e Seu povo são “plantados juntamente” (não poderíamos dizer unidos, pois a morte não une) na morte. Eles ocupam o mesmo lugar – estamos “mortos com Cristo”. É o conforto do crente perceber isso; pois quando sabemos que aos olhos de Deus estamos judicialmente mortos, e que Ele não olha para nós em nossa condição natural, mas somente em Seu Filho, nossas dúvidas e medos são sepultados, e somos capazes de considerar-nos “como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor”.

O mesmo poder que levou os sacerdotes que carregaram a arca a seco através do rio, foi eficaz na passagem do menor do exército. A arca e o povo eram idênticos. Cristo desceu à morte e esvaziou-a de seu poder, assim como a arca do Senhor esgotou o fluxo do Jordão; e é por Ele que todo crente entra na terra celestial além. Se somos “plantados juntamente” com Cristo na semelhança de Sua morte, estamos unidos a Ele em Sua vida. Porque Ele vive, nós também vivemos. Somos “salvos por Sua vida” (Rm 5:10). “Já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:3). Cristo, nossa arca, trouxe Seu povo purificado através do rio da morte para a terra prometida. Em Cristo, o crente está, por assim dizer, do outro lado do Jordão, e em repouso em Canaã. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3).

Talvez seja bom colocar juntos os três grandes símbolos da Páscoa, do Mar Vermelho e do Jordão.

Na noite da Páscoa, aprendemos sobre a obra de Cristo como o Cordeiro imaculado, cujo sangue precioso respondeu a todas as reivindicações que a justiça tinha contra nós e “nos livra da ira vindoura” (1 Ts 1:10 – ARA).

Da noite do Mar Vermelho aprendemos a obra gloriosa de Deus em libertar Seu povo do poder de Satanás. Faraó queria ter arrancado Israel, comprado com sangue, das mãos de Jeová se pudesse; ele tentou o máximo. Mas quando amanheceu, o Senhor olhou desde a coluna de fogo e nuvem para o perseguidor e seu exército, e eles clamaram: “Fujamos da face de Israel, porque o SENHOR por eles peleja contra os egípcios”. Então o mar voltou sobre eles, e “nem ainda um deles ficou” (Êx 14:25, 28). Assim, na força de Jeová, os seiscentos mil de Israel passaram a pé enxutos pelo mar, e cantaram na outra distante margem, o Senhor “sumamente Se exaltou”; as mulheres respondendo ao cântico com tamborins e danças. E mais do que este cântico de liberdade, eles, pela fé atribuindo toda a obra de sua bênção ao Senhor, falaram como se já estivessem em Canaã; “Na Tua misericórdia guiaste o povo que remiste; Na Tua força o conduziste à Tua santa habitação” (Êx 15:13 – TB).

Quando o Senhor ressuscitou dos mortos, o poder de Satanás, o perseguidor do povo do Senhor, foi derrubado. Desde aquela manhã triunfante, o cântico da vitória tem sido cantado por todo crente que conheceu o Salvador como seu Libertador. E, pela fé, todo crente pode dizer não apenas que ele é “redimido”, mas que, apesar do deserto intermediário, ele é trazido pela “força” de Deus para os lugares celestiais – Sua “santa habitação”.

Quando Israel começou a pisar no deserto, sua forte fé mudou para incredulidade. Seus inimigos, de fato, estavam mortos, mas o “eu” estava em plena atividade; e eles ficaram tão ocupados consigo mesmos, que se esqueceram de sua grande libertação e de seu cântico de triunfo no Mar Vermelho.

Eles chegaram ao Jordão pela manhã e cruzaram em plena luz do dia. Não lemos sobre gritos de vitória acompanhando a passagem, nem tamborins, nem danças, mas uma solene quietude parece permear o exército enquanto observam a arca do Senhor descer para eles na inundação do rio.

Na plena luz clara desta cena, aprendemos a morte para o “eu” e a vida com Cristo. Aprendemos que o mesmo Salvador Todo-Poderoso, que derramou Seu precioso sangue por Seu pobre povo escravizado; e que, por Sua própria força, derrotou seus inimigos, tem, no poder de Sua vida, trazido-os para os lugares celestiais. É abençoado, de fato, perceber, pelo ensino do Espírito Santo, a grandeza da obra de Cristo por Seu povo, conforme delineada na passagem do Mar Vermelho, e nossa posição em Cristo, conforme estabelecida na passagem do Jordão.

Antes que o Jordão fosse atravessado, o Senhor disse a Josué: “Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel”; e quando eles atravessaram, é dito: “Naquele dia, o SENHOR engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés” (Js 3:7; 4:14).

Deus Pai magnifica o Senhor Jesus como o Vencedor da morte; e o Senhor nunca é completamente honrado pelo povo de Deus até que a grandeza de Sua obra na ressurreição seja apreendida.

Quando todo o povo passou pelo Jordão, o Senhor ordenou a Josué: “Tomai do povo doze homens, de cada tribo um homem, e mandai-lhes, dizendo: Tomai daqui, do meio do Jordão, do lugar do assento [onde permaneceram firmes – JND] dos pés dos sacerdotes, doze pedras; e levai-as convosco à outra banda e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite”.

Essas doze pedras representavam todo o povo de Israel, uma pedra para cada tribo; e, tndo sido retiradas das profundezas do Jordão, elas falavam da obra de Deus, que, por Sua arca, havia feito passar o povo. Essas pedras foram colocadas na terra, um sinal de que todo Israel era uma família – que as doze tribos de Jeová eram um povo. Um sinal também (sendo colocadas na terra prometida), de que a união manifesta das tribos foi efetuada em Canaã. Algumas das tribos de Israel poderiam escolher sua morada no lado desértico do Jordão – elas poderiam não atingir praticamente a medida completa de bênção que a terra prometida lhes oferecia; mas suas pedras foram colocadas na terra prometida e, apesar da pobreza de sua fé, elas eram uma com seus irmãos ali.

Israel foi edificado em unidade manifesta em Canaã; a Igreja é Um corpo nos lugares celestiais. Nenhuma tribo, nenhuma divisão, nem Judeu nem gentio são reconhecidos nela. Somos vivificados juntos… ressuscitados juntos, e feitos para assentarmos juntos em lugares celestiais em Cristo Jesus. Essa unidade é efetuada pelo Espírito Santo, como resultado da obra de Cristo. Somos membros uns dos outros, sendo membros de Seu corpo.

Se algum membro da Igreja de Deus (como as duas tribos e meia de Israel que escolheram uma porção aquém da terra prometida) escolher uma posição que praticamente nega a unidade do corpo, ainda assim, estando unido a Cristo, ele é da companhia indivisa. Ele perde o gozo de sua porção, enquanto vive abaixo de seus privilégios, é verdade; mas ele não pode frustrar o conselho de Deus, ou frustrar Seu propósito de abençoá-lo. E embora, nesta Terra, as divisões arruíne a beleza da Igreja de Deus, ainda assim, na glória, será descoberto que nenhum membro está faltando. Quando, pela fé, o Corpo é contemplado em sua beleza divina e celestial, o Cristão pode olhar calmamente para as divisões da Cristandade, e encarar seus cismas sem se desanimar – pois Cristo não está dividido – e pode lamentar a vaidade do esforço para formar uma união no lado desértico do Jordão, como se fosse uma união daquilo que não é celestial, nem no poder da ressurreição de Cristo.

Os doze homens carregando sobre os ombros as pedras do Jordão também ilustram qual deve ser a condição do povo ressuscitado do Senhor enquanto eles andam por este mundo. “trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2 Co 4:10). Enquanto os representantes das doze tribos pisavam a terra prometida, carregando as pedras sobre os ombros, eles testificaram não apenas que foram trazidos para Canaã, mas também do caminho pelo qual entraram nela. A vida de Jesus não se manifesta em nós por simplesmente dizermos que ressuscitamos com Ele; mas por uma negação de si mesmo, uma morte para o mundo, pelo poder de Sua morte.

Essas pedras foram colocadas em Gilgal e se tornaram “para sempre por memorial aos filhos de Israel”. Quanto mais a morte e ressurreição do Filho de Deus devem ser o único memorial para cada crente! “Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras?, fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão. Porque o SENHOR, vosso Deus, fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, como o SENHOR, vosso Deus, fez ao mar Vermelho, que fez secar perante nós, até que passamos. Para que todos os povos da Terra conheçam a mão do SENHOR, que é forte, para que temais ao SENHOR, vosso Deus, todos os dias”. Assim Israel deveria responder à pergunta: “O que significam estas pedras?” que naturalmente surgiria na mente de muitos nos dias posteriores. Se qualquer inquiridor nos fizesse uma pergunta semelhante a respeito de nossa salvação, podemos responder com ousadia: Cristo morreu e ressuscitou; por Ele, atravessamos a seco o rio da morte; e Sua morte e ressurreição não apenas nos libertaram para sempre de nossos inimigos, mas também nos libertaram de nós mesmos; e agora é a feliz, sim, gloriosa porção de todo crente no Cordeiro que foi morto, testemunhar a grandeza suprema do poder de Deus para aqueles que creem.

O lapso de um curto período de mil e oitocentos anos afastou o povo de Deus do fundamento da fé Cristã? Outros sinais são necessários agora, sinais que a Igreja primitiva teria desprezado? É um fato triste para todo coração fiel, que a razão humana e a maquinaria religiosa inventada pelo homem tenham manchado o testemunho simples e ousado da obra de Cristo. No entanto, seja qual for a resposta que o povo de Deus dê a seus filhos, o Filho de Deus crucificado, ressuscitado e ascendido é o único fundamento da fé, como todo pecador salvo algum dia testemunhará. Que sejamos testemunhas de Deus neste assunto! (Veja 1 Coríntios 15:1-4, 14-15).

Antes de deixar esta cena das “maravilhas” de Jeová, notemos esta palavra: “Levantou Josué também doze pedras no meio do Jordão, no lugar do assento dos pés dos sacerdotes que levavam a arca do concerto; e ali estão até ao dia de hoje”. O Filho de Deus ascendido nunca Se esquece do povo pelo qual Ele morreu. Ele nunca Se esquece de Sua morte. As águas profundas, onde Seus todo-poderosos pés “permaneceram firmes”, estão presentes para Ele e para Seu Deus e Pai. Do trono nas alturas, Ele Se lembra da cruz.

Que nós, que n’Ele temos trilhado o caminho maravilhoso que a razão humana não tinha conhecimento, e que n’Ele entramos nos lugares celestiais, enquanto desfrutamos da bênção indizível da vida no Filho de Deus ressuscitado e exaltado, permaneçamos na lembrança de Sua morte – olhemos, pelo poder do pírito divino, para as águas profundas!

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