Origem: Livro: Princípios da Guerra Espiritual

O Caráter Cristão- Josué 5:2-9

“Naquele tempo, disse o SENHOR a Josué: Faze facas de pedra e torna a circuncidar os filhos de Israel. Então, Josué fez para si facas de pedra e circuncidou aos filhos de Israel em Gibeate-Haralote. E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os varões, todos os homens de guerra, eram já mortos no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egito. Porque todo o povo que saíra estava circuncidado, mas a nenhum do povo que nascera no deserto, pelo caminho, depois de terem saído do Egito, haviam circuncidado. Porque quarenta anos andaram os filhos de Israel pelo deserto, até se acabar toda a nação, os homens de guerra, que saíram do Egito, que não obedeceram à voz do SENHOR, aos quais o SENHOR tinha jurado que lhes não havia de deixar ver a terra que o SENHOR jurara a seus pais dar-nos, terra que mana leite e mel. Porém, em seu lugar, pôs a seus filhos; a estes Josué circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque os não circuncidaram no caminho. E aconteceu que, acabando de circuncidar toda a nação, ficaram no seu lugar no arraial, até que sararam. Disse mais o SENHOR a Josué: Hoje, revolvi [removi – ARA] de sobre vós o opróbrio do Egito; pelo que o nome daquele lugar se chamou Gilgal (isto é, Remoção ou Liberdade), até ao dia de hoje” (Js 5:2-9).

“Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra” (Cl 3:3, 5).

Quanto mais um homem aprende sobre Deus, mais ele conhece a graça. Se quisermos aplicar espiritualmente a nós mesmos as lições da circuncisão na terra, devemos dar lugar pleno à graça de Deus, que levou à circuncisão, e lembrar que Deus pede a devoção de Seu povo, porque Ele, em Cristo, os trouxe ao perfeito favor; caso contrário, cairemos no erro de mentes semelhantes a monges e, com elas, ofenderemos a Deus, buscando obter esse favor por meio de nossos próprios esforços.

Foi observando as ordenanças de Deus, ou foi pela graça todo-poderosa de Deus que Israel entrou na terra da promessa? Eles entraram como uma nação em incircuncisão e, portanto, foi exclusivamente pela graça soberana de Deus. O povo de Israel foi circuncidado antes que a sentença judicial fosse proferida sobre os homens de guerra em Escol, onde eles desprezaram a graça de Deus e, portanto, tiveram quarenta anos de peregrinação no deserto designados a eles. Durante esses quarenta anos, a nação negligenciou a circuncisão. Deus, portanto, considerando Seu povo como um todo, agora que Ele os havia trazido para a terra da promessa, ordenou a Josué “torna a circuncidar os filhos de Israel”.

Deus não exigiu circuncisão de Israel enquanto eles vagavam “pelo caminho”, mas quando Ele os trouxe para a terra, então (“naquele tempo”) Ele a exigiu. E por que Deus não buscou circuncisão do povo de Israel, enquanto eles andavam no deserto? O deserto era o cenário de sua desconfiança de Deus. Enquanto estavam lá, eles duvidaram de Sua promessa de trazê-los para Sua terra, e não estavam, portanto, em uma condição que justificasse aquela separação completa para Si mesmo que a circuncisão significava. Mas agora, sendo trazidos pela própria fidelidade de Deus, e podemos dizer, quase a despeito deles mesmos, para a terra da promessa, e, porque eles estavam lá, não duvidando mais, Deus podia chamá-los para a circuncisão. A graça os havia libertado da incredulidade do coração deles – a graça os havia trazido para a terra, e Deus podia chamá-los para a proximidade total de Si mesmo, e, consequentemente, para a separação completa do resto das nações.

Um espírito desconfiado é ignorante do verdadeiro caráter de Deus e, consequentemente, não é moralmente adequado para a separação para Si mesmo; mas Deus, tendo nos trazido por Sua graça para saber que estamos nos lugares celestiais em Cristo, busca a separação para Si mesmo, correspondendo à liberdade para a qual Ele nos trouxe. A graça conhecida e realizada é o único poder verdadeiro para a separação do coração para Deus.

“E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os varões, todos os homens de guerra, eram já mortos no deserto, pelo caminho… Porém, em seu lugar, (o Senhor) pôs a seus filhos; a estes Josué circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque os não circuncidaram no caminho”.

Aqui é feita distinção entre os homens de guerra que saíram do Egito e aqueles que cresceram no deserto. Os “homens de guerra” que saíram do Egito, porque “não obedeceram à voz do Senhor” a respeito da terra prometida, foram consumidos no deserto (veja Nm 14:32-33). Em Escol, eles foram incrédulos quanto à promessa de Deus de trazê-los para a terra, e então adicionaram ao seu pecado de incredulidade o da obstinação, obstinação até mesmo para subir à terra da promessa em sua própria energia desobediente. Deus rejeitou tais homens de guerra, e em vez destes, Ele levantou no deserto outros, a quem Ele treinou, por disciplina, para Si mesmo.

Israel aprendeu a morte para seus homens de guerra que saíram do Egito por um longo e doloroso processo; um por um, por quarenta anos exaustivos, eles caíram e morreram, até que todos foram consumidos. E lentamente, muito lentamente, a força e o vigor que trouxemos do mundo morrem em nós, à medida que Deus disciplina, castiga e nos ensina o que somos. Esta lição não é aprendida em um dia. É uma experiência para toda a vida e, em certo sentido, ocupa todos os nossos “anos de tolice” de nossa peregrinação. No entanto, este ensinamento é abençoado, pois a mesma mão que “consome”, levanta outros em lugar daquilo que ela murcha. No próprio lugar da disciplina, isto é, este mundo desértico, Deus desperta em Seu povo novos poderes; à medida que o “eu” morre, a vida de Cristo se manifesta. O processo é doloroso, mas o fim é abençoado. Deus consome nosso zelo carnal em graça, para que Seu próprio poder possa habitar em nós.

A circuncisão com Israel era meramente uma ordenança carnal e, em comum com todas as ordenanças, não dava poder para comunhão com Deus, nem para conflito com Seus inimigos. Era um sinal de que os filhos de Israel eram a família terrenal de Deus e um povo separado de todo o resto da humanidade. A circuncisão feita sem mãos, com a qual o Cristão é circuncidado, em Cristo, é uma separação do mundo para Deus. Deus havia trazido Seu povo, Israel, para Sua própria terra, e sendo esta a posição deles diante d’Ele, por necessidade, para satisfazer Seu próprio caráter, Ele exigiu deles uma condição adequada. Ele não podia, sem Se comprometer a Si mesmo, permitir que Seu povo fosse como o resto da humanidade. “A santidade convém à Tua casa, Senhor, para sempre” (Sl 93:5). É um princípio na Escritura que quanto mais próximo for o relacionamento com Ele próprio, no qual Deus graciosamente traz Seu povo, mais rigoroso é o chamado feito a eles para separação do mal.

Deus primeiro trouxe Israel através do Jordão para Canaã, e então Ele ordenou que fossem circuncidados. Assim como Israel foi separado para Deus pelo rio Jordão, do Egito, do deserto e de seus antigos “homens de guerra”, assim o Cristão, pela morte de Cristo, é separado do mundo e de sua velha natureza para Deus, seja em sua incredulidade ou energia. E porque temos uma nova vida em Cristo, somos ordenados, no poder dessa vida, a nos considerar mortos. Na caminhada e testemunho do crente, a ordem da Palavra de Deus é assim: “ressuscitastes”; “estáveis mortos”; “já ressuscitastes”; portanto, “buscai as coisas que são de cima”, e “pensai nas coisas que são de cima”. “Já estais mortos”; portanto, “Mortificai, pois, os vossos membros”. “Já ressuscitastes”; Cristo é sua vida; daí a força para a energia celestial. Vocês estão mortos; Cristo morreu; daí o poder para morrer para o mundo e para si mesmo. O Cristão está, aos olhos de Deus, morto para tudo aquilo pelo qual Cristo morreu; “o nosso velho homem foi com Ele crucificado” (Rm 6:6). Mas o Cristão, embora tenha vida divina, ainda está na carne. Antes ele andava na concupiscência da carne; mas agora, estando morto com Cristo, ele é exortado a “despir-se” dos vícios da velha natureza, “pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”. A natureza de Adão é chamada de “velho homem”, do qual se diz que o Cristão já “se despiu”. Aqueles que não estão mortos com Cristo estão vivendo em desobediência a Deus, e são chamados de “filhos da desobediência” (Ef 2:2; Cl 3:6). Eles são assim chamados porque são de seu pai Adão, o homem desobediente.

Assim como o povo de Israel, por ter sido trazido através do Jordão, foi ordenado por Deus a ser circuncidado, e seus caminhos descuidados no deserto não foram mais permitidos; assim o Cristão, por ter morrido com Cristo para o mundo e para seu antigo “eu”, é exortado a mortificar seus membros, e seus caminhos mundanos não são mais permitidos. Essa mortificação é simplesmente a negação própria, pelo poder do Espírito Santo. O homem ama naturalmente o pecado; ele ama seu próprio caminho, que é a essência do pecado; mas aquele que vive em Cristo é chamado a morrer para si mesmo na caminhada e conduta diárias. Não há maneira de viver para Cristo, a não ser morrendo para si mesmo.

O Filho de Deus, visto na glória, seca todas as fontes da nossa velha natureza por um lado, e por outro, energiza a nova vida. E se o Cristão quiser viver de acordo com a medida daquela graça em que ele está – como alguém vivo no Cristo ressuscitado, ele deve se lembrar de que morreu com Cristo para o mundo. Seria impossível se gloriar no fato de ter ressuscitado com Cristo, a menos que estivéssemos mortos com Ele. Não poderia haver assento para o Cristão nos lugares celestiais, a menos que Cristo tivesse sido pendurado na cruz pelo pecado. Não poderia haver habitação nas cidades da terra da promessa para os filhos de Israel, se eles não tivessem passado pelo Rio da Morte.

Esse sistema de doutrina Cristã que meramente se gloria na vida que “está escondida com Cristo em Deus”, e não trata o “eu” como morto, é impraticável. Para sermos práticos em nossa caminhada sobre a Terra, devemos ser como homens circuncidados; como homens que, estando mortos para o mundo e para o “eu” por Cristo, mortificam seus membros que estão na Terra.

Não era de forma alguma suficiente para Israel saber que eles atravessaram o Jordão, a fim de desfrutar das riquezas da herança; pois até que a circuncisão fosse efetuada, nenhuma comida de Canaã foi servida a eles, nem eles foram chamados para o conflito. E podemos ter certeza de que, enquanto andarmos na carne e nos agradarmos, não pode haver comunhão – nenhuma alimentação em Cristo. Nem pode haver vitórias para o Senhor, a menos que o “eu” seja subjugado.

A tendência do homem é dar destaque indevido a alguma doutrina favorita, e a tristeza causada por essa falha universal é generalizada. Deus ultimamente tem graciosamente ensinado a Seu povo muitas verdades relativas à vida em Cristo e ao chamado celestial da Igreja; e Satanás está ocupado tentando induzir o povo de Deus a tomar porções apenas dessas verdades, para que ele possa introduzir pesos falsos nas balanças e, assim, transformar a graça de Deus em dissolução (ou libertinagem – ARA).

Satanás quer enganar o jovem crente levando-o à sombria atmosfera de uma Canaã imaginária, onde a carne tem permissão para agir. Neste Cristianismo imaginário, a circuncisão – mortificação própria – não é permitida; o resultado prático de estar morto com Cristo não tem permissão para ferir a vontade. Mas não há estabilidade de alma, nenhuma devoção sólida. Tal crente é como o inseto, que, composto apenas de asas, e não tendo peso algum, é expulso do jardim de flores pela primeira tempestade. Quando Deus, por Seu Espírito, conduz tal pessoa para a plena luz clara de Sua própria presença, há uma santa e vigilante negação própria que supera todas as pretensões do Cristianismo professante.

Triste como é o resultado de deixar a imaginação levar a alma, talvez o efeito de aceitar a verdade divina no intelectualismo seja ainda mais. Um Cristão que sustenta a doutrina da morte com Cristo e da ressurreição com Cristo, apenas no entendimento, sai da luz do Sol da presença de Deus para uma terra de frieza mortal. Se ele transgride, ele não exercita sua alma sobre seu pecado, mas responde: “Estou morto”. Ele cobre seus maus caminhos com um manto de doutrina semelhante ao gelo, e talvez vá tão longe em distância moral de Deus a ponto de dizer que seu caráter Cristão é de pouca importância comparado com sua posição em Cristo. Infelizmente, esta não é uma imagem fantasiosa; vimos os frutos ternos do cultivo de Deus rudemente pisoteados por homens deste espírito. A doutrina tem sido ostentada, mas as virtudes que pertencem a ela têm sido ignoradas. É, de fato, uma coisa vã sustentar uma doutrina apenas em palavras; na melhor das hipóteses, não é melhor do que o brilho claro da Lua em uma paisagem desolada coberta de neve, que não alegra nenhum coração e não desperta nenhum desejo de permanecer sob sua influência.

Se a circuncisão em seu significado espiritual fosse corretamente valorizada, tais abusos da verdade de Deus certamente não encontrariam lugar no coração do crente. Mortificar nossos membros não é um exercício indolor. Dizer: “Estamos mortos” não é mortificante; mas negar os desejos de nossa velha natureza porque “estamos mortos” é. “Se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm 8:13).

O mero fato da entrada do povo de Israel em Canaã não os constituiu em liberdade diante de Deus. Eles foram trazidos para a terra da promessa pela passagem do Jordão, mas não foram declarados livres por Jeová até serem circuncidados. “Disse mais o SENHOR a Josué: Hoje, revolvi [removi – ARA] de sobre vós o opróbrio do Egito; pelo que o nome daquele lugar se chamou Gilgal (isto é, Remoção ou Liberdade), até ao dia de hoje” (Js 5:2-9). Deus tirou Seu povo do Egito, através do deserto e, para a Terra da Promessa, ordenou que fossem circuncidados e então declarou que Ele os havia libertado.

A liberdade de Deus para Seu povo é feita por Ele próprio e, portanto, perfeita. É o que Ele aprova e Se deleita completamente. E o meio pelo qual, passo a passo, Ele traz Seu povo ao desfrute dessa liberdade é a graça. Se somos homens de Deus já livres, é evidentemente na terra da promessa que temos liberdade, pois somente na plenitude do favor de Deus podemos experimentar Sua remoção da reprovação de nossa escravidão.

Agora, todo crente em Cristo está espiritualmente sobre o rio da morte, e assentado nos lugares celestiais; “acabando todo o povo de passar”, pois Cristo ressuscitou. É então uma questão solene e profunda que o crente pode colocar a si mesmo: Sou um dos homens do Senhor já livre? Não apenas ressuscitado com Cristo e assentado em Cristo nos lugares celestiais, mas praticamente livre do amor ao mundo? Será que a morte de Cristo cortou minhas afeições pelo mundo, ou ainda há, como Israel cobiçou às vezes a comida do Egito, uma cobiça por suas atrações? O próprio Deus declarou que Seu povo era livre; sua liberdade era o resultado de Sua própria obra. Sua mão graciosa havia trabalhado tanto por eles que eles não apenas passaram pelo Jordão e entraram na terra de Canaã, mas se circuncidaram.

Gilgal é o centro da força de Israel em todos os conflitos registrados no livro diante de nós. Para lá eles se dirigiram; tanto após a vitória quanto após a derrota, lá estava o arraial. E precisamos de um retorno contínuo ao nosso Gilgal; tanto na hora da tristeza quanto no tempo da prosperidade. Se quisermos ser homens verdadeiros para o Senhor, devemos sempre nos apressar para o lugar secreto da força – o santo julgamento próprio na presença de um Salvador outrora crucificado e agora ascendido.

Como este é um princípio tão profundamente importante, que seja repetido: Deus exorta Seu povo a colocar em prática aquilo que realmente existe. Ele diz: “já estais mortos”; portanto, “Mortificai, pois, os vossos membros”. Deus coloca a morte em nossa velha natureza como ponto de partida; o homem, em seus ensinamentos religiosos, exorta a destruir a velha natureza para que, em algum dia, a vida possa ser alcançada, e assim leva as almas ao desespero. Esses feitores são mais implacáveis do que aqueles que espancaram os escravos no Egito quando, sendo a palha tirada deles, eles alegaram sua impotência para fazer os tijolos. Amargo é o clamor que se eleva a Deus de muitos de Seus amados; alguns, afligindo seu corpo para se purificarem de suas concupiscências; alguns, torturados com penitências; alguns, levantando-se cedo e dormindo tarde; todos espancados por tiranos espirituais e incitados a suas tarefas sem esperança, com as palavras “Vós sois ociosos; vós sois ociosos”. Esses estão tentando destruir sua velha natureza; não sabendo que foram crucificados com Cristo e estão mortos; os tais estão se esforçando para mortificar a si mesmos por sua própria força, sendo ignorantes do poder do Espírito que habita neles. “se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”. “A carne para nada aproveita” (Rm 8:13; Jo 6:63).

É maravilhoso, diante de um ensino tão claro como é o das Epístolas aos Colossenses e aos Efésios, que tais escravos espirituais possam se submeter à sua escravidão. A menos que o crente tivesse uma nova natureza, ele não seria convidado a se considerar (sua velha natureza) morto. Quando o Cristão impõe a si mesmo a escravidão das ordenanças carnais, se sujeita a um sistema religioso, que se dirige à alma por meio de seus sentidos – por meio de visões, cheiros e sons – evidentemente não é de fé nem do Espírito de Deus. Se, pela morte de Cristo, o Cristão é separado e morto para os rudimentos (ou elementos) do mundo, será que ele deve, como se estivesse vivendo no mundo, estar sujeito a ordenanças que afetam meramente os sentidos de sua velha natureza, “Não toques; não proves; não manuseies”? Será que ele se desviará de sua Cabeça exaltada nos céus, de Quem todo alimento é ministrado, para elementos tão fracos e miseráveis como carnes, bebidas, feriados, luas novas ou sábados? Quem enganará o mais fraco dos homens de Deus já livres com uma falsa humildade e adoração de anjos? Essa “demonstração de sabedoria” é segundo os mandamentos e tradições dos homens, e não segundo Cristo.

As fontes da vida do crente estão em Deus, e não no homem; e esta verdade simples, mas abençoada (abençoada além de qualquer expressão para aqueles que conhecem experimentalmente um pouco do funcionamento do pecado interior), é a torre forte do crente. Não há uma partícula de relacionamento com Deus através dos canais da natureza do velho Adão. Quando Deus fez esses canais, eles eram amáveis e, como originalmente formados, o relacionamento com Deus fluía através deles. Mas, quando Adão caiu – quando, em desobediência e independência, ele comeu do fruto proibido – as fontes de sua natureza foram corrompidas e os canais quebraram. Deus nunca purificou as fontes, nem reparou os canais. Ele os deixa em ruínas. Agora, de Cristo nos céus, como de uma fonte vivificante, e por meio do Espírito Santo, como por um canal, a nutrição é ministrada ao povo de Deus na Terra. A água celestial alimenta a nova natureza que Ele transmitiu ao Seu povo, ela não ministra nada à velha natureza – ela nunca a alcança. Aqueles que podem ter observado os poços cavados ao redor das encostas das colinas italianas, que recebem sua nutrição da fonte distante, entenderão nossa ilustração. Lá, durante os longos meses de verão, a seca resseca os vales e, para suprir a necessidade de suas frutas, os camponeses cavam poços nas encostas das colinas. Os poços recebem sua nutrição da montanha cercada pelo céu, de cujas alturas a fonte inesgotável derrama suas águas. As águas da fonte são, podemos dizer, a vida dos poços. E o meio pelo qual a água é recebida nos poços é um curso de água em forma de fio, humilde aos olhos, mas de extrema importância. Este curso de água vai do topo da montanha até os poços, atravessando ravinas e desfiladeiros em seu curso descendente, e traz, com certeza infalível, a generosidade da fonte até os poços. Assim como a fonte é o nosso Cabeça no céu, e assim como o curso de água, é o bendito Espírito de Deus, que testifica d’Ele; e comunica de Sua plenitude ao povo de Deus.

A Palavra de Deus ensina essa doutrina, e a experiência do filho de Deus testemunha sua verdade. Apelando para essa experiência, apelamos para o testemunho do Espírito a respeito de Cristo dentre o povo de Deus. Agora, o que diz essa voz? Ela fala somente de Cristo, que é nossa Vida, nossa Fonte, nossa Força. Nada vindo do “eu”, ou no “eu” ajuda, o mínimo que seja, a conhecer, amar ou desfrutar de Cristo; mas, ao contrário, quando o “eu” é colocado fora de vista, considerado morto e esquecido, então o amor de Deus e o poder de Deus enchem o vaso de barro. “Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3:3).

O que Deus quer que Seu povo use para sua mortificação própria? É, cremos, a cruz de Cristo. Sendo ressuscitados com Ele, temos graça para usar o fato de Sua morte, como o instrumento de separação do que é do “eu” e do mundo. A cruz provou que nosso velho homem – o “eu” – está judicialmente morto “para com Deus”: “já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). Quando o crente, pela graça de Deus, percebe que está morto com Cristo, não há mais desculpa dada para a propensão do velho homem a agir de forma contrária a Deus, ou permissão para as obras da carne, ou sanção para pecar. E na medida em que ele anda com Deus no poder da vida d’Aquele que nos amou e Se entregou por nós, ele tem graça para praticamente recusar as inclinações da carne. A mente carnal ainda é inimizade para com Deus. O mundo que odiava o Filho de Deus, ainda é o mundo. Sua religião, seus governantes, seu povo, todos e cada um, se opõem a Cristo. Mas será que o poder da cruz falhou no coração e vida daqueles que estão mortos para o mundo e vivos para Deus?

É vão dizer: Nós ressuscitamos com Cristo, e estamos assentados n’Ele nos lugares celestiais, se andamos aqui como homens da Terra. “Já estais mortosmortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a Terra”.

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