Origem: Livro: Princípios da Guerra Espiritual
Aliança- Josué 9
“E sucedeu que, ouvindo isso todos os reis que estavam daquém do Jordão, nas montanhas, e nas campinas, e em toda a costa do grande mar… se ajuntaram eles de comum acordo, para pelejar contra Josué e contra Israel” (Js 9:1-2).
“Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos” (2 Co 6:14 – AIBB).
Provavelmente as notícias de Israel tomando possessão formal da terra em Ebal e Gerizim agitaram a oposição de seus inimigos novamente. Sabemos bem como a inimizade do mundo é despertada quando o povo de Deus afirma a autoridade de Sua Palavra, e o título dele a tudo o que ela promete.
Quando nossos inimigos espirituais se opõem a nós, somos lançados sobre o Senhor em busca de força, e isso é bom; mas se eles se aproximam de nós disfarçados de anjos de luz e nos cumprimentam com a Escritura, corremos o risco de sermos enganados. Israel provou isso em suas relações com os habitantes de Gibeão, que tendo ouvido falar da queda de Jericó e Ai “usaram… de astúcia”. Eles pertenciam aos inimigos que estavam lutando contra Israel, mas escolheram a astúcia como sua arma em vez de oposição aberta.
Os embaixadores gibeonitas se apresentaram com bajulação religiosa, elogiando Israel pelo nome de seu Deus. Essa tentação é difícil de resistir, pois é natural ao homem gostar desse tipo de honra. Os príncipes deveriam ter se lançado imediatamente sobre o Senhor e buscado Sua orientação; mas começaram a negociar com o mal, o que sempre abre a porta para a aflição, pois quando Satanás teve tal sucesso com o povo de Deus a ponto de ser autorizado a ser ouvido, ele ganhou um terreno de vantagem. Eva, antes de cair provou ser esse o caso, e assim também todos os seus filhos caídos. “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7). Os embaixadores, ao falar das vitórias do outro lado do Jordão, esquivaram-se da aplicação da Palavra de Deus a si mesmos, mas sem negar completamente Sua autoridade. Eles usaram a verdade inteiramente para seus próprios fins; eles apenas contaram uma parte da verdade e a apresentaram para encobrir a mentira de terem vindo de uma terra distante. Essa é a maneira de Satanás usar a Palavra de Deus, e seus servos não hesitam em assumir a aparência de devoção e falar em termos religiosos; mas nenhum deles se submete à autoridade da Palavra divina ou apresenta toda a verdade.
Os testemunhos desses gibeonitas eram pão mofado, odres de vinho rotos e remendados, sacos velhos, roupas esfarrapadas e sapatos velhos e remendados em seus pés. Esses eram seus meios de engano; e essas coisas gastas são sinais característicos de falsos embaixadores.
Uma aliança era o objetivo dos gibeonitas: “Fazei, pois, agora concerto conosco”. A tentação era grande; Israel estava na terra do inimigo, um concerto parecia força, e era um alívio encontrar amigos quando os inimigos o cercavam: mas concerto, na posição de Israel, seria confiar na ajuda humana, e, portanto, era mais perigosa do que a oposição de todas as forças unidas dos poderes da terra. Eles eram vitoriosos sobre as hostes do inimigo enquanto lutavam resolutamente com eles, mas a introdução do inimigo em seu acampamento era o início daquele processo de fermentação que, com o tempo, corrompeu todo o povo.
Satanás frequentemente se esforça para formar alianças entre o povo de Deus e o mundo, assim como o faz para derrubá-los por oposição aberta; de fato, em nossos dias, a associação maligna é sua principal armadilha. Por esse meio, ele ganhou vantagem sobre muitos. Ele os atraiu de sua integridade e dependência vigilante do Senhor para esta areia movediça, onde eles afundaram rapidamente, arrastados para o lamaçal traiçoeiro. Que o Cristão, desejoso pela glória do santo nome de seu Mestre, olhe ao redor e pergunte: Onde está a Igreja? Onde está o mundo? Não existe agora uma aliança? (Veja Tiago 4:4).
Quando os gibeonitas se dirigiram ao povo de Israel, eles ocuparam um lugar santo. Seu arraial havia sido purificado pela disciplina porque Deus estava lá, e sua responsabilidade era manter o caráter do arraial. A luz da santa Palavra de Deus havia acabado de brilhar intensamente em seu meio na presença do sacrifício, e definia expressamente sua conduta para com o povo de Canaã. As exigências morais de Deus demandavam que Seu povo destruísse completamente todos os idólatras de Sua terra; sendo Santo, Ele exigia santidade em Seu povo. Deus habitava entre eles, poderiam eles, então, impunemente se aliar às trevas? Poderiam aqueles que criam em Deus ter comunhão com os incrédulos? A aliança com os homens de Canaã era praticamente uma negação do Santo nome de Deus, e não era guardar Sua Palavra. Era uma traição à santa confiança que Jeová havia depositado neles, e eles finalmente provaram que, ao se aliar aos cananeus, eles perderam a proteção de Jeová. De fato, os príncipes fizeram a paz, mas foi uma paz com o mal, e não a paz de Deus.
Se os príncipes foram enganados na aliança, foi porque não estavam sujeitos a Deus, e isso só piorou o caso. Eles “tomaram da sua provisão e não pediram conselho à boca do SENHOR”. Se cometemos erros de julgamento, é muito mais provável que seja porque nossa própria sabedoria nos engana do que porque sentimos que não temos nenhuma sabedoria. Se aqueles, que guiavam os assuntos do povo de Deus, tivessem se submetido ao Senhor, Ele teria aberto seus olhos e ouvidos, de modo que as mentiras do pão mofado e da bajulação religiosa teriam sido aparentes.
Assim como a confiança própria do povo lhes custou a derrota em Ai, a confiança própria dos príncipes trouxe a aliança com Gibeão. Israel falhou em “destruir totalmente” as nações, que consequentemente os ensinaram “a fazer conforme todas as suas abominações”. Toda a sabedoria de Salomão não lhe valeu contra o mal em sua própria casa; seu coração se desviou do Senhor, e ele se tornou um idólatra. O conhecimento não será a salvaguarda daqueles que corrompem as exigências morais de Deus. Em um dia como o nosso, quando somos assediados pelo espírito de compromisso e da chamada liberalidade, o que é mais incumbência do Cristão do que obedecer à exortação: “conserva-te a ti mesmo puro” (1 Tm 5:22), e manter-se rigidamente nos preceitos da Palavra de Deus e fechar a porta de seu coração a todos os convites de aliança com o mal? Poderia ter parecido muito hostil para os príncipes de Israel questionar os embaixadores que vieram tão pacificamente; “Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica” (Tg 3:17).
Após uma jornada de três dias, os olhos de Israel se abriram, e o resultado do juramento foi visto como perda. Mas era tarde demais para recuperar o terreno perdido – tarde demais para se livrarem da posição para a qual seu espírito de compromisso os havia levado. As cidades que teriam caído para Israel, eles não puderam conquistar – eles não puderam expulsar os gibeonitas. “Pelo que toda a congregação murmurava contra os príncipes”. Quantas bênçãos os crentes perderam por sua aliança com o mal! Quantas vezes eles tiveram que lamentar a presença contínua daquilo que eles provaram ser fraqueza em vez de força – para ser uma ocasião que os levou a se desviar do Senhor, em vez de uma ajuda em Seu caminho. Além disso, séculos depois, Israel colheu frutos amargos dessa aliança: pois Saul, em “seu zelo pelos filhos de Israel”, procurou exterminar os gibeonitas – procurou com sua própria mão remover a punição que o descuido e a autossuficiência dos príncipes trouxeram sobre Israel, e Deus ficou descontente, e enviou ano após ano uma fome sobre a terra. “Deus não Se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”.
