Origem: Livro: Princípios da Guerra Espiritual
A Herança Repartida- Josué 18-19
“Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” (Os 6:3).
“A terra foi sujeita diante deles”, tudo, portanto, que Israel tinha que fazer era habitar nela, mas como o homem preguiçoso que não assa o que pegou na caça (Provérbios 12:27), eles não tinham o vigor para fazer completamente seu o que haviam conquistado. Nessa condição, “disse Josué aos filhos de Israel: Até quando sereis negligentes para passardes para possuir a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos deu?” Avisos quanto às consequências de sua negligência foram enviados posteriormente, mas nunca mais tal exortação.
Embora estivessem no gozo da paz, ainda assim ignoravam grandes porções da terra prometida de Deus que aguardavam distribuição entre eles, pois quando Josué ordenou aos homens: “corram a terra, e a descrevam”, apenas duas tribos e meia tinham sua herança dentro da terra de Canaã, e sete tribos permaneceram sem qualquer possessão. “Foram, pois, aqueles homens, e passaram pela terra, e a descreveram, segundo as cidades, em sete partes, num livro, e voltaram a Josué, ao arraial em Siló”.
Israel agora sabia exatamente o que lhes pertencia, pois a terra não possuída estava minuciosamente delimitada, e as cidades assim descritas estavam divididas entre as tribos em Siló; mas uma coisa é conhecer nossa porção, outra é habitar nela; e mesmo nos dias mais prósperos de Israel – o tempo de Salomão – a terra não estava totalmente ocupada.
Se somos “negligentes para passarmos para possuir” nossa herança espiritual, é porque somos ignorantes do que ela é, ou estamos satisfeitos com coisas sobre nós. À medida que a herança se desdobra diante do crente, sua mente se ocupa com ela; buscando as coisas que são de cima, ele cresce em um conhecimento mais profundo delas, e um gozo mais rico nelas. Um coração satisfeito com as coisas ao redor é a grande obstrução ao progresso espiritual, mas ao prosseguir, nosso coração se torna alargado, ao seguir o Senhor nós O conhecemos. É impossível “passarmos para possuir” com um coração dividido. “Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar Àquele que o alistou para a guerra” (2 Tm 2:4).
Energia silenciosa, porém persistente, da alma é aquilo a que o Cristão deve se dedicar. Cada dia que Israel permitiu que o inimigo continuasse em suas fortalezas, ou retornasse de seus esconderijos e se restabelecesse na terra, era um dia perdido; e cada dia desses tornava mais difícil o “passar para possuir” que estava sobre eles. E enquanto cada passo na verdadeira devoção a Deus é um ganho positivo real, cada dia gasto em ociosidade espiritual é uma nova dificuldade a ser superada. Há uma profunda necessidade de cultivar uma seriedade habitual, um crescimento daquele espírito que se volta para as coisas celestiais sem esforço. Vemos aqueles que sentimos ser devotados a Deus, a quem reconhecemos como Seus valentes, vivendo na atmosfera de Sua presença e agindo no vigor de Seu Espírito. Mas eles não atingiram sua força espiritual em um momento. Os jovens que venceram o maligno não eram outrora “filhinhos (crianças – JND)”? (1 Jo 2). Eles aprenderam a suportar “as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”, sem treinamento? Paulo nos diz que ele subjugou seu corpo e o reduziu à servidão (1 Co 9:26-27), e podemos ver nele uma força espiritual ainda maior no final de sua carreira do que no início.
Será que, pela graça do Espírito de Deus, em alguma medida, temos vencido a propensão que há em nós de nos ocuparmos com as coisas que nos cercam, aquela ociosidade da alma que é “negligente a passarmos para possuir”? Infelizmente quantos Cristãos, mesmo sabendo que há coisas grandes e gloriosas descritas nos conselhos de Deus, se contentam com a irrealidade da alma, ficam satisfeitos em passar grande parte de sua vida sem viver verdadeiramente no poder das bênçãos com as quais são abençoados nos lugares celestiais em Cristo. Quão difícil é dominar o espírito de modo a incansavelmente “passarmos para possuir”. A inércia de nossa natureza, sua total incapacidade nas coisas divinas, sua contrariedade de gostos e desejos, seu ódio positivo a elas, além do mundo exterior que continuamente despeja suas atrações nos portões de nossos sentidos, são usados pelo adversário para atrofiar nosso crescimento, “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”, e tudo isso conduz à nossa “preguiça”. Assim como um soldado pode revigorar seus companheiros, o Cristão pode ajudar seus irmãos; e somos instruídos a exortar uns aos outros diariamente, e tanto mais quanto vemos o dia se aproximando. Que ninguém se contente com a garantia de que “tudo é vosso”, mas se levante na energia do Espírito de Deus para habitar agora no poder dela. “Até quando sereis negligentes para passardes para possuir a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos deu?”
Há uma grande diferença entre possuir e conhecer. Uma coisa era Israel ouvir a respeito das cidades de sua herança lidas em Siló; outra coisa era habitar nelas. Possuir é habitar no poder do que conhecemos. É praticamente expulsar o inimigo. O propósito de possuir deve levar ao conflito. Vemos isso no exemplo do apóstolo Paulo, um homem determinado a não saber nada entre os homens, exceto Cristo e Ele crucificado; foi assim que ele enfrentou o inimigo que estava levando cativos os Cristãos da Galácia. Novamente o vemos face a face com o inimigo em Colossos; ouvimos falar dele solitário na Ásia por amor a Cristo, mas nada é permitido que o movesse. Possuir é algo essencialmente prático e envolve necessariamente diligência de coração. Em um sentido, nos assemelhamos a Israel, que teve uma extensão maior de território dada a eles do que eles possuíram e, de fato, quanto mais plenamente percebemos nossa porção celestial, mais sentimos quão pouco, de uma maneira prática, nos apropriamos dela.
Falamos de Israel possuindo sua terra que mana leite e mel, mas essa terra dá uma ideia fraca dos lugares celestiais e da abundância espiritual. Os inimigos cananeus se assemelham aos inimigos espirituais dos Cristãos apenas em medida. Sinais e símbolos são insuficientes para transmitir a realidade das coisas espirituais à mente; a linguagem falha em expressar os profundos sentimentos do coração: é somente o Espírito que perscruta as coisas profundas de Deus, e somente esse Espírito que as revela a nós (1 Co 2:10).
Tendo a terra sido entregue a Israel e dividida a cada tribo de acordo com a ordem que o Senhor achou por bem, “deram os filhos de Israel a Josué, filho de Num, herança no meio deles”, e assim terminou a repartição da herança.
