Origem: Livro: Princípios da Guerra Espiritual
O Refúgio do Pecador- Josué 20
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro Nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12).
Tendo a herança sido distribuída entre as tribos, era necessário, para preservar a santidade da terra, que um refúgio fosse providenciado contra as mãos do vingador.
A cidade de refúgio foi ordenada por Deus para a segurança daquele que, sem querer, matasse seu próximo e, uma vez dentro de suas portas, o homicida era preservado da vingança pelas mesmas leis que exigiam seu sangue enquanto ele estivesse fora da cidade. As portas da cidade estavam sempre abertas, pois o objetivo de prover a cidade era “para que todo homicida se acolha ali” (Dt 19:3). A terra ao redor era disposta de tal forma que as estradas principais corriam em direção às suas portas, e, como a cidade era construída em um local elevado, não poderia haver dificuldade em encontrar o caminho; era tão simples, que os viajantes, embora símplices, não podiam errar quanto a ele.
A necessidade levava o homicida às portas abertas da cidade, ele sabia que o vingador do sangue estava em seu encalço, então ele fugiu para salvar a vida, deixando família e lar. “Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida”. E quando o pecador percebe o julgamento vindouro, ele não ousa ficar parado. Se algum homem acreditar que sua segurança eterna está em jogo, tudo o que é mais agradável na Terra falha em apaziguá-lo, tudo o que é mais caro não consegue detê-lo. A indiferença estaria fora de questão para o homicida que sabia que o vingador do sangue o procurava, mas o seu fim estaria próximo se ele se abrigasse sob uma falsa segurança, confiando que não seria descoberto. Como as portas da cidade estavam abertas dia e noite, e como a cidade foi expressamente provida por Deus para o homicida, o sangue daquele que brincou com a sua segurança e pereceu pelas mãos do vingador, estava sobre sua própria cabeça. É a falsa paz que arruína tantos que, se embalando em uma segurança equivocada, brincam com a justiça de Deus e adiam, para “quando tiver ocasião favorável”, aquela jornada que aquele homem que acredita em sua condenação e no decreto irrevogável de Deus, não ousa adiar por um momento. E assim eles perecem, apesar das portas da misericórdia estarem escancaradas para recebê-los; e esses perecem justamente, pois rejeitam voluntariamente a provisão que o próprio Deus fez para eles.
Longa e penosa pode ter sido a jornada do homicida até a cidade provida para sua necessidade; ele pode ter tido que arrastar um corpo fraco pela cansativa estrada do monte; sua força pode ter falhado, ele pode ter caído no caminho, o vingador pode ter sido mais forte e mais rápido do que ele, mas Jesus é mais para o pecador do que o Refúgio do julgamento; Ele é a Vida, e para aqueles que estão n’Ele não há morte. Esforçar-se para se preparar para a misericórdia é supor um estágio intermediário para a segurança eterna e ignorar o Senhor Jesus como a Salvação de Deus. Nesta hora presente, todo homem ou tem o Filho de Deus e a vida, ou tem a ira de Deus que permanece sobre ele. O homicida sabia que o caminho para a cidade de refúgio foi feito pela designação de Deus e, com a vingança em seu encalço, apressou-se para ela, usando toda a sua energia para escapar. Estamos “fracos”, mas aquele que confia em Cristo está seguro imediatamente. Bem, é para aqueles que sentem sua total impotência, bem como seu perigo eterno, que o Senhor Jesus é realmente precioso.
Fora de Cristo, Deus não tem misericórdia para o homem. Seria impossível para Ele, tendo dado Seu Filho, dar vida eterna a qualquer um, exceto por Ele. É uma reprovação ao amor e à justiça de Deus pensar em segurança, por qualquer outro meio que não seja por “Àquele que não conheceu pecado” e que foi feito “pecado por nós; para que, n’Ele, fôssemos feitos justiça de Deus”. E mais do que isso, a morte de Cristo selou a condição do homem; “se um morreu por todos, logo, todos morreram”. A cruz declarou o fim do homem na carne aos olhos de Deus, pois Cristo, o Santo, tomando o lugar do homem, foi abandonado por Deus. O Senhor Jesus tornou-Se responsável pelo homem e morreu para o pecado. E agora aqueles que se submetem à justiça de Deus, como visto na cruz de Cristo, confiam em Cristo que morreu e ressuscitou. A justiça não poderia ser colocada de lado no caso do homicida para fins de misericórdia, pois as leis de Deus seriam quebradas, Seu governo seria anulado. “Quebrantando [menosprezando – JND] alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia”. Em vão é o pensamento para o pecador de um perdão no dia do julgamento; será que a majestade eterna de Deus poderá ser levianamente menosprezada? Deus declarou que, exceto por Cristo, não há perdão, nenhuma salvação para o homem, e terrível será sua condenação, eterno será o castigo do qual serão considerados dignos, os que presumem alcançar libertação, exceto pelo sangue de Cristo.
Deus separou a cidade de refúgio para o homicida, portanto, sobre os princípios de Seu governo, aquele que entrasse nela estaria seguro. Cristo satisfez abundantemente as reivindicações da justiça de Deus sobre o pecador, de modo que agora a condenação do homem está em rejeitar a Cristo. Deus é ricamente glorificado no sangue de Seu próprio Filho amado, sobre a terrível questão da culpa humana, que, portanto, agora não é mais um obstáculo à misericórdia. Mas, infelizmente, o obstáculo está na dureza do coração humano, que não vem a Cristo para receber vida. Terrível contemplação! Cristo, o Filho de Deus, morreu pelos pecadores e ressuscitou, e Deus oferece a vida eterna, e os homens, embora concordando com esta graça indizível, vivem em seu estado de morte, sem Deus, sem Cristo – e a ira de Deus permanece sobre eles.
A segurança do homicida dentro dos muros da cidade de refúgio dá apenas uma ideia tênue e imperfeita da segurança do crente em Cristo. Ele poderia ter vagado fora dos muros da cidade e sido exposto à destruição imediata. Quando o Sumo Sacerdote morresse, ele deixaria a cidade levita e retornaria para sua própria casa, onde foi exposto ao perigo de cometer uma nova ofensa; mas não há retorno de estar em Cristo. O crente em Cristo é mais do que protegido da vingança, ele é justificado de todas as coisas. Cristo carregou nossos pecados em Seu próprio corpo na cruz, Ele suportou a ira de Deus contra o pecado quando Ele foi pendurado lá; e agora Deus O ressuscitou dos mortos e O exaltou à Sua própria mão direita nos céus. A justiça não pode fazer mais nenhuma reivindicação sobre aqueles que sofreram a penalidade de sua sentença e suportaram sua ira, e isso Cristo fez, e sendo ressuscitado dos mortos não morre mais, a morte não tem mais domínio sobre Ele. Sua perfeita aceitação nos céus é a aceitação do crente, que é aceito n’Ele. Por Ele, Deus pode ser Justo e Justificador de todos os que creem n’Ele. Cristo ressuscitado é a medida da libertação daqueles que confiam n’Ele. Que salvação é essa! O apóstolo ora para que fossem “iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais… qual a sobreexcelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos e pondo-O à Sua direita nos céus” (Ef 1:18-20).
O Cristão, além de ser justificado, também é trazido para um novo estado; ele passou para sempre de uma cidade para outra. Ele foi, pelo poder de Deus, transferido de sua condição anterior como homem em Adão, e é colocado “em Cristo”. A morte é a penalidade da primeira condição. “Em Adão todos morrem”, mas aquele que está “em Cristo, é nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo” (TB). O homicida que entrou na cidade de refúgio não foi transformado, ele estava meramente em um lugar de segurança; o homem em Cristo é uma nova criação. Ele vive diante de Deus em outra existência, distinta daquela vida que, como homem em Adão, ele recebeu das mãos de seu Criador. A vida do Cristão é a do Filho de Deus. Viver em uma nova vida, uma vida que é perfeitamente livre, de acordo com a própria mente e as exigências de Deus, é muito mais do que segurança. Aqueles que estão em Cristo morreram com Cristo, passaram com Ele pela morte e ressuscitaram com Ele. A vingança – toda a ira de Deus contra o pecado – se apoderou do Senhor Jesus quando Ele, na cruz, por Sua própria livre vontade, tomou nosso lugar e penalidade. Sua morte nos ensina a nos considerarmos mortos. Sua vida é a vida do crente. “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho”, “e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. O crente no Senhor Jesus é, portanto, privilegiado e exaltado. Ele é trazido para perto de Deus além do que Adão no Paraíso conhecia – além do que era conhecido até mesmo pelos anjos eleitos. O homicida entrou na cidade dos levitas, e aqueles designados para ensinar a Israel a Palavra de Deus eram sua companhia contínua; o homem que confia em Cristo é um da família de Deus, um herdeiro de Deus e coerdeiro com Cristo.
Que privilégio e graça sem iguais têm aqueles que estão em Cristo! Que misericórdia e que amor são os de Deus para com o principal dos pecadores! Com que sabedoria Ele transformou as profundezas do pecado e da ruína do homem em uma ocasião para a exibição de Sua glória.
As reivindicações da justiça de Deus tendo sido plenamente atendidas, a justiça divina tendo sido perfeitamente satisfeita, as portas da misericórdia estão agora totalmente abertas e Deus declara Seu próprio caráter de amor; Ele mesmo roga, convida pecadores a serem participantes de Sua graça. Certamente havia uma voz apelando ao homicida, nas portas abertas da cidade de refúgio, e que voz fala agora do céu! O amor agora clama alto do trono da majestade nas alturas. O Senhor Jesus que está assentado ali Se proclama a Si mesmo a Vida para o homem culpado e merecedor do inferno.
As cidades de refúgio foram designadas para aqueles que involuntariamente e sem malícia mataram seus próximos; mas quão diferentes são os termos de nossa salvação! Em inimizade voluntária a Deus, cada pensamento e propósito estando em oposição a Ele, Deus prova o Seu amor por nós pelo dom de Seu próprio Filho.
Aquele que, como um homicida, entrou na cidade de refúgio foi justificado. Tal pessoa aceitou a salvação oferecida e foi salva pela fé. A fé o impeliu para a estrada; a fé o levou para dentro das portas. Mas de que serviria o conhecimento da sentença, o conhecimento do caminho, o conhecimento das portas abertas, se não houvesse, além disso, uma fé pessoal que aplicasse tudo à própria necessidade do homicida?
