Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome

Parte 5 – O Nome Sobre Todo Nome

Às vezes, levanta-se a questão de qual é esse nome, mas quer seja o nome de JESUS – como parece provável, se a interpretação revisada[2] for adotada – ou não, seu significado é muito evidente. Uma passagem da epístola aos Efésios explicará isso. Em conexão com a exibição da suprema grandeza do poder de Deus “sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos”, o apóstolo prossegue, “e pondo-O à Sua direita nos céus, acima [muito acima – KJV] de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não apenas neste século [mundo – KJV], mas também no vindouro” (Ef 1:19-21). Aqui, o significado evidentemente é que, qualquer que seja a exaltação ou dignidade de qualquer uma das hierarquias ou inteligências celestiais, Cristo como o Homem glorificado foi colocado acima de todas elas. Entre o vasto número de seres celestiais, Ele é absolutamente supremo. A tradução “muito acima” pode não ser exatamente justificada pela palavra grega usada, mas não podemos duvidar de que nossos tradutores aproveitaram seu espírito ao procurar expressar que não havia um semelhante ao Cristo glorificado, que Sua exaltação é tão indescritível que todas as mais altas graduações de existências angélicas estão muito abaixo de Seus pés. Da mesma forma, em Filipenses 2 “o nome sobre todo nome”[3] indicará a supremacia absoluta em todo o universo do Cristo glorificado como Senhor. Nada menos do que isso satisfará os termos desta passagem.
[2] N. do T.: A leitura revisada refere-se a um texto grego diferente do “textus receptus”.
[3] N. do A.: Alguns manuscritos indicam “o” (adotado pela AIBB, TB e ARA) em vez de “um” nome (adotado pela ARC e ACF), e a Versão Revisada (inglesa) adotou isso.

Isso será mais facilmente entendido se considerarmos o lugar e a conexão em que essas palavras se encontram. Em certo sentido, a passagem do versículo 5 ao 11 é completa em si mesma. Ela vai num crescente a partir de exortações anteriores, e aqui está a maravilha de que toda essa bendita revelação da Pessoa, do caráter, da encarnação de Cristo, Sua humilhação e consequente exaltação, seja dado para fazer valer a exortação do apóstolo de que a mente “que houve também em Cristo Jesus”, visto em Sua vinda “desde a mais plena glória da Divindade, até às profundezas da dor do Calvário”, deve estar diante dos crentes como seu exemplo! Que possamos, então, refletir sobre ela, pois quanto mais ela for considerada, mais profundamente ela se imprimirá em nossa alma. Em uma eternidade passada, Ele, que esteve aqui embaixo como o Humilhado, sendo – subsistindo (ARA) – na forma de Deus. Tal declaração, por mais que esteja além do alcance máximo de todos os nossos pensamentos, não pode significar menos do que Sua Divindade absoluta e essencial. Isso fala de Sua existência eterna como Deus, assim como João diz sobre o Verbo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Sobre essa bendita verdade paira toda a verdade da revelação e da redenção. Renunciar a isso seria perder o Sol do sistema solar e, assim, trazer escuridão, caos e destruição. Por isso mesmo, em todas as épocas, a controvérsia tem sido grande em torno da Pessoa de Cristo. Ora Sua Humanidade, e ora Sua Divindade, foi obscurecida, se não negada. A fé enfrenta todos os argumentos do homem pelas simples afirmações da Palavra de Deus.

Se, no entanto, a Divindade de nosso bendito Senhor é aqui introduzida, é apenas para magnificar Sua graça e humilhação própria, pois a afirmação disso é seguida imediatamente por palavras de importância transcendente. Primeiro, Ele “não teve por usurpação ser igual a Deus, mas segundo, “aniquilou-Se a Si mesmo”, ou, mais literalmente e exatamente, “esvaziou-Se” (TB). A primeira frase significa que, embora Ele subsistisse na forma de Deus, Ele não usou isso para exaltação própria, e como na versão de Darby, “não considerava um objeto de rapina estar em igualdade com Deus”. É, sem dúvida, um contraste com Adão, que caiu na armadilha de Satanás de procurar exaltar a si mesmo, ser “como Deus, conhecendo o bem e o mal”. Adão, sendo homem, procurou exaltar a si mesmo, Cristo, sendo Deus, humilhou-Se a Si mesmo. Quão abençoado é o contraste! Essa era a mente que estava em Cristo Jesus, e a próxima frase – “mas aniquilou-Se a Si mesmo” – contém a primeira manifestação dessa mente. Devemos nos aproximar de tal afirmação com os pés descalços (pois o lugar é santo). Do que, então, Aquele que sendo em forma de Deus esvaziou-Se a Si mesmo? Recentemente, foi escrito que Ele Se esvaziou de “prerrogativas divinas”; outros ensinaram que o esvaziamento incluía Seus atributos divinos. De maneira nenhuma! Admitir isso é certamente obscurecer a verdade essencial de Sua Divindade e abrir a porta para o racionalismo em suas piores formas. Pois o que são atributos? São as características da Divindade, de modo que esvaziar-se dos atributos é deixar de lado a Divindade. Não! Mil vezes não! Como alguém disse: “O Ser essencial da Divindade não pode mudar. Seu esvaziamento próprio aplica-se à forma”.

As próximas frases deixarão isso claro, descrevendo, como fazem, o processo e o efeito do esvaziamento: Ele “tomando a forma de Servo, fazendo-Se [ou melhor, tornando-Se foi Seu próprio ato voluntário e, de fato, divino] semelhante aos homens”. Foi como Deus que Ele Se aniquilou, e agora essas palavras O apresentam a nós depois que Ele tinha agido assim, pois O vemos à semelhança dos homens e na forma de Servo. Isso inclui toda a verdade da encarnação e, por meio dela, somos capazes de formar alguma estimativa, por mais inadequada que seja, da imensidão do rebaixamento de “a forma de Deus” para “a forma de Servo”. Ninguém além de Deus Se iguala a tal condescendência e graça, pois era realmente a exibição do amor divino no meio dos pecadores, e ninguém além de Deus poderia ter feito tal rebaixamento, pois o homem está limitado à sua própria forma e modo de existência. No fato da encarnação, portanto, contemplamos um dos gloriosos mistérios da redenção. E embora sejamos incapazes de entender seu pleno e abrangente significado, ainda aprendemos que quanto mais baixo Cristo descia, mais brilhava o esplendor de Sua glória divina! Pois Deus é luz e Deus é amor, e onde contemplamos isso? Certamente n’Aquele que tomou sobre Si a forma de Servo. Em cada passo de Seu caminho, em Suas palavras de graça e verdade, em Suas obras de poder e misericórdia, a luz e o amor em toda a sua perfeição podem ser percebidos pelo olho aberto, e o coração divinamente instruído é constrangido a exclamar: Eis! Deus está aí.

Como já foi dito, como Deus, Ele Se aniquilou [esvaziou-Se – TB], e agora aprendemos que, como Homem, Ele Se humilhou. De fato, toda a vida de nosso bendito Senhor como Homem é resumida nestas palavras: Ele “humilhou-Se a Si mesmo”, pois não é, como em outra versão e tornou-Se obediente até à morte” (KJV), mas sendo obediente[4], isto é, humilhando-Se a Si mesmo; e então, para trazer à tona o caráter completo da humilhação, é adicionado, “e morte de cruz”. Esse foi um lugar baixo, de fato, que Ele tomou quando assumiu a forma de Servo, mas quão mais baixo quando, “achado na forma de Homem”, Ele desceu à morte vergonhosa da cruz! E lembremo-nos novamente em nossas meditações, enquanto nos maravilhamos e adoramos na presença de tal infinita condescendência, que Cristo é aqui apresentado como nosso Exemplo. A pergunta pode muito bem ser feita, na bela linguagem de outra pessoa, “Será que nossas afeições não são atraídas e absorvidas ao nos determos, com deleite, no que Jesus foi aqui embaixo? Admiramos, somos humilhados e somos conformados a Ele pela graça. Cabeça e fonte desta vida em nós, a exibição de Sua perfeição n’Ele atrai e desenvolve suas energias e humildade em nós. Pois quem poderia ser orgulhoso em comunhão com o humilde Jesus? Humilde, Ele nos ensinaria a ocupar o lugar mais baixo, mas que Ele mesmo tomou, o privilégio de Sua graça perfeita. Bendito Mestre, que possamos pelo menos estar perto e escondidos em Ti”.
[4] N. do T.: É um distinto ponto. O Sr. Dennett está chamando a atenção para uma questão técnica sobre a expressão “becoming obedient” (JND) (“sendo obediente”). A importância do ponto não é apenas o fato de que Ele fez isso (foi obediente até à morte), mas a ênfase está em Seu comportamento enquanto fazia isso (sendo obediente). A beleza da Sua obediência brilha enquanto que Ele estava fazendo isso (morrendo). Esta é a mente (sentimento) de Cristo que é colocada diante de nós. Tem a ver com Sua atitude enquanto o fazia. Uma pessoa pode expressar desdenho e se render à morte sem fazê-lo nobremente. Cristo foi perfeito até na maneira como obedeceu.

Tal é o maravilhoso fundamento sobre o qual se baseia a presente exaltação de Cristo. Que há uma conexão direta entre os dois é visto na expressão “pelo que”, que também nos expressa a estimativa do coração de Deus da humilhação de Cristo. Muitos fundamentos da glória de Cristo são dados na Escritura. Sua dignidade, por exemplo, é celebrada em Apocalipse 5, em virtude da redenção que Ele havia assegurado por meio de Sua morte e pela eficácia de Seu sangue. Ele mesmo reivindica ser glorificado em João 17, porque glorificou o Pai na Terra e consumou a obra que lhe foi dada a fazer.

Aqui o aspecto é bem diferente. É o próprio Deus intervindo, no gozo de Seu coração, em Seu deleite n’Aquele que Se humilhou tanto e O elevando àquelas alturas de glória que Ele agora ocupa; e o ato proclama em alta voz, em todo o universo, que nenhuma outra posição teria sido comparável aos Seus méritos, que Aquele que desceu ao mais baixo de todos deve ter o lugar mais alto. Moralmente, é a exemplificação do princípio, em toda a sua perfeição, que o próprio Senhor enunciou – “aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Pode-se então dizer que Sua alta exaltação era apenas Seu mérito e coroa. O apóstolo em sua epístola aos Efésios toca em outro lado deste grande assunto. Lá, ele nos diz que Aquele que desceu às partes mais baixas da Terra é O mesmo que subiu muito acima de todos os céus, para encher todas as coisas (cap. 4:9-10). Embora possamos não ser capazes de sondar essa profunda linguagem, ela não pode significar menos do que isto, em virtude da humilhação de Cristo e da obra que Ele efetuou para a realização dos conselhos de Deus, Ele finalmente inundará todo o universo com Sua própria glória redentora. E isso, e nada menos do que isso, será a resposta de Deus à humilhação de Seu amado Filho.

Voltando à nossa passagem, aprendemos que “o nome que é sobre todo nome” (TB) é dado a Ele como parte de Sua exaltação, ou melhor, que é a própria estimativa de Deus do que era devido Àquele que Se humilhou, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. É assim a dignidade de Cristo demonstrada pelo lugar que Deus Lhe deu para ocupar. Dizemos, “dado a Ele para ocupar”, porque a apresentação aqui é a de Sua exaltação como Homem, como consequência de Sua perfeita obediência e inteira devoção à glória de Deus durante todo o Seu caminho na Terra até à morte, inclusive. O que é “o nome”, ou se é o nome de Jesus, já foi observado, não pode ser decidido; e, de fato, é a coisa significativa para a qual o Espírito de Deus direcionaria nossa atenção. O significado, repita-se, é que, quaisquer que sejam os seres exaltados que cercam o trono celestial, o glorificado Jesus está acima e além de todos eles. O nome concedido a Ele, em virtude de Sua humilhação, evidencia uma dignidade que transcende em muito as posições mais exaltadas da hoste celestial e diz, além disso, que Ele é supremo em todos os mundos que constituem o universo de Deus. Se, então, essa posição que Ele agora preenche é expressiva do deleite de Deus no outrora humilhado Cristo, não despertará também o deleite do povo de Deus ao contemplá-Lo naquele estado e glória? É na graça de nosso Deus que somos chamados a compartilhar de Seu próprio deleite em Seu Filho amado; e o gozo disso, por mais fraco que seja sua medida, é realmente o antegozo – o começo – dos regozijos celestiais que, enchendo o coração, mesmo enquanto pisa nas areias do deserto, só pode encontrar uma saída por meio do canal de adoração e do cântico.

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