Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome

Parte 7 – Em Seu Nome

Ao examinarmos esse título, descobriremos que há, de modo geral, um duplo significado conectado a essa expressão – um voltado para Deus e outro para o homem. A isso pode ser adicionada a expressão que, embora ligeiramente diferente, pode ser adequadamente incluída sob este título, ou seja, “crer” “no Seu nome” (Jo 1:12, 2:23). A palavra “no” neste caso não é no sentido que geralmente é traduzida, mas sim, “em o” ou “para o”, que unida com a palavra “crer”, indica o objeto para o qual a fé tem sido atraída. Isso será mais facilmente entendido se for explicado que existem na Escritura três maneiras principais de estabelecer a fé. Por exemplo, diz-se que Abraão creu em Deus [“Abraham believed God”]; também lemos várias vezes, especialmente no evangelho de João (embora as palavras nem sempre sejam assim traduzidas), sobre crer no Cristo, e, além disso, encontramos crer a respeito d’Ele, ou sobre Ele, como em Atos 16:31, etc. Há uma diferença muito distinta nesses vários modos de expressão. Crer[5] em uma pessoa é receber sua palavra ou testemunho, crer nela (believe in) é acreditar que ela é digna de confiança; e crer em (believe on) é realmente descansar ou confiar no objeto da fé que foi apresentado à alma. Podemos ver, portanto, que crer no nome de Cristo é a concordância da alma à Sua confiabilidade, e que o nome de Cristo, a expressão de tudo o que Ele é, é aquilo que é proclamado no evangelho como o objeto para a fé. E a aceitação desse testemunho, o testemunho do que Cristo é, como o Senhor Jesus Cristo, é o início de todas as bênçãos. O direito para tomar o lugar de filhos está conectado a isso (Jo 1:12), como também o direito para a possessão da vida eterna (Jo 3:15-16). Chamamos a atenção para isso, e sinceramente insistimos com o leitor, porque, sem o conhecimento desta porta de entrada para toda a bem-aventurança, é impossível entrar na consideração da virtude do nome de Cristo. O valor de Seu nome deve ser conhecido para a salvação antes que possa ser desfrutado na presença de Deus, ou antes que possa ser usado no mundo.
[5] N. do T.: (No inglês, diferentemente do português, não há necessidade de usar preposições adicionais com o verbo crer (believe) – como em Romanos 4:3 – JND e KJV “Abraham believed God” – Abraão creu Deus)

Lemos em João 14, “E tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei”. Como mostram as últimas palavras do versículo 13, está aqui, de acordo com a verdade característica deste evangelho, o nome do Filho e não o de Cristo, mas isso ilustrará ainda mais nosso ponto. O que então nos é apresentado é que os crentes são divinamente autorizados a comparecer diante do Pai em nome do Filho; que eles mesmos, em relacionamento por terem nascido de novo e recebido o Espírito de adoção por meio da morte e ressurreição de Cristo, em associação com Ele em Seu próprio relacionamento (Jo 20:17), estão agora livres para entrar na presença de Seu Pai, e do Pai deles, em Seu bendito nome. Que essas palavras indicam o período após Sua morte, ressurreição e ascensão é evidente pelo fato de que a presença do Espírito Santo é contemplada (Jo 14:16-17, etc.). Quando esse tempo chegasse, e não antes, eles poderiam pedir ao Pai em Seu nome. Isso explicará a linguagem do Senhor no capítulo 16: “E, naquele dia, nada Me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora” (durante o tempo de Sua permanência com eles na Terra) “nada pedistes em Meu nome; pedi, e recebereis, para que vossa alegria se cumpra” (vs. 23-24). Quem de nós entrou no vasto significado dessa passagem? Ou quem se valeu em todo o seu comprimento, largura, altura e profundidade da graça indescritível aqui expressa?

Vamos então examinar essas comunicações maravilhosas, e para nos ajudar, podemos perguntar, em primeiro lugar, o que se entende por pedir em nome do Filho. Estar diante do Pai dessa forma é estar lá em todo o valor desse nome, de acordo com a própria estimativa do Pai, com toda a reivindicação do Filho sobre o coração do Pai e com a autoridade do Filho para a apresentação de nossas petições. Quando Ele mesmo, o Filho encarnado, estava junto ao túmulo de Lázaro, disse: “Pai, graças Te dou, por Me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves”. Se, portanto, pedirmos alguma coisa em Seu nome, também seremos sempre ouvidos e isso é precisamente o que o bendito Senhor promete aqui. Então, entendendo que Ele nos deu essa liberdade e privilégio, quando estamos no gozo do relacionamento que Ele assegurou para nós com o Pai, duas coisas ainda precisam ser determinadas, primeiro, quanto à Sua autoridade necessária para as petições aqui referidas, segundo, quanto ao assunto delas. A autoridade do Filho para expressar quaisquer desejos especiais gerados em nosso coração só pode ser obtida em comunhão com Sua própria mente, como a Escritura nos ensina pelo Espírito Santo. E, portanto, seu assunto só pode dizer respeito às próprias coisas do Filho. Ou seja, em outras palavras, a garantia dada de que tudo o que pedirmos em Seu nome será feito não pode indicar nossas próprias necessidades e desejos pessoais, mas supõe que Seu povo esteja em comunhão com Seus próprios desejos, objetos e interesses, para que possam orar por eles em Seu próprio nome e com Sua autoridade. Pois quando aprendemos, em qualquer fraca medida, quais são os conselhos do Pai para a glória de Seu Filho amado, somos livres, se tivermos deixado de nos ocupar conosco, para sermos levados ao vasto círculo das coisas do Filho e das coisas do Pai (Jo 16:14-15), e orar pelo cumprimento de todos esses propósitos maravilhosos de Seu amor. Que lugar é esse em que somos introduzidos! E que graça nos investe com toda a Sua própria preciosidade diante do Pai!

Se por um lado podemos comparecer diante de Deus em nome de Cristo, por outro, isso nos instrui a que façamos tudo, seja entre nossos irmãos ou no mundo, em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus e Pai por Ele (Cl 3:17). Esses dois aspectos são constantemente, e de todas as maneiras, apresentados na Escritura. Em João 17, por exemplo, depois que o Senhor colocou os discípulos em Seu próprio lugar diante do Pai, Ele lhes dá Seu próprio lugar diante do mundo. Pedro, da mesma maneira, ensina que, se os crentes têm um santo sacerdócio para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo, eles também têm um sacerdócio real para mostrar ao mundo os louvores (excelências) d’Aquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Isso é apenas para declarar a bendita verdade de que o crente é inseparável de Cristo, seja diante de Deus ou diante dos homens, que pela graça ele está tão ligado a tudo o que Ele é e realizou, que ele entra no Santo dos Santos em todo o valor de Sua Pessoa e Sua obra, e passa pelo mundo como Seu representante. Na verdade, esta última palavra é a que mais expressa o que é agir em nome de Cristo, ou, como nessa passagem, em nome do Senhor Jesus (Cl 3:17). É agir em Seu nome e sob Sua autoridade. O que um embaixador, ou um agente diplomático, é em relação ao seu soberano, o Cristão é em relação a Cristo. Ele deve ser governado inteiramente pela vontade de seu Senhor, ele deve, com toda a fidelidade, expressar Sua mente, estudar Suas instruções e procurar de todas as maneiras promover Seus interesses. O egoísmo e os objetivos egoístas não podem ter lugar em tal missão, seu lema deve ser o do apóstolo Paulo: “Para mim o viver é Cristo”, e somente Cristo é o Motivo e o Objeto de todas as suas atividades.

Podemos fazer uma pausa na presença de tal declaração e exclamar: Quem é apto para tal missão? Para que ninguém, portanto, se sinta sobrecarregado com o pensamento do que podem considerar uma responsabilidade tremenda, lembrem-se de que Aquele que nos envia para agir em Seu nome nos sustenta na missão com todo o Seu poder. Ninguém vai à guerra por conta própria a qualquer momento. O nome do Senhor, de fato, quando corretamente sustentado e usado, carrega onipotência consigo. Assim, quando os setenta voltaram para o Senhor, eles disseram: “Senhor, em Teu nome, até os demônios se nos submetem” (Lc 10:17 – AIBB) (“em” e não “pelo”, como traduzido na ARC, ARA) “Eis”, respondeu o Senhor, “que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo”. A missão e o poder para sua realização estão, portanto, intimamente ligados, apenas a fé, a fé em ação, é a condição essencial para o uso do poder. Essa verdade precisa ser insistentemente enfatizada no momento atual, se quisermos que haja um reavivamento ou recuperação, antes do retorno do Senhor. Está escrito: “Tudo é possível ao que crê”; lemos as palavras, não duvidamos delas, e ainda assim raramente pensamos na possibilidade de serem comprovadas em nossa própria experiência. Um santo do passado sabia o segredo quando escreveu: “Senhor, o que Tu ordenas, e então ordena o que Tu queres”. Mesmo assim, pois é apenas pelo próprio poder do Senhor que o menor de Seus preceitos pode ser traduzido em prática; embora seja igualmente verdade que Seus maiores mandamentos são tão fáceis de executar quanto o menor, na medida em que o poder adequado está sempre a serviço da fé. Isso é visto no caso do homem com a mão mirrada. Como ele poderia esticar um braço que estava seco e morto? Ele creu, e o poder divino fluiu para sua mão morta; ele a estendeu, e eis que “ficou sã como o outra”.

Algumas ilustrações de ação em nome de Cristo ajudarão no entendimento de todo o assunto. Tomemos primeiro um exemplo de atividade apostólica nos dias pentecostais. Quando Pedro e João encontraram o coxo na porta do templo que é chamada Formosa, Pedro expressamente negou agir em sua própria autoridade, ou poder, dizendo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3:6). Da mesma forma, Paulo, “em nome de Jesus Cristo”, ordenou que o espírito maligno que possuía a jovem que o seguia por muitos dias saísse dela. Em ambos os casos, eles agiram, portanto, como Seus servos e usaram, no exercício da fé, Seu poder nos milagres operados. Da mesma forma, ao corrigir distúrbios entre os santos em Corinto e em Tessalônica, o apóstolo agiu em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 5:4; 2 Ts 3:6). Esses exemplos serão suficientes para mostrar que em todo serviço, bem como em todos os deveres e responsabilidades da vida diária, é privilégio do crente agir em nome de seu Senhor. É, de fato, seu verdadeiro chamado estar diante dos homens como o representante de Cristo. Isso pode ser visto em outro aspecto de uma passagem em Pedro. “Se, pelo (literalmente, “em”) nome de Cristo sois vituperados”, diz ele, “bem-aventurados sois” (1 Pe 4:14). Aqui é evidente que os inimigos de Cristo consideravam Seu povo como levando Seu nome e, assim, se levantavam no mundo como representantes d’Ele. Por isso, a inimizade deles contra Cristo se manifesta na perseguição de Seus seguidores. E o Cristão nunca pode se desvencilhar desse relacionamento com o seu Senhor ausente. Seja na assembleia, em seu lar ou movendo-se entre seus semelhantes, em todos os lugares e em todos os momentos, ele deve lembrar-se de que leva o nome de Cristo para agir em Seus interesses, sob Sua autoridade e em Seu nome.

Repetindo, talvez, mais uma vez: Que privilégio indescritível ser dotado da liberdade de comparecer diante de Deus e dos homens em nome de Cristo! É, por outro lado, a própria grandeza do privilégio que indica a vastidão da responsabilidade. Pois se nos é confiado o nome de Cristo, como um santo padrão, que vigilância incessante e que percepção de nossa dependência são necessárias para mantê-lo em toda a sua pureza e guardá-lo de toda desonra? Para nos encorajar a ser diligentes nesse objetivo, podemos nos lembrar de quão precioso é para o coração de Cristo contemplar Seu povo zeloso e diligentemente cuidando da honra de Seu nome. Como lemos no profeta Malaquias, “Então, aqueles que temem ao SENHOR falam cada um com o seu companheiro; e o SENHOR atenta e ouve; e há um memorial escrito diante d’Ele, para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do Seu nome” (cap. 3:16). Foi um dia de abundante iniquidade e corrupção entre o povo de Deus, mas esse remanescente piedoso foi separado do mal para os laços da santa comunhão por seu temor piedoso e seu amor pelo nome de Jeová. Os olhos do Senhor estavam sobre eles, e no regozijo de Seu coração Ele proclamou: “E eles serão Meus…, naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro”, isto é, no dia do juízo vindouro, Ele os colocaria em Sua casa do tesouro entre Suas coisas preciosas. Que todos nós desejemos a aprovação do Senhor por cuidarmos da honra de Seu nome mais precioso e inigualável.

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