Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome

Parte 10 – Um Nome Escrito – Palavra de Deus

“E tinha um nome escrito e o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus” (Ap 19:12-13).

É somente quando percebemos que o Apocalipse é um livro de julgamento, que estamos preparados para os aspectos inusitados em que nosso bendito Senhor é aqui apresentado. No capítulo 1, Ele é visto julgando no meio dos sete castiçais de ouro, e de tal maneira que até mesmo o discípulo amado caiu a Seus pés como morto. Nessa passagem também – mas agora em relação ao mundo – Ele Se reveste da mesma aparência judicial, simbolizada pela mesma característica em que “Seus olhos eram como chama de fogo”. De fato, é expressamente dito nesta passagem que Ele “julga e peleja com justiça”. É o mesmo Jesus que uma vez Se assentou em uma humilde aparência ao poço de Samaria, mas que agora, depois de Sua longa permanência à direita de Deus, está retornando a este mundo que O rejeitou e crucificou, para reivindicar Seus direitos e estabelecer Seu trono, e assim glorificar a Deus, tornando bom tudo o que Ele é em Seu governo justo. Todas as coisas devem ser colocadas sob Seus pés, e em Sua súbita Aparição por meio do céu aberto, O vemos vindo para subjugar, entrar e possuir Sua legítima herança.

Antes de considerar o significado dos nomes aqui mencionados, será proveitoso chamar a atenção para a conexão. Na parte inicial do capítulo 19, são apresentados eventos de grande importância nos caminhos divinos. Todo o céu se enche de louvor quando a grande corruptora da Terra se encontra com sua justa condenação pelas mãos de Deus. Depois disso, temos a celebração da ceia das bodas do Cordeiro, para a qual Sua esposa havia se aprontado e estava, pela graça, vestida de linho fino, puro e resplandecente – a justiça dos santos. Em Efésios, temos a apresentação privada e íntima da noiva como “uma Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante; mas santa e irrepreensível”. Aqui se trata do casamento público, para o qual os convidados são chamados e com o qual todas as hostes celestiais podem estar em comunhão. Isso marca o término do tempo da paciência de Jesus Cristo, e, se Ele estava na cena anterior, em Sua vergonha e humilhação, aqui, está prestes a ser exaltado, e Ele compartilhará a glória de Seu trono com Sua amada noiva.

Esta é a quarta vez que o céu aberto é mencionado no Novo Testamento. A primeira ocasião foi no batismo de Jesus, quando “se Lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo”. O humilde Jesus, cumprindo toda a justiça e identificando-Se com Seu povo pobre e aflito – os santos na Terra e o Excelente, em Quem estava todo o Seu prazer – é aqui visto como o Objeto do coração de Seu Deus. Em seguida, Ele mesmo fala a Natanael e diz: “Na verdade, na verdade vos digo que, daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem”. Aqui na Terra – naquela época e também no futuro – apreendemos que Ele é visto como o Objeto do ministério dos anjos. Com a morte de Estevão, ocorre a terceira vez, assim descrita: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus”. O Objeto do coração de Deus agora Se tornou o Objeto do crente, que assim, pela graça, foi associado a Deus em Seu próprio prazer no Seu Filho amado. Agora, por último, os céus se abrem para que o Filho do Homem possa sair, como vimos, em justiça para julgar e pelejar.

Depois que a descrição pessoal foi dada, é dito: “e tinha um nome escrito que ninguém sabia, senão Ele mesmo”. A introdução dessa afirmação neste lugar especial é muito marcante: “E os Seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a Sua cabeça havia muitos diademas”; e então, antes de relatar que Ele estava “vestido de uma veste salpicada de sangue”, o nome secreto e escrito é mencionado. Deve haver uma razão para isso; e como explicação, não podemos deixar de mostrar as palavras ditas por alguém: “Mas, embora assim revelado como Homem, Ele tinha uma glória em que ninguém poderia penetrar”; e o escritor acrescenta em uma nota: “Assim foi quanto à Sua Pessoa e serviço. Ninguém conhecia o Filho senão o Pai. Era o segredo de Sua rejeição. Ele era assim, e necessariamente assim no mundo. Mas o mundo sob a influência de Satanás não perceberia isso. Em Sua humilhação, Sua glória divina foi mantida nas profundezas insondadas de Sua Pessoa. Agora Ele é revelado em glória, mas sempre permaneceu aquilo que ninguém poderia sondar ou penetrar – Sua própria Pessoa e natureza… como revelando Deus, em graça ou poder, de modo a torná-Lo conhecido, nós O conhecemos. Mas Sua Pessoa como Filho sempre permanece insondável. Seu nome é escrito, para que saibamos que é inconhecível – não apenas não conhecido, mas inconhecível.” Essas palavras de peso merecem a consideração cuidadosa do leitor – especialmente no momento presente – pois contêm um lembrete saudável da inescrutabilidade da Pessoa do Filho.

Primeiro vem o nome escrito, desconhecido por todos, exceto ao seu divino Possuidor, e então, em conexão com a veste salpicada de sangue, é dito: “E o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus”. Isso deve ser cuidadosamente diferenciado do que é encontrado no primeiro versículo do evangelho de João. O “Verbo” ali, que estava com Deus, e que era Deus, se for tomado por enquanto como um título divino, não pode significar menos do que isso (como bem foi dito), “Ele é, e Ele é a expressão de toda a mente que subsiste em Deus”, e isso absolutamente relacionado a tudo o que Deus é. Mas em nossa passagem, embora a “Palavra de Deus” seja a revelação do que Deus é, ela é a revelação de Deus em um aspecto ou caráter especial. Os próprios detalhes de Sua aparição do céu, assentado em um cavalo branco, deixa isso claro. Não há uma palavra de ternura, graça ou afeição, Ele é “chamado Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça. E os Seus olhos eram como uma chama de fogo E estava vestido de uma veste salpicada de sangue”, etc. Tudo fala de julgamento santo e implacável, de julgamento de acordo com o padrão de um Deus justo; como de fato é dito: “Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso” (v. 15). É de tudo isso, de Deus assim apresentado, que Cristo como a Palavra de Deus é a revelação. Assim, nos evangelhos, por exemplo, embora Cristo sempre tenha sido Deus manifestado em carne, Ele o foi no aspecto às vezes de poder, às vezes de graça – às vezes como luz e às vezes como amor. Mas de qualquer maneira, Ele expressou o que era divino, Ele nunca foi menos do que tudo o que Ele é.

Ainda outro nome é dado; no versículo 16 é dito: “E na veste e na Sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”. O contexto explica imediatamente a força desse título, mostrando que, em harmonia com todo o livro, ele tem relação com a Terra. No versículo anterior, somos informados de que Ele ferirá as nações e as governará com uma vara de ferro, e o nome, ou título, que estamos considerando, indica que é consequente a isso que nosso Senhor estabelecerá Seu trono de supremacia universal sobre a Terra. Já exaltado à direita de Deus, “havendo-se-Lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”, Ele será no dia de que fala nossa passagem, exaltado também neste mundo, quando Ele “dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da Terra”. Será o cumprimento da promessa: “Também por isso Lhe darei o lugar de Primogênito; fá-Lo-ei mais elevado do que os reis da Terra” (Sl 89:27).

Ao mostrar o prazer do Espírito de Deus em direcionar nossa atenção para a glória futura de Cristo neste mundo, pode-se mencionar que duas vezes antes neste livro ela foi apresentada. No início, no discurso de João às sete igrejas, lemos: “e da parte de Jesus Cristo, que é a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da Terra”. É o passado de nosso bendito Senhor, o que Ele era quando estava aqui embaixo como a Fiel Testemunha; é o presente, o que Ele é como ressuscitado dos mortos, o Primogênito; e é o futuro, o que Ele será quando Ele tiver tomado Seu grande poder, e quando todos os principados da Terra prestarem homenagem a Seus pés como Senhor de todos eles. No capítulo 11, encontramos também a mesma era abençoada. Quando “tocou o sétimo anjo a trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo,[6] e Ele reinará para todo o sempre” (v. 15). No presente momento, “toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora”, naquele dia, “também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”; o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre.
[6] N. do A.: Uma tradução melhor traz: “O reino do mundo de nosso Senhor e de Seu Cristo é vindo” (JND).

Tal é o futuro abençoado que aguarda a Terra, mas antes que isso possa chegar, todos os crentes deste período terão sido arrebatados nas nuvens para encontrar o Senhor nos ares. As bodas do Cordeiro, como vimos em nosso capítulo, precede a Aparição do Senhor. A esperança da Igreja, portanto, é a vinda do Senhor para os Seus santos. Para isso, esperam diariamente em comunhão com Seu próprio coração. Estar com Ele será a consumação de seu gozo, na medida em que será Seu gozo apresentar Sua noiva a Si mesmo, que encherá o coração deles e transbordará em louvor perpétuo a Seus pés. Mas a visão deles não é limitada por essa perspectiva, por mais gloriosa que seja, pois eles aguardam ansiosamente também Sua Aparição em glória, não porque, na graça de seu Deus, eles serão manifestados na mesma glória que Ele, mas sim porque chegará o tempo em que seu Senhor, que uma vez foi rejeitado e crucificado, será publicamente exaltado e entronizado como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Sim –

“Nossos olhos ansiosos gostariam de contemplar
Aquela bendita fronte brilhante,
Outrora envolta com a mais amarga angústia,
Usar Sua coroa de glória agora”.

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