Origem: Livro: Sobre Disciplina

Introdução

Devemos lembrar o que somos em nós mesmos, quando falamos sobre o exercício da disciplina – isso é uma coisa admiravelmente solene. Quando reflito que sou um pobre pecador, salvo por pura misericórdia, permanecendo somente em Jesus Cristo para ser aceito, vil em mim mesmo, é, evidentemente, algo terrível tomar a disciplina em minhas próprias mãos. Quem pode julgar senão Deus? Este é o meu primeiro pensamento.

Aqui estou, sendo nada, em meio a pessoas queridas ao Senhor, a quem devo olhar e estimar mais do que a mim mesmo, na consciência de minha própria pecaminosidade e nulidade diante do Senhor; e falar sobre exercer disciplina! – é um pensamento muito solene, de fato, para minha própria mente; isso pesa sobre mim de forma especial. Só uma coisa me tira esse sentimento, e esta é a prerrogativa do amor. Quando o amor está realmente em exercício, ele não se importa com nada além da realização de seu objetivo. Contemple isso no Senhor Jesus; não importava o que estivesse no caminho, Ele prosseguia. Essa é a única coisa que pode, de modo adequado, aliviar o espírito da percepção de uma posição completamente falsa no exercício da disciplina. No momento em que abandono essa percepção, a disciplina passa a ser uma coisa monstruosa. Embora o assunto da conduta seja a justiça, o que faz com que essa conduta vá em frente é o amor – o amor em exercício, para garantir, apesar da dor para mim mesmo, a bênção da santidade na assembleia. Não é uma posição de superioridade na carne (veja Mateus 23:8-11). Não temos, de forma alguma, o caráter da disciplina como sendo “mestre”. Embora influenciados pelo amor para manter a justiça e estimulados a um zeloso cuidado vigilante um pelo outro, devemos sempre nos lembrar que, afinal, “para seu próprio Senhor”, nosso irmão, “está em pé ou cai” (Rm 14:4). Somente o amor guia isso, e o amor em ação o revela. Vemos esse caráter de disciplina no Senhor Jesus, quando Ele tomou um azorrague de cordéis para expulsar os que profanavam o templo (Mt 21; Jo 2); mas isso foi antecipação de outro caráter de Cristo, quando Ele executará o juízo.

Existem dois ou três tipos de disciplina, cheios de conforto por mostrarem a associação do indivíduo com todo o corpo e com Deus, e esses tipos normalmente têm sido confundidos entre os Cristãos.

Neste país há muito mais dificuldade ligada à questão da disciplina do que em outros lugares, por causa de certos hábitos de ação, pelos quais a disciplina passou a ser vista meramente como um ato deliberativo e judicial. Pessoas têm se associado voluntariamente, e tem havido o hábito de criar leis para o bem desse grupo assim criado. Cada associação faz as suas próprias regras, porque as pessoas devem se proteger.

Porém, esse princípio está tão longe da verdade quanto o mundo está da Igreja, ou a luz está das trevas. Não se pode admitir, na assembleia, qualquer princípio de associação voluntária, ou de regras de proteção próprias. A vontade do homem é o que traz destruição eterna. Ela pode ser modificada, mas o princípio é totalmente falso. Não existe tal coisa como ação voluntária da parte do homem nas coisas de Deus; a ação deve ser feita sob Cristo, pelo Espírito. No momento em que tenho a vontade do homem, tenho o serviço do diabo e não o de Cristo. Isso ocasionou grande quantidade de dificuldades práticas, que os que são de fora não percebem. Agir de acordo com o conceito de um processo judicial, para o julgamento de crimes, por certas leis, me leva completamente fora do terreno da graça; com isso confundo todo tipo de coisa.

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