Origem: Livro: Sobre Disciplina

Unanimidade

Quanto à questão da unanimidade nos casos de disciplina na assembleia, precisamos nos lembrar de que é o Filho exercendo Sua disciplina sobre Sua própria casa. No caso de Corinto, foi a ação direta de Paulo no poder apostólico sobre o corpo, e não o da assembleia. Não se pode conceber algo mais terrível do que o corpo reivindicando um direito de exercer a disciplina! Isso é transformar a família de Deus em um tribunal de justiça. Suponha o caso de um pai tirando de casa um filho perverso, e os outros filhos da família dizendo: “Temos o direito, para ajudar nosso pai a tirar nosso irmão de casa”. Que coisa horrível! Encontramos o apóstolo forçando os coríntios a exercer disciplina, quando não estavam nem um pouco dispostos a fazê-lo. Em 1 Coríntios 5 ele diz: “há fornicação entre vós e nem vos entristecestes, por não ter sido tirado dentre vós quem cometeu tal ação” (ele está forçando os coríntios à convicção de que o pecado é deles, assim como era daquele homem); e então diz, “tirai dentre vós a esse iníquo”. A assembleia nunca está no lugar de exercer disciplina até que o pecado do indivíduo se torne o pecado da assembleia, reconhecido como tal.

Assim, é dito: “Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor” (1 Tm 5:20), “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai [restaurai – TB] o tal com espírito de mansidão”, etc. (Gl 6:1), e há outras passagens semelhantes, mas, se o mal surgiu com tal caráter que exige a excomunhão, em vez de a assembleia ter o direito de tirar a pessoa da comunhão, ela é obrigada a fazê-lo. Os santos devem mostrar que estão puros nesse assunto. Paulo força aquelas pessoas a reconhecerem sua própria condição, faz com que se envergonhem de si mesmas – elas se afastam do homem – e ele é deixado sozinho na vergonha de seu pecado (veja 2 Coríntios 2 e 7). Foi assim que o apóstolo os forçou a exercer disciplina. A consciência de toda a assembleia foi forçada a se purificar de uma questão na qual era corporativamente culpada. E que problema ele teve para fazer isso! Esta é, penso eu, a força da passagem: “E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás, porque não ignoramos os seus ardis”. O que o diabo estava fazendo era isso: o apóstolo insistiu em colocar o homem fora de comunhão (1 Co 15:3-5), e a assembleia não gostou. Ele os obrigou a agir, e eles fizeram isso de maneira judicial e não queriam restaurá-lo (2 Co 2:6-7). Então, faz com que eles concordem com ele no ato da restauração: “a quem perdoardes”, etc. O desígnio de Satanás era introduzir a impiedade e torná-los descuidados com ela e, depois, tomarem uma ação judicial; e ainda torná-la uma ocasião de separação de sentimentos entre o apóstolo e o corpo dos santos em Corinto. Paulo se identifica com todo o corpo, primeiro forçando-os a se purificarem, e depois cuidando para que todos restaurem ao que pecou, para que houvesse perfeita unidade entre ele e eles. Paulo se associa a eles e os associa a si mesmo, em tudo; e assim, tanto na colocação fora de comunhão quanto na restauração, Paulo os tem com ele. Se a consciência do corpo não é levada à ação que está sendo tomada, a ponto de se purificar pelo ato da excomunhão, não vejo qual benefício se alcança: isso é simplesmente fazer deles hipócritas.

A casa deve ser mantida limpa. O cuidado do Pai pela família é uma coisa, mas outra coisa é o Filho “sobre Sua própria casa”. O Filho confia os discípulos aos cuidados do Pai Santo (Jo 17), isso é diferente de ter a casa em ordem. Em João 15 (ARA), Ele diz: “Eu Sou a videira verdadeira”, “vós os ramos”, “Meu Pai é o Agricultor”, etc., tudo está sob o cuidado do Pai. O Pai purifica os ramos, para que possam dar o máximo de frutos possível. Mas no caso do Filho sobre Sua própria casa, não é individual, mas a casa deve ser mantida limpa. “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” etc.

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