Origem: Livro: Sobre Disciplina
O Necessário Espírito Sacerdotal
Quanto à natureza de tudo isso, é no espírito sacerdotal que deve ser conduzida a questão, e os sacerdotes comem a oferta pelo pecado dentro do lugar santo (veja Levítico 10:12-20). Não acho que alguma pessoa ou algum corpo de Cristãos possa exercer disciplina, a menos que tenha a consciência purificada, como tendo sentido, na presença de Deus, o poder do mal e do pecado, como se ele mesmo o tivesse cometido. Então, ele faz isso como sendo o que é necessário para se purificar. Se a questão não for assim tratada, tudo resultará em dano positivo. Qual o caráter da posição que Jesus ocupa agora? A do serviço sacerdotal. E estamos associados a Ele. Se houvesse mais da intercessão sacerdotal, indicada pelo comer da oferta pelo pecado no lugar santo, não haveria abominação tal como a da assembleia assumindo um caráter judicial. Suponha o caso numa família, em que o irmão cometesse algo vergonhoso, isso não seria para amargura e angústia a toda a família? Que ansiedade e dor de coração isso causaria em todos! Será que Cristo não Se alimenta da oferta pela expiação do pecado? Ele não sente a tristeza? Ele não Se responsabiliza com isso? Ele é a Cabeça do Seu corpo, a Igreja: Ele não está ferido e com dor em um de Seus membros? Sim, certamente. Se for um caso de repreensão individual com um irmão por uma falha, não estou apto a repreendê-lo, a menos que minha alma tenha estado em serviço e exercício sacerdotal sobre isso, como se eu mesmo tivesse cometido o pecado. Como Cristo age? Ele pesa isso em Seu coração e intercede por isso para extrair a graça que corrigirá a falha. Assim é com o filho de Deus: ele leva o pecado em seu próprio coração para a presença de Deus; ele intercede junto ao Pai, como um sacerdote, para que a desonra feita ao corpo de Cristo, do qual ele é membro, possa ser corrigida. Esse é, eu creio, o espírito em que a disciplina deve ser exercida. Mas aqui falhamos. Não temos graça para comer a oferta pela expiação do pecado. Venho diante da ação da assembleia e aí encontro ainda mais: ela deveria ir e se humilhar até que tenha se purificado. Para mim, essa é a força de “nem ao menos vos entristecestes”, etc.; não havia de maneira alguma espiritualidade suficiente em Corinto para assumir e levar o pecado. “Vocês deveriam ter se curvado ali, com o coração partido e espírito quebrantado por essa tal coisa não ter sido excluída – com relação à pureza da casa de Cristo”.
Outra atividade do serviço sacerdotal é separar o puro do impuro. Os sacerdotes não deviam beber vinho nem bebida forte, para que se mantivessem em estado espiritual, pelas práticas do santuário, podendo discernir entre o puro e o impuro. Isso é sempre verdade. Ao lidar com o mal, devemos tomar como nosso objetivo, o objetivo de Deus. A casa de Deus é o cenário e o lugar da ordem de Deus. Se é dito que a mulher deve “ter sobre a cabeça sinal de poderio [uma cobertura], por causa dos anjos” (1 Co 11:10), isso é a manifestação da ordem de Deus. Nada deve ser permitido na casa que os anjos não possam vir e aprovar. Tudo está em completa ruína; toda a glória da casa se manifestará quando Cristo vier em glória, e não até que isso aconteça; mas devemos desejar que, na medida do possível, pela energia do Espírito Santo, haja correspondência em espírito e maneira com o que será no futuro. Quando Israel voltou do cativeiro, depois que ‘Lo-Ami’ foi escrito sobre eles, e a glória se afastou da casa, a manifestação pública se foi, mas Neemias e Esdras puderam encontrar a maneira de agir de acordo com a mente de Deus. Essa é a nossa condição atual. Contudo, agora temos o que eles não tinham: sempre fomos um remanescente, começamos no final – “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18:20). Se todo o sistema corporativo se tornou arruinado, eu me volto a certos benditos princípios imutáveis a partir dos quais tudo deriva. A própria coisa da qual tudo brota, à qual Cristo conectou, não apenas Seu nome, mas Sua disciplina – o poder de ligar e desligar – é a reunião dos “dois ou três”. Esse é o maior consolo possível. O grande princípio permanece verdadeiro em meio a todo o fracasso.
Se nos voltarmos para João 20, descobrimos que, quando Ele enviou Seus discípulos, assoprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e, àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos”. Não há nada como um sistema corporativo de Igreja aqui; mas a energia do Espírito Santo dando discernimento espiritual aos discípulos, como enviados por Cristo, e agindo em nome de Cristo. Disciplina é uma questão da energia do Espírito. Se aquilo que é feito não for feito no poder do Espírito Santo, então nada é.
Em princípio, o que era necessário foi dito. Não vejo nenhuma diferença, seja nas mãos de um remanescente ou qualquer outra coisa, porque, então, entramos imediatamente na estrutura de um processo judicial – pecadores julgando pecadores. Isso é, em primeiro lugar, uma questão de saber o que a energia do Espírito é para o ministério na casa de Deus. A unanimidade é a unanimidade de ter consciências exercitadas e levadas à disciplina. É uma coisa terrível ouvir pecadores falando sobre julgar outro pecador, mas é uma coisa abençoada vê-los exercitados em sua consciência sobre o pecado que ocorreu entre eles. Isso precisa ser em graça. Não me atrevo a agir, a não ser em graça, além do que poderia desejar ser eu mesmo julgado. “Não julgueis, para que não sejais julgados, porque… com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mt 7:1-2). Se exercermos julgamento, receberemos julgamento.
