Origem: Revista O Cristão – Direção para um Dia de Ruína

Direção Para um Dia de Ruína

Os livros de Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias, Ester e Malaquias tratam do período subsequente aos setenta anos de cativeiro profetizados por Jeremias, o profeta. Durante esse período, Deus tratou com um remanescente do povo em graça, chamando de volta à terra aqueles que tinham um coração pronto a ir. Os poucos que retornaram não viram o poderoso poder de Deus trabalhando abertamente em seu favor, como havia sido visto quando eles saíram do Egito. Mas o Senhor cuidou deles: “A mão do nosso Deus é sobre todos os que O buscam, para o bem deles; mas o Seu poder e a Sua ira contra todos os que O deixam. Nós, pois, jejuamos, e pedimos isto ao nosso Deus, e moveu-Se pelas nossas orações” (Ed 8:22-23). Não havia grande demonstração exterior do poder de Deus, mas havia os meios providenciais de Deus em preservá-los do inimigo.

Um dia de pequenas coisas 

Há quem diga: “É um dia de pequenas coisas porque não pensamos grande”. No entanto, as bênçãos chegaram àqueles que continuaram em obediência, apesar das condições. Em Esdras, vemos como o avivamento começou e, então, cessou. Tudo começou pelo rei Ciro, mandando: “edifique a casa do SENHOR Deus de Israel (ele é o Deus) que está em Jerusalém” (Ed 1:3). Despertados por esta oportunidade, um pequeno remanescente de 42.360 mais 7.337 servidores retornam com Zorobabel. Eles começam bem, porque “firmaram o altar sobre as suas bases” (Ed 3:3), e há um grande consolo nessas palavras. A cidade havia sido arrasada muitos anos antes, mas o inimigo não tinha sido capaz de destruir as bases daquele altar. Em 2 Timóteo, um livro escrito para um dia semelhante de ruína, diz: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (cap. 2:19). O poder de Deus para manter o fundamento é maior que a ruína reconhecida do testemunho.

Alegria e choro 

O trabalho de reconstrução da casa do Senhor prosseguiu com considerável vigor no início, embora não sem o reconhecimento de sua fraqueza em comparação com o templo de Salomão. “E todo o povo jubilou com altas vozes, quando louvaram ao SENHOR, pela fundação da casa do SENHOR. Porém muitos dos sacerdotes, e levitas e chefes dos pais, já idosos, que viram a primeira casa, choraram em altas vozes quando à sua vista foram lançados os fundamentos desta casa; mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria” (Ed 3:11-12). Qual grupo estava certo? Eu sugeriria que ambos estavam certos; a tristeza era apropriada quanto à ruína que sua desobediência havia provocado, assim como a alegria pelo fato de o fundamento, ainda que em fraqueza, haver sido estabelecido novamente. Certamente, não se espera uma atitude menor de nós que procuramos ser fiéis ao Senhor em um dia semelhante de ruína.

O trabalho parou 

Mas, conforme lemos no Livro de Esdras, descobrimos que o que havia começado com tanto entusiasmo logo foi abandonado diante de uma grande oposição. “Então, depois que a cópia da carta do rei Artaxerxes foi lida perante Reum, e Sinsai, o escrivão, e seus companheiros, apressadamente foram eles a Jerusalém, aos Judeus, e os impediram à força e com violência. Então cessou a obra da casa de Deus, que estava em Jerusalém” (Ed 4:23-24).

O que o remanescente que havia retornado deve fazer após este edital? Ageu mostra que a resposta estava no estado de espírito do povo, além da oposição do poder gentio. “Assim fala o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a casa do SENHOR deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Porventura é para vós tempo de habitardes nas vossas casas forradas, enquanto esta casa fica deserta?” (Ag 1:2‑4). Observe que Ageu nunca menciona a oposição do povo da terra ou do poder gentio – apenas o estado descuidado e indiferente do remanescente sobre a casa de Jeová. O verdadeiro problema estava no coração deles, pois investiram muitas horas melhorando suas próprias casas, uma atividade que não levantou oposição dos pagãos. Acaso isso tem alguma palavra de aviso para nós neste dia de fraqueza? Confio que seremos estimulados a meditar nas semelhanças entre este remanescente e os nossos dias.

Considere seus caminhos 

Em face de tal condição, qual é a palavra de Jeová ao Seu povo? “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. Subi ao monte, e trazei madeira, e edificai a casa; e dela Me agradarei, e serei glorificado, diz o SENHOR” (Ag 1:7-8). Madeira, provavelmente, nos fala da fraqueza humana, em contraste com as grandes pedras caras que distinguiam o templo de Salomão. Nos dias de Salomão estas pedras eram figura da preeminência da nação de Israel num dia milenar, e tal amostra de poder seria inconsistente com a fraqueza dos dias de Zorobabel e Jesua (ou Josué, conforme Ageu). Ainda assim, que palavra profunda de encorajamento vem por meio do profeta Ageu! Mesmo quando a fraqueza é mostrada hoje, podemos ser confortados com as palavras do Senhor: “Trazei madeira, e edificai a casa; e dela Me agradarei, e serei glorificado”.

Esforça-te – Eu sou convosco 

Ageu reconhece a tristeza daqueles que choraram pela fraca condição das coisas: “Quem há entre vós que tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é esta como nada diante dos vossos olhos, comparada com aquela? Ora, pois, esforça-te, Zorobabel, diz o SENHOR, e esforça-te, Josué, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, e esforça-te, todo o povo da terra, diz o SENHOR, e trabalhai; porque eu sou convosco, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ag 2:3‑4). Ageu então olha para um dia futuro, como forma de encorajamento ao remanescente. “Encherei esta casa de glória, diz o SENHOR dos Exércitos A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ag 2:7‑9). A última glória desta casa será maior, não por causa da glória do templo milenar, mas por causa da presença física do Messias, o Senhor Jesus Cristo. Podemos ter o mesmo incentivo em nossos dias: “Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18:20).

Não despreze a reconstrução 

No livro de Esdras, encontramos que as palavras de Ageu tiveram o efeito desejado sob o remanescente letárgico e interessado em si mesmo. “Então se levantaram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesua, filho de Jozadaque, e começaram a edificar a casa de Deus, que está em Jerusalém; e com eles os profetas de Deus, que os ajudavam” (Ed 5:2). O exercício individual desses dois homens afetou os demais. Tomo a liberdade de traduzir os seguintes versículos da Bíblia em espanhol: “As mãos de Zorobabel têm lançado os alicerces desta casa; também as suas mãos a acabarão; e saberás que o Senhor dos exércitos me enviou a vós. Pois aqueles que desprezaram o dia das pequenas coisas se alegrarão e verão o prumo na mão de Zorobabel com aqueles sete” (Zc 4:9-10). Houve quem lamentasse a colocação da fundação, mas aparentemente também houve quem a considerou uma perda de tempo e a desprezou. No entanto, parece que aqueles que desprezavam o débil trabalho viram a estranha visão de um dos descendentes do rei Davi trabalhando em meio aos escombros com um prumo! E o outro homem que o ajudava, Sealtiel, era filho do sumo sacerdote! Esses dois perceberam que havia trabalho a ser feito e, em obediência, eles o fizeram. Quando outros os viram trabalhando, o coração daqueles que haviam desprezado se alegrou e eles começaram a ajudar. “E os anciãos dos Judeus iam edificando e prosperando pela profecia do profeta Ageu, e de Zacarias, filho de Ido. E edificaram e terminaram a obra conforme ao mandado do Deus de Israel, e conforme ao decreto de Ciro e Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia” (Ed 6:14).

Esses quatro homens, Zorobabel, Jesua, Ageu e Zacarias se comprometeram a realizar um trabalho há muito abandonado; eles não procuraram estabelecer um esforço de grupo ou envolver outros; eles simplesmente começaram a fazê-lo. Eles realmente não tinham um dom especial para fazer o que precisava ser feito, e, no entanto, começaram a fazê-lo em obediência à Palavra do Senhor. Hoje, alguns tendem a desprezar o dia das pequenas coisas. Há queixas de falta de esforço no evangelho, falta de bênção no ministério ou reunião de oração. Quão mais lucrativo é “erguer-se e construir” em vez de lamentar o triste estado das coisas! Então talvez haja outros que “vejam o prumo” em nossas mãos e se levantem para ajudar.

Confissão e confiança 

Assim que começaram a reconstruir o templo, a oposição começou. Mas como aqueles homens fiéis combateram a oposição? Confessando o mau comportamento e o mau estado que os levaram a esse ponto! “E esta foi a resposta que nos deram: Nós somos servos do Deus dos céus e da Terra, e reedificamos a casa que há muitos anos foi edificada; porque um grande rei de Israel a edificou e a terminou. Mas depois que nossos pais provocaram à ira o Deus dos céus, Ele os entregou nas mãos de Nabucodonosor, rei de babilônia, o caldeu, o qual destruiu esta casa, e transportou o povo para babilônia” (Ed 5:11-12). Sua confissão e referência ao “Deus dos céus e da Terra” é muito impressionante. Eles reconheceram o controle de Deus sobre os governantes gentios para permitir que trabalhassem em sua pequena esfera. Também devemos reconhecer essas duas coisas – que somos uma parte da ruína que reduziu o testemunho à fraqueza e que Deus está acima de tudo, trabalhando entre todos os crentes para Sua glória. Somente com humildade podemos esperar representar o princípio aqui na Terra de que, apesar de toda a ruína, “há um só corpo”.

P. Fournier

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