Origem: Revista O Cristão – Direção para um Dia de Ruína
Vencendo nos Últimos Dias
Há encorajamento para nós, até ao último livro da Bíblia! É geralmente aceito (e isso já foi mencionado em outras partes desta edição) que as sete assembleias mencionadas em Apocalipse, capítulos 2‑3, não são meramente descrições aleatórias das assembleias que existiam naquele dia. Tomadas em ordem consecutiva, elas nos dão um panorama histórico das várias épocas da Igreja professa, desde o momento em que os apóstolos foram levados para casa até a vinda do Senhor.
Cristo como Vencedor
A última assembleia mencionada é Laodicéia, mostrando a condição das coisas que existirão em grande parte da Cristandade, pouco antes da vinda do Senhor. É um comentário bastante sombrio sobre o orgulho do homem – um orgulho que coloca Cristo do lado de fora e exalta a si mesmo. No entanto, como nas outras assembleias, há uma palavra de encorajamento para o vencedor, pois sempre há a oportunidade para aqueles que desejam ser fiéis se elevarem acima das condições ao redor. Contudo, há um caráter particularmente tocante no apelo ao vencedor aqui, pois Cristo é trazido como um Vencedor – algo que não é feito nas cartas às outras seis assembleias. Isso dá uma qualidade muito comovente ao chamado, pois há Alguém que percorreu o caminho diante de nós e que foi Vitorioso. Tendo percorrido este mesmo mundo que nós, Ele venceu e agora está no trono do Pai. Que incentivo para aqueles que buscam ser fiéis nestes últimos dias!
Mas de que maneira o Senhor Jesus foi um Vencedor? Nas outras seis assembleias mencionadas, a vitória está relacionada à igreja professante e a sua condição naquele momento específico. Sem dúvida, esse tipo de vitória também era necessário em Laodicéia, mas devemos lembrar que o caminho do Senhor Jesus na Terra está à vista, e naquela época a formação da Igreja ainda era futura. Sua vitória foi em uma área mais fundamental e que transcende qualquer época específica da história da Igreja. Aqui, a Sua vitória tem uma voz direta e prática para nós hoje.
Se nos voltarmos para os evangelhos, encontramos duas referências diretas ao Senhor Jesus como Vencedor. Em Lucas 11:21-22, lemos: “Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos”. A referência é claramente às tentações do Senhor Jesus por Satanás, antes de Ele começar Seu ministério terrenal. Naquela época, Satanás atacou o Senhor Jesus com todos os meios que ele havia usado com tanto êxito para o homem caído – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba (o orgulho) da vida. Em vez de usar Seu poder como Deus para tratar com Satanás, o Senhor Jesus o venceu simplesmente citando a Palavra de Deus, e Satanás foi obrigado a se afastar d’Ele por um tempo.
Confiança plena na Palavra de Deus
Isso tem uma verdadeira lição para nós hoje, quando a sabedoria do homem é exaltada e o espírito de orgulho e soberba de Laodicéia é tão desenfreado. À medida que encontramos o mundo, e especialmente a Cristandade, se afastando cada vez mais longe da Palavra de Deus, é importante que os crentes estejam cada vez mais familiarizados com a Escritura e usá-la sem reservas como guia. Observamos que, quando o Senhor Jesus foi apresentado às várias tentações, Ele não as discutiu com Satanás nem procurou argumentar com ele; a Palavra de Deus foi suficiente. Um irmão mais velho, agora com o Senhor, costumava nos lembrar: “Nunca somos mais sábios do que a Escritura”. Outro irmão, também com o Senhor, costumava nos exortar: “Leia a Palavra de Deus até ficar tão saturado com ela que você passa a pensar conforme a linguagem da Escritura”. Assim como o Senhor não deixaria o caminho da dependência, também devemos confiar plenamente na sabedoria da Palavra de Deus e não confiar na sabedoria humana.
Nova armadura
Ao dizer isso, percebemos que o mundo está mudando constantemente e que novos desafios se apresentam continuamente. Isso aconteceu com Davi. Quando jovem, ele matou Golias, mas posteriormente em sua vida um dos filhos do gigante foi “cingido com nova armadura” (2 Sm 21:16 – JND), e Davi evidentemente não estava familiarizado com ela. Como resultado, o sobrinho de Davi, Abisai, teve que vir em seu auxílio e matar o gigante por ele. Portanto, cada geração deve enfrentar novas dificuldades, e precisamos de nova sabedoria e graça do Senhor para fazê-lo. No entanto, tudo isso enfatiza apenas a necessidade da Palavra de Deus, pois ela é sempre nova, viva e atualizada.
À medida que a moralidade declina nesses últimos dias, o mundanismo pode furtivamente infiltrar-se em nossos pensamentos e na nossa vida, e podemos facilmente adotar atitudes e práticas que estão de acordo com o espírito de Laodicéia. Não há dúvida de que muitos dos problemas que os crentes hoje enfrentam coletivamente têm suas raízes em um estilo de vida caracterizado por ceder às tentações de Satanás, em vez de resistir a elas. Muitas das dificuldades nas quais os crentes se encontram hoje estão diretamente relacionadas à falta de obediência à Palavra de Deus, e não ao desconhecimento da verdade da Igreja. A familiaridade e a obediência à Palavra de Deus serão nossa salvaguarda contra isso.
Um mundo melhor
Encontramos o Senhor Jesus falando de Si mesmo como um Vencedor, mais uma vez, pouco antes de ir à cruz. No evangelho de João, no chamado “ministério do cenáculo”, o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. O Senhor Jesus estava prestes a sofrer, morrer, ressuscitar e subir de volta ao céu, e os discípulos seriam deixados neste mundo. Ele havia prometido a eles “o Consolador”, o Espírito Santo, que desceria, mas então Ele usa o exemplo de Si mesmo para encorajá-los ainda mais.
O que Ele quer dizer ao afirmar que venceu o mundo? Satanás nos ataca de duas maneiras. Às vezes é por meio de tentações, como aquelas que ele usou contra o Senhor Jesus no deserto. Ele usará o que for necessário, até “todos os reinos do mundo” (Lc 4:5), se necessário, para tentar nos afastar. Isso pode ser chamado de a sedução dele quanto ao crente. Mas se a sedução não é eficaz, ele também age por ataque direto – por tribulação – e isso pode assumir várias formas. Em alguns casos, há feroz perseguição aos crentes – prisão, perda de propriedade, sofrimento físico e até martírio. Esse tem sido a porção de muitos crentes através dos tempos, e ainda hoje muitos milhares entregam sua vida todos os anos pelo nome de Cristo. Tudo isso é calculado para fazer com que o crente desista, ou pelo menos comprometa sua fé.
Graça para a tribulação
No entanto, existem outras formas de tribulação. Em Tiago 1:12, lemos que o homem que suporta a tentação “receberá a coroa da vida” – a mesma coroa prometida ao mártir em Apocalipse 2:10. Alguns precisam suportar problemas constantes em seu trabalho secular neste mundo, e Satanás usa tudo isso para tentar desencorajar o crente. Ele nos tenta a buscar um caminho mais fácil por meio de comprometimentos para evitar a tribulação. Outros talvez sejam assediados por dificuldades familiares, e é um exercício constante tratar com elas de uma maneira piedosa, pois a pressão para se conformar a este mundo é muito forte. Então, também, Satanás cria dificuldades entre o povo de Deus coletivamente, e estas às vezes parecem se suceder umas às outras, como ondas do mar. O bombardeio constante de tais coisas pode “desgastar os santos” (Dn 7:25 – JND), assim como Satanás procurará fazer aos piedosos em Israel em um dia futuro.
Como o Senhor Jesus venceu o mundo? Ele o fez tomando tudo como vindo do Seu Pai e levando tudo ao Seu Pai. Se nos ressentirmos de nossas circunstâncias ou nos irritarmos com elas, seremos impedidos de levá-las ao Senhor. Mas se nos humilharmos “debaixo da potente mão de Deus” (1 Pe 5:6), seremos capazes de lançar toda a nossa ansiedade sobre Ele, como encontraremos no próximo versículo. A tribulação pode não ser removida, mas encontraremos a graça necessária, não apenas para suportá-la, mas para ser como Paulo, que poderia dizer: “também nos gloriamos nas tribulações” (Rm 5:3). Deus nos dará a graça, não apenas para aceitar a tribulação, mas para aprender com ela, para sermos vencedores e para glorificá-Lo nela. Temos a certeza de que a aflição que parece tão difícil é realmente “leve… tribulação” e que “produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Co 4:17).
O Senhor Jesus já venceu e agora está no trono de Seu Pai. Logo Ele tomará Seu lugar de direito e Se assentará em Seu próprio trono. Mas Ele não tomará esse lugar até que Ele nos leve a estar com Ele mesmo, e então nos assentaremos naquele trono com Ele. Como o hino nos lembra: “Valerá a pena tudo quando virmos Jesus”.
