Origem: Livro: A Instituição do Matrimônio e Assuntos Relacionados

Sacrifícios Cristãos – Cap. 17

Quando o apóstolo Paulo escreveu para os crentes Hebreus, muitos sacrifícios haviam sido oferecidos por mais de 4 mil anos, desde o sacrifício de Abel até seus dias. Uma mudança estava por vir, e Paulo os estava instruindo de que o tempo para figuras e sombras havia acabado, e que agora haviam sido introduzidos em algo “melhor”. Eles agora deveriam adorar a Deus pelo Espírito e na própria presença de Deus, “além do véu” (Hb 6:19 – ARA). A gordura dos carneiros e o sangue de bodes, ou qualquer uma das variadas ofertas que eram ordenadas sob a economia Mosaica, não eram ofertas inteligentes para os Cristãos.

A pergunta poderia muito bem surgir na mente deles: “Mas não temos nada a oferecer? Não há nada para apresentarmos a Deus?” O apóstolo responde que eles foram trazidos para aquele lugar melhor onde tinham um altar, “Temos um altar de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo” (Hb 13:10). Aqueles que ainda ofereciam os sacrifícios que apenas apontavam para Cristo não tinham direito de participação naquilo que é adequado e característico do Cristianismo. Aqui tudo isso que é oferecido para Deus, é fruto de Sua própria graça, e é apenas o resultado de uma viva conexão com Cristo. Pela fé, as coisas velhas realmente já passaram.

Então o apóstolo vai adiante para nomear algumas coisas que são adequadas ao sacrifício Cristão. Sim, eles tinham permissão de oferecer algo, mesmo que tivessem que deixar o templo, e todos os rituais. Era seu privilégio oferecer “constantemente a Deus sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15 – TB). Nenhum templo era necessário para oferecer este sacrifício, nem era limitado a certos dias de festas, era “a Deus”, e era “constantemente”. Obviamente, somente aqueles que eram filhos de Deus e habitados pelo Espírito Santo eram capazes de apresentar tais sacrifícios.

Isto está em concordância com Efésios 5:19: “Falando uns aos outros em salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração” (Ef 5:19 – TB). “Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16). Vemos algo do caráter dos atuais sacrifícios de louvor no leproso curado em Lucas 17; ele foi enviado ao templo e aos sacerdotes onde poderia oferecer seus dons, mas ao ser curado teve um vislumbre da glória da Pessoa que o curou, e prontamente deu as costas a todo sistema de adoração terrenal, para retornar para o Senhor Jesus Cristo onde ele “prostou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-Lhe” (Lc 17:16 – ARA). Ele encontrou no Senhor o que era “maior do que o templo” (Mt 12:6), mas era somente discernido pela fé. O homem natural se vira instintivamente para formas externas e cerimônias como modelo de adoração.

Portanto, em meio às bênçãos de Deus ao conceder a um homem e sua mulher um lar aqui embaixo, onde nosso Senhor não teve nenhum, é importante que o espírito de louvor seja encontrado nele. A epístola de Tiago nos lembra de que, se estamos aflitos, devemos orar, mas se estamos felizes, devemos cantar salmos; em outras palavras, devemos receber tudo de Deus, e levar tudo a Deus. Dessa forma, as bênçãos não substituem Aquele que abençoa em nossos pensamentos, pois reconhecemos a Ele e Lhe rendemos graças.

Num lar Cristão, onde o Senhor Jesus e Suas coisas são desfrutados, com frequência ressoarão cânticos de louvor. Que isso seja mais característico no nosso lar, pois esses “sacrifícios espirituais” são “agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2:5). Não foi o louvor e o agradecimento do leproso curado precioso e agradável para o Senhor Jesus? Certamente foi! E agora somos assegurados pela Palavra que nossas palavras e cânticos de louvor são agradáveis a Ele. Que privilégio é o do Cristão! E vastamente superior ao do Judeu do passado.

O apóstolo Paulo continua: “E não vos esqueçais da beneficência [prática do bemARA] e comunicação (da vossa subsistência – JND), porque com tais sacrifícios Deus Se agrada” (Hb 13:16). Aqui são mais duas formas de “sacrifícios” que um Cristão pode e deve oferecer a Deus:

Ele faz “beneficência [prática do bemARA]”. Isso cobre uma grande esfera, pois de muitas maneiras pode praticar o bem. O Cristão é para praticar o “bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6:10 – ARA). Pode ser ajudando alguém doente que necessita assistência, que seja crente ou talvez uma pessoa não salva onde possa ter a oportunidade de testemunhar de Cristo. Não nos alongaremos nas grandes possibilidades que essa agradável forma de sacrifício oferece. Que o escritor e o leitor tenham um ouvido sintonizado para ouvir a voz do Senhor nos dirigindo nas maneiras e lugares para assim servi-Lo. Talvez ninguém venha a saber desse ato senão o Senhor e a pessoa beneficiada; mas é bem melhor assim, pois o nosso coração traiçoeiro não terá a oportunidade de se vangloriar nisso.

Da “comunicação (da vossa subsistência – JND) “não vos esqueçais”; isto é, compartilhar nosso dinheiro ou os nossos bens com os outros, pois isso também é um “sacrifícioagradável a Deus”. Sabemos que no passado, era exigido a Israel dar o dízimo; isto é, dar a décima parte dos seus rendimentos ao Senhor. Agora, não há tal mandamento para os Cristãos. Por quê? Simplesmente, porque não estamos mais sob a lei e ordenhados a fazer algo; estamos sob a graça e Senhorio de Cristo. O que oferecemos para Deus de nossas coisas temporais deve ser feito como um transbordamento de um coração cheio – um coração que está desfrutando tudo o que a graça tem feito por nós. Na questão do Senhorio de Cristo, devemos lembrar que não pertencemos mais a nós mesmos; nós e tudo o que temos, pertencem a Outro. O Senhor nos comprou e somos d’Ele. Um poeta expressou isso assim:

“Nada do que possuo eu digo que é meu,
Eu o mantenho para o Doador;
Meu coração, minha força, minha vida, meu tudo,
São d’Ele, e d’Ele para sempre.”

E Davi disse para Deus: “Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão to damos” (1 Cr 29:14), quando ofereceram generosamente para a construção do templo.

Sacrifícios Cristãos – Doação Cristã

Um importante assunto a se considerar, quando um jovem casal estabelece o seu lar; é a questão da doação Cristã. Talvez, o marido e a mulher já tinham a sua própria maneira de fazer isso antes de se casarem; mas agora, devem ter o mesmo pensamento nessa muito importante parte do sacrifício Cristão. Sabemos que há uma tendência de evitar mencionar sobre este tema e abster-se de qualquer coisa que possa parecer colocar os santos de Deus de volta sob a lei, onde eles eram obrigados a dar quer quisessem ou não. Concordamos com tudo isso, mas não deveria haver uma atitude de gratidão a Deus, que faz tanto por nós? Desfrutaremos de todas as Suas bênçãos, como a salvação, a vida eterna, tudo o mais; sem nada Lhe oferecer de nossa parte? Ou devemos aceitar todas as abundantes bênçãos nas coisas temporais e usufruir delas nós mesmos e em nosso lar? Responder “sim” a essas perguntas, seria colocar o Cristão numa posição menos digna do que o Judeu do passado. Se o Judeu tinha que dar, certamente o Cristão deveria desejar fazê-lo.

Há princípios no Novo Testamento sobre a maneira de dar. O Cristão deve dar segundo a maneira como Deus o havia prosperado. Se Deus nos dá muito, então devemos ter muitos motivos para dar aos Seus filhos que estejam necessitados, e para o avanço da obra de Cristo neste mundo. Deus não nos obriga a dar, mas a Deus agrada ver uma alma generosa: “A alma generosa engordará” (Pv 11:25). Quando o apóstolo Paulo estava escrevendo aos coríntios sobre doação, ele comentou: “Graças a Deus pelo Seu dom inefável” (2 Co 9:15 – ARA). Pode alguma doação se comparar a d’Ele? Nunca! “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20:35 – ARA), e Deus certamente reservou a parte “mais bem-aventurada” para Si mesmo.

Deus não quer que demos além das nossas possibilidades. Devemos ser sábios nisso, mas ainda assim o próprio Senhor Jesus louvou a viúva pobre que deitou suas “duas pequenas moedas”. Elas estavam assim divididas para que ela pudesse guardar uma delas e dar 50% do que tinha. Mas não cremos que ela tenha passado necessidade como resultado da sua abnegação. Ó, que bom seria quando os Cristãos dessem de seu sustento, fizessem isso como ao Senhor! Então, o homem não teria um lugar indevido, nem esperaria controlar o que é feito com aquilo que ele dá ao Senhor.

Um outro ponto em dar, ou na preparação para dar, é deixar separado “no primeiro dia da semana” (1 Co 16:2). Isso indica certa regularidade em separar uma porção dos nossos rendimentos para o Senhor. Cremos que essa regularidade de deixar separada uma porção do nosso rendimento para o Senhor é que é pretendida nesse versículo, não uma lei que deva ser cumprida no primeiro dia da semana. Talvez deva ser feito no momento que recebemos nossa renda. As pessoas tem razão em se horrorizar ao falar de dar de forma sistemática, mas, ainda, se não for definido um plano ou procedimento no lar para deixar separado de nosso ganho para o Senhor, somos muito propensos de usar tudo para nós mesmos. Um irmão uma vez disse; quando ele tomou esse versículo literalmente e começou a separar uma porção regular de seus ganhos para o Senhor, o Senhor recebeu muito mais do que quando ele costumava pensar que uma certa porção do que tinha no banco era para o Senhor. Se houver o exercício prático desta palavra “cada um de vós ponha de parte, em casa” (como a melhor tradução de 1 Co 16:2 [ARA] é), haveria com mais frequência algo em mãos para dar quando a ocasião se apresentasse.

O que temos a dizer aqui tem direta relação com nosso capítulo anterior. Ao estabelecer o lar com um padrão de vida proporcional com os rendimentos, a porção do Senhor não deve ser negligenciada. Nenhum Cristão é compelido a dar, nem a dar liberalmente, mas é um abençoado privilégio; “Porque aos que Me honram, honrarei” (1 Sm 2:30). “Honra ao SENHOR com os teus bens [teu sustento – JND] e com as primícias de toda a tua renda” (Pv 3:9 – ARA). Esses versículos parecem conectar a oferta para o Senhor do Velho Testamento com a oferta do Novo Testamento. Deus reivindica com direito as primícias de nossa renda. Tudo vem d’Ele; foi tudo dom de Deus, embora tenhamos trabalhado para isso; pois Quem nos deu força e habilidade para o trabalho? Devemos então atrasar o reconhecimento por Sua bondade ao retornar a Ele as primícias? E quando nós realmente ofertamos ao Senhor, não devemos sofrer com isso, pois Ele é rico demais para ser devedor de qualquer homem. “Um dá liberalmente, e se lhe acrescenta mais e mais; outro poupa mais do que é justo, mas se empobrece” (Pv 11:24 – TB).

Se um novo lar é estabelecido além da renda do provedor, então o Senhor não receberá a Sua porção. E acrescentamos que devemos ser corretos antes de sermos generosos. Se um Cristão deve uma quantia em dinheiro, então ele deve pagá-la antes de dar ao Senhor. Não é conveniente pegar o que pertence ao outro e dar para o Senhor; mas então surge a questão: Como acontece isso de eu dever a outro? Alguns Cristãos compram além da sua capacidade de pagamento, fazem empréstimos futuros, e estão sempre endividados. Claramente, estão vivendo além de suas possibilidades. Estes nada têm a dar à obra do Senhor, nem como ajudar o pobre. Por quê? Porque a Palavra de Deus não está sendo seguida e seu lar está em desordem.

Por vezes perguntamos: Devemos colocar na coleta, aos domingos, tudo o que queremos dar ao Senhor? Essa certamente é uma maneira, e uma boa maneira de ofertar ao Senhor, seja para a necessidade dos santos ou para a obra do Senhor, mas há alguns casos de necessidade que surgem e que podem não estar no escopo da responsabilidade da assembleia. Se o Cristão, em casa, separar regularmente daquilo que pela graça de Deus estiver nas suas posses, para o Senhor, então, conforme Sua direção poderá estender uma mão auxiliadora para àqueles que estão necessitados. O Senhor pode também colocar em nosso coração de ter comunhão especial com determinada parte de Sua obra. Devemos “ser ricos de boas obras, liberais em distribuir, dispostos em compartilhar de sua subsistência” (1 Tm 6:18 – JND), conforme a ocasião, e conforme a direção do Senhor.

Quando o apóstolo escreveu aos filipenses, ele disse que não havia mencionado a oferta deles com vistas a que que ele pudesse receber uma dádiva, mas ele desejou o fruto que iria abundar para a conta deles. Que os constrangimentos do amor levem o povo de Deus a mais diligência nesse sacrifício que irá agradar a Deus e abundar em sua conta.

Há ainda outro sacrifício que os Cristãos podem oferecer a Deus é mencionado em Romanos 12:1: Nosso corpo pode ser um sacrifício vivo e somos exortados a apresentá-lo como tal; e em qual terreno? O da lei? Não, com base nas “misericórdias de Deus”. A grande graça que Deus nos concedeu é usada pelo apóstolo como base – uma base constrangedora – para nos exortar a oferecer “nosso corpo por sacrifício vivo”; e isso também é “agradável a Deus”. Isso exige renúncia e sacrifício próprio. Isso pode nos levar a sair e servir os santos como para o Senhor, ou fazer qualquer uma das mil coisas, em vez da desculpa própria do conforto ou do prazer. Mas aqui, novamente, isso deve ser regulado conforme nossa capacidade. O Senhor não espera mais de nós do que somos fisicamente capazes de dar.

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