Origem: Livro: A Instituição do Matrimônio e Assuntos Relacionados

Uma Herança do Senhor – Cap. 19

O plano de redenção de Deus não foi um pensamento que ocorreu mais tarde da parte de Deus. Não foi algo que Ele elaborou para atender uma emergência quando o pecado entrou em cena; foi um plano bem estruturado em Seus conselhos eternos. O amor de Deus exigia, para sua plena satisfação, objetos nos quais pudesse se derramar, e que esses objetos pudessem e iriam valorizá-lo como recipientes de seu infinito estoque. Ele sabia que o pecado iria estragar a Terra Adâmica, mas muito antes da Terra existir, Seus conselhos de amor tiveram o propósito de resgatar os caídos e degradados filhos de Adão em amor, e trazê-los para Si mesmo em justiça. Podemos dizer com o poeta:

“Para que os pecadores pudessem a Ele se achegar;
Esse grandioso e gracioso esquema, Deus planejou,
E o resgate também encontrou”.

“Como também nos elegeu n’Ele [Cristo] antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d’Ele em caridade (ou amor), e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade” (Ef 1:4-5). “Segundo o eterno propósito que [Ele – TB] estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3:11 – ARA).

O poeta G. W. Frazer expressou de uma bela maneira essa verdade nas seguintes palavras:

“Em conselho eterno e profundo,
Antes de o mundo ter sido fundado,
Antes dos alicerces do abismo,
Sobre o nada serem estabelecidos;
Deus para a bênção nos tem destinado,
E nos escolheu em Seu Filho amado,
Para sermos a Ele conformados,
Quando aqui nosso tempo tiver terminado”.

A medida do amor de Deus foi vista em dar o Seu Filho amado – “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o Seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio d’Ele” (1 Jo 4:9 – ARA). Mas havia mais: Deus só poderia nos trazer para Si em conformidade com Seu próprio caráter; o pecado precisava ser afastado; Seu Filho deveria morrer e sofrer o abandono de Deus naquelas três terríveis horas de trevas quando Ele, o Único sem pecado, foi feito pecado. O próximo versículo nos dá o caráter desse amor: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10 – ARA).

De que outra maneira poderíamos ter conhecido o amor que Deus tinha por nós? Ou como poderíamos conhecer como Ele poderia nos salvar e, ao mesmo tempo, manter Sua santidade absoluta? O envio de Seu Filho nos revela o primeiro, e a Sua morte propiciatória nos demonstra o segundo.

“Insondável maravilha!
Ó mistério divino!”

O coração de Deus Pai pôde, assim, expressar-se em amor ao trazer pobres pecadores para Si mesmo, justificados de todas as coisas, e feitos Seus filhos. E nós os filhos redimidos somos trazidos para perto d’Ele em justiça, onde podemos beber da plenitude desse amor, e em certa medida, demonstrar a resposta a esse amor. “Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19).

“Mas, a todos quantos O [Cristo] receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no Seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1:12-13).

Bem exclamou o mesmo apóstolo; “Vede quão grande caridade (ou amor) nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3:1). Leitor Cristão, vamos ponderar esta verdade. Que possamos nos deleitar com a expressão do coração do Pai para conosco, e enquanto meditamos em Seu incomparável amor, que o Espírito Santo possa brilhar em nós a afeição recíproca que nos convém.

Nós, que fomos trazidos tão perto de Deus, também temos o privilégio de pronunciar as mesmas Palavras que Seu Filho amado usou quando Ele esteve aqui na Terra – “Aba, Pai” (Mc 14:36; Rm 8:15; Gl 4:6).

“‘Abba’, Pai — assim Te chamamos,
(Sagrado nome!) dia a dia;
Conhecer-Te é direito de Teus filhos,
Somente os filhos dizem ‘Abba’.
Esta alta honra recebemos,
Teu dom gratuito, pelo sangue de Jesus;
Deus, o Espírito, com nosso espírito,
Testemunham que somos filhos de Deus.

O propósito de Abba nos deu existência,
Quando em Cristo, nesse vasto plano,
Abba escolheu os santos em Jesus
Muito antes de o mundo começar;
Ó que amor o Pai nos tinha!
Ó quão preciosos aos Seus olhos!
Quando Ele deu a Igreja a Jesus!
Jesus, o deleite de toda a Sua alma!

Embora a queda de nossa natureza em Adão
Parecesse nos afastar de Deus,
Assim era Seu conselho nos trazer
Ainda mais perto, pelo sangue de Jesus:
Pois n’Ele encontramos redenção,
Graça e glória no Filho;
Ó a altura e a profundidade da misericórdia!
Cristo e nós, pela graça, somos um”.

Deus, tendo nos trazido para esse relacionamento onde temos vida e natureza capaz de nos regozijarmos n’Ele, age, também, como um Pai para conosco. Ele nos corrige e disciplina como Seus filhos, com o fim de sermos participantes da Sua santidade (Hb 12:7-11; 2 Pe 1:4). Ele também Se compadece por nós como um pai: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR Se compadece daqueles que O temem” (Sl 103:13). E, Ele conforta como uma mãe faria: “Como quem recebe de sua mãe conforto, assim Eu vos confortarei” (Is 66:13 – TB).

Essas meditações nos remetem ao relacionamento entre pais e filhos. É nesse relacionamento humano que aprendemos numa frágil medida algo sobre o amor de nosso Pai para conosco, e da satisfação que obtemos dessa resposta de amor de nossos filhos. Que momento é, quando o jovem pai e a jovem mãe vê pela primeira vez seu próprio filho precioso! Que experiência emocionante é quando eles pela primeira vez seguram em seus braços aquele pequeno vivente – sua própria carne e sangue! Ondas de afetos até então desconhecidas crescem no coração de ambos.

Bem disse o salmista: “Herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, Seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta” (Sl 127:3-5 – ARA).

É repreensível quando um marido e mulher Cristãos buscam escapar ou evitar as responsabilidades da paternidade. Seria melhor permanecerem solteiros do que buscar frustrar o principal propósito do casamento. Tais caminhos podem ser tolerados no mundo, mas o filho de Deus não deve buscar por sabedoria e orientação no mundo.

Deus em Sua sabedoria pode não dar filhos para alguns casais, mas isso deve ser recebido como um de Seus desígnios de amor e sabedoria, e não ser tratado com rebeldia. Também pode haver problemas físicos que surgem e limitem o tamanho da família, mas isso não é de nossa competência discutir. A Palavra de Deus diz; que as mulheres se casem “gerem filhos, governem a casa” (1 Tm 5:14), etc.

Sabemos de alguns pais, que tiveram longas e grandes dificuldades financeiras ao criar uma família, mas Deus foi suficiente para tudo, e finalmente, chegou o dia em que essas difíceis circunstâncias foram aliviadas. Então eles tiveram o gozo e o conforto de filhos que já haviam crescido. Quanta falta de comodidade e provisão muitos pais teriam em sua velhice, se não fosse pelos filhos que Deus lhes deu em sua juventude.

Gostaríamos, especialmente, de enfatizar o privilégio e bênção de sermos pais. Há seus problemas, dificuldades, e provações, mas quem pode ter o coração de um pai se não for um? Muitas e variadas são as lições que nosso Pai nos ensina ao criar os filhos. Com frequência, essa experiência é uma das mais instrutivas na escola de Deus, em nossa jornada por esse deserto, como filhos de Deus.

“Pai, Teu amor soberano buscou
Cativos ao pecado, distantes de Ti;
A obra que Teu Filho realizou
Trouxe-nos de volta, em paz e livres aqui.

E agora, como filhos diante de Ti,
Com passos alegres seguimos o caminho,
Que nos conduz a esse abençoado lugar,
Preparado para nós por Cristo, nossa Cabeça.

Tu nos deste, em amor eterno,
A Ele para nos trazer de volta a Ti,
Conforme o Teu plano sublime acima,
Como filhos semelhantes a Ele, com Ele estaremos.

Na Tua própria casa, Lá o amor divino
Repleta os brilhantes átrios de gozo;
Mas é o amor que nos tornou Teus,
Que preenche toda essa casa sem mistura alguma.

Ó graça infinita! É a que enche de gozo
Puro, todos os que adentram ali,
A natureza divina, amor sem mistura alguma,
Ao nosso coração agora são dados para compartilhar”.

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