Origem: Livro: Aos Pais de Meus Netos
Introdução
Há muitos anos, quando vocês eram jovens, eu, a caminho do trabalho, costumava passar por uma casa em ruínas. Estava vazia desde que eu a conheci e, com o passar dos anos, a visão tornou-se cada vez mais triste. Era uma casa grande, quadrada, de tijolos vermelhos, isolada no que antes tinha sido um belo terreno. Parecia aconchegante e confortável nos dias em que a conheci, embora estivesse vazia. Mas a imagem que me vem à mente, como a vi pela última vez, é muito diferente. A cerca estava derrubada, a varanda caída aos pedaços, as janelas desaparecidas, as portas e dependências quebradas – uma triste, triste ruína.
Mas a parte mais triste de tudo era o fato de que esta casa já havia sido a antiga propriedade da família de um rico, próspero e proeminente homem de negócios Cristão. Todos o conheciam como um homem Cristão; e agora este era o triste monumento ao mundo pelo qual ele era lembrado.
A família era uma ruína ainda mais triste do que a casa; muito triste para eu tentar contar a história.
Vocês podem imaginar que muitas vezes, ao passar por aquela casa, uma pergunta vinha à minha mente, se não aos meus lábios: “Como é que uma família, conhecida como família Cristã, pode chegar a isso?” E alguns de vocês, enquanto eu olhava apreensivo para os anos que viriam, pesariam profundamente em meu coração.
Voltei-me para a minha Bíblia, o querido Livro antigo que sempre dá conforto na tristeza, paz na ansiedade e instrução para a nossa ignorância. Encontrei naquele Livro uma vasta quantidade de ensinamentos sobre esse assunto indescritivelmente importante. Não estou sugerindo que sequer comecei a cavar fundo na mina de riqueza em nossas mãos, nem segui (como sinceramente gostaria de ter feito) os ensinamentos que encontrei lá. Esses ensinamentos são apresentados de várias maneiras – como um exemplo, como uma advertência, como um preceito.
Agora, meus queridos, vocês não são mais “os pequeninos” que eram: mas, em vez disso, vocês têm “pequeninos” para treinar para o seu Senhor e Mestre. Vocês permitirão que o avô desses “pequeninos” transmita a seus pais algo do que ele colheu enquanto meditava nas alegrias e tristezas dos pais que encontramos diante de nós nas Escrituras?
Como vocês sabem, ele não escreve por causa de qualquer sucesso eminente que teve em criar seus próprios filhos, mas ele deve implorar como Davi: “Ainda que a minha casa não seja tal para com Deus, contudo estabeleceu comigo um concerto eterno, que em tudo será ordenado e guardado. Pois toda a minha salvação e todo o meu prazer estão n’Ele, apesar de que ainda não o faz brotar” (2 Sm 23:5). Mas, apesar de todo o seu fracasso, ele pode testemunhar a grande graça de Deus e Sua paciência infalível, mesmo nesta pesada responsabilidade.
Suponho que qualquer pai temente a Deus deve perceber profundamente quão solene é refletir sobre histórias de pessoas como Adão, cujo filho mais velho foi um homicida; Noé, alguns de cuja posteridade ainda está sob uma maldição; Abraão, cujo filho mais velho sempre foi, e ainda é, um inimigo implacável e uma fonte de tristeza e angústia para o povo de Deus; Moisés, cujo neto foi provavelmente um dos primeiros, senão o primeiro, sacerdote idólatra em Israel; Davi e suas tristezas familiares; e ao considerarmos a família de Josias é o suficiente para partir o coração de qualquer pai.
Assim, nosso coração clama por uma resposta à pergunta que surgirá: “Por que tais bons homens tiveram filhos tão perversos?” Não podemos deixar de perguntar em nosso coração, mesmo que nossos lábios se recusem a formular a pergunta; “Existe alguma maneira de ter certeza de que minha família não seguirá neste triste, triste caminho?”
Essas perguntas sempre estiveram no coração do escritor, e talvez vocês também tenham se preocupado com pensamentos semelhantes. Procurarei, portanto, pela graça e ajuda de Deus, apontar algumas das respostas que a Palavra de Deus parece dar a essas perguntas. E como essa pergunta novamente ecoa de volta para nós: “Por que tais honrados servos do Senhor têm filhos tão maus?”, a Palavra de Deus parece ecoar de volta outra pergunta (como tantas vezes acontece) em resposta à nossa: “Não haverá uma causa?”
Não há sempre uma causa para haver um filho perverso de um pai piedoso? As Escrituras parecem nos dizer que existe tal causa. Essas tristes histórias não são registradas na Bíblia para enfraquecer as mãos dos pais Cristãos hoje, mas sim como advertências para nos falar dos perigos à espreita em nossa própria vida familiar; e se dermos ouvidos a essas advertências, seremos eternamente gratos Àquele que as deu. Triste, realmente triste é a reclamação do Senhor em relação a alguns: “A quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão incircuncisos e não podem ouvir; eis que a Palavra do SENHOR é para eles coisa vergonhosa; não gostam dela” (Jr 6:10). E qual é o remédio se sentimos que tal é a nossa condição? Suponho que encontramos o remédio em Jeremias 4:4. “Circuncidai-vos para o SENHOR e tirai os prepúcios do vosso coração”. Suponho que a exortação para “circuncidar-nos para o Senhor” significa cortar essas “concupiscências da carne” que tão facilmente nos enredam. Como cuidamos de nossos filhos, embora não cuidemos de nós mesmos, ainda assim, por causa de nossos filhos, mesmo que não seja pelo motivo mais elevado – por amor do Senhor –, não ousemos continuar sem atender a esta exortação; não ousemos arriscar que nossos ouvidos se tornem pesados a ponto que essas advertências mais solenes não sejam ouvidas. Oh, meus filhos, permitam-me suplicar a vocês, a qualquer custo, que ouçam e prestem atenção a estas advertências da Palavra de nosso Pai Celestial: pois meu coração treme, se vocês não o fizerem, que venha o dia em que, com o coração quebrantado, vocês dariam tudo o que possuem para ter esta oportunidade mais uma vez, mas ela passou e não volta. Já vi a angústia de um pai com o coração partido olhando em agonia para um filho rebelde, sabendo muito bem que a causa era sua própria caminhada descuidada, talvez em um caminho trilhado anos antes. Mas “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7), é uma citação que é terrivelmente verdadeira para nós e nossos filhos.
