Origem: Livro: Música Instrumental na Adoração e Testemunho Cristão
Capítulo 4: Cristianismo em Contraste com o Judaísmo[7]
Estamos firmemente convencidos de que a aceitação de instrumentos musicais no culto e testemunho Cristãos se deve, basicamente, ao fracasso dos crentes em reconhecer a distinção entre as duas administrações – a lei e a graça. Uma das declarações mais notáveis de nosso Senhor quando aqui na Terra é encontrada no final de Lucas 5.[7] N. do A.: Para aqueles que desejam uma discussão completa e capaz sobre este assunto, recomendamos fortemente o volume de J. L. Harris intitulado On Worship, or Jewish and Christian Worship Contrasted. Para uma apresentação mais curta, sugerimos um panfleto recente de nosso irmão H. E. Hayhoe: Christianity and Judaism Contrasted: An Exposition of Hebrews 6. ↑
“E ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra sorte, o vinho novo romperá os odres e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão. Mas o vinho novo deve ser posto em odres novos, e ambos juntamente se conservarão E ninguém, tendo bebido o velho, quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho” (vs. 37-39).
Que declaração arrebatadora é essa! O que nosso Senhor gostaria que aprendêssemos com essa figura doméstica? Acreditamos que é simplesmente isto: O Judaísmo e o Cristianismo não se misturam; eles são mutuamente exclusivos. Tentar uni-los é perder completamente o significado de ambos.
O sistema do Judaísmo resultou de uma promessa feita a Abrão quando ainda estava na terra de Ur dos Caldeus. “E far-te-ei uma grande nação… e em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:2-3). Mais tarde, Deus renova Sua promessa nas palavras: “Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para a herdares” (Gn 15:7). Novamente, Deus encontra Abrão quando este tem noventa e nove anos de idade, muda seu nome para Abraão e reitera Sua promessa a ele com estas palavras: “E te darei a ti e à tua semente depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão” (Gn 17:8).
Pede-se ao leitor que note cuidadosamente as três promessas acima citadas. Nem uma palavra é dita sobre o céu, nem sobre a vida por vir. Tudo está conectado com esta Terra, especialmente uma parte dela chamada “Canaã”, e as promessas são inteiramente em vista da prosperidade temporal aqui embaixo.
Mais tarde, depois que a nação de Israel foi tirada do Egito e trazida para a terra prometida de Canaã, os encontramos procurando cumprir a promessa feita por meio de Moisés neste sentido: “se, ouvindo estes juízos, os guardardes e fizerdes, o SENHOR, teu Deus, te guardará o concerto e a beneficência que jurou a teus pais”. Depois, segue uma promessa detalhada de prosperidade terrenal, grande fruto da família, rebanho e campo, remoção de doenças e enfermidades entre eles e a certeza da vitória sobre seus inimigos. (Veja a passagem na íntegra; Deuteronômio 7:9-18.) Em tudo isso, não há indício de nada além de bênção nesta vida. A questão do céu ou do inferno não é levantada; tudo é terrenal.
Quando examinamos as provisões feitas por Deus para a adoração formal de Seu povo terrenal, ficamos impressionados com o total contraste com o que encontramos no Cristianismo. No relato detalhado dos planos da adoração do tabernáculo, conforme registrado em Êxodo 25-30, ou da inauguração da adoração no templo, conforme detalhado em 2 Crônicas 27, estamos face a face com um sistema de adoração divinamente sancionado que é exterior, formal, ritualístico e terrenal em todos os detalhes.
Tem sido frequentemente observado em nossas meditações sobre a Epístola de Paulo aos Hebreus que ela não é tanto uma apresentação de comparações das duas administrações da lei e da graça, mas sim de contrastes entre as duas. No entanto, apesar de todos os esforços que Deus empreendeu trazer diante de nós as diferenças essenciais e básicas nas duas formas de tratar com o homem sobre a Terra, a Cristandade se recusou a observar a linha divisória e procurou, desastrosamente, combinar as duas. Vamos, muito brevemente, listar alguns dos contrastes divinamente registrados nos dois relacionamentos. Em oposição à promessa judaica de bênçãos terrenais, ao Cristão estão prometidas bênçãos celestiais. Veja Efésios 1:3: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em lugares celestiais em Cristo”. Nosso Senhor deixou conosco a perspectiva: “No mundo tereis aflições” (Jo 16:33); “porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15:19). Aqui não há promessa de vitória sobre inimigos temporais, mas sim o oposto.
No sistema judaico, não havia aproximação à presença de Deus, exceto de forma mediadora por meio do sumo sacerdote, e isso apenas uma vez por ano (Hb 9:7-9). Mas no Cristianismo temos o abençoado privilégio de entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus (Hb 10:19 – ARA). No primeiro, somente uma classe diferenciada de pessoas – a tribo de Levi – poderia ministrar as coisas divinas, mas conosco está o conhecimento de que somos todos um sacerdócio santo e real para oferecer sacrifícios espirituais e mostrar Seus louvores. (Veja 1 Pedro 2:5, 9). No primeiro, não havia conhecimento da aceitação para com Deus, mas nós nos regozijamos no conhecimento de que os pecados estão perdoados. (Compare Hebreus 10:11 com Efésios 1:7) No judaísmo houve a constante repetição dos sacrifícios ano a ano e a oferta dos cordeiros diariamente no holocausto contínuo (Êx 29:38-42). Mas em Hebreus lemos: “Porque, com uma oferta, aperfeiçoou em perpetuidade os santificados” (Hb 10:14 – JND).
Agora chegamos a esse aspecto do Judaísmo que tem uma conexão especial com o assunto do nosso estudo. Referimo-nos à grandeza exterior do serviço do templo. Quando nos voltamos para a descrição da dedicação do templo como é dada em 2 Crônicas 27, aquele maravilhoso edifício, erguido a um custo estimado de mais de um bilhão de dólares[8], foi sem dúvida a estrutura mais cara e elaborada já erguida pelo homem. E imitando o precedente aqui estabelecido é que a Cristandade adotou seu padrão de basílicas, templos e catedrais. Mas quando nos voltamos para a instrução do Espírito quanto à época da Igreja, encontramos completo silêncio quanto à santificação de qualquer estrutura física para abrigar a Igreja. Não; em vez disso, encontramos o pronunciamento direto: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3:16). Novamente, “no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2:22). Também, em 1 Pedro 2:5, “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual”. Então que fique bem claro em nossa mente que não existe tal coisa na Terra hoje como um edifício físico, seja de madeira, pedra ou mármore, que tenha alguma santidade aos olhos de Deus.
[8] N. do A.: Ver Down e Gehman, “Temple”, Westminster Dictionary Bible, pág. 594. ↑
Em seguida, consideremos o serviço do templo, conforme descrito em 2 Crônicas 5:12-13 – ARA: “E quando todos os levitas que eram cantores… vestidos de linho fino, estavam de pé, para o oriente do altar, com címbalos, alaúdes e harpas, e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas; e quando em uníssono, a um tempo, tocaram as trombetas e cantaram para se fazerem ouvir, para louvarem o SENHOR e render-Lhe graças; e quando levantaram eles a voz com trombetas, címbalos e outros instrumentos músicos para louvarem o SENHOR… então, sucedeu que a casa, a saber, a Casa do SENHOR, se encheu de uma nuvem”.
Aqui, irmãos, temos a ordem de adoração divinamente aprovada para a velha administração, o Judaísmo, durante séculos dos tratamentos de Deus com Seu povo terrenal antes da cruz. Aqui está o vinho velho na sua melhor forma. Aqui vemos o templo divinamente designado, o coro trajado divinamente designado, a orquestra divinamente designada e o sacerdócio divinamente designado. Não é de admirar, então, que nosso Senhor pudesse dizer: “E ninguém, tendo bebido o velho, quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho” (Lc 5:39). Se quisermos uma explicação do que vemos sobre nós na Cristandade hoje, aqui a temos. Falhar em observar a distinção entre a adoração Judaica exterior, para o homem na carne, e a adoração espiritual Cristã, no Santo dos Santos, resultou no estado corrompido da Cristandade hoje. Isso é descrito por nosso Senhor em Seu discurso às sete Igrejas da Ásia correspondendo à última das sete – Laodiceia. A ela, solenemente, Ele anuncia: “Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca” (Ap 3:16).
Assim, vemos que nossa questão dos instrumentos musicais na Igreja é muito mais profunda do que a própria coisa; é, antes, apenas um elemento de um colapso geral em manter o vinho novo em odres novos. Se não o mantivermos lá, vamos perdê-lo. E assim, será que não podemos fazer a nós mesmos a pergunta: Ousamos arriscar a perda da preciosidade desse vinho novo voltando aos rudimentos fracos e pobres de um “santuário terrestre” (Hb 9:1)? Não devemos, antes, ouvir a voz de nosso bendito Senhor em Apocalipse 3 enquanto Ele Se dirige à Igreja na Filadélfia: “eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a Minha Palavra e não negaste o Meu Nome”?
