Origem: Livro: Música Instrumental na Adoração e Testemunho Cristão

Capítulo 5: O Chamado à Separação

Traçamos assim, brevemente, a história da introdução e aceitação geral da música instrumental na adoração e testemunho Cristãos. Vimos que foi aceito de forma muito relutante pela Igreja e não obteve aprovação geral até depois da Reforma. O caráter dos acompanhamentos musicais inicialmente trazidos era comparativamente simples, sendo limitado ao do órgão, como ilustrado no presente enviado por Constantino a Pepino em 670 (Veja capítulo 2).

Mas hoje nos encontramos cercados por um espetáculo estranho. A música instrumental em formas multiplicadas não só tem sido geralmente aceita pela Igreja professa, mas em grande parte deslocou a leitura da Palavra de Deus e a sadia e sólida pregação da mesma. Cito aqui um parágrafo de um panfleto de quatro páginas intitulado “Música nas Assembleias” (“Music in the Assemblies”).

“Esta é a época da ‘hinologia’. Hoje em dia, depende-se da música religiosa para despertar as emoções. A Palavra de Deus fica em segundo lugar e a Espada do Espírito está embainhada durante 50%, 60% ou mais dos programas de rádio. A música é colocada tanto à frente e tornada tão atraente que, quando a Palavra é finalmente pregada, o público perdeu seu desejo pela Palavra”.

Aqui, vamos citar da obra 400 Questions and Answers compiladas por H. B. Coder:[9]
[9] N. do A.: Loizeaux Bros., Nova York, 1928.

“À medida que a realidade de Cristo se afasta da alma, o ritualismo toma o lugar, e formas sem vida surgem por todos os lados. A tal ponto isso cresceu que até o mundo está perdendo o respeito por um Cristianismo que parece mais inclinado a entreter do que a converter homens. Acreditamos, portanto, que qualquer uso de música instrumental na adoração a Deus, do começo ao fim, na escola dominical, na reunião do evangelho ou em qualquer outra… terá uma tendência a diminuir o caráter do próprio Cristianismo” (págs. 212-213).

Estamos convencidos de que o último século da história da Igreja testemunhou um declínio acelerado no tom de adoração e testemunho. Temos a convicção de que o aumento da ênfase no uso de instrumentos musicais, juntamente com a hinologia do tipo secular, tem contribuído muito para o movimento de rebaixamento.

Espero que não estejamos fazendo uma injustiça ao tão usado evangelista, querido Dwight L. Moody, quando o citamos como alguém que definitivamente promoveu a abordagem moderna da obra do evangelho. Nosso estimado irmão John Nelson Darby conhecia pessoalmente o Sr. Moody e procurou ajudá-lo. A avaliação do Sr. Darby sobre os métodos do Sr. Moody na obra do evangelho é definitivamente profética. Citamos aqui partes das suas observações, conforme registradas nas suas cartas publicadas:

“Eu me regozijo, sou obrigado a me regozijar, em cada alma convertida – devo fazê-lo – e salva para sempre. Nem duvido da seriedade de Moody, pois conheço bem o homem. Vejo que Deus está usando meios extraordinários para despertar Seus santos adormecidos… mas não me deixo levar por isso. Quanto ao resultado como um todo, não durará… Julgo plenamente que promoverá o mundanismo nos santos… Os indivíduos podem se converter; devemos nos alegrar com isso; o efeito sobre a Igreja de Deus será prejudicial” (Cartas de J. N. Darby,” (Vol. 2, pág. 308).

“A obra do Sr. M. … declaradamente mistura o Cristianismo com o mundo e as influências mundanas, e as usa porque elas favorecem a obra dele e promovem o mundanismo e os males da Cristandade” (Vol. 2, pág. 394).

“Ele mistura suas atividades com o que é da carne, de modo a prejudicar os Cristãos e misturar os santos e o mundo” (Vol. 2, pág. 428).

Embora o Sr. Moody tenha dado o exemplo em grandes coros e acompanhamentos musicais, tudo foi mais suave em comparação com a atual pompa no chamado testemunho “Cristão”. Aqueles que surgiram na geração após o Sr. Moody têm sido insaciáveis em seus esforços para tornar o Cristianismo atraente para o homem na carne, e especialmente para torná-lo atraente para os jovens.

Há cinquenta anos, a Igreja professa reconheceu uma linha divisória entre o que era considerado “mundano” e o que era apropriado para um Cristão. Mas hoje a Igreja tem competido com aquela grande corruptora – Hollywood – na busca de atrair a multidão. Uma vez o teatro foi considerado como pertencente ao mundo e foi expressamente mencionado como algo que deveria ser evitado pelos crentes. Mas atualmente apresentações teatrais formam uma parte definida das atividades Cristãs professas. As chamadas escolas “fundamentalistas” publicam atraentes apelos para futuros alunos, destacando suas excepcionais instalações para o treinamento em teatro. Títulos sedutores e ilustrações de filmes supostamente “Cristãos” estão espalhados diante dos olhos em anúncios de revistas. Os crentes que antes pensavam que o cinema pertencia ao mundo agora se reúnem nos cinemas do centro da cidade para assistir “Martinho Lutero” ou algo parecido. Desnecessário será dizer que todas essas histórias são acompanhadas por elaboradas apresentações musicais que cativam as emoções e a imaginação, mas não trazem o ouvinte à presença d’Aquele que tão fielmente disse em Sua Palavra: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais” (2 Co 10:4).

À medida que folheamos as páginas de uma revista fundamentalista atual, Vida Cristã, ficamos impressionados com a grande porcentagem de páginas publicitárias que estabelecem anúncios de empresas oferecendo vários e elaborados instrumentos musicais e dispositivos musicais em hinologia. O apelo é definitivamente sensual.

Ó santos de Deus, Será que não devemos despertar para o fato de que estamos à deriva? A Cristandade, e, infelizmente, o “fundamentalismo” com ela, atingiram “o ponto mais alto de todos os tempos” em sua imitação do entretenimento mundano e um “recente ponto mais baixo” em poder espiritual. Atores e atrizes de Hollywood são apresentados como principais atrações nos chamados esforços evangelísticos, até mesmo para a requisição de heróis da TV do reino animal. Que incongruência grotesca com o padrão que nos é dado na Palavra de Deus: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2:4).

Em muitos casos, a paixão pela exibição musical foi tão longe que ensaios elaborados de talentos puramente musicais são oferecidos no palco da Igreja. Em vez da súplica sincera e solene do pregador cheio do Espírito das boas novas de Deus, a respeito de Seu bendito Filho, ouve-se o barulho do xilofone, o dedilhar da guitarra, a lamentação do violino ou o toque da trombeta e do saxofone. E tudo isso em nome de Cristo!

Neste ponto, vamos citar novamente a publicação 400 Questions and Answers, H. B. Coder, páginas 212-214:[10]
[10] N. do A.: H. B. Coder (compiler), 400 Questions and Answers (com referência a mais de 1.200 passagens da Escritura), Loizeaux Bros., New York, 1928.

“Não somos inimigos da música instrumental. Gostamos dela se for mantida livre das imoralidades que muitas vezes se acrescentam a ela, e se for mantida onde pertence no círculo do lar e da vida social. Mas no ‘círculo Cristão’ – o círculo do povo celestial, que conhece a Deus e se aproxima d’Ele em toda a realidade do que Ele é – acreditamos ser inconsistente e inaplicável. Cremos que ela tem sido o meio de degradar o Cristianismo em grande medida.

“Vejam o efeito disso nas congregações Cristãs: Isso teria sido para ajudá-los a cantar no início; agora, mudos em louvor a Deus, eles estão, em vez disso, recebendo um deleite para si mesmos da arte musical. É de se admirar que depois disso eles possam associar o teatro à Igreja? Uma parte ‘lhes dá prazer’ e a outra também.

“Mais uma vez, observe seus efeitos no evangelismo moderno. Tornou-se um novo tipo de entretenimento, e, em vez de convertidos marcados por terem chorado em arrependimento pelo pecado, por uma separação clara até mesmo da vestimenta manchada por ele, e por um espírito de oração e devoção a Cristo, formou neles uma mente leviana e amante dos prazeres, destruindo o verdadeiro Cristianismo.”

Quando, em seus dias, Moisés veio do monte para encontrar o arraial de Israel em devoção desenfreada a um falso deus, ele “tomou a tenda e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação; E aconteceu que todo aquele que buscava o SENHOR saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial” (Êx 33:7). O Espírito de Deus Se apropria deste exemplo para dar-lhe uma aplicação Cristã em Hebreus 13:13: “Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”.

No início do século passado, o Espírito de Deus exercitou milhares de crentes para agir de acordo com essa passagem e sair de um arraial Cristão judaizado para encontrar Cristo no meio de dois ou três reunidos para Seu nome. Eles agiram com plena fé na promessa de Mateus 18:20. Deus os abençoou maravilhosamente e abriu-lhes a Escritura de uma maneira que nunca havia sido aberta desde os dias apostólicos. Aqueles crentes deixaram para trás títulos religiosos, sacramentos, vestimentas, edifícios, órgãos, coros, livros de oração e confessionários. O Novo Testamento tornou-se o único guia deles, e preciosos hinos de louvor indicados pelo Espírito foram alegremente oferecidos a Deus em todas as suas assembleias. A introdução de qualquer ajuda mecânica à sua adoração teria sido abominável para eles. Seu testemunho do evangelho foi com simplicidade, mas com poder. Nenhum glamour acompanhava seu trabalho no evangelho para cada alma. Eles procuraram, na realidade do juízo próprio, estar em conformidade com a mente do Senhor, conforme expresso em Apocalipse 3:8: “tendo pouca força, guardaste a Minha Palavra e não negaste o Meu Nome”.

Devemos, queridos irmãos, que são os herdeiros de um testemunho tão santo, trair nossa confiança e ceder à pressão e ao padrão atual para corromper essa preciosa herança? Em vez disso, que possamos ouvir o Espírito de Deus falando conosco de novo: “Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tm 6:13-14).

Nosso Senhor anunciou à mulher de Sicar em João 4:23-24 que Deus Pai está buscando adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Esse não era o caso no sistema do Judaísmo. Que nossa alma seja profundamente exercitada diante do Senhor para que possamos responder à Sua “busca” e sermos encontrados como verdadeiros adoradores, não com flauta e órgão, mas com coração e alma. Em breve Ele virá! Então nos juntaremos ao coro celestial e cantaremos Seus louvores na casa do Pai. “Ora, vem, Senhor Jesus!”

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