Origem: Livro: O Lar Cristão e seus Deveres
Servos
“Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre” (Ef 6:5-8).
“Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus. E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:22-25).
“Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados. E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes, os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados” (1 Tm 6:1-2).
“Exorta os servos a que se sujeitem a seu senhor e em tudo agradem, não contradizendo, não defraudando; antes, mostrando toda a boa lealdade, para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tt 2:9-10).
“Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor ao senhor, não somente ao bom e humano, mas também ao mau; porque é coisa agradável que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente” (1 Pe 2:18-19).
Há mais instruções dadas nas Escrituras para a direção e o bem-estar dos servos do que para qualquer outra posição. Essa não é uma pequena honra, e é uma evidência do amor e do terno cuidado de Deus por todos os que ocupam essa posição. Talvez, a razão também possa ser encontrada no fato de que em todas as épocas da Igreja, desde os dias dos apóstolos até o presente, um grande número de servos já foi, pela graça de Deus, contado entre Seus filhos. E uma vez que, pela situação em que estão, devem ser extremamente influentes para o bem ou para o mal – recomendando o evangelho àqueles com quem vivem ou desonrando o nome de Cristo – esses conselhos e admoestações são dados, sem dúvida, para que possam ver a ênfase que é divinamente colocada sobre o ornamento à doutrina de Deus, nosso Salvador, em todas as coisas.
O termo “servo”, como empregado nas epístolas de Paulo, é um pouco mais amplo do que o usado entre nós. “Escravo” ou “servo” é o equivalente exato da palavra, embora ‘servo’ seja a melhor interpretação de seu significado, pois os escravos do Oriente não eram de forma alguma como os escravos do Ocidente. Eles eram, geralmente, os empregados domésticos, homens ou mulheres; e nisso, diferentes de outros servos, que pertenciam a seus senhores, que os adquiriram por compra ou por guerra. Mas, embora escravos, eram em sua maioria tratados com bondade; na verdade, muitas vezes se tornaram membros da família, ocupando cargos de confiança e influência, como nos casos de Eliezer, mordomo de Abraão, e José, na casa de Potifar. Eles eram realmente domésticos; isto é, membros da casa; e, portanto, quaisquer que sejam as diferenças reais entre a posição deles e a dos empregados agora, estaremos mais em harmonia com o espírito das determinações dadas se entendermos que elas se aplicam aos empregados domésticos. Pedro, de fato, usa uma palavra diferente – que realmente significa “doméstico”. Isso é, sem dúvida, porque ele estava escrevendo para crentes judeus, em cujas casas seriam encontrados menos escravos do que “domésticos”. Todas as classes de servos, portanto, estão realmente incluídas; e, portanto, servos de todas as posições e em todos os graus encontrarão muito neste capítulo para aplicar às suas necessidades e posição; pois quem quer que esteja sob um mestre terrenal encontrará a vontade de Deus quanto ao seu serviço nas direções dadas nesta parte de Sua Palavra. Também não deve se esquecer que todos os crentes são, em um aspecto, servos do Senhor; portanto, embora essas passagens tenham sua aplicação primária à classe especial a quem são dirigidas, há instrução e edificação para todos. Mesmo Aquele, que nos deixou um exemplo que devemos seguir em Seus passos, tomou sobre Si “a forma de Servo” (Fp 2) e, assim, nos ensinou que o verdadeiro lugar de todo crente está na sujeição à vontade de outro. “Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós Sou como Aquele que serve” (Lc 22:27).
1) Como o próprio nome indica, o dever primário do servo é a obediência. Em cinco epístolas diferentes (Ef 6:5; Cl 3:22; 1 Tm 6:1-2; Tt 2:9; 1 Pe 2:18) esse dever é ordenado; e, como no caso das crianças, a obediência exigida é quase ilimitada. “Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne” (Cl 3:22). A única limitação é encontrada em suas obrigações mais elevadas para com o Senhor; pois, embora isso não seja declarado diretamente, está claramente implícito quando se diz: “a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:24). Até este ponto – desde que a ordem dada não passe por cima daquilo que o servo deve ao Senhor como Seu servo – toda a obediência deve ser dada ao senhor ou à senhora. Dizemos senhor ou senhora; embora todos observem que as senhoras não são mencionadas nessas Escrituras. Isso ocorre porque o termo ‘senhor’, aos olhos de Deus, inclui o de ‘senhora’, assim como homens e mulheres são frequentemente compreendidos sob o termo “homem”, ou, mais provavelmente, porque a autoridade da senhora é delegada a ela por seu marido – ele sendo a cabeça da família e responsável por seu governo diante de Deus, mas confiando seus afazeres domésticos à esposa como senhora. Isso, portanto, deve ser entendido que senhores e senhoras estão ambos incluídos no primeiro termo, e que a obediência a ser prestada é devida a um ou a ambos, de acordo com a posição do servo.
É possível que haja um pouco de hesitação em aceitar tal descrição, do dever dos servos, como essa obediência quase ilimitada. Mas as palavras da Escritura não admitem nenhuma interpretação mais restrita. Examine-as o mais de perto possível, o significado é simples e distinto. A obediência, de fato, é necessária pela respectiva posição. O senhor governa e o servo deve obedecer, ou a casa seria uma cena de contínua perturbação e conflito. Isso será visto mais claramente quando for lembrado que todo lar Cristão deve ser uma apresentação da ordem ou governo de Deus. Como o servo ao senhor, assim é o crente ao Senhor. Portanto, é o governo do Senhor na casa, realmente exercido por meio do senhor a quem Ele responsabiliza por sua conduta e ordem. Assim, o apóstolo disse: “a Cristo, o Senhor, servis”; vocês recebem os mandamentos por meio de seus senhores terrenais, mas, ao obedecê-los, estão servindo ao Senhor, porque Ele os colocou onde estão e ordena obediência a vocês nessa posição. Servir seria muito mais fácil se essa verdade fosse reconhecida de maneira plena e de coração – um meio de graça, de fato – se o servo, ao receber a ordem do senhor, ouvisse sempre a voz do Senhor. Pois assim a tentação de rejeitar a ordem dada, de questionar sua razoabilidade, de condenar sua indelicadeza, seria evitada, e a fonte da alegre obediência estaria sempre presente na alma. É possível que haja dificuldades, injustiças ou mesmo crueldades; mas o incômodo de tais provações desaparecerá quando a ordem é recebida, como é privilégio do crente fazer, diretamente do Senhor, quando Sua vontade for reconhecida e aceita com submissão.
Nem a obrigação de obediência é enfraquecida pelo caráter do senhor. “Vós, servos,” o apóstolo Paulo escreveu, “sujeitai-vos com todo o temor ao senhor, não somente ao bom e humano, mas também ao mau” (1 Pe 2:18). Servir – obediência – nesse caso será muito mais difícil. Há senhores que conquistam tanto o coração de seus servos que estes consideram um prazer atender seus pedidos mais exigentes e que demandam o maior sacrifício próprio. Há, por outro lado, senhores que são habitualmente tão indelicados que suas menores exigências são consideradas uma dificuldade. A vontade do servo é correr para obedecer ao primeiro senhor; e retardar, ou às vezes até se recusar, a obedecer ao senhor indelicado. Mas, como esta passagem mostra, o dever de obediência é inteiramente independente do caráter do senhor. Esquecer isso seria esquecer que você serve a Cristo, o Senhor e também cair no pecado do servir à vista, como para agradar aos homens, em vez de como, “servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade, como ao Senhor, e não como aos homens” (Ef 6: 6,7; veja também Cl 3:22-23).
Se agora indicarmos as características da obediência, como aqui dadas, o dever será tornado menos pesado por estar diretamente conectado com o Senhor.
a) “Não servindo à vista, como para agradar aos homens”. Os olhos não devem estar no semblante do senhor. Se for, a tentação será necessariamente agradá-lo e, assim, agradar ao homem. O menor dever é roubado de seu valor diante de Deus, se feito aos homens em vez de fazer a Ele. Isso é andar por vista, e não pela fé.
b) “Mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre“ (Ef 6: 5-8; veja também Cl 3: 22-24).
Assim, os servos são colocados na presença do Senhor. Eles são servos de Cristo, e devem fazer a vontade de Deus de coração, e seus olhos devem estar fixos somente no Senhor. E lembrar-se disso é o segredo de todo serviço agradável e prazeroso, de toda obediência verdadeira e também de ser totalmente independente do caráter de seus senhores. Os servos Cristãos evitariam muitas armadilhas, se isso fosse mantido diante da mente deles; e, assim, exaltando a Cristo em seu serviço, de fato, honrariam a doutrina de Deus, seu Salvador, em todas as coisas.
2) A próxima direção da Escritura é quanto ao comportamento. Isso, de fato, está ligado ao dever já descrito; pois onde há obediência alegre e voluntária, certamente haverá um comportamento correspondente. Mas pode servir para mostrar sua importância, bem como colocar o assunto sob uma luz mais distinta, se a atenção for direcionada às declarações específicas da Palavra de Deus.
a) Os servos “estimem a seus senhores por dignos de toda a honra” (1 Tm 6:1). Eles devem lhes prestar todo o respeito adequado à sua posição; e essa exigência também é totalmente independente do caráter pessoal do senhor. Assim, de fato, como Deus exige que prestemos honra aos reis e por aqueles que estão em posição de autoridade por causa do cargo que ocupam, assim também Ele ordena que os servos reverenciem seus senhores por causa de sua posição. A sabedoria e a propriedade dessa ordem são evidentes; pois nada é mais conveniente por parte do servo, e nada honra e recomenda tanto seu serviço, quanto a admiração respeitosa que é aqui ordenada; e nada será mais fácil de prestar se tivermos em mente que deve ser prestada, não com o servir à vista como para agradar aos homens, mas com boa vontade quanto ao Senhor, e não aos homens.
b) Humildade também deve ser exibida. Os servos devem obedecer “com temor e tremor” e “com todo o temor” (Ef 6:5; 1 Pe 2:18). Ou seja, eles devem valorizar aquela humildade de mente que teme ofender e se sujeitem a “seu senhor e em tudo agradem” (Tt 2:9). Eles devem, portanto, cuidadosamente evitar dar causa de ofensa, e dentro dos limites já definidos, sempre procurar agradar.
c) “Não contradizendo” (Tt 2:9). A tolerância quanto às palavras deve ser exercitada; a língua mantida sob controle para evitar palavras rápidas e precipitadas. Todo servo sabe quantas são as tentações nesse sentido. Coisas afiadas e até injustas podem ser proferidas pelos senhores em um momento de irritação, e a tendência é a resposta com palavras do mesmo padrão; e então, quando o fogo da disputa é aceso, não é tão facilmente extinto. E o que é mais natural? Mas Deus, em Sua Palavra, nos mostra um caminho melhor; e, portanto, instruiu Seu servo a escrever: “Não contradizendo”. O apóstolo Pedro, reforçando a mesma coisa, aponta para o exemplo de Cristo: “Porque que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas, o Qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano, o Qual, quando O injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava, mas entregava-Se Àquele que julga justamente” (1 Pe 2:20-23). O Senhor assim suportou com paciência diante de Deus e, portanto, desviando o olhar dos rostos dos homens, “não contradisse”, confiando a Si mesmo e Sua causa Àquele que julga com justiça. Assim é com os servos. Tratados com indelicadeza, e mesmo injustamente, eles devem se sujeitar a tal tratamento severo com paciência diante de Deus, e olhar para Ele em busca de alívio da angústia. Um caminho impossível para a natureza, mas que, quando trilhado na dependência do Senhor com os olhos fixos n’Ele, produzirá frutos indescritíveis de paz e bênção. O bendito Senhor mesmo andou por ele; e assim, sabendo o que é, Ele é capaz de socorrer e socorrerá aqueles que O seguem nele. É ter comunhão com Ele em Seus sofrimentos; e “se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17).
3) Fidelidade também é ordenada: “não furtem; pelo contrário, deem prova de toda a fidelidade” (Tt 2:10 – ARA). Nessa determinação, os servos são considerados como sendo mordomos: eles devem lidar fielmente com tudo o que é confiado aos seus cuidados. Os bens da casa estão constantemente sob as mãos dos servos e, portanto, é dito: “não furtem; pelo contrário, deem prova de toda a fidelidade”. Eles não devem furtar ou usar para si mesmos qualquer coisa que pertença a seus senhores. Isso pode ser mais bem entendido se o significado exato da palavra “furto” for declarado. Somos informados de Ananias e Safira, (At 5), que pecaram contra Deus retendo parte do preço da possessão que haviam vendido, e cujo produto professavam ter dedicado ao Senhor. Isso mostra o significado de furto; pois a palavra ali traduzida como “reter” é a mesma que é dada em Tito como furto. Furto não é, portanto, exatamente o que é chamado roubo, mas é a apropriação pelo servo, para seu próprio uso, daquilo que pertence ao senhor ou à senhora. Muita propriedade – comida, roupas e outras coisas – deve passar pelas mãos e estar sob os cuidados de cada servo da casa. Deus exige de todos os servos que sejam fiéis neste particular, e não se permitam tomar o menor bem que for sem permissão. Tudo na casa pertence ao senhor ou à senhora, e deve ser mantido pelo servo como algo santo que foi confiado. Eliezer, o mordomo de Abraão, e José, na casa de Potifar, nos são dados como exemplos de servos fiéis, que não furtaram; enquanto o Salvador descreve alguém que até desperdiçou os bens de seu senhor, na parábola do “mordomo infiel” (Lc 16:1). Todo servo faria bem em prestar atenção a esses exemplos; pois também, neste assunto, a tentação é muitas vezes forte e, se uma vez cedida, aumentará em poder e poderá ser a causa da ruína total. Que esta palavra divina, “não furtem”, seja a luz do caminho do servo, e ele escapará da armadilha.
4) Uma orientação especial é dada para atender a um caso especial. “Todos os servos que estão debaixo do jugo”, disse o apóstolo, “E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes, os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados” (1 Tm 6:1-2). O Cristianismo ensina que Um é nosso Mestre, o Senhor Jesus Cristo, e que todos nós somos irmãos; e, considerando o fato de que Deus não faz acepção de pessoas, alguns, e especialmente a Igreja primitiva e que estavam “debaixo do jugo”, entendendo mal a nova verdade, poderiam afirmar sua igualdade com seus senhores e, com base na unidade em Cristo, fossem induzidos a reivindicar dispensa do serviço exigido. Essa exortação tinha o propósito de se opor à tentação e ensinar que, na realidade, as distinções terrenais permanecem intocadas pelo fato da igualdade de posição em Cristo. É verdade que o senhor e o servo, se forem crentes, são irmãos; mas também é verdade que, no que diz respeito a este mundo, eles ainda são senhor e servo. As disposições e distinções sociais, longe de serem alteradas ou eliminadas, são preservadas e consolidadas pelo Cristianismo. “E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes, os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados”. O próprio fato de sua unidade em Cristo, e do laço fraternal que consequentemente os une, devem ser um novo motivo para o serviço diligente e voluntário; pois, embora em diferentes posições temporais, eles agora podem se alegrar em saber que é apenas uma diferença temporal, que desaparecerá para sempre à luz da eternidade; e assim senhores e servos reconhecerão, nas posições que ocupam, a vontade do Senhor deles. A atenção nessa direção salvará os servos de muita decepção. Mesmo agora, aqueles que são Cristãos são levados a esperar demais de seus senhores e senhoras com base em um Cristianismo comum. O senhor ou a senhora podem, de fato, não se lembrar disso o suficiente, mas, se assim for, os servos crentes devem ter o cuidado de mostrar que o único efeito produzido sobre eles, por serem um na fé, é torná-los melhores e mais humildes como servos. Pois, por mais exigentes que sejam as demandas que tal serviço possa às vezes fazer, o serviço é prestado não aos homens, mas Àquele a Quem eles se deleitam em chamar de seu Senhor, e Ele dará a recompensa.
5) Foi escrito o suficiente para mostrar o caráter minucioso das instruções dadas. À pergunta feita: Qual é o objetivo do que foi escrito? A resposta é dupla. É, em primeiro lugar, aos servos “para que, em tudo, sejam ornamento da [honrem a – TB] doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tt 2:10), e, em segundo lugar, “para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados” (1 Tm 6:1). Isto é, que a vida dos servos não demonstre ser uma pedra de tropeço, trazendo desonra, mas que eles devem ser de tal caráter que louvem o nome de seu Senhor. Um grande número de servos, como já foi observado, são Cristãos, e, por isso a insistência para que andem dignos de seu nome Cristão, pois sua posição é muitas vezes muito difícil. Suas falhas são muitas vezes ampliadas, e suas virtudes tão negligenciadas, que nada menos que a perfeição convencerá muitos senhores e senhoras de que seus servos são realmente crentes. Por outro lado, também deve ser admitido que os servos Cristãos, às vezes, são muito negligentes; e quando este é o caso, o nome de Deus e Sua doutrina, por causa deles, são blasfemados. Mas Deus é Fiel, e quaisquer que sejam as dificuldades de sua posição, se houver somente dependência d’Ele, Ele os sustentará; e se pelo comportamento deles honrarem a doutrina de Deus, o Salvador, Ele fará com que o cheiro do nome de Cristo se espalhe, por meio deles, como uma doce fragrância em toda a casa em que habitam.
6) Em seguida, há encorajamentos e advertência.
a) Encorajamento. “servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre” (Ef 6:7-8). “Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:24). Todo serviço, qualquer que seja seu caráter, é assim feito com responsabilidade para com o Senhor; e aqui reside o encorajamento, que Seu olhar está sobre o servo fiel, anotando todos os seus desânimos, provações e tristezas, e sustentando-o por Sua aprovação atual e pela perspectiva do “galardão da herança” que ele finalmente receberá das mãos de seu Senhor. Pois não está muito distante o tempo em que Ele fará as contas com todos os Seus servos; e quando então, em Seu próprio tribunal (2 Co 5:10), cada um de nós receberá o que tiver feito por meio do nosso corpo, de acordo com o que fizemos, seja bom ou mau.
Há também o encorajamento – e como é abençoado – surgindo do exemplo de Cristo. Esta é a força especial do ensinamento de Pedro, pois assim que ele começa suas exortações aos servos, ele conecta tudo com o caminho e os sofrimentos do Senhor Jesus. A razão é que Ele era o Servo Perfeito – Aquele que nunca fez Sua própria vontade, mas sempre esteve em sujeição a Outro. Como Ele mesmo diz: “Porque Eu desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou” (Jo 6:38); e embora Ele fosse um Filho, ainda assim aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu. Se, portanto, os olhos estiverem fixos n’Ele, as dificuldades desaparecerão e a força será recebida para o caminho mais árduo; sim, e assim pode haver comunhão com Cristo em Seus sofrimentos por causa da justiça. “Olhando para Jesus” será, portanto, um antídoto para as tristezas e um incentivo a perseverar em fidelidade no caminho do servo.
b) Há uma advertência. “Pois quem faz injustiça receberá a paga da injustiça que fez; e não há acepção de pessoas” (Cl 3:25 – AIBB). Aqui também a responsabilidade é trazida para impedir o mal. Com que cuidado, portanto, o Senhor tomou providências para a necessidade dos servos! E com que ternura o fez. Ele traz os servos e seus deveres à luz de Sua própria presença, para que tudo possa ser feito como para Ele. Se os encorajamentos e as advertências tiverem o efeito de fazer com que cada servo viva somente para Sua aprovação, então o fardo mais pesado se tornará leve, e a situação mais difícil será cumprida com gozo.
7) Por último, não podemos deixar de lembrar aos servos de sua oportunidade de bendizer a casa em que são colocados. Há muitas famílias que terão que louvar a Deus por toda a eternidade pelos servos Cristãos. Que honra o Espírito de Deus colocou sobre a pequena menina levada cativa de Israel, que foi assim instrumento para abençoar Naamã (2 Rs 5); e desde aquele tempo até os dias atuais, agradou a Deus usar muitos servos para a conversão dos membros da família em que serviram. Um capitão do exército, bem conhecido pelo escritor, voltava da Índia em ignorância e incredulidade. Ele tinha um servo negro crente. A bordo do navio de tropas havia muito lazer, e o servo aproveitou a oportunidade para recomendar a seu senhor o evangelho da graça de Deus. Seu testemunho foi abençoado e seu senhor desembarcou na Inglaterra como soldado da cruz de Cristo. Ele imediatamente abandonou a profissão das armas e se dedicou ao ministério do evangelho; e muitas vezes o escritor viu o povo a quem ele estava pregando, em demonstração do Espírito e com poder, curvar-se diante de suas palavras como as árvores se curvam diante do vento. Milhares de tais exemplos têm seu registro no alto; e somente a luz da eternidade revelará quantos senhores e senhoras, ou seus filhos, foram salvos por meio do humilde testemunho de servos crentes, recomendado por seu andar e modo de vida.
Que Ele conceda a todo servo Cristão que leia estas palavras, possa perceber e cumprir, pela graça de Deus, a responsabilidade de sua posição.
