Origem: Revista O Cristão – Revelação Progressiva

Os Caminhos de Deus com Isaque

Desejo considerar o que a Escritura nos permite aprender sobre Isaque (Gn 21-28). É verdade que se fala muito menos a respeito dele do que sobre Abraão, por um lado, ou sobre Jacó, por outro, e até menos do que sobre José, entre os muitos filhos de Jacó. No entanto, há muito no relato espiritual daquele que veio entre os dois principais patriarcas, distinguindo-se por seu próprio modo equilibrado, reservado e pacífico, e indicativo de grandes princípios na Palavra e nos caminhos de Deus.

Isaque era a figura da filiação, o filho da promessa, assim como Abraão era o depositário dela, chamado, abençoado e destinado a ser uma bênção universal para a Terra no fim, embora ele próprio, pela fé, contemplasse algo mais elevado. A graça soberana operou tanto para o pai quanto para o filho. “Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé” (Rm 4:13). Somente assim, segundo a graça, a promessa poderia ser garantida a toda a descendência, não somente àquela que é da lei.

Mas o progresso da revelação quanto a isso é tão interessante quanto instrutivo. Foi quando a escolha de Ló pela planície bem irrigada do Jordão o separou daquele a quem toda a terra fora prometida que Jeová renovou a garantia de tudo, não apenas a Abraão, mas também à sua descendência (Gn 12:7, 13:15). Ainda assim, o patriarca teve que esperar, e mais tarde, quando expôs sua ausência de filhos a Jeová, veio a palavra de que aquele que saísse de suas próprias entranhas seria seu herdeiro – uma descendência numerosa como as estrelas. Então, após o episódio de Agar no capítulo 16, vem a revelação do Deus Todo-Poderoso, El-Shaddai, no capítulo 17, e, sob o rito exterior da circuncisão, a morte da carne imposta a ele e à sua descendência, com um novo nome para sua esposa bem como para si mesmo; pois ela também tem a promessa do filho, cujo nome foi dado. Assim, por maior e frutífero que Ele tornasse Ismael, Sua aliança seria estabelecida em Isaque, cujo nascimento tinha um tempo determinado.

O interesse excepcional que Jeová demonstrou pelo nascimento de Isaque tem um testemunho ainda mais impressionante em Gênesis 18. Ali, em forma humana, Ele mesmo apareceu com dois anjos a Abraão e dignou-Se a participar da refeição que ele preparou e lhes ofereceu. Então, Ele especificou a certeza precisa do tempo em que Sara teria um filho. Pois a dificuldade, humanamente falando, residia ainda mais na esposa do que no marido, e a incredulidade dela foi reprovada. Mas Abraão, como “amigo” de Deus, ouviu não apenas sobre o nascimento de seu filho, mas também sobre julgamento do mundo, que despertou sua alma em intercessão por seu parente justo e sua casa na ímpia e iníqua Sodoma. Se sua defesa parou por um instante, “lembrou-Se Deus de Abraão, e tirou a Ló do meio da destruição” (Gn 19:29).

No capítulo 21, Jeová visitou Sara como havia dito, e Jeová fez com Sara como havia falado. Pois Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão em sua velhice, no tempo determinado de que Deus lhe havia falado. O riso de Sara era agora de transbordante alegria e gratidão. Mas o grande banquete no desmame da criança provocou a zombaria de Ismael, e a expulsão da serva e de seu filho, diante da reclamação de Sara, uma figura para a qual Gálatas 4 nos dá a chave.

A grande mudança é então sutilmente revelada. Pois, em vez de Abimeleque repreender Abraão com justiça, Abraão agora repreende o rei gentio, que, juntamente com o príncipe do seu exército reconhece que Deus é com Abraão em tudo o que ele faz. No entanto, Abraão jura mostrar-lhe bondade, e eles fazem uma aliança. E, assim como o poço do juramento não era sem significado, também não era o bosque plantado ali, nem o invocar o nome de Jeová, o Deus eterno. Prefigurava-se o dia quando as “águas arrebentarão no deserto” e a “glória do Líbano se lhe deu” (Is 35:2, 6). A bem-aventurança da era vindoura para a Terra é assim tipificada.

Depois dessas coisas, e de forma bem distinta delas, Deus provou Abraão. É a imagem do Filho unigênito sendo dado, do Cordeiro que Deus proveria para Si como holocausto. Aqui Isaque se entregava para morrer, enquanto Abraão estava pronto pela Palavra de Deus a sacrificar seu filho amado – o sinal de algo muito melhor.

Mas Jeová detém a mão de Abraão quando seu coração foi provado, e confirma ao filho ressuscitado dos mortos em figura que em Cristo, o antítipo, todas as nações da Terra seriam abençoadas, como o apóstolo argumenta em Gálatas 3.

Então, após o falecimento de Sara (a mãe da aliança do filho da promessa), temos o chamado da noiva para o noivo e herdeiro de tudo. No entanto, podemos notar aqui a “moderação” de Isaque tornada conhecida a todos os homens na questão dos poços que seus servos encontraram (cap. 26); e a crise de seus caminhos quando seu pé quase escorregou no caso de seus dois filhos (cap. 27). A graça prevaleceu aqui, e ele foi salvo ainda que como pelo fogo. Como é impressionante que tal cena seja destacada para seu louvor em Hebreus 11:20! “Pela fé Isaque abençoou Jacó e Esaú, no tocante às coisas futuras”. Isaque viveu muitos anos depois disso, mas a Escritura registra apenas sua morte e sepultamento.

W. Kelly

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