Origem: Revista O Cristão – A Origem e as Atividades de Satanás
Satanás e o Pecado
A santidade com que guardamos a Palavra de Deus é demonstrada não apenas por nossa resposta a ela em nossa vida, à medida que somos ensinados em suas páginas, mas também em nossa disposição em defender sua verdade. Isso, no entanto, precisa ser feito com humildade, admitindo qualquer falta de entendimento que possamos ter, ou que realmente não nos foi dado a conhecer.
O porquê Deus permitiu Satanás e/ou o pecado não está diretamente declarado na Escritura. A resposta mais simples que se pode oferecer é que Satanás e o pecado foram permitidos para que Deus pudesse dar a toda a Sua criação não apenas um exemplo maior e entendimento de Sua santidade e soberania, mas também de Seu amor em graça. É uma resposta que é encontrada em toda a Escritura, seja por exemplos ou por dedução (1 João 4:9-19; Lucas 22:31-32; Tiago 1:2-7).
A rebelião de Satanás
Mas vamos olhar Satanás um pouco mais de perto para ver mais do que nos é dado entender sobre sua rebelião. Voltando a Ezequiel (28:11-19), há algumas coisas que indicam a posição de Satanás como o querubim ungido: Deus lhe disse: “te estabeleci (formei/designei); no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas” (v. 14). O primeiro e mais óbvio ponto é que Deus designou Satanás para sua posição, mesmo sabendo o que aconteceria (Salmo 147:5; Isaías 46:9-10).
Na Escritura, especialmente no aspecto da profecia ou parábola, um monte é tipicamente simbólico de autoridade e controle governamental. Isso tem seu significado aqui não apenas na ideia de ser o “lugar” da morada de Deus, mas da autoridade que Satanás recebeu como querubim guardião. Era seu dever como tal, figurativamente “ungido” como sendo um anjo chefe, certificar-se de que a glória de Deus, como sendo Soberano, fosse mantida, tanto garantindo que a vontade de Deus fosse acatada em obediência por outros quanto sendo ele mesmo obediente a ela.
Nessa posição que Deus o havia designado, Satanás se rebelou na tentativa de se exaltar acima de Deus. Ele procurou não simplesmente tomar a “balança” (ato de julgamento) em suas próprias mãos, mas também subverter a própria autoridade do governo de Deus e o desígnio de Sua criação ao desafiar qual seria a medida da balança: o que Deus havia estabelecido ou aquilo que o próprio Satanás desejava. Isso é exemplificado em seu método de tentação para com o homem no Jardim do Éden: primeiro, questionar o propósito de Deus em Sua provisão e comando sobre Adão; segundo, direcionar o homem para o exercício de sua própria vontade no desejo apresentado pelo fruto de “sereis como deuses” (Gn 3:1-10).
Tudo o que Deus havia planejado, Satanás pretendia questionar a fim de promover seu próprio desejo de ser adorado no lugar de Deus. Assim, a glória que ele deveria proteger, Satanás tentou tomar para si ao exercer seu próprio desejo voluntário de ser como Deus. Nisso, Satanás foi colocado totalmente sob o efeito da soberania de Deus em julgamento por seu próprio ato de desobediência em sua rebelião. Isso também é figurado no primeiro Adão. Adão deveria ter comunhão em obediência ao único mandamento de Deus, honrando a Deus em Sua soberania ao estabelecer as coisas conforme Sua vontade, mas Adão a rejeitou pelo exercício de sua própria vontade. Assim como Satanás, o homem por meio de Adão agora está sob julgamento.
No exercício da escolha além do que havia sido dado por Deus como correto, o julgamento e a morte passaram ao homem. Simplificando, nossa pretensão de seguir nosso próprio caminho em vez do que Deus planejou para nossa proteção, para nos guardar, nos colocou diante d’Ele, não em comunhão, mas sob sentença como condenados.
Por que Deus permite o pecado
Isso, no entanto, levanta outras questões com as quais muitos lutam quanto ao pecado em si: “Se Deus é Onisciente e Todo-Poderoso, por que Ele permitiria que um ser de Sua própria criação tivesse a capacidade de se rebelar e pecar contra Ele? Se Deus é amor, como Ele pode permitir que o mal (pecado) exista?” Seja Satanás ou o homem, a questão é a mesma.
No entanto, também se poderia perguntar: “Se o homem insiste em sua própria liberdade de escolha, não deveria ele ser responsabilizado por suas escolhas?” Não se trata do desejo de entrar na discussão do “livre-arbítrio”; é apenas uma ilustração para apontar a hipocrisia em querermos responsabilizar Deus por nosso próprio entendimento simplista de qualquer que seja a situação dada.
Quando tudo é do nosso agrado, do nosso desejo, nos alegramos com os prazeres do dia. Mas, quando surge alguma ação ou consequência que nossa consciência atesta a injustiça ou imoralidade que a envolve, exigimos que Deus seja responsável pela existência do mal. Em vez de admitir os resultados de nossas próprias ações, ou inação, queremos culpar a Deus por tudo o que está errado. Até questionamos a Sua existência e Seu amor, pois as coisas não são da maneira que pensamos que deveriam ser (Rm 2:15).
O debate tem sido realizado há séculos, mas para um crente, no entanto, nosso entendimento só pode vir por meio da revelada Palavra de Deus no que Ele nos deu a conhecer. Como crentes em Cristo, reconhecemos que maior glória e gozo nos aguardam do que o que de outra forma nos seria dado a conhecer, sem que tal dom da graça em Cristo fosse mostrado (Cl 3:1-4; Ap 21:1-22:7).
Os enganos de Satanás
Infelizmente, muitos pensam em Satanás como apresentado a nós em filmes de Hollywood, ou como retratado em livros como O Inferno de Dante. No entanto, ele é ainda mais poderoso em seu disfarce de anjo de luz. Desta forma, a sua beleza é apresentada para sugerir a sua “bondade interior” e é uma prova ampla do poder dos seus enganos no mundo que nos rodeia. As belas e preciosas pedras cobrindo Satanás agora fazem parte de sua capacidade de enganar – fazendo com que as tentações mais sutis pareçam ainda mais belas e nos induzindo a pensar que não podem estar erradas (Ez 28:16-18).
Quanto aos seus ministros (geralmente, outros anjos caídos), eles são igualmente capazes de se transformar em ministros da justiça, a fim de cumprirem o seu propósito. Estes não são distorções grosseiras de um maquiador, nem da imaginação fantasiosa de um poeta, mas criaturas belas e carismáticas. Eles são poderosos tanto no uso da Palavra de Deus quanto nas riquezas e entretenimentos mundanos de tudo o que deleita os olhos e a carne do homem. Mesmo em acariciar o ego de uma pessoa, inflando seu orgulho naquilo que ela acredita que deveria ser dela, há poucos mais capazes. Isso é demoníaco – as perversões que o inimigo traz diante de nós daquilo que a vida nunca deveria ser, mas que eles apresentam como sendo algo que deveria ser nosso por necessidade (2 Co 11:3, 13-15).
Nem Satanás nem seus ministros devem ser tratados com piedade ou romantizados de qualquer forma, embora sejam frequentemente idolatrados em ambos os aspectos na cultura atual de entretenimento e pecado. Mas eles não são os únicos inimigos do crente. Não é preciso ser sobrenatural para ser ministro das mercadorias de Satanás. Há homens e mulheres mortais, dados ao engano e à corrupção, que são plenamente capazes, no seu uso ou rejeição da Palavra de Deus, de enganar os outros também (2 Tm 3:1-7, 4:3-4; 2 Jo 7).
A superioridade de Cristo
Satanás possui uma série de pedras de beleza, mas há uma única Pedra maior em resplendor e valor do que todas as de Satanás combinadas. Para aqueles que creem n’Ele, Ele é o mais precioso de todos. Jesus Cristo é o Fundamento (a Rocha) e a Pedra de Esquina da graça e do juízo de Deus (1 Pe 2:4-8; Is 28:16-17). Quando Ele retornar em juízo, Ele Se voltará e cairá sobre aqueles que tropeçam e caem ao rejeitá-Lo (Mt 21:44; Is 8:14-15; Ap 20). Para os fiéis ao Seu chamado, eles são filhos de Deus (Rm 8:14-17).
Para os filhos de Deus, Satanás e seus ministros são todos inimigos derrotados que não têm poder real sobre nós, a menos que cedamos e os permitamos (Ef 6:10-18; Tg 4:7-8). Isso não significa que não podemos ser tentados, nem que não podemos sofrer perseguição pelas mãos de outro, mas que nossa vida e força estão em Cristo – assim como a nossa eternidade. A batalha nem mesmo é nossa – é do Senhor, e Ele já venceu!
Embora Deus possa permitir a Satanás as suas operações, ele só pode ir até onde Deus permite. Se buscarmos, com confiança fiel, a Deus, nosso Pai, Satanás não tem força e somos abençoados no resultado que Deus deseja para nós. Se recuarmos com medo, Deus é justo e permanecerá fiel até o fim: Ele “não pode negar-Se a Si mesmo” (2 Tm 2:11-13). Mesmo que isso ocasione nossa morte neste mundo, a glória e honra maior será para Deus em um crente que morre de acordo com o Seu propósito no testemunho dado (At 7:54-60; 2 Co 5:2-11). No entanto, não precisamos temer – nada pode separar um filho de Deus do Seu amor (Jo 10:27-30; Rm 8:31-39; Ap 22:1-5).