Origem: Revista O Cristão – Nazireado
Nazireado entre os Incircuncisos
No caso de Sansão, vemos que em tudo a mão de Deus está trabalhando em soberania. Ele escolhe a já desonrada tribo de Dã, a primeira entre Israel a cair na idolatria (Jz 18). Ele pode fazer o que Lhe agrada. Sem ser solicitado, o Senhor apareceu à esposa de Manoá e anunciou o nascimento dessa criança. Os detalhes do capítulo são muito belos em muitos aspectos, e especialmente brilhantes nas novas deduções de fé, da esposa de Manoá. Três fortes características se apresentam para nós aqui:
Primeiro, temos o nazireu – aquele separado para o Senhor.
Em seguida, depois da oferta do holocausto e da oferta pacífica, o Anjo, cujo nome era “Maravilhoso” (Is 9:6), sobe ao céu na chama do altar.
E, por último, temos “tudo isto” mostrado a Manoá e sua esposa.
O nazireado de Cristo
Agora, gostaria de me referir por um momento ao nazireado de Cristo. Nos primeiros evangelhos, o Senhor é visto no poder do reino, comendo e bebendo com os filhos desse reino, se eles estivessem dispostos a ouvir. No Evangelho de João, tudo isso muda. Ele é um homem solitário desde o início desse Evangelho, e “os Seus” são deixados de lado (Jo 1:11-12). Ele é um Nazireu do começo ao fim, reunindo e conduzindo uma companhia celestial à casa do Pai. Em João 17, onde o resumo disso é visto, encontramos em linhas gerais essas três coisas de Juízes 13 trazidas à tona novamente em toda a sua intensidade e realidade. Seu povo é separado: eles “não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo” (Jo 17:14). Ele diz ao Pai: “Mas, agora, vou para Ti”: Ele sobe ao alto, no valor do holocausto completo e da oferta de manjares, nos quais eles foram aceitos perante o Senhor. E “digo isto no mundo, para que tenham a Minha alegria completa em si mesmos”.
A Igreja de Deus era uma nazireia [separada]. Em vez de manter esse lugar, ela começou “a comer, e a beber com os bêbados”. Mas Cristo sempre foi um verdadeiro Nazireu (espiritualmente, não literalmente), e, quando a Igreja caiu como um todo, o único recurso é o nazireado individual – devoção especial ao Senhor. A Igreja de Deus está sempre unida a Cristo em glória, mas para ser reconhecida em tal estado, aqueles que seriam reconhecidos devem estar separados para Ele. Não existe outra maneira. Eles devem ser nazireus, e devem manter o segredo disso, também, com o Senhor. Ser assim exteriormente, sem separação interior, é terrivelmente solene. É descobrir, quando chega o momento da prova, que perdemos nossa força.
A história de Sansão
A história de Sansão é dividida em duas partes distintas, cada uma terminando com a frase “e julgou a Israel… vinte anos” (veja o final de Juízes 15 e 16).
A primeira divisão de sua história está registrada em Juízes 13-15. Nela notaremos quão cheio de poder é este libertador de seu povo. Quão completa é a sua vitória sobre os filisteus! Em toda essa porção, notamos também que “o Espírito do Senhor” veio sobre ele, em seus poderosos atos. Também notamos que ele não é acompanhado por Israel nesses atos. Até os homens de Judá desceram para amarrá-lo e entregá-lo nas mãos dos filisteus!
Quão impressionante é tudo isso para nossa alma! Se os santos de Deus aceitarem o caminho do nazireado nestes dias, Deus estará com eles em poder e bênção. Essa bênção pode se estender em grande parte até mesmo àqueles que não se separaram para o Senhor, trazendo libertação também para eles. Mas eles se opõem àqueles que tomaram esse caminho separado. Aceitar aqueles que buscam Sua face é apenas julgar seu próprio caminho como não santificados para Deus.
O lugar de nazireu é perdido
Na segunda divisão de sua história, tudo muda! Não há ali nenhum vestígio do poder do “Espírito do Senhor”. Sansão perde o lugar de nazireu e cai nas mãos dos filisteus. Seus inimigos o cegam, uma prova, pelo menos para eles, de que Dagom é mais forte que Deus! Não é o que fez o povo de Deus hoje? Não perderam o seu nazireado, misturando-se com o mundano? E, assim, aceitando o mal, eles ficam cegos e cativos, e incapazes de quebrar suas amarras. Quão bem a Escritura pode dizer a tais pessoas: “Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5:14).
Quando o cego Sansão é chamado para brincar diante dos príncipes dos filisteus em Gaza e quando ele se apoiou nas colunas da casa em que eles estavam, Deus ouviu seu clamor. E quando ele se inclinou com todas as suas forças, a casa caiu sobre ele e sobre todos os que estavam lá. “E foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara na sua vida”, mas ele mesmo cai na destruição deles.
Assim será com o mundo quando Deus remover a Igreja desta cena, como aconteceu com o próprio Sansão quando foi removido. Mais de seus inimigos serão destruídos em sua morte do que ela havia feito em sua vida, pois sua remoção será o sinal para os juízos esmagadores de Deus sobre a igreja professa, que, infelizmente, é somente o mundo!
A analogia com Laodiceia
Há uma analogia com essas duas seções da história de Sansão nas duas últimas mensagens às sete Igrejas na Ásia: uma, do nazireado em poder e vitória; a outra, do nazireado perdido, e da cegueira e derrota. Encontramos essas duas características, claramente, em Filadélfia e em Laodiceia.
Filadélfia é de fato o caminho nazireu – aquele nazireado moral que encontra a aprovação de Cristo. Tudo é vitória com tal estado. No entanto, é um caminho no qual o segredo deve ser guardado entre Cristo e a alma. “Eu sei as tuas obras”: isso deve bastar ao coração sincero. Pode-se perguntar: “Diga-me onde está sua grande força?”, mas é um segredo que não deve ser revelado. Isso corresponde à primeira parte da história de Sansão.
Mas Laodiceia vem em seguida. Ela é cega, e seu nazireado foi perdido. Ela ainda se considera “rico… e estou enriquecido, e de nada tenho falta”, mas sua força se foi. Ela é aconselhada a ungir os olhos com colírio, para que possa ver. Ela é morna – nem fria nem quente, mas repugnante para Cristo: Ele vomitará tal estado de coisas de Sua boca.
Meus irmãos, há lições aqui para nossa alma! Talvez tenhamos que começar de novo; os dias de nossa separação anterior podem ter sido perdidos. Mas podemos começar de novo! Temos um Deus de misericórdia com Quem tratar, que revelou o que Lhe é agradável. Está chegando o momento em que a Igreja de Deus será removida, em sua última etapa aqui; então o julgamento dos filisteus ocorrerá. O Senhor, então, sairá para a batalha contra Seus inimigos, e exultarão “os santos na glória” (Sl 149:5).
“Retende-o até que Eu venha”
Que Filadélfia então se lembre de que Ele disse: “o que tendes, retende-o até que Eu venha” e “que ninguém tome a tua coroa”. Está chegando o dia em que saberemos o significado das palavras: “e depois o nazireu pode beber vinho” (Nm 6:20). Será então de Cristo a bênção de José, que assim foi expressa: “O Todo-Poderoso, o Qual te abençoará… as bênçãos de teu pai… estarão sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça d’Aquele que foi separado [nazireado] de Seus irmãos”! (Gn 49:25-26). Os dias do Reino terão chegado, e aqueles que permaneceram firmes e andaram como nazireus aqui serão então reconhecidos. (A palavra “separado” em Gênesis 49:26 é a mesma que a palavra “nazireu” usada em outras partes da Escritura.)
Aqueles que se separaram para Davi no passado, nos dias de rejeição dele, receberam sua recompensa nos dias do reino. Mas as joias mais brilhantes da glória de Davi foram aqueles especialmente mencionados pelo nome, que enfrentaram esses inimigos especiais – “os incircuncisos”. Em 2 Samuel 23, onde lemos as últimas palavras de Davi, descobrimos que ele falou muito bem daqueles que venceram os filisteus.