Origem: Revista O Cristão – Daniel
A Vida e o Testemunho de Daniel
Daniel e seus três amigos receberam a posição de serem testemunhas para os governantes gentios de que existe um Deus do céu. Jerusalém estava em ruínas, juntamente com o templo que havia sido destruído. Não havia mais um lugar na Terra onde Jeová fosse conhecido por habitar. Nesse vácuo de testemunho, Daniel e seus três amigos foram levados para a Babilônia. Foi-lhes dada a oportunidade de representar Deus diante dos governantes gentios, começando com Nabucodonosor. Essas circunstâncias são particularmente significativas para o Cristão hoje, porque, como Daniel, vivemos em uma Terra à qual não pertencemos; nossa cidadania é celestial. Pertencemos ao reino dos céus, que não possui trono governamental visível na Terra. Este reino será levado para o céu no fim do tempo. Enquanto isso, é nossa posição representar Cristo enquanto estamos aqui na Terra. Nossa participação com Cristo em Seu reinado é futura, mas nossa fidelidade agora determinará nossa posição no futuro. Sejamos encorajados, ao considerar os seis primeiros capítulos de Daniel, vendo como ele representava Deus – como provou por sua fé e obediência que o Deus do céu governa sobre os reis na Terra.
Preparação pela separação
Daniel escreve com fé e otimismo sobre sua história passada no capítulo 1; não há queixa do que ele havia perdido, mas sim apreço pelas bênçãos do Senhor. Desde o início, Daniel reconheceu que Deus o havia favorecido com o chefe dos eunucos. Ele, junto com seus três amigos, responderam a isso mantendo-se separados e puros do que os levaria a perder sua identidade com Deus por associação com os deuses da Babilônia. Eles pediram legumes (grãos) para comer. O grão [trigo da terra] foi o que os filhos de Israel comeram pela primeira vez depois de chegar à terra de Canaã; é uma figura para nós da comida celestial. Para que Daniel e seus três amigos sejam fortes testemunhas do Deus do céu, eles devem manter sua identidade exterior com seu Deus. O Senhor provou que esse alimento, que os identificava com Ele, os fazia parecer melhores do que aqueles que comiam a provisão do rei. Isso foi um testemunho do poder de Deus no palácio. Melzar permitiu que eles comessem sua própria comida. A separação para Deus pela comida que comiam era ainda mais importante do que manter seus nomes hebraicos que os conectariam à nação de Israel. Deus é supremo e honrou os quatro jovens que O honraram; eles são dez vezes melhores do que todos os outros.
Existe um Deus no céu
O sonho de Nabucodonosor no capítulo 2 é uma profecia do futuro de seu reino, mas parece que ele esqueceu o sonho, embora deva ter percebido que ele tinha um significado importante. Deus permitiu que Daniel, Seu representante, aparecesse para tornar conhecido o sonho. Os mágicos da Babilônia disseram que ninguém poderia mostrar o sonho do rei, a não ser os deuses, cuja morada não é com carne. Mas Daniel foi enviado para provar que ele tinha um relacionamento com Deus e poderia tornar conhecido o sonho. Daniel pede tempo e vai a Deus em oração com seus três amigos. O Senhor lhe faz conhecer o sonho. Sua primeira resposta é louvar a Deus por revelar o sonho e sua interpretação. A capacidade de tornar conhecido o sonho era prova para todos de que isso vinha de Deus e de que a interpretação era verdadeira. Daniel disse a Nabucodonosor: “há um Deus no céu, o Qual revela os mistérios; Ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de acontecer nos últimos dias” (v. 28). O fim do sonho se refere ao reino vindouro do Senhor Jesus no versículo 44: “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre”.
Na interpretação deste sonho, temos uma revelação maravilhosa do período de tempo desde Nabucodonosor até o último governante gentio. O Senhor Jesus, Filho de Davi, é a Pedra que ferirá os gentios e tomará os reinos da Terra. Daniel, que era uma das sementes de Davi, mas foi privado de participar de um reino terrenal, podia esperar o reino da semente prometida que estabeleceria o reino eterno. Hoje vivemos no momento em que esperamos que o Senhor Jesus venha do céu, primeiro para levar Seu povo celestial para casa, para a glória, e depois para nos trazer de volta com Ele quando Ele vier reinar na Terra. É importante para nós, enquanto isso, sermos Seus representantes fiéis na Terra, como Daniel estava na Babilônia. “Ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da Terra” (At 1:8). “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (1 Pe 2:11-12).
Vemos neste capítulo como Nabucodonosor é levado a reconhecer: “Certamente o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (v. 47). Este é o começo do testemunho do rei a respeito do Deus do céu, mas seria necessário mais testemunho de Daniel e seus três amigos.
Idolatria e o fornalha ardente
No capítulo 3, vemos que Nabucodonosor usa a imagem de seu sonho para fazer dela um ídolo de ouro para que todos possam adorar. Onde falta fé, apenas as coisas exteriores são vistas. O rei procura unificar o reino sob si mesmo pela força, mas esquece o Deus que lhe deu o reino; isso é idolatria. Daniel não é escolhido para esta prova e libertação, mas Sadraque, Mesaque e Abednego provam o poder de Deus para libertar do pior julgamento que o rei poderia trazer sobre eles. Eles, por sua fé em Deus, “apagaram a força [violência – ARA] do fogo” (Hb 11:34) e provaram que seu Deus era o único Deus a ser adorado. “Falou Nabucodonosor, dizendo: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, que enviou o Seu anjo, e livrou os Seus servos, que confiaram n’Ele, pois violaram a palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, para que não servissem nem adorassem algum outro deus, senão o seu Deus” (v. 28). No entanto, o rei não admite que ele também deve se curvar Àquele a Quem eles adoram; ele só fala d’Ele como o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego. Mais trabalho é necessário em sua alma.
Da impiedade à adoração
O capítulo 4 foi escrito pelo próprio Nabucodonosor. É lindo ver esse alto monarca mostrando os sinais e maravilhas que Deus havia feito com ele. Desta vez, o rei pode contar seu próprio sonho, enquanto Daniel escuta. Duas vezes no capítulo Daniel é referido por Nabucodonosor como “Daniel (Deus é Juiz), cujo nome é Beltessazar” (vs. 8, 19). A fé de Daniel permitiu-lhe, nessa posição mais difícil, interpretar o sonho que pronunciava juízo sobre o rei. Depois de ouvir o sonho, ele ficou pasmado por uma hora antes de falar. Como seu Deus, ele não se apressou em julgar (veja Jo 8:6‑7). Somente quando o rei o levou novamente a falar, ele deu a interpretação. Que as pessoas ao nosso redor no mundo vejam em nós esse espírito não condenador. Que eles também entendam que não temos desejo algum pelo reino que eles procuram desfrutar.
Depois que o juízo foi pronunciado, Deus esperou doze meses. Mas o conhecimento do que aconteceria ao rei não foi suficiente para fazê-lo dobrar os joelhos. Isso também não é verdade para nós? O simples entendimento do futuro não é suficiente; devemos aprender a andar pela fé de acordo com o conhecimento que temos da profecia. Foi necessário um julgamento governamental, sete vezes intensificado para quebrantar o rei – vivendo como um animal. Então ele olhou para cima e reconheceu Deus como seu Deus: “Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração”. Ele foi levado a um relacionamento pessoal com Deus. “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu; porque todas as Suas obras são verdade, e os Seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba” (vs. 34, 37).
O julgamento do profano
Não há tempo de espera após o anúncio da sentença sobre Belsazar no capítulo 5. Quando Daniel foi chamado para interpretar os escritos na parede, ele foi identificado pelo rei como um dos cativos levados de Jerusalém por Nabucodonosor. Daniel estava ligado ao local de onde o julgamento estava vindo. O Deus que habitava em Jerusalém agora governava desde o céu e enviara Seu anjo para escrever na parede. Belsazar, juntamente com suas esposas, usara os vasos sagrados do templo para louvar outros deuses. Daniel era um homem velho e Belsazar muito mais jovem; Daniel primeiro repete o aviso que Deus havia dado a seu pai Nabucodonosor, e então ele o repreendeu, dizendo: “E tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos à tua presença os vasos da casa d’Ele, e tu, os teus senhores, as tuas mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de Quem são todos os teus caminhos, a Ele não glorificaste” (vs. 22-23). Isso foi rebelião e trouxe o juízo de Deus. Então o reino é entregue para Dario, o Medo.
A inveja dos egoístas
Não podemos deixar de pensar, lendo o capítulo 6, que todos no palácio sabiam que Daniel havia interpretado os escritos na parede sobre a queda da Babilônia. Quando Dario tomou a cidade, ele colocou Daniel sobre todo o reino. Essa posição exaltada colocou Daniel em um novo tipo de teste – ele estava sujeito à inveja dos príncipes e presidentes. Para muitos, esse pode ser o tipo mais difícil de teste. Podemos observar que Daniel não mudou seu hábito de orar três vezes ao dia. Esta foi à fonte de sua força; o Deus do templo era o Deus do céu que controlara os reis da Terra ao longo de sua vida. Nenhuma ameaça de ser jogado em um covil de leões mudaria sua vida de oração. Ele não amava sua nova posição de governante mais do que o Deus que a deu, e a ameaça de morte não o afastaria da completa dependência de Deus. Lembrar-se deste exemplo de Daniel pode muito bem nos ajudar quando somos tentados a usar nossa posição ou autoridade para nos ajudar a sair de uma situação difícil. Não podemos esquecer que o Deus de Daniel no céu também é nosso Deus, a Quem conhecemos como nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.