Origem: Revista O Cristão – Adão e Cristo
Adão e Cristo
Romanos 5:14-21
O pecado de Adão e as consequências desse pecado são impressionantemente exibidos na parte final de Romanos 5, em contraste com a graça que se manifesta em Jesus Cristo. A posição muito importante que Adão ocupou mostra o caráter e a obra do Senhor Jesus Cristo, que contrasta com o primeiro Adão. Adão em sua inocência era um tipo e figura de Cristo. O Senhor Jesus é o Cabeça de toda graça e verdade, o representante de todos os crentes, enquanto Adão é o cabeça de todo pecado e miséria, um representante de todos os pecadores por natureza. Essa distinção é mencionada em 1 Coríntios 15:47, onde diz: “O primeiro homem, da Terra, é terreno; o Segundo Homem, o Senhor, é do céu”, e em Romanos 5:14 é dito que ele “é a figura d’Aquele que havia de vir”.
O amor e a graça superabundantes do Senhor Jesus Cristo são testemunhados no próximo versículo: “Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de Um só Homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos”. E o contraste é muito impressionante à medida que continuamos: “E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por Um só, Jesus Cristo”.
Aqui temos, em uma perspectiva, o efeito do pecado de Adão e a obra do Senhor Jesus Cristo. Vemos a maneira como Ele satisfez a toda questão da controvérsia entre Deus e o homem.
O cabeça e a raiz
Temos em Adão o cabeça e a raiz de um mundo pecaminoso afundado em iniquidade e miséria, e em Cristo o Cabeça e a Raiz de um mundo de bem-aventurança, reinando na vida, abrindo um “novo e vivo caminho”, prevalecendo sobre o pecado e a ruína do homem – não apenas a salvação de almas para Deus, mas triunfando positivamente sobre o mal do homem, sobre o máximo que o homem mau poderia fazer. Ele não está apenas desfazendo o que o homem havia feito, mas superabundando em bênção sobre a ruína que o homem trouxe sobre si mesmo – não apenas colocando de lado a obra realizada pelo homem, mas manifestando as riquezas do amor divino sobre o mal, o pecado, a ruína e a miséria, que foram permitidos com o objetivo de mostrar de maneira mais extraordinária a grandeza do amor de Deus e Seu contraste direto com o homem em todas as coisas.
Ora, é isso que devemos procurar em Cristo, um remédio adequado para o mal que o pecado havia causado, um remédio que deveria enfrentar e superar o peso da iniquidade, e o temos em Cristo, nas abundantes riquezas de Sua graça. A maneira e os meios eram de Sua própria concepção e execução, para manifestar Sua bondade para conosco em Cristo Jesus, que deveriam ser a substância do gozo de Seu povo, o descanso da alma deles, o objeto de suas esperanças e o desejo de suas afeições. E tal Ele é. O mal é abundante e o pecado segue seu curso completo e desenfreado. Traçamos sua raiz, surgimento e progresso no primeiro Adão, em cujo pecado temos a inteira e completa alienação do coração do homem para com Deus. Temos a virtual negação e rejeição de Deus como Deus sobre ele e as consequências práticas dessa negação – a adoção de Satanás como um deus, preferindo esse e a confiança nele, e não em Deus.
O presente século
Agora, eu digo que esta é a exata posição em que o mundo se encontra atualmente. Eles praticamente e decididamente assumiram Satanás como deus, em rejeição do Senhor; eles perderam todas as esperanças de favor; eles perderam todas as reivindicações de qualquer bênção que Deus possa conceder. Todo o mundo fez isso de maneira positiva e voluntária, e todo indivíduo está fazendo isso, até que Cristo o chama para fora do mundo e o traga para descansar n’Ele em relação a todas as coisas. Cristo desfaz em sua alma o que o pecado do primeiro Adão causou, faz dele um herdeiro de Deus e coloca em seu coração o Espírito clamando: “Abba, Pai”. Ele o capacita a conhecer e entender a associação de princípio, sentimento e posição real na qual ele permanece com Cristo ao exclamar: “Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”. Daí vem toda a nossa esperança e felicidade; somos levados a confiar n’Ele, a viver em Sua vida, e a não viver mais sob o domínio do diabo que opera nos “filhos da desobediência”. Nós realmente somos “feitos filhos de Deus”, somos libertados das ofensas do primeiro Adão e não estamos mais na posição do mundo.
O representante de Deus
O pecado de Adão induziu a ira da Majestade ofendida do céu. A obra do Senhor Jesus Cristo encontrou, em todas as circunstâncias e em todas as posições, esta situação. Vamos ver Adão primeiro em sua criação, quando ele foi feito das mãos de Deus – a imagem de Deus – à Sua própria semelhança; ele era o representante de Deus, e tudo estava subordinado a ele, tudo colocado sob sua autoridade.
O Salmo 8 evidentemente se refere a isso: “Que é o homem mortal para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?” (v. 4). Mas em Hebreus 2, onde isso é citado, achamos que é figurativo do Senhor Jesus Cristo: “Tu O fizeste um pouco menor do que os anjos” (em Sua humilhação). “Mas, agora, ainda não vemos que todas as coisas Lhe estejam sujeitas” (mas veremos na Sua vinda). “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. Ele Se tornou, de forma prática, o Cabeça e a Raiz de uma nova criação, manifestada assim em Sua ressurreição. O Senhor estava fazendo por Seu povo, em Sua humilhação, tudo o que era necessário para tirar o pecado, sofrendo o que era devido ao pecado, mesmo sofrendo até a morte. Sendo então vivificado de acordo com o Espírito de santidade como um Salvador ressuscitado, Ele Se torna o Cabeça de uma nova criação, como Adão era da velha.
Adão no Éden
Veja Adão no jardim, e veremos em sua conduta que ele tinha tudo o que o qualificava como cabeça e raiz de um mundo pecaminoso. Assim, Cristo, ao manifestar uma conduta totalmente oposta nas circunstâncias mais difíceis, é eminentemente qualificado para ser o Cabeça do Seu povo. Adão foi colocado em um mundo inocente, cercado por todas as bênçãos e com todo sentimento santo e justo que poderia suscitar seu amor e gratidão ao grande Doador. Isso deveria ter levado Adão a confiar n’Ele. Deus depositou confiança nele; Ele o colocou como administrador de Seus bens. Deus refletiu Sua própria imagem nele e o tornou capaz de conversar Consigo mesmo; Adão era o elo, por assim dizer, entre Deus e este mundo.
O Segundo Homem
Agora passamos para o Segundo Homem – o caráter e a obra do Senhor Jesus Cristo. Veremos como, em pensamento, palavra e ação, Ele justificou perfeitamente a verdade, o amor e a majestade do grande Deus do céu, que o homem havia vergonhosa e voluntariamente desonrado. Como Ele justificou a verdade de Deus? O Senhor Deus disse: “Certamente morrerás”. Cristo veio como a grande Testemunha para Seu povo de que “o salário do pecado é a morte”, ainda que isso tenha sido somente por imputação, pois Ele era perfeitamente e inteiramente santo. Mas Ele tomou sobre Si os nossos pecados; Ele carregou nossas iniquidades. Ele estava disposto a ser considerado culpado e a sofrer a pena que Deus havia ligado ao pecado: “Certamente morrerás”, a fim de justificar a verdade de Deus.
Vemos novamente como Ele justificou plenamente o amor de Deus. Aquele Deus – a Quem o homem considerava um Deus ressentido, escondendo dele aquilo que era desejável – esse mesmo Deus deu Seu Filho unigênito pela transgressão do homem! Quão eminentemente visível é o amor de Deus nos sofrimentos e na morte de Jesus! Quanto mais justo e santo Jesus era, mais o amor de Deus era demonstrado em dar-Lhe pelo pecado. Ele não precisava morrer por Suas próprias ofensas, pois não cometeu nenhuma, nem por seus próprios pecados, pois “não conheceu pecado”. Ele foi levado, no entanto, ao extremo do sofrimento e da vergonha, e ainda assim confiou e creu em Deus, em circunstâncias totalmente opostas àquelas em que Adão foi colocado.
Agora vemos nossa gloriosa Cabeça somente pela fé, mas logo O veremos como Ele é, em toda a Sua glória, e seremos transformados nessa mesma glória. Enquanto isso “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”. Que possamos, então, ser cheios da plenitude de Cristo! A Escritura abre todas as bênçãos que estão n’Ele, toda a plenitude habita em Cristo, e nós, irmãos do Senhor, participamos dela por uma união que começa no tempo, mas se consuma em uma feliz e infindável eternidade!