Origem: Revista O Cristão – Paz
O Conselho de Paz
Essa expressão ocorre em Zacarias 6:13 e foi escrita após o retorno dos Judeus da Babilônia. Eles estavam procurando reconstruir o templo, e isso pretendia encorajá-los nesse trabalho. Mas “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” e, como em muitas outras porções da Escritura, a glória do Senhor Jesus Cristo é vista como o ponto final, a verdadeira consumação. Então aqui o profeta conforta o coração daqueles que retornaram com uma profecia direta de Cristo.
Cristo, o Objeto central
Cristo é o grande Objeto do amor de Deus, e o Espírito de Deus na Escritura sempre olha para Ele, vendo todas as coisas que dizem respeito a Cristo e à Sua glória futura. E assim aqui: “Ele brotará do Seu lugar, e edificará o templo do SENHOR. Ele mesmo edificará o templo do SENHOR, e Ele levará a glória; assentar-Se-á no Seu trono” (Zc. 6:12‑13). É “o Homem cujo nome é RENOVO” (v. 12) que deve fazer tudo isso. Zorobabel é apenas uma figura. Nada é dito casualmente, mas tudo com o objetivo final da glória de Deus em Cristo. Se isso afeta os destinos do homem, de Israel ou da Igreja, tudo se centraliza em Jesus.
Deve ter sido um grande consolo para os santos da antiguidade ter assim glórias futuras reveladas a eles, pois sempre que o Espírito Santo despertou desejos espirituais em qualquer coração que fosse, esses desejos não podiam ser satisfeitos com libertação ou bênção temporal. Mesmo nos dias de Josias, quando foi celebrada uma tal Páscoa que não houve igual desde os dias de Samuel, ainda assim Jeremias proferia denúncias contra o mal do povo e o Espírito de Deus, ao denunciar o pecado deles, sempre Se referindo à nova aliança, apresentando o Senhor Jesus como o Único em Quem a plenitude da bênção haveria de se centralizar.
O mesmo acontece com a Igreja agora. Temos de fato bênçãos maiores e revelações mais claras, mas ainda há o mal, pois ainda estamos no corpo. Nos tempos dos maiores avivamentos, sempre houve uma mistura que tendia ao mal. Certamente temos muitas razões para agradecer a Deus e nos alegrar, mas nada realmente para satisfazer. Ainda devemos olhar adiante para as bênçãos futuras em Cristo. Nunca, até que Ele apareça, todos os desejos de nosso coração serão satisfeitos; nunca, até que “quando acordar”, cada um estará satisfeito “da Tua semelhança”. Nada menos será suficiente, porque o Espírito de Cristo está em nós. Nossas esperanças seguem em direção ao propósito final de Deus de completa bênção. As glórias terrenais e celestiais se encontram em Jesus e serão manifestadas quando Ele vier. “O conselho de paz” é entre Jeová e o Messias.
Mas onde está Jesus agora? Ele ainda não reina; a paz ainda não está estabelecida sobre a Terra. Mas há um trono sobre o qual Ele Se assenta e, portanto, nos é dada uma revelação clara do “conselho de paz”. Temos essa paz em nossa alma, enquanto aguardamos seu estabelecimento na Terra e o tempo da glória manifestada. Existe um “conselho de paz” que nos pertence, uma paz garantida, paz de fato em meio às aflições presentes, mas ainda assim a paz de Deus. Se não fosse a paz de Deus, não serviria para nada. É verdade que posso ter meu espírito muito perturbado e conhecer as provações do coração, mas ainda assim tenho um título para a perfeita paz em meio a tudo isso – não apenas a paz com Deus, mas a paz em todas as circunstâncias, porque Deus é “por nós” em tudo isso.
Se o homem não estivesse em rebelião contra Deus, não haveria necessidade do “conselho de paz”. Mas o homem se rebelou, e a rebelião contra Deus ainda é a característica do coração não convertido. Tal foi sua rebelião que a paz entre o homem e Deus parecia impossível. Mas agora vemos que não há apenas paz, mas um “conselho de paz” – pensamentos de Deus a respeito da paz, pensamentos que somente Jesus poderia cumprir. “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a Tua vontade”.
É entre Deus e Jesus
Mas agora “o conselho de paz” é entre Deus e Jesus, em vez do homem, e, portanto, há segurança. Não é meramente paz, mas “o conselho de paz”. A palavra “conselho” implica propósito deliberado. Que solidez deve haver naquela paz sobre a qual Deus tinha um “conselho” e em todos os compromissos em que a mente de Jesus assumiu e cumpriu plenamente! É mais importante ver que “o conselho de paz” é inteiramente entre Deus e Jesus. No momento em que começamos a apoiar nossa paz em qualquer coisa em nós mesmos, nós a perdemos. E é por isso que tantos santos não têm estabelecida a paz. Nada pode durar que não seja construído somente em Deus. Não devemos nos apoiar em nada, nem mesmo na obra do Espírito dentro de nós mesmos, mas no que Cristo fez inteiramente sem nós. Somente em Cristo, Deus encontra aquilo em que Ele pode descansar, e assim é com Seus santos. Quanto mais vemos a extensão e a natureza do mal que está dentro de nós, assim como o que está fora e ao nosso redor, mais descobriremos o que Jesus é – e o que Jesus fez – é o único terreno em que podemos descansar.
Nossa paz está estabelecida no que Ele fez, e “o conselho de paz” é “entre ambos”. Existem dois grandes caracteres no sacrifício de Cristo: um, o do holocausto; outro, o da oferta pelo pecado. Colocamos as mãos n’Ele como o “holocausto”, nos identificando assim com Ele. “Aceito no Amado”, toda a Sua perfeição – todo o seu “cheiro suave” para Deus – é nosso. Mas então, quanto à “oferta pelo pecado”, é justamente o contrário, com a mão imposta sobre a vítima, ela era identificada com meus pecados, carregado com minha culpa. Ele cumpriu completamente o propósito de Deus, tudo o que estava no “conselho de paz”.
Consumado, seguro e eterno
Aqui, então, está o “conselho de paz” que foi proposto entre Deus e Jesus. Aqui, e somente aqui, temos paz. Se nossa alma tem alguma ideia de descanso, além daquilo que é o perfeito descanso de Deus, saímos desse “conselho de paz”. Ele não nos chamou para “o conselho”, que é realmente totalmente independente de nós mesmos – “entre ambos” – realizado, seguro e eterno. Nada pode mudar isso. Deus declarou publicamente Sua aceitação da obra de Cristo, O colocando à Sua própria mão direita. O Espírito Santo é enviado para testemunhar para nós que Jesus agora está no “trono de Deus”, sendo que “com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados”.
Podemos ter uma grande quantidade de provações devido às circunstâncias ao nosso redor, provações interiores, exercícios de consciência e coisas do tipo, mas ainda assim temos a perfeita certeza do favor de Deus e “se Deus é por nós, quem será contra nós?” Esta é a verdadeira maneira de contar com Sua bondade: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4:6-7). Observe, ele diz: “A paz de Deus”. Mais uma vez, a palavra é: “Não estejais inquietos por coisa alguma”; se uma única coisa não pudesse ser incluída nisso, Deus não seria Deus. Se estivermos exercitados e perturbados em espírito, tentados a andar “inquietos [ansiosos – ARA]”, devemos ir a Deus sobre isso. Nossos desejos podem ser desejos tolos. Ainda assim, devemos ir e colocá-los diante de Deus. Se forem tolos, logo nos envergonharemos deles.
Nossa necessidade
Precisamos desse “conselho de paz”, porque tudo o que somos em nós mesmos é inimizade contra Deus. Não posso seguir esse “conselho” para olhar meu coração por um momento; é “entre ambos”. Acaso o Cristão deve tornar a cruz de Cristo menos completa? Somente nisso sua paz pode descansar.
Quem ou o que nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor? Tribulação ou angústia ou fome ou nudez ou perigo ou espada? Não, essas coisas, como meios para mortificar a carne, apenas ministram à glória de Cristo. A morte nos separará? Ela apenas nos levará à Sua presença. A vida? É por ela que desfrutamos de Seu favor. “Nada nos separará”! Ele está “no trono” como o eterno testemunho da paz realizada, e de lá Ele a ministra para nós.