Origem: Livro: AUTOESTIMA
O Homem como uma Criatura Caída
Vimos que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, ignorante do mal, e que Deus pôde dizer de Sua obra que era “muito bom”. Entretanto, esse belo estado de coisas durou somente um curto período de tempo, e o homem introduziu o pecado neste mundo pela desobediência de um mandamento que Deus deu a ele. O pecado entrou na criação de Deus e contaminou tudo aquilo que Ele fez. Toda a criação sofreu como resultado da queda do homem, seu cabeça, mas o homem, como o ser na mais elevada posição, talvez tenha sentido mais os efeitos disso do que o restante da criação.
É importante para cada um de nós perceber que nascemos neste mundo com uma natureza pecaminosa e caída, como resultado da introdução do pecado neste mundo. Davi se referiu a este fato, quando disse: “Em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5). Também, lemos: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5:12).
Como a solene verdade da natureza caída do homem se relaciona ao nosso assunto? No século XIX, um jovem se aproximou de um Cristão mais velho que havia andado com o Senhor por muitos anos. O jovem lhe perguntou se teria algum conselho para um jovem que está iniciando na vida Cristã. Sua resposta foi curta e direta ao ponto, ele disse; Aprenda bem cinco palavras; “A carne para nada aproveita” (Jo 6:63). Esta citação do Evangelho de João, apresenta muito sucintamente a mais importante verdade. O pecado, ao entrar nesse mundo, afetou cada parte de nosso ser.
Esse efeito do pecado em todas as partes de nossa vida é ilustrado pelo que aconteceu com um irmão em Cristo, que opera uma fazenda leiteira, e tinha um rebanho muito bom de vacas. Ele comprou sua ração de uma grande empresa que também fabricava pesticidas. De alguma forma, parte do pesticida se misturou à ração do gado na fábrica, e essa mistura foi vendida em sacos rotulados simplesmente como ração para gado. Era um poderoso veneno, e no final todo seu rebanho de vacas leiteiras teve que ser abatido e enterrado. O que foi ainda mais angustiante, foi que simplesmente se livrar da ração contaminada não foi suficiente. Isso afetou as crias das vacas que não morreram, e contaminou o celeiro e muitas coisas no celeiro. Praticamente nada havia que não tivesse sido afetado pelo veneno, e isso lhe custou muito tempo para tudo voltar ao normal. O pecado nesse mundo é assim. Não está isolado de certas coisas, como talvez gostaríamos de pensar. Não, ele tocou todas as coisas, cada parte de nosso ser.
Sabemos que nós todos temos pecado e temos uma natureza pecaminosa, mas percebemos que o pecado alcançou cada parte de nós, como indivíduos naturais?
Muitos de vocês estão cientes que há diferentes tipos de personalidade, e de uma forma geral todos podemos nos enquadrar em um (ou em uma combinação) desses diferentes tipos. Por exemplo, algumas pessoas são muito trabalhadoras, bem disciplinadas, e bem organizadas. Estas são as pessoas que podem gerenciar alguma coisa e que geralmente conquistam muito nesse mundo. Sem dúvida esta habilidade foi dada para elas por Deus, e é justo dizer que teriam tido esta habilidade mesmo que o homem não tivesse caído. Mas essas pessoas normalmente tem um lado negativo, por serem, muitas vezes, arrogantes e intolerantes com os outros. Podem ser sarcásticas, e muitas vezes não trabalham bem com outras pessoas. Podem chegar ao topo no mundo dos negócios e ocupar cargos de gestão, mas muitas vezes não são apreciadas pelos seus subordinados.
Por outro lado, existem aqueles que são muito mais abertos e amigáveis, e tem o que chamamos de “pessoas sociáveis”. São intuitivas, podem sentir o sentimento das outras pessoas, e reagir apropriadamente. Normalmente tem muitos amigos, e são apreciadas pelas outras pessoas. Novamente, isso é uma característica dada por Deus, e teria sido parte dela sem a queda. O lado negativo, essas pessoas, muitas vezes, tem problemas de autodisciplina, e acham difícil disciplinar as outras pessoas. Encontram dificuldade em cumprir o horário dos compromissos, gerenciar seus negócios de forma ordenada, e assumir responsabilidades com seriedade.
O que vemos na personalidade dos homens, incluindo nós mesmos, é em parte o que Deus em Sua sabedoria criou, e parte o que o pecado introduziu. Vemos beleza na natureza, e reconhecemos a obra das mãos de Deus, mas daí vemos a ruína que o pecado tem trazido. O homem natural, sem a sabedoria da Palavra de Deus, não pode colocar essas duas coisas juntas. Ele acha o mundo uma confusão desesperadora de bem e mal. Somente a Palavra de Deus pode nos dar compreensão de como essas coisas podem coexistir no mundo.
Estes aspectos negativos de nossa personalidade são parte do efeito da queda do homem. Quando se trata de nós mesmos, com que frequência damos desculpas, dizendo: “Essa é a maneira que eu faço!” A implicação é que você terá que me aceitar do jeito que eu sou, porque essa é a forma que o Senhor me fez. Isso não é de acordo com a Palavra de Deus. Nós somos “assombrosa e maravilhosamente feito” (Sl 139:14 – TB), e isso inclui nossa constituição mental, assim como a física. Entretanto, os efeitos do pecado são todos muito evidentes em nós, mentalmente, assim como fisicamente. Devemos reconhecer nossas habilidades dadas por Deus, mas nunca atribuir à mão de Deus, as coisas que o pecado trouxe a este mundo.
O pecado não arruinou toda a criação igualmente. Embora toda a criação tenha sentido o terrível efeito do pecado, Deus preservou este mundo de experimentar plenamente as consequências da queda do homem. Lembre-se do jovem rico que veio ao Senhor Jesus, querendo saber o que ele precisava fazer para herdar a vida eterna. Quando ele disse ao Senhor que havia guardado todos os mandamentos desde a sua mocidade, está registrado isso: “Jesus, contemplando-o, o amou” (Mc 10:21 – TB). Esse não é o mesmo pensamento do amor de Deus por este mundo, como expresso em João 3:16. É verdade que o amor do Senhor se estende a todos neste mundo, mas esse versículo em Marcos 10 mostra o amor que o Senhor Jesus sentiu por aquele belo caráter, alguém que tinha o genuíno desejo de fazer o que era correto. Às vezes, encontramos aqueles que têm naturalmente uma disposição muito adequada, assim como encontramos pessoas que são exatamente o oposto. Aqui o Senhor amou esse jovem pelo que ele era naturalmente. Mas a conversa que segue com ele revelou o que realmente tinha em seu coração.
Quando o Senhor lhe disse claramente o que lhe faltava, seu verdadeiro estado diante de Deus foi revelado. Ele pensava que poderia ganhar a vida eterna guardando a lei, mas as palavras do Senhor mostrou que estava falhando na própria essência da lei. Quando perguntaram ao Senhor Jesus, qual era o primeiro mandamento da lei, Ele respondeu:
“O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12:29-31).
Se o jovem governante tivesse amado Deus com todo seu coração, alma, entendimento e força, ele teria ficado feliz em seguir o Senhor Jesus. Se ele tivesse amado seu próximo como a si mesmo, ele teria ficado feliz de abrir mão de seus bens para dá-los aos pobres.
É algo humilhante perceber que muitas vezes Deus não escolhe a personalidade mais refinada, mas em vez disso, escolhe aqueles que parecem ter sido mais seriamente afetados pelo pecado. Paulo nos diz: “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são” (1 Co 1:27-28). Somos atraídos por aqueles como o jovem rico que têm uma personalidade naturalmente mais agradável, mas que muitas vezes não têm interesse no evangelho. Então, talvez encontremos o Senhor salvando aqueles que naturalmente desprezaríamos. Tudo isso tem o efeito do cumprimento de 1 Coríntios 1:29, que declara: “Para que nenhuma carne se glorie perante Ele”. A graça de Deus é exaltada em trazer os piores deste mundo para Cristo, e em exibi-los com Ele por toda a eternidade como troféu de Sua graça.
Isso nos leva a outro ponto muito importante. E o que fazer quanto aos aspectos de nossa personalidade que não são errados, aquelas habilidades que foram dadas por Deus? Não podemos ter nenhum orgulho delas, e nesse sentido estimarmos a nós mesmos? Podemos admitir que somos pecadores, e ainda sentir que há coisas boas a nosso respeito que podemos desenvolver.
Temos que perceber que até mesmo aquelas habilidades que Deus nos deu, são afetadas pelo pecado, porque nossa natureza pecaminosa, sem dúvida sob o controle de Satanás, usa essas habilidades de forma errada. Embora as habilidades por si só não sejam erradas, pode-se fazer um uso errado delas.
Suponha que um indivíduo tenha habilidade em matemática. Como vimos, não há nada errado com essa habilidade, e sem dúvida foi dada por Deus. Mas, Satanás, usando o pecado como alavanca, quer aproveitar essa habilidade e usá-la para a finalidade errada. Assim, os homens têm usado suas habilidades em física e matemática para construir bombas, que agora têm a capacidade de destruir o mundo. Outro pode ter habilidade em música, enquanto alguns, que podem não ter habilidade para produzir música, têm ouvido para apreciá-la. Sem dúvida, isso também é parte da bondade de Deus para com o homem. Novamente, o diabo usa a música para ocupar a mente humana com prazer, e para mantê-los ocupados sem pensar nos assuntos eternos. É solene que a primeira menção da música na Bíblia é em conexão com a família de Caim. Caim saiu da presença do Senhor, construiu uma cidade, e seguiu a cercar-se de tudo que pensava fazê-lo feliz, mas deixou Deus de fora. Foi um descendente de Caim (Jubal) que “foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão” (Gn 4:21). Isso não significa que há algo errado com música, mas sublinha o fato que o pecado usurpa até mesmo de nossas habilidades dadas por Deus, e nos faz usá-la para um propósito errado.
Vamos dar um passo adiante. Suponha que nossas habilidades dadas por Deus são usadas para o propósito correto. Estamos, então, fazendo o que é agradável a Deus? Podemos então atribuir crédito para nós mesmos? Não, mesmo fazendo o que é certo, como criaturas caídas sem Cristo, o motivo sempre será errado. O orgulho se mostrará, mesmo que minha habilidade seja usada para um bom propósito. Isso nos leva à nossa próxima consideração.