Origem: Revista O Cristão – Nascentes, Fontes e Rios
Fontes e Rios de Água Viva
O Espírito Santo é mencionado como uma “fonte de água a jorrar” (ARA) e também como “rios de água viva” que correm. Em João 4, lemos sobre a vida no poder do Espírito sendo dada como “uma fonte de água”, em conexão com a presença na Terra do humilde e gracioso Salvador. Então, em João 7, temos o Espírito de Deus sendo recebido pelo crente como algo conectado com o Senhor em Sua exaltação à glória celestial. Nessa passagem, Espírito que é dado está diretamente conectado com o lugar atual em glória celestial que o Senhor Jesus, como Homem, assumiu.
Quão belas e encantadoras são Suas palavras figuradas: “No último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-Se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre”. Não precisamos adivinhar ou conjecturar o que isso significa, pois imediatamente o Espírito de Deus, pela pena do evangelista, dá o significado da Sua linguagem. “E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que n’Ele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7:37-39).
Quando o Senhor Jesus falou essas notáveis palavras, era o último dia da festa. A festa havia durado sete dias, e esse era o oitavo dia. Sete é o número na Escritura para a completude, enquanto o oitavo dia está conectado com a bênção da ressurreição. Foi no oitavo dia, o primeiro dia de uma nova semana, que o Senhor ressuscitou dentre os mortos. Foram oito dias após as palavras registradas em Lucas 9:23-27 que Ele foi visto em glória no monte da transfiguração. Vemos na Escritura que o oitavo dia está conectado com a bênção e a glória da ressurreição.
Toda essa bênção depende do Espírito Santo, “que haviam de receber os que n’Ele cressem”. Não somente a sede é saciada, mas “rios de água viva correrão do seu ventre”. Isso se dá claramente pelo poder do Espírito Santo, que vem da glória onde Cristo está e enche o coração do crente com a glória para a qual Ele passou. E o que é mais adequado a um deserto árido, como este mundo, do que “rios de água viva” fluindo por ele? Podemos muito bem nos maravilhar por sermos os canais por onde esses rios correm. Mas é exatamente por isso que somos deixados aqui após a conversão. Devemos testemunhar do nosso Senhor ausente.
A fonte e o rio
Esta figura do Espírito em João 7 é distinta daquela em João 3, que diz que, da “água e do Espírito”, nascemos de novo. Então, no capítulo 4, é como “uma fonte de água a jorrar” (ARA) – o poder do Espírito dentro de você, capacitando-o a desfrutar do senso de associação com o Pai e o Filho –, o crente entrando no gozo das coisas que não se veem, porque são celestiais e eternas, como mencionado em João 4. Então, em João 7, a figura é “rios de água viva” e está mais conectada com o serviço do que com a adoração, sugerindo ainda a ideia de conexão com um suprimento inesgotável de refrigério perene, tornando o crente, pela graça, realmente superior às circunstâncias que o cercam.
A respeito do significado da expressão “rios de água viva”, outra referência útil é Provérbios 18:4: “Águas profundas são as palavras da boca do homem, e ribeiro transbordante é a fonte da sabedoria”. Novamente: “E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam” (Is 58:11). Também podemos aprender muito observando o uso do termo “rio” na Escritura. No Salmo 46:4, encontramos a expressão: “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus”. Ali é algo que flui de Deus. No Salmo 65:9, diz: “Tu visitas a Terra, e a refrescas; Tu a enriqueces grandemente com o rio de Deus, que está cheio de água”. Se você não bebeu deste rio, se nunca foi levado, na história da sua alma, a entender o que isso significa, posso lhe assegurar que você está perdendo uma grande bênção.
O “rio” na Escritura tem um lugar antigo e é uma figura notável. Vamos examinar um pouco “o rio de Deus” em Sua Palavra. Seus canais serão diferentes de acordo com as diferentes dispensações, mas é o mesmo rio. Observe Gênesis 2:10, onde ele tem seu início no Éden. A ordem da “bênção da criação” é: “E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro”. Ali temos o rio de Deus, levando consigo refrigério e bênção por todo o mundo. A dispensação foi de bênção e bem na Terra, e todas as alegrias do homem estavam conectadas com a criação e com Deus, conhecido como Criador.
Água da rocha ferida
Mas o pecado entrou, e onde encontramos o rio em seguida? Acredito que você o encontra em Êxodo 17, o livro da redenção típica pelo sangue. Nesse capítulo, você encontrará os israelitas no deserto, e não havia água. Então, nos versículos 5 e 6, Moisés foi instruído: “Passa diante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que Eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. E Moisés assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel”.
O Salmo 78:15-16, 20 faz um comentário sobre essa cena. O Espírito de Deus a descreve de forma mais vívida. “Fendeu as penhas no deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez correr as águas como rios… Eis que feriu a penha, e águas correram dela: rebentaram ribeiros em abundância”. Sim, o servo feriu a rocha, e dela jorrou o refrigério que Deus deu ao Seu povo cansado. Ela os seguiu por toda a jornada deles no deserto, pois eram os redimidos do Senhor. Os canais pelos quais a água corria podiam ser muitos, para saciar a sede daquelas poderosas hostes de Deus, mas a fonte era uma só, a Rocha ferida. Em 1 Coríntios 10 nos é dito Quem era essa Rocha: “Bebiam da Pedra espiritual que os seguia; e a Pedra [Rocha – JND] era Cristo” (v. 4). A Rocha era Cristo, e a água, o Espírito de Deus. É uma figura, admito (mas quão apropriada, como toda figura da Escritura é), do Espírito de Deus que viria de um Cristo glorificado. É o Espírito de Deus, vindo de um Cristo vivo, enchendo a alma que se volta para Ele e n’Ele crê, com refrigério infalível, de modo a fluir dela para os outros.
O Rio hoje – o Espírito Santo
Mas, voltando, de onde nasce esse rio hoje? Do coração do Filho do Homem ascendido em glória, que concede o Espírito Santo a toda alma que com sede realmente vai a Ele. Disso não pode haver dúvida, como lemos: “E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que n’Ele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado”. Não é agora algo material, exterior, na criação. É o Espírito de Deus vindo do Salvador ascendido, para ser a testemunha de Sua glória e o poder do gozo em nós de tudo o que flui para nós da glória em que Ele está, como consequência da redenção consumada – perdão, justificação, paz, aceitação, e para nos dar o conhecimento do relacionamento no qual estamos diante de Deus, como nosso Pai. É pelo Espírito Santo recebido que somos colocados no lugar e estado Cristão. Não é apenas a sede saciada, satisfeita e extinta; é mais do que isso. A alma primeiro tem sua sede saciada, é cheia, e então, “rios de água viva correrão do seu ventre”.
O Espírito, dado desde a glória onde Cristo está, é recebido pelo crente individualmente no momento em que ele crê no testemunho de Deus quanto à obra com base na qual Ele O colocou ali (Ef 1:13). O Espírito de Deus é, então, o selo da fé que crê no testemunho de Deus quanto à obra de Cristo e o poder do gozo do lugar que dela depende e que é o estado Cristão normal. É o novo lugar, medido e marcado por Cristo, que, ressuscitado dos mortos, com base na redenção, assume um novo lugar, como Homem, diante de Deus, no qual Ele introduz todos os Seus. Este é o lugar onde o Espírito Santo, habitando no crente, o coloca conscientemente, com a paz estabelecida como resultado. O que resta, então, que poderia perturbá-la?