Origem: Revista O Cristão – A Trindade

A Trindade em Unidade

Deus é Um, mas Ele nunca foi ou jamais poderia ser totalmente revelado como Um. Ele foi conhecido sendo Um em contraste com uma multiplicidade de deuses, mas naquela época Ele não era totalmente revelado. Ele existiu sempre em Trindade e em unidade. Não tenho pretenções de entender isso, mas sei disso porque, quando Deus é totalmente revelado, Ele é revelado dessa forma. Quando Ele foi conhecido como Um (Dt 6:4), Ele não Se permitiu ser aproximado, mas habitou atrás do véu. Ele usou várias figuras sensíveis para mostrar que Ele não era conhecido, que a verdadeira luz não brilhava e que o caminho para o Santo dos Santos ainda não estava manifesto.

Deus Se revelando 

Mas quando Ele Se revela, o Filho está na Terra, ainda que no seio do Pai. Ele é a imagem do Deus invisível. Aquele que O viu, viu o Pai. A luz de Deus estava no mundo, mas o homem não a viu nem a compreendeu. Aquele revelado, o Pai, era conhecido em bondade pelo Filho. Embora o Deus invisível foi feito conhecido por Aquele que era Sua imagem, ainda assim, se Ele tivesse deixado de ser invisível, Cristo teria deixado de ser um Revelador e Imagem especiais. Se Ele não tivesse mostrado e O revelado perfeitamente como realmente manifestado (isto é, se Ele não tivesse sido Deus), não teria havido revelação. Se Ele não fosse Filho, não poderia ter revelado o Pai para nós como tal.

Mas isso não é tudo. As trevas não compreenderam a luz. O Espírito Santo Se tornou poder para dar competência de entendimento e revelar, como poder que se comunica, tendo-nos vivificado para termos capacidade de entender. Não estou dizendo isso por mera dedução, mas pela revelação de Deus.

A natureza de Deus 

Sem a Trindade, o amor, a justiça e a santidade não eram conhecidos – a natureza espiritual de Deus e a pureza como tal. Toda a verdadeira natureza de Deus, isto é, o que Ele é, sem a Trindade, é desconhecida. O Pai quer; o Filho vivifica quem Ele quer. Mas porque temos vontades separadas, por que necessariamente desejariamos ter o Pai e o Filho? O Espírito distribui a quem Ele quer, mas isso não é separado da vontade do Pai e do Filho. Eles não têm o mesmo conselho, mas têm um conselho, mente, propósito e pensamento; ainda assim, Eles agem distintamente na manifestação desse conselho. O Pai envia o Filho, e o Filho envia o Espírito. No entanto, quando o Filho vem, Ele não está, por causa disso, separado do Pai. “O Pai, que está [permanece – ARA] em Mim, é Quem faz as obras” (Jo 14:10). Assim, Cristo expulsa demônios pelo Espírito de Deus; ainda assim é Ele Quem os expulsa. Existe unidade em tudo o que constitui unicidade quando falamos espiritualmente – não unidade como sendo um por chegar às mesmas coisas, ou união, ou por estarmos unidos como estamos, por termos apenas um Espírito habitando em todos, mas – por sermos um em ser eterno, de modo que tudo o mais flui dessa única vontade e conselho, porém, de tal maneira que a distinção na ação nessa vontade seja revelada a nós. Esta não é vontade distinta, mas querer distinto.

Não que eu tenha a menor pretensão de entender esse mistério divino, onde todos são Deus, todos um Deus, Deus todos os três; todavia, o Pai é revelado, o Filho O revela, e o Espírito Santo vivifica e O torna conhecido. O Filho que revela não é diferente do Pai a Quem Ele revela, ou Ele não O revelaria. Pelo Espírito que vivifica e dá a conhecer, nascemos de Deus e conhecemos Deus habitando em nós. Ele O revela a nós por Sua própria presença e é, de todas as formas, o poder de Deus, ativo na criatura.

O finito e o infinito 

Nem a criatura poderia alcançar Deus, ou Deus não seria Deus. É simplesmente impossível, pois se o finito chega ao infinito, não há nem finito nem infinito. E o Deus infinito não poderia, como tal, Se revelar a uma criatura finita. Tampouco isso é verdade apenas mentalmente, pois se Deus em Sua glória o tivesse feito, a criatura não poderia ter existido diante d’Ele. Portanto, se moralmente revelado (isto é, como Justo, Santo e em glória essencial), o homem não poderia estar diante d’Ele. O homem era moralmente contrário. Nem mesmo o amor seria suficiente, pois o que era o amor para o homem tal como ele era? Não havia vínculo, nem desejo, e, se o homem era pecador, não havia aptidão para a simples demonstração disso.

A capacidade de comunhão 

Mas no Filho, pelo Espírito Santo, pela obra de Cristo e pela operação do Espírito Santo, Deus é revelado e, no amor do Pai, justiça e santidade são mantidas e glorificadas, com capacidade de comunhão em gozo de ambos o Pai e o Filho e a inteligência de todos esses caminhos conferidos pela presença do Espírito Santo.

Portanto, enquanto João diz que Deus amou o mundo de tal maneira, encontramos que sempre que ele fala de graça e poder, trazendo o homem ao conhecimento e gozo de Deus, ele fala do Pai e do Filho, acrescentando posteriormente nas palavras de Cristo a presença e trabalho do Consolador.

Distinção das Pessoas e a Unidade de natureza 

Assim, vemos que não poderia haver revelação completa de Deus senão por meio do Filho pelo Espírito e, por meio disso, do Pai. A revelação completa do Deus único é somente assim – Pai, Filho e Espírito Santo. Isso é o que o Um Deus é, uma identidade de vontade e Ser, de modo que Eles são essencialmente Um e Um só, mas distintos em querer e agir (e podemos distingui-Los em querer e agir: por isso, geralmente falamos de Pessoas), contudo, nunca querendo ou agindo, senão na vontade comum e na unidade da natureza.

Eu temo muito a linguagem humana sobre isso. Mas afirmo que a única revelação completa do único Deus verdadeiro é a revelação d’Ele por meio da Trindade. Nossas orações se elevam da mesma forma. Por meio d’Ele (Cristo, o Filho), temos acesso por um Espírito ao Pai.

J. N. Darby (selecionado)

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