Origem: Revista O Cristão – Simão Pedro

Andando Sobre as Águas

Na primeira parte de Mateus 14, você tem a empatia do coração do Senhor e, em seguida, ao alimentar a multidão, o poder de Sua mão é manifestado. Ele então subiu a um monte para orar. Os discípulos, despedidos ao entardecer, foram enviados a caminho de Cafarnaum, “açoitado pelas ondas” e “fatigavam a remar”, como Marcos 6:48 nos informa. A distância que eles precisavam percorrer era de apenas dezesseis quilômetros, mas haviam passado nove horas cobrindo pouco menos de cinco quilômetros. Fazemos pouco progresso se não temos o Senhor conosco.

Compaixão e poder 

O lago de Tiberíades é conhecido por suas tempestades repentinas e violentas, e eles foram surpreendidos por uma delas. Mas em todas as suas dificuldades e perigos, o Senhor mantinha Seus olhos sobre os Seus. Ele estava no monte intercedendo por eles, e na quarta vigília Ele vem a eles. Ele nunca esquece os Seus nas suas dificuldades. Ele “pode socorrer” (Hb 2:18), Ele pode “compadecer-Se das nossas fraquezas” (Hb 4:15), e “pode também salvar perfeitamente” (Hb 7:25). Ele faz todas essas três coisas nesta cena. O fato de que Ele é capaz de “socorrer” é evidenciado no poder divino, quando Ele é visto “caminhando por cima do mar” para socorrê-los – Sua compaixão é revelada em Sua resposta: “Tende bom ânimo, sou Eu, não temais”, enquanto Seu poder de salvar é comoventemente visto em Sua ação para com Pedro, enquanto ele, angustiado, clama: “Senhor, salve-me!” Assim é o nosso Jesus, como agora Ele Se assenta em glória, e esses incidentes terrenais nos dão vislumbres benditos d’Ele.

Fé e amor 

Agora, enquanto eles se esforçam, sacudidos pela tempestade e miseráveis, que música há na voz que lhes chega acima da fúria do vento e das ondas, dizendo: “Sou Eu; não temais”. E quando ouviram o timbre de Sua voz, Pedro, sempre enérgico, destemido e cheio de afeição, diz: “Senhor, se és Tu, manda-me ir ter Contigo por cima das águas”. Veja a energia e o amor do coração daquele homem. É muito reconfortante. Você tem o Mestre percorrendo as profundezas tempestuosas e, em resposta à palavra “Vem”, você vê o discípulo imitando seu Mestre, e Pedro, sustentado pelo poder divino, “andou sobre as águas para ir ter com Jesus”. Somente fé e amor agirão assim. É uma ação que o Senhor admira.

Quaisquer que tenham sido os motivos em seu coração, eles certamente parecem estar todos a seu favor. Evidentemente, ele queria estar perto do Senhor, e isso era correto. Cuidado e consideração própria o teriam mantido no barco com seus irmãos. Afeição e fé o levaram a deixar tudo em que a natureza se apoia. Homens com menos zelo e energia teriam poupado a si mesmos de possíveis fracassos e constrangimentos, e diriam: “Vamos apenas esperar onde estamos até que Ele venha a bordo”. Pedro, assegurado de que era seu amado Mestre, e encantado em vê-Lo assim tão superior às águas em que pisava com tanta firmeza, contando também com o Seu amor que gostaria de tê-lo perto de Si, diz em seu coração: “Eu irei me encontrar com Ele, se Ele me permitir”. Fiel ao seu caráter natural de impulsividade desenfreada – pois Pedro não era hipócrita – ele diz: “Senhor, se és Tu, manda-me ir ter Contigo por cima das águas”. Obtendo como resposta a única palavra “Vem”, ele imediatamente obedece. E “descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus”. Ele estava completamente certo. Ele tinha um mandado divino para agir sobre a palavra “Vem”, e poder divino que ele sabia que não faltaria, já que agora ele estava na presença d’Aquele que só podia ser Deus para andar nas águas tão majestosamente quanto Ele andou.

Com os olhos em Jesus 

E, no entanto, descobrimos que Pedro falhou. É verdade, mas por quê? Porque ele agiu de maneira tola ao deixar o barco? Não, pois diz que ele “andou sobre as águas para ir ter com Jesus”. Por um momento, ele foi como seu Mestre. Por que então ele começou a afundar? Porque ele tirou os olhos de Jesus. Enquanto ele mantinha os olhos n’Ele, tudo corria bem; no momento em que sentiu “o vento forte, teve medo”, e afundou. O vento já estava tão forte e as ondas tão agitadas quanto antes de ele deixar o barco. No momento em que ele desceu do barco, era uma questão de Cristo sustentá-lo ou ele se afogaria. Se ele mantivesse os olhos onde ele fixou pela primeira vez, na Pessoa do Senhor, tudo teria corrido bem, mas no momento em que deixou as circunstâncias ao seu redor interferirem entre ele e o rosto bendito do Senhor, ele começou a afundar. Sempre será assim. Enquanto eu mantiver Deus entre mim e minhas circunstâncias, tudo estará bem. No momento em que deixo que as circunstâncias entrem entre meu coração e Deus, tudo está errado, e “começando a ir para o fundo” pode muito bem descrever a situação.

A fé pode andar nas águas mais agitadas quando os olhos estão no Senhor. “Olhando para Jesus” deve ser sempre o lema da alma e o hábito constante do coração, se quisermos trilhar adequadamente esse caminho abençoado de superioridade às circunstâncias. O fracasso de Pedro carrega suas lições para nós, mas acredito que o Senhor valorizou muito o amor que o levou a fazer o que fez. Eu acho que o ponto da passagem não é tanto ele ter fracassado no final, mas sim que ele foi, de fato, imensamente semelhante ao seu Senhor, até o momento quando fraquejou. “Posso todas as coisas n’Aquele que me fortalece” (ARC), disse outro servo em um dia posterior.

O poder de salvar 

Mas voltando: “Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me!”. Por que ele afundou? A água era um pouco mais instável quando turbulenta do que quando calma? Certamente não. Você não conseguiria andar sobre um lago calmo mais do que sobre um lago com as ondas mais turbulentas que já surgiram, sem o poder divino. O poder de Cristo pode sustentar você e eu nas circunstâncias mais difíceis, e nada além do poder e da graça de Cristo pode nos sustentar nas circunstâncias mais tranquilas. Então, quando Pedro clama, o Senhor “estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” Pedro tinha fé, embora fosse pouca.

A graça primorosa de Cristo nesta passagem é incomparável. Pedro falhou completamente em chegar ao seu Senhor, mas o Senhor não deixou de alcançá-lo com tempo de sobra. Seu próprio fracasso o levou aos pés do seu Salvador e, no momento de sua profunda angústia, ele se vê nos braços do bendito Salvador. Seu apelo, “Senhor, salve-me”, foi ouvido e atendido imediatamente. Também podemos testemunhar a terna piedade e o amor compassivo daquele mesmo precioso Jesus, pois “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”.

O Filho de Deus 

Assim que o Senhor entrou no barco, o vento cessou, e João 6:21 acrescenta: e logo [imediatamente – TB] o barco chegou à terra para onde iam”. Quão belo! Quão calmo fica tudo assim que entramos na presença do Senhor! E agora eles O adoram, dizendo: “És verdadeiramente o Filho de Deus”. Pedro O havia reconhecido como Messias em João 1, ele havia aprendido a conhecê-Lo como o Filho do Homem e Senhor sobre os peixes do mar em Lucas 5, e agora, ao contemplar mais das glórias morais de Sua Pessoa, ele recebe outra lição mais preciosa, que Aquele que é o Messias e o Filho do Homem também é o Filho de Deus.

W. T. P. Wolston (adaptado)

Compartilhar
Rolar para cima