Origem: Revista O Cristão – Laodiceia
Colírio
O que é colírio? É uma transliteração da palavra grega κολλούριον – kollourion.
É difícil imaginar uma perda maior em todo o reino da natureza do que a da visão. Uma pessoa cega não pode mais olhar cenas familiares ou rostos queridos e amados; ela está na escuridão perpétua. O apurado órgão, que desempenhou um papel tão proeminente em sua vida e porção, agora é inútil e ela é necessariamente dependente da mão orientadora e bondosa de outra pessoa.
Cegueira espiritual
Agora, grande parte da Cristandade perdeu sua visão espiritual. Tornou-se cega! Nem sempre foi assim. Nem sempre seus ouvidos foram “negligentes para ouvir”, nem espiritualmente insensíveis, mas, infelizmente, quando, como sistema, ela é exteriormente triunfante e pode se orgulhar de aprendizado, riqueza e posição mundana, Aquele que anda entre os sete castiçais de ouro diz a Laodiceia, “e não sabes que és… cego”! Solene acusação! E, assim como vemos em Éfeso, a Igreja em sua primeira e mais bela fase, também encontramos em Laodiceia sua condição final; enquanto nas histórias intermediárias de Apocalipse 2-3, vemos seus variados estágios de declínio espiritual, aliviados, reconhecidamente, por um remanescente brilhante nos dias sombrios de Esmirna, e uma expressão ainda mais brilhante e completa em Filadélfia. Mas a tendência, a profunda corrente, está sempre em queda. A falha fatal ocorreu em Éfeso, ao deixar seu primeiro amor. Nada poderia ser mais sério do que isso. Trabalho e resistência, mesmo sendo pelo nome do Senhor, não podiam compensar a perda do primeiro amor.
O resultado lento, mas certo, de tal perda é encontrado no absoluto descuido de Laodiceia em relação a Cristo. Sua verdade, Sua graça, Seus interesses são todos cruelmente ignorados, enquanto o humanismo ocupa seu lugar.
Quão triste, portanto, relatar e quão humilhante sentir, como deveríamos, a desonra e a tristeza trazidas ao nosso bendito Senhor, enquanto diariamente aprendemos o verdadeiro caráter dessa fase final de Laodiceia! No entanto, os corações que O amam não podem deixar de sentir e lamentar a terrível corrupção da melhor coisa que já foi comunicada ao homem. Tais corações têm verdadeiramente o caráter de Filadelfia e não param de bater até que o Senhor venha.
Dois fatos demonstram o caráter absoluto da ruína: Primeiro, Laodiceia diz: “de nada tenho falta” e, segundo, como consequência, Cristo diz: “Eis que estou à porta e bato”. Onde não há necessidade sentida, não pode haver lugar para o Senhor. A graça pode bater para sempre enquanto a autossuficiência reina por dentro.
A necessidade de nada é o orgulho do dia, e o que Laodiceia menos deseja é a santa presença e operação do Senhor.
Colírio para os olhos
“De Mim compres”, diz o Senhor, “e que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3:18). Sim, Aquele que a acusou de ser cega pede que comprem d’Ele colírio para os olhos, para que o olho cego possa ser ungido e a percepção espiritual adquirida. Também eram necessários ouro e vestes brancas, e cada um devia ser comprado. A compra pode ser cara. Certamente haveria o humilde reconhecimento da pobreza e da nudez, além da cegueira, mas esse era o Seu conselho.
O que é esse colírio? Como as escamas pode ser removidas dos olhos? Como a percepção espiritual deve ser adquirida?
Clara visão espiritual
A primeira parte do pagamento é confessar nossa necessidade, nossa queda, nossa miséria, e admitir que o mundo e o orgulho obscureceram e embaçaram os olhos até que, como Isaque antigamente, confundimos homem com homem e erro com verdade.
E podemos esperar que até essa primeira parte do preço seja paga por Laodiceia? Penso que não. Há muito tempo aquela paciente e tenra mão bate à sua porta firmemente fechada; por muito tempo ela disse: “Não preciso de Ti”; por muito tempo a abundância a encheu e o orgulho cegou seus olhos para nos fazer esperar deste sistema decaído qualquer humilhação geral. Mas Aquele que bate tão pacientemente apela, finalmente, individualmente e acrescenta generosamente: “Se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, Comigo”.
“Em sua casa”. Exceção encantadora! Àquele que ouvir e abrir, essa graça será dada! Aquilo que a massa orgulhosa perderá, a alma humilde desfrutará.
Para esse tal, esse colírio é vendido – esse precioso e celestial colírio para os olhos que produz clareza de visão espiritual e uma abençoada apreciação de Cristo como rejeitado e fora de Sua própria casa, mas tão imutável como sempre em Seu amor e graça indizivelmente pacientes.
A verdadeira percepção de Cristo, Quem Ele é, onde Ele está de fato e moralmente, e o que Ele é em santidade e amor, é o mais alto e mais sublime privilégio do Cristão neste dia de corrupção e dificuldade eclesiástica. Mas essa percepção precisa ser comprada; certamente custará algo.