Origem: Revista O Cristão – Maternidade

Mães em Israel

A expressão “mãe em Israel” ocorre duas vezes na Palavra de Deus. Acredito que vemos algumas verdades muito instrutivas relacionadas a essa expressão e aos incidentes em torno de seu uso.

Débora, a profetisa 

“E cantou Débora e Baraque Cessaram as aldeias em Israel, cessaram, até que eu, Débora, me levantei, por mãe em Israel me levantei” (Jz 5:1, 7).

No Livro dos Juízes, vemos o povo de Deus abandonando e cedendo. Contrasta com o Livro de Josué, onde vemos Israel vencendo seus inimigos e possuindo sua herança. Com o fracasso do povo de Deus como pano de fundo, o cântico de Débora (ela é mencionada primeiro) e Baraque é um raio de Sol em um dia escuro, pois é um cântico de vitória. Embora seja um dueto longo e cheio de instruções, minha intenção é notar apenas alguns pensamentos no cântico, no que se refere à Debora se identificar a si mesma como “uma mãe em Israel”.

Em Provérbios, lemos: “Encontre-se com o homem a ursa à qual roubaram os filhos, mas não o louco na sua estultícia” (Pv 17:12). Por que uma ursa? Elas têm ciúmes de seus filhotes e são um exemplo vívido de cuidados de proteção. Vemos esse caráter exemplificado em Débora. Três coisas negativas marcaram o dia de Debora. Não se percorriam as estradas e as aldeias estavam desocupadas (vs. 6-7), isto é, havia uma comunhão limitada entre o povo de Deus. A guerra estava às portas (v. 8) – figuras de conflito em questões administrativas. Além disso, não havia escudo ou lança em Israel (v. 8) – não havia capacidade de resistir ou derrotar o inimigo exterior.

E por que essas coisas eram assim? O começo do versículo 8 parece sugerir que foi porque “escolheram novos deuses” (TB). Cada geração tem seus deuses. Poderíamos citar alguns deuses exclusivos de nossos dias – novos “deuses” que foram escolhidos nos últimos vinte anos. Às vezes, podemos nos perguntar por que não podemos chegar a um acordo coletivo em questões. Não é porque, em muitos casos, nosso coração não foi fiel ao Senhor? A consequência moral é contenda na assembleia.

Nesta condição lamentável de coisas, Débora se apresenta para incentivar um homem que não se moveria sem sua companhia. Nela, vemos uma mulher que habitava debaixo de uma palmeira (Jz 4:5) – o lugar de doçura, como em cachos de tâmaras, e marcado por um crescimento florescente (Sl 92:12). Débora instigou “um irmão” a exercer seu lugar, enquanto permanecia no dela (como Priscila – Atos 18:26), e foi ela quem se alegrou na bênção do povo de Deus.

Podemos nos perguntar por que Baraque é mencionado em Hebreus 11, quando na verdade foi Débora que demonstrou maior fé, mas como alguém observou: “Como verdadeira mãe em Israel, ela iria querer dessa forma”.

A mulher sábia de Abel-Bete-Maaca 

“Eu sou uma das pacíficas e das fiéis em Israel; e tu procuras matar uma cidade que é mãe em Israel; por que, pois, devorarias a herança do SENHOR?” (2 Sm 20:19).

Joabe decidiu destruir Abel-Bete-Maaca porque estava abrigando Seba, um rebelde no reino de Davi. Evidentemente, esta cidade já foi conhecida por conselhos sábios (v. 18), mas agora havia uma pessoa má que se refugiava dentro de seus muros. Embora possamos entender o vigor do ataque de Joabe, especialmente em vista da recente rebelião de Absalão, sabemos de outras Escrituras que Joabe era um homem egocêntrico; seu serviço ao rei foi em grande parte para seu próprio benefício. Ele sabia que não poderia ser o primeiro no reino, pois aquele lugar era reservado ao rei, mas ele queria ter certeza de ser o segundo depois de Davi. Ele tratava brutalmente a qualquer rival para manter este lugar – seja de potenciais substitutos diretos como Abner ou Amasa, ou uma ameaça indireta como Absalão, que, se a derrubada de Davi fosse bem-sucedida, provavelmente teria colocado outra pessoa na posição de Joabe. Por fim, essa tática alcançou Joabe quando ele acreditava que Adonias deveria ter o reino em vez de Salomão, na época da morte de Davi. Consequentemente, ele se alinhou com o homem errado.

Vemos em Joabe uma forma exterior de justiça ao tratar com o mal, mas sem levar em consideração o coração de Davi (compare 2 Sm 18: 5,14), ou a importância dessa cidade em particular em Israel. Figurativamente, a assembleia local reunida em nome do Senhor Jesus é uma dessas cidade. Há sabedoria lá; é de fato “uma mãe em Israel” – um lugar onde os santos podem ser preservados. Joabe estava disposto a destruir esta cidade para realizar seus objetivos pessoais sob o pretexto de “lidar com o mal”. Foi uma mulher sábia naquela cidade (que conhecia sua história e caráter) que a salvou, assim como um pobre homem sábio uma vez salvou uma cidade, embora tenha sido posteriormente esquecido (Ec 9:14-16). Esta mulher sábia bem sabia o que aquela cidade significava e não a desprezava, embora talvez não tivesse a beleza exterior que outrora possuía. Ela era uma mulher pacífica, mas fiel (v. 19). Do mesmo modo, “a sabedoria que vem do alto é” pacífica, mas “primeiro pura” (Tg 3:17).

Ao reconhecer a cidade como “mãe em Israel”, essa sábia mulher testemunhou que ela era da mesma qualidade moral. Ela era pacífica por preservar a cidade da destruição, mas era fiel em que, pela sua sabedoria, o povo tratou com Seba e lançou sua cabeça para fora da cidade – uma completa rejeição de sua independência e rebelião.

Devemos seguir “a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22). Ou seja, Deus procura um testemunho coletivo marcado pela busca da glória de Cristo – sem outros interesses. Justiça é a principal prioridade; o desejo por paz deve realmente estar presente, mas reconhecendo que é o resultado da justiça, não um objetivo a ser perseguido à custa da justiça.

É comovente ouvir casos em que as assembleias foram preservadas, não por causa da fidelidade dos irmãos (às vezes não havia quem fosse fiel), mas por causa da caminhada tranquila e piedosa das irmãs.

Como observação final, notemos que Débora significa “abelha” e que a mulher sábia de Abel falou da “herança do Senhor”. Essa herança é uma terra que flui com “leite e mel” (Êx 3:8). Tal figura fala da comunhão dos santos e da doçura da natureza. Não desprezemos essas provisões necessárias.

Confiamos que cada um de nós será encorajado naquelas coisas que correspondem ao caráter moral dessas duas “mães em Israel”, além de aprender com seu esplêndido exemplo de fidelidade e amor a Deus e ao Seu povo.

W. J. Brockmeier

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