Origem: Revista O Cristão – Os Mistérios

A Dispensação do Mistério

Os conselhos de Deus, até serem revelados, são tão secretos para Satanás quanto são para os filhos dos homens. Deve ter-lhe parecido um triunfo maravilhoso de sua diabólica engenhosidade e astúcia quando ele aparentemente conseguiu frustrar os planos dos ensinamentos proféticos de Deus, ao assegurar a rejeição e a crucificação do Rei de Deus. Era algo claramente demonstrado na Palavra que o Messias tomaria em Suas mãos as rédeas do governo terrenal e estabeleceria um reino dos céus na Terra. Que o Messias havia chegado e que nenhum reino havia sido estabelecido também estava claro pelos fatos. Que as profecias pudessem algum dia ter um cumprimento literal, de modo a vindicar a veracidade de Deus e de Sua Palavra, pareceu-lhe, sem dúvida, tão impossível quanto tem parecido a milhares dos próprios filhos de Deus, os quais abandonaram tal expectativa e a trocaram pelo esforço infrutífero de espiritualizar as profecias em uma harmonia forçada e antinatural com os eventos existentes.

Enquanto muitos ainda se apegam a esse erro, Satanás certamente há muito tempo já foi desenganado. A revelação do “mistério”, revelada em vão diante dos olhos de alguns dos filhos de Deus, tem sido vista por ele com discernimento mais claro. Isso não é mera conjectura; é o ensino da própria Palavra. Na epístola aos efésios, o apóstolo, ao abrir sua comissão “e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus”, acrescenta, “que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3:9-10).

A demonstração da sabedoria de Deus 

Aqui temos o fato de que a demonstração da multiforme sabedoria de Deus, por meio da Igreja, foi contemplada em Seu propósito antes da criação, com referência expressa aos “principados e potestades nos céus”. Agora, se em Efésios 1:21 e Colossenses 2:10, “principados e poderes” parecem empregados para designar habitantes celestiais em favor com Deus, em Efésios 6:12 o mesmo é usado para os inimigos mortais de Deus e do homem, os espíritos maus, conhecidos em outros lugares como “o diabo e seus anjos”. Por eles, essa multiforme sabedoria será aprendida para sua confusão e espanto, assim como pelos outros para sua edificação e alegria, por meio da demonstração da capacidade de Deus para obter resultados. Esse trabalho mais elevado e abençoado é realizado pela instrumentalidade dos próprios elementos que mais pareciam frustrar Seus planos e atravessar Seus propósitos.

Acaso você sonha com um evangelho gradualmente difundido, convertendo o mundo sob a ação do Espírito e anunciando um milênio de bênção espiritual, sem a presença pessoal de um Messias em glória manifestada no trono de Seu pai Davi? Nesse caso, você terá que revisar essa posição antes que possa ver “qual seja a dispensação do mistério”. Pode um filho de Deus ficar satisfeito com que tal vitória permaneça nas mãos de Satanás, como se ele tivesse frustrado o cumprimento literal da profecia e reduzido Deus à necessidade de dar a ela apenas o chamado cumprimento espiritual? Nenhum leitor simples da Palavra poderia supor que isso estivesse correto. Não; Satanás não triunfou. O propósito de Deus não foi abandonado; Seus planos não foram frustrados. Um adiamento previsto, sim, retardou o estabelecimento imediato, mas na aparente vitória de Satanás, o príncipe das trevas se enganou a si mesmo; ele cumpriu o propósito secreto de Deus de suspender, por um período, o estabelecimento do trono, a fim de preparar uma noiva para Seu Rei, para ser associada a Ele em Seu reinado. A Igreja do Deus vivo, um povo introduzido a um lugar especial de proximidade, terá parte em Sua exaltação e glória; aqueles que O reconhecem e tomam parte com Ele em Sua humilhação e rejeição, porque “sofrem” com Ele, também “reinam com Ele”. Eles preencherão esse mesmo lugar nos céus – o lugar onde Satanás e seus anjos estão agora. Eles são as potestades do ar das quais o diabo é príncipe. Essas “hostes espirituais da maldade” lutam em conflito espiritual contra os santos.

O reino na Terra 

As profecias do Velho Testamento falavam apenas da Terra; não havia a sugestão de um povo para ocupar o lugar dos poderes satânicos, nem a palavra de serem despojados em favor de um povo redimido da Terra. Isso era um segredo, um mistério oculto em Deus. O aparente triunfo de Satanás deu ocasião à revelação e ao cumprimento da multiforme sabedoria de Deus, Sua graça e Sua glória. O reino que Satanás pensou frustrar ainda será estabelecido na Terra – o Milênio da profecia do Novo Testamento. O cumprimento literal de todos os detalhes da Palavra de Deus e a vindicação total da fidelidade de Deus e da veracidade de Seus profetas serão estabelecidos.

A presente dispensação 

A presente dispensação é um período entre parênteses, contemplado de fato nos conselhos de Deus, mas não revelado até que fosse “dado” a Paulo que a estabeleceu.

Uma vez que essa verdade é vista, ela se torna a chave para a interpretação da Escritura e para manejar corretamente a Palavra da verdade, na distinção entre as coisas Judaicas e as Cristãs. Até que seja visto, nenhum Testamento pode ser entendido corretamente, e o Cristianismo, em vez de ter seu caráter próprio e distinto, é degradado em uma espécie de forma revisada de Judaísmo.

Cristo e a Igreja 

Todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos no “mistério”, de modo que a dispensação dele, dada a Paulo, é o preenchimento ou a completação da Palavra de Deus. Cristo é o centro da verdade e dos caminhos de Deus, mas o Cristo dos conselhos de Deus não é simplesmente o Homem Cristo Jesus, mas “assim como o corpo é um, e tem muitos membros assim é Cristo também” – o mistério – o segundo Adão, não sozinho, mas com Sua Eva unida a Ele sob um nome comum. Como Adão estava incompleto sem Eva, assim também o Cristo de Deus nos Seus conselhos e propósitos, estava incompleto sem “a Igreja, que é o Seu corpo, a plenitude d’Aquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:22-23) . Por uma boa razão, Paulo oraria para que fossem “iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18).

The Christian Friend, 3:81 (adaptado)

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