Origem: Revista O Cristão – Elias

Elias e Eliseu

Depois de voltar de Horebe, a primeira coisa que Elias fez foi encontrar Eliseu e lançar sua capa sobre ele. Ao fazer isso, Elias pode ter ficado feliz em saber que um servo mais jovem estava sendo preparado pelo Senhor. Este caso de um profeta dando sua capa a outro é único; os dois profetas juntos nos dão uma visão do vínculo existente nos caminhos de Deus entre lei e graça.

Eliseu estava arando com a última das doze juntas de bois. Ele estava corretamente ocupado com a herança dada por Deus. Ele parecia entender que ter a capa lançada sobre ele era um chamado para deixar sua ocupação e família para servir ao Senhor, pois imediatamente pediu permissão para beijar seu pai e mãe. Elias disse-lhe: “Vai, e volta; pois, que te fiz eu?” Elias não era o autor desta chamada para o serviço; somente o Senhor poderia fazer isso. Eliseu deve ouvir o chamado do Senhor. A capa era um sinal do chamado. Esse ato não foi apenas um profeta passando sua obra para outro. Quando Eliseu voltou, ele fez isso para sacrificar os bois e queimar os instrumentos. Então ele deu as carnes ao povo. Ele deu a Deus sua parte e ao povo e não guardou nada para si. Ele contou o custo e se tornou um verdadeiro discípulo, ministrando a Elias. Lições importantes deveriam ser aprendidas com o servo mais velho que pregava a justiça pela lei. Em Gálatas 3:24 (JND), Paulo disse: “A lei tem sido nosso tutor até Cristo, para que sejamos justificados no princípio de fé”. Eliseu estava aprendendo esse princípio para estar mais bem capacitado a ministrar graça posteriormente.

A vinha de Nabote (1 Rs 21:17‑29) 

Elias aparece apenas mais duas vezes nas Escrituras antes de ser levado para o céu. Nos dois casos, ele pronunciou julgamento, mas também mostrou misericórdia quando a humildade foi mostrada. Isso foi uma mudança no comportamento dele; ele havia aprendido algo com a voz mansa e delicada. A primeira vez que ele aparece é para pronunciar um julgamento sobre o rei Acabe por matar Nabote e tomar posse da vinha que pertencia a ele. Jezabel acusou falsamente Nabote e fez com que fosse apedrejado. Este foi um grande pecado contra um vizinho. Nabote valorizava a vinha como a herança que seus pais haviam recebido do Senhor e não a venderia como Esaú fez com sua primogenitura. Não era apenas mais um terreno conveniente para vender ou negociar. Deveria ser preservado na família até que o Messias chegasse. As posses dos israelitas eram terrenais; as nossas são celestiais. Que não vendamos nossas bênçãos celestiais. Se não andarmos no bem delas, estaremos em perigo de eventualmente desistir delas completamente. Esse é o tipo de tentação sutil que enfrentamos hoje.

Na ressurreição, Nabote será capaz de reinar sobre o que ele considerava precioso para si até a morte; Acabe não.

Rei Acazias e seus capitães de cinquenta (2 Reis 1) 

A próxima e última aparição de Elias antes de sua transladação foi para o rei Acazias, filho de Acabe, depois que ele enviou para consultar Baal-Zebube sobre sua saúde. Este foi um pecado contra Jeová, o Deus de Israel, e trouxe juízo sobre ele. Elias disse aos mensageiros do rei: “Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom?” (2 Rs 1:3). Depois de ouvir isso, Acazias enviou soldados para prender Elias. Mas Elias lhes disse: “Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinquenta”. Isso aconteceu por duas vezes, e dois capitães, cada um com seus cinquenta homens, foram consumidos pelo fogo que Elias invocou do céu. Foi um exemplo dramático de Deus e de Seu poder. Eliseu pode muito bem ter testemunhado isso e estava familiarizado com o poder de Deus. O ministério da graça que Eliseu iria anunciar não negligencia as santas reivindicações de Deus, ao dispensar bênçãos. Isso é estabelecido no livro de Romanos.

O terceiro capitão chegou a Elias em humildade, implorando por sua vida e pela de seus homens. “Homem de Deus, seja, peço-te, preciosa aos teus olhos a minha vida, e a vida destes cinquenta teus servos” (v. 13). Elias percebeu que era hora de mostrar misericórdia e poupar sua vida. Ele foi com o capitão ver o rei. Humildade é o melhor sinal de arrependimento. Esses homens sobreviveram e poderiam participar do ministério da graça de Eliseu. O rei não teve misericórdia e morreu de acordo com a palavra de Elias.

Descida de Elias ao Jordão 

A partida de Elias de Israel envolveu uma jornada de deixar para trás o lugar alto de Gilgal e descer o rio Jordão. Ao longo do caminho, Eliseu foi testado três vezes – em Gilgal, em Betel e em Jericó – para ver se ele deixaria seu mestre. Esta é uma figura do Senhor Jesus deixando Israel, o lugar das bênçãos terrenais, descendo à morte e depois subindo por meio da ressurreição ao céu. As três cidades representam as diferentes características das bênçãos terrenais que devem ser deixadas para trás para entrar no bem das coisas celestiais. Eliseu seguiu com Elias por todo o caminho até o outro lado do Jordão. Os outros profetas sabiam sobre o evento que aconteceria, mas não andaram com Elias quando ele saiu. O Senhor Jesus ensinou claramente a Seus discípulos a necessidade de deixar tudo e segui-Lo (Lc 14:26‑27, 33). A bênção celestial não pode ser desfrutada sem fazer isso.

O milagre que Elias realizou ao ferir a água com sua capa é uma demonstração de que Deus, que secou o rio para Josué ao entrar na terra, estava agora tirando Seu pregador da justiça pela lei como meio de bênção. “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10:4). Tentativas de misturar lei e graça são uma falha em ver esse princípio.

Elias é levado ao céu 

A ascensão de Elias ao céu depois de ser rejeitado por Israel é uma figura do Senhor Jesus sendo recebido no céu. Elias era o representante de Deus para mostrar quando era hora de terminar a pregação da justiça pela lei. Agora havia chegado a hora e Deus iria removê-lo, mas restava ainda uma coisa. Elias ficou muito triste com todo o mal em Israel; agora ele deseja abençoar o servo que o seguiria em sua rejeição. Ele tinha a mente de Deus, pois Deus não traria Sua reserva de bênçãos àqueles que seguiam Seu servo. Sob essa circunstância, ele deu a Eliseu oportunidade sem restrições. “Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” (2 Rs 2:9). Elias disse que foi uma coisa dura que ele pediu. Nós pouco percebemos o quanto custou ao Senhor nos dar nossas bênçãos. No entanto, Elias diz: “Se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará” (2 Rs 2:10). O ponto principal foi Eliseu ver Elias quando ele foi levado. Este é o ponto chave para nós hoje, ver pela fé que o Homem Cristo Jesus subiu ao céu. O Senhor disse a Seus discípulos, pouco antes de deixar este mundo: “Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar” (Jo 16:23). Essa é a base de toda bênção. A porção dupla nos é trazida de Cristo pelo Espírito de Deus. O Espírito é o que leva o crente a um relacionamento com Cristo em glória. Quando Eliseu viu Elias ser levado pelo carro de fogo, ele gritou: “Meu pai, meu pai”. Este é o “Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8:15).

Os profetas que observavam de Jericó não viram Elias ser levado para o céu e insistiram que fossem procurar Elias no deserto, mas não o encontraram. Foi um desperdício de tempo e energia. Procurar Jesus apenas como um Homem na Terra é perder o significado do Cristianismo.

Eliseu atravessando o Jordão 

Chegamos agora ao momento em que Eliseu iniciou seu ministério da graça. Seu primeiro ato depois que Elias foi levado para o céu foi rasgar suas roupas em duas partes. A porção dupla não deixa ninguém orgulhoso, mas é muito humilhante. Por meio do ministério da graça, não somos feitos merecedores de nada, mas recebemos tudo por causa de Quem Jesus Cristo é e o que Ele fez. Eliseu mostrou essa atitude em seu comportamento.

Em seguida, ele pegou a capa que caiu de Elias e foi para o Jordão. No Jordão, ele feriu a água e disse: “Onde está o SENHOR Deus de Elias? Quando feriu as águas elas se dividiram de um ao outro lado; e Eliseu passou” (v. 14). O poder não veio de si mesmo, mas ele invocou o Deus de Elias. Apelamos ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Nessa atitude, o apóstolo Pedro disse àqueles que observaram o milagre que ele fez: “por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem? E pela fé no Seu nome fez o Seu nome fortalecer a este” (At 3:12, 16). O nome do Senhor é nossa fonte de força.

Eliseu atravessou o Jordão depois que as águas se separaram, e dessa vez era para retornar a Israel com um novo ministério. Deus deu testemunho por este sinal de poder de que este novo ministério era de Si mesmo, como Ele havia feito nos dias de Josué. “Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra” (2 Rs 2:15). No livro de Atos, é dito dos apóstolos: “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (At 4:13). Esta é a melhor recomendação que se pode dizer de quem prega o evangelho da graça de Deus por meio de Cristo.

D. C. Buchanan

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