Origem: Revista O Cristão – Restituição
Filemom
Filemom, um amigo muito amado e conservo do apóstolo, evidentemente morava em Colossos. A casa de Filemom era um local de reunião para o povo de Deus, para que Paulo pudesse escrever sobre “a Igreja que está em tua casa”.
Onésimo havia sido escravo de Filemom, como mostra o versículo 16. Ele havia prejudicado seu mestre Cristão e depois fugido (vs. 15, 18). Na grande misericórdia de Deus, no entanto, ele foi colocado em contato com Paulo em Roma durante sua prisão e, por meio de sua pregação, foi convertido (v. 10) – convertido tão profundamente que Paulo pôde falar dele não muito tempo depois como “amado e fiel irmão” (Cl 4:9).
Tíquico estava naquela época deixando Roma e indo para Colossos, levando a carta de Paulo àquela assembleia, e o apóstolo aproveitou aquela ocasião favorável para enviar Onésimo em sua companhia de volta ao seu próprio povo, para que novamente ele pudesse encontrar o mestre a quem uma vez ele havia prejudicado. Não foi fácil para Onésimo estar novamente na presença de Filemom, e Paulo escreveu pensativamente uma carta de intercessão a Filemom, fazendo de Onésimo o portador dela.
Ele prejudicou seu senhor
Quando Onésimo prejudicou seu senhor, ele era um homem não convertido. Então, ele se tornou um irmão amado, mas isso não o isentou das obrigações incorridas por seu pecado anterior. No que diz respeito a Deus, esse pecado foi perdoado, pois ele estava “justificado de todas as coisas” (At 13:39 – ARA), mas no que diz respeito a Filemom, a confissão e algum tipo de restituição eram necessárias. Aqui, imediatamente, é trazida diante de nós uma lição importante. Se tivermos cometido algum erro manifesto a outro, nenhuma prova mais eficaz de nosso arrependimento pode ser dada do que a confissão e a restituição, na medida em que isso esteja ao nosso alcance. É sempre um processo difícil, mas é uma justiça prática, mais eficaz como testemunho e que mais glorifica a Deus.
A epístola enfatiza a cortesia como sendo uma graça que convém ao Cristianismo. O Cristão também deve ser marcado pela honestidade e franqueza, mas não deve permitir que a franqueza se transforme em uma grosseria insensível. Ele deve reconhecer os direitos dos outros e expressar-se com refinamento de sentimento e cortesia.
Observe também a maneira discreta e delicada com que Paulo introduz o assunto de Onésimo, suplicando ao invés de usar autoridade apostólica e apresentando Onésimo como seu filho espiritual, dado a ele durante o tempo de provação em seu cativeiro – uma consideração bem calculada para mover o coração de Filemom. Paulo teria gostado de manter Onésimo como ajudante em seu tempo de provação, mas ter feito isso sem consultar Filemom teria sido, segundo ele, uma liberdade injustificada. Seu antigo senhor tinha certos direitos que Paulo observou escrupulosamente, reconhecendo que, para ele ter a vantagem da ajuda de Onésimo, ele gostaria que fosse um “benefício” conferido por Filemom.
“Eu o pagarei”
Sabendo ou suspeitando que seu antigo senhor havia sofrido perdas por causa do serviço infiel, de Onésimo, Paulo assume total responsabilidade para fazer a restituição adequada. Ele escreve com sua própria mão uma nota promissória: “Eu o pagarei”. Mas quão eficazes são as seguintes palavras: “para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves”! Filemom havia se convertido por meio de Paulo, aquele que lhe havia trazido, por meio de terrível oposição e sofrimento, vida e salvação para os dias eternos. Tal era a confiança de Paulo em Filemom que ele esperava que ele fosse além do que ele estava ordenando quanto ao tratamento de Onésimo. Não é de admirar que Paulo se dirigisse a ele como “nosso muito amado” (TB)!
Sabendo o terrível dano ao nome de Cristo que tem sido causado entre o povo de Deus em conexão com episódios semelhantes, sentimos como se não pudéssemos enfatizar suficientemente esta importante epístola. Ela nos ensina: Quanto à parte ofensora, um retorno com toda a humildade ao ofendido, com confissão e reconhecimento de seus direitos quanto à restituição. Quanto à parte ofendida, a recepção do ofensor arrependido em graça com o mais pleno reconhecimento possível de tudo o que Deus operou nele, seja por meio da conversão, como no caso de Onésimo, ou por meio da restauração, como pode ser o caso de muitos de nós. Quanto à parte do mediador, a ausência de qualquer coisa que se aproxime de um espírito ditatorial, juntamente com um amor ardente tanto pelo ofendido quanto pelo ofensor, expressando-se em súplicas marcadas pela cortesia e tato.
Um mediador
Não devemos deixar esta epístola sem perceber a maneira impressionante como toda a história ilustra o que significa e envolve a mediação, ilustrando a declaração: “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Homem” (1 Tm 2:5). Deus é Aquele ofendido pelo pecado; o homem, o ofensor; o Homem Cristo Jesus, o Mediador.
A mediação de Paulo entre Filemom e Onésimo ilustra, embora apenas vagamente, o que Cristo fez. Enquanto Paulo teve que escrever: “Eu o pagarei”, nosso Salvador ressuscitado não usa o tempo futuro. Sua Palavra para nós no evangelho como o fruto de Sua morte e ressurreição é: “Eu o paguei”. Jesus “por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação”. Por isso é que “justificados pela fé, temos paz com Deus”. Neste ponto, portanto, a ilustração fica muito aquém da realidade ilustrada.
Finalmente, Paulo diz a Filemom: “Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo”. Aquilo que Filemom poderia ter achado difícil de fazer, como nos aventuramos a pensar, Deus o fez. Todo crente, a partir do próprio Paulo até nós mesmos, não tem outra posição diante de Deus senão “agradáveis [aceitos – KJV] a Si no Amado” (Ef 1:6). Fomos recebidos em toda a aceitação e favor do próprio Cristo – uma coisa impressionante além das palavras.
A ligação entre Paulo, o mediador, e Onésimo, o ofensor, foi amor. Entre Paulo e Filemom, a parte ofendida, foi companheirismo. No entanto, aqui novamente precisamos notar como a ilustração fica aquém, pois Deus, o Pai, ama igualmente como Cristo, o Filho. O amor do Pai e o amor de Cristo estão docemente entrelaçados. Em uma eternidade passada, “o conselho de paz” era “entre Ambos” (Zc 6:13).