Origem: Revista O Cristão – Dispensações
O Proveito do Estudo da Verdade Dispensacional
Conhecendo os tempos
A piedade é a religião da verdade (1 Tm 3:15-16). O nosso caráter deve ser formado por ela, e o nosso serviço definido e dirigido por ela. A verdade é o instrumento e o padrão. É por meio dela que o Espírito opera em nós e conosco, e é por meio dela que provamos tudo. Ela é um instrumento na mão do Espírito, e um padrão na nossa. Além disso, essa verdade está conectada com as dispensações de Deus [o que Deus concede]. Isso é visto de imediato. A moral e os deveres que se ligam às relações humanas adquirem um caráter peculiar por causa de sua conexão com tal verdade. Estamos agora nesta dispensação para aprender “Cristo” e sermos ensinados “como está a verdade em Jesus” (Ef 4:20-21).
O que era santidade e serviço em uma dispensação deixa de ser em outra. As ações mudam de caráter com a mudança do tempo. Para fazer o certo, ou para estar certo, de acordo com Deus, devemos “conhecer o tempo”, como fala o apóstolo Paulo. Houve o tempo em que era santo invocar fogo do céu para derrotar adversários. Mas chegou o dia em que a sugestão para fazer tal coisa teve que ser repreendida, e isso também, sob a mesma autoridade divina suprema que a havia autorizado antes. “Tudo é belo em seu tempo”, e a verdade dispensacional é o grande árbitro dos períodos, nos indicando os tempos e o que o Israel de Deus e a Igreja de Deus devem fazer respectivamente.
A espada e César
Em um momento, o Senhor colocou a espada na mão de Seu servo; em outro, Ele a tirou de sua mão. Josué e Pedro me dizem isso. “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, era um decreto divino nos dias dos evangelistas, mas em dias anteriores, exigia-se que todo vestígio do governo gentio na terra dos pais fosse tirado e eliminado pelo zelo e pela força dos filhos. Não seria então “Deus” e “César”, mas o nome de Jeová deveria ser escrito na terra das doze tribos, e cada parte dela seria reivindicada em nome de Jeová de Israel, sem rival.
Lugares e ordenanças, da mesma maneira, mudam seu caráter com as dispensações. O Monte Sinai, onde Deus desceu e cujo lugar terrível e consagrado ninguém deveria tocar, a não ser Ele mesmo, agora é simplesmente o “Sinai na Arábia”, e as instituições, que antes eram divinas, e cuja desonra era a morte, agora são apenas “rudimentos fracos e pobres” e “rudimentos do mundo”. Mais ainda – eles são até mesmo colocados em companhia de ídolos (Gl 4). Assim, o que era santo em um momento se torna comum em outro, enquanto o que era imundo anteriormente é depois dado para a comunhão dos santos. A serpente de cobre se torna Neustã, e um grupo daqueles que foram repudiados como “incircuncisos” se torna “morada de Deus no Espírito”.
Lugares e ordenanças
Assim é, de fato, que o caráter – o valor para Deus – das ações, dos lugares, das ordenanças e similares mudará com a mudança das dispensações. Devemos decidir sobre sua piedade, sua sacralidade e sua santidade por meio da “verdade”. E não é assim somente com a mudança de dispensações, mas com as mudanças de fases e condições da mesma dispensação.
As harpas de Israel, por exemplo, foram tocadas nos dias de Salomão, e canções foram cantadas quando Hemã, Asafe e Jedutum estavam na terra. Mas nos dias de Babilônia, as harpas deveriam ser penduradas nos salgueiros, e aqueles que uma vez cantaram os cânticos de Sião deveriam ficar em silêncio.
Davi rejeitado
Assim, Davi, de acordo com a mente de Deus, quando sua fome e andanças anunciavam uma condição arruinada das coisas entre o povo, pediu o pão do templo para si e seus seguidores, embora no dia da integridade de Israel e sua dispensação, fosse lícito que somente os sacerdotes comessem dele.
Então, novamente, esse mesmo Davi não poderia continuar com um propósito que estava certo em seu coração, como o próprio Senhor disse, porque não estava certo, ou oportuno, considerado dispensacionalmente (2 Cr 6:8-9).
E assim vemos, a partir de alguns exemplos dentre muitos, que diferentes estágios ou eras ou condições das coisas em uma mesma dispensação têm suas verdades diversas e peculiares sobre as quais fundamentam suas próprias reivindicações peculiares, tão segura, e simplesmente como se fossem dispensações diferentes. Os filhos de Israel sob o comando de Josué e dos juízes, os Judeus em casa, os Judeus na Babilônia, os Judeus que retornaram, embora todos eles estivessem igualmente sob o mesmo concerto, tiveram que responder às reivindicações e ao serviço de Jeová de forma muito diferente. “Podeis vós fazer jejuar os convidados das bodas, enquanto o esposo está com eles?”, posso lembrar, em conexão com isso. Quando Ele for levado, então, de fato, eles podem jejuar (Lc 5:33-35), e eles devem jejuar.
Nada está fora de tempo
Certamente, posso dizer, tudo ajuda a nos mostrar que a verdade dispensacional é a grande, embora não a única, regra e forma de santidade de acordo com Deus. Devemos “conhecer o tempo”, pois nada está fora de tempo. “E dos filhos de Issacar, que tinham entendimento dos tempos, para saber o que Israel deveria fazer” (1 Cr 12:32 – JND). A Escritura está cheia de instruções sobre esse princípio e não nos deixam liberdade para julgar o santo e o profano, independentemente da “verdade”. Nossa piedade, nossa devoção, a fim de ter um caráter divino, depende de nosso conhecimento da verdade, dos tempos e épocas como são com Deus, ou de acordo com Sua mente em Suas dispensações perfeitas e belas, embora mutáveis.