Origem: Revista O Cristão – Dispensações
Alterações Dispensacionais
O diálogo entre o Senhor e Elias no Monte Horebe traz à nossa atenção razões para o tratamento de Deus com os homens e por que eles mudam. O nome de Elias significa “Jeová é Deus (Juiz)”, pois ele foi levantado para afastar Israel da idolatria e seguir a Jeová, o único Deus verdadeiro. Ele fez isso com demonstrações de poder vindas do Senhor, mas depois, quando Jezabel ameaçou matá-lo, ele fugiu para o Monte Horebe com essa percepção: “eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem” (1 Rs 19:10). Sem dúvida, Elias sentiu profundamente que havia sido rejeitado. E isso é normal e não errado, mas a verdadeira questão era que, se seu ministério era inútil para mudar Israel, o que vem a seguir! Ele estava posicionalmente onde a lei havia sido dada, e parece que Elias estava pronto para desistir de Israel. Mas Deus tinha outros planos antes de deixar Israel de lado. A lei de Moisés não deveria ser o tratamento final de Deus com eles. Portanto, quando Elias se queixou no monte, Deus lhe disse: “Que fazes aqui, Elias?” Essa pergunta penetrante foi seguida por um grande e forte vento, um terremoto e fogo. Mas o Senhor não estava nessas demonstrações de poder; elas chamam a atenção e foram usadas por Deus, mas não era o propósito final. Elias foi levado a perceber que o Senhor não estava nesses atos, mas na voz mansa e delicada que ouviu depois. Deus não terminou com Israel. A lei não foi o fim de Seus caminhos com Israel; Elias também teve que ser levado a perceber isso. Havia mais a ser feito depois que seu ministério da lei terminasse. Então ele é instruído a fazer três coisas: ungir Hazael rei sobre a Síria, ungir Jeú para ser rei sobre Israel e Eliseu para ser profeta em seu lugar. Esses três deveriam desempenhar papéis distintos dos caminhos de Deus com Israel. Seriam casos representativos das mudanças que ocorreriam após o tempo da Lei: A Graça e depois o tempo do Reino, ou tempo do Juízo.
A mentalidade de Elias
Naquele momento, a mentalidade de Elias estava focada em consertar as coisas, imediatamente. No entanto, o Senhor acrescentou que ainda havia 7.000 que não tinham se entregado à idolatria; ele não estava sozinho. O Senhor lhe diz que aqueles que escapassem da espada de Hazael, Jeú mataria e o resto Eliseu mataria. Deve-se notar que o Senhor não estipulou em que ordem os três deveriam ser ungidos, mas vemos claramente pela maneira como Elias cumpriu a missão que o Senhor havia alterado a mentalidade de Elias. Isso estava de acordo com os caminhos de Deus. Não era hora de destruir Israel. Assim, Elias foi diretamente a Eliseu (“Jeová é a salvação”) e o ungiu. Ele se conteve para não concluir a nomeação dos outros dois. Na verdade, eles não foram ungidos até muito mais tarde por Eliseu. Era necessário que Eliseu completasse seu testemunho da graça primeiro. Deus tinha um propósito em conceder graça antes do julgamento do reino. Por essa razão, aqueles de nós que vivem nos dias atuais apreciam a extensão da plenitude de Sua graça que vem antes do julgamento acumulado que está pendente desde a rejeição e morte do Senhor Jesus Cristo.
Eliseu ungido
Percebemos como Deus permitiu que Elias, um homem na Terra com sentimentos humanos e um senso de justiça e misericórdia, tomasse a decisão de quem seria ungido primeiro. Ele escolheu Eliseu em vez de Hazael ou Jeú. Sem dúvida, ele entendia que tipo de pessoas os dois últimos seriam, e quão severamente suas espadas matariam o povo sem misericórdia. Acreditamos que esta decisão foi acertada. Seria melhor que os julgamentos ocorressem somente depois que o ministério de Eliseu falhasse na tentativa de trazer Israel de volta para o Senhor. A graça sendo rejeitada determinaria que o julgamento era necessário para completar a obra de Deus com Israel. Jeú realizou o julgamento dentro dos limites de Israel, e Hazael como um inimigo fora de Israel.
Jeú
A unção de Jeú como rei sobre Israel é registrada no capítulo depois que Hazael é ungido; no entanto, sabemos que eles viveram e serviram simultaneamente, e ambos foram usados por Deus para julgar Israel após a missão da graça de Eliseu. No livro de Tito nos é dito qual deve ser a resposta adequada à graça. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tt 2:11-12). No entanto, nem todos os homens têm fé, e a graça não reformou o mundo para o reino de Deus. Essa falta de apreciação e abuso final da verdade foram observados pela primeira vez nos dias de Eliseu. O ministério de Eliseu inaugurou um reino de bênçãos para Israel? Não! Nem mudou o coração do homem no tempo presente, ao qual nos referimos corretamente como a dispensação da graça. A pregação do evangelho não converteu o mundo, levando-o a praticar a justiça. O que aconteceu em Israel nos dias de Eliseu, aconteceu exatamente como diz em Isaías 26:10: “Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça”. Os procedimentos dispensacionais de Deus nos ensinam que, sob a graça, os homens não aprendem a justiça, mas, como diz o versículo anterior: “havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (v 9). A história desses dois reis tem um ensino dispensacional importante para nós em relação a este último ponto.
O chamado celestial
Antes de continuarmos com a narrativa diante de nós, parece bom comentar sobre uma esfera fora dos tempos e estações da Terra. Embora todos os comentários acima sejam verdadeiros, sabemos de outra coisa maravilhosa que está acontecendo nesta dispensação da graça. O Senhor Jesus entrou no céu e dali está formando o reino dos céus com o objetivo de levá-lo para Si mesmo na casa do Pai. Isso estando fora da esfera das dispensações terrenais, mencionamos apenas como um comentário paralelo, embora seja primordial nos conselhos eternos de Deus e uma parte muito importante de nossa porção Cristã.
Graça e juízo
As diferenças contrastantes entre Eliseu e Jeú se destacam no momento em que Jeú foi ungido. O relacionamento que eles têm um com o outro é significativo. Eliseu realizou apenas um milagre que trouxe uma maldição, enquanto o trabalho de Jeú era quase exclusivamente com juízo. Cada um fez o que o outro não podia fazer, então Eliseu não se identificou pessoalmente com a unção de Jeú. Não se pode ser ministro da graça e do juízo ao mesmo tempo, pois são opostos. O único milagre de Eliseu que trouxe uma maldição sobre as crianças que zombavam dele foi uma demonstração do que aconteceria se a graça fosse rejeitada. A longanimidade e paciência de Deus ao longo do caminho de Eliseu são notáveis. A missão dada a Jeú tinha que ser severa, para vingar o sangue dos profetas, e para destruir totalmente a casa de Acabe. Esse foi um julgamento no âmbito do reino de Israel. Para todo aquele que rejeita a Cristo e abusa de Sua graça, não há outra maneira de evitar o juízo. A graça reina por meio da justiça para todos hoje, apenas por causa da obra de Cristo. Mas quando as almas abusam de um favor tão grande, há consequências. Judas adverte sobre isso, pois, “convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador [Mestre – JND] e Senhor nosso, Jesus Cristo” (v. 4).
Nabote
E sucedeu que, matando Jeú o rei Jorão, o lançou no campo de Nabote, o jezreelita, que Acabe, seu pai, havia injustamente tomado de Nabote, um homem de fé. Acabe matou Nabote e destruiu a sua linhagem. Acabe, rei de Israel, juntamente com sua esposa Jezabel, era muito culpado. Ela também encontra seu juízo no mesmo lugar. Ela é mencionada pelo nome em Apocalipse 2:20 e pela ação em Apocalipse 17, que é profético do julgamento da Cristandade (a falsa igreja). Jeú dá as razões de seu julgamento ao seu capitão: “Por certo que, se eu não visse ontem à tarde o sangue de Nabote e o sangue de seus filhos, diz o SENHOR, também não to pagaria neste pedaço de campo, diz o SENHOR. Agora, pois, toma-o e lança-o neste pedaço de campo, conforme a palavra do SENHOR” (2 Rs 9:26).
Hazael ungido
Quando chegou a hora de ungir Hazael, rei da Síria, lemos em 2 Reis 8:7 que Eliseu foi para Damasco. Lá ele encontrou o mensageiro de Ben-Hadade, o rei da Síria, que estava doente. Como foi com Jeú, o contraste do coração deles tornou-se evidente. Eliseu, prevendo o que aconteceria, chorou por causa da crueldade implacável que Hazael realizaria até mesmo em relação às mulheres e crianças de Israel que ele mataria. Hazael considerou tais atos em relação a Israel como um grande feito. Vemos como ele age apressadamente depois de ser ungido, mas parece não ter o temor de Deus. No entanto, Deus estava acima disso e o permitiu. Esse tipo de julgamento sobre Israel seria necessariamente deixado para o fim por causa de seu afastamento de Jeová, seu Deus. Os filhos de Israel (o reino do norte) acabaram sendo levados cativos para onde se perderam na história. No entanto, o Senhor os vivificará e os trará de volta à sua terra.
Abuso da graça
Essas coisas são uma lição para nós hoje, ao vermos a graça rejeitada. Que não sejamos cegos pelo favor presente, mas vejamos o que acontecerá na Terra depois que a dispensação da graça passar. Somos lembrados das palavras do apóstolo Paulo sobre a remoção de Israel no passado e a possibilidade da remoção dos gentios. “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na Sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar” (Rm 11:22-23). Assim como o juízo pelos sírios caiu sobre Israel depois de Eliseu, um julgamento cairá quando o presente dia da graça terminar. E será severo, como diz em Hebreus 10:29: “De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?”. Que o Senhor nos dê discernimento para nos apossarmos adequadamente da graça sem abusar dela por meio de uma atitude negligente em relação ao tremendo custo que foi para Deus nos conceder graça e, assim, entender o verdadeiro propósito dela ao nos aproximarmos do fim desta maravilhosa dispensação da graça.