Origem: Revista O Cristão – Jardins

Como o Homem Caiu – O Jardim do Éden

“E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs ali o homem que tinha formado” (Gn 2.8).

Que jardim maravilhoso deve ter sido esse! Quatro rios convergindo, todo tipo de árvore e planta, “agradável à vista, e boa para a comida”, tudo plantado pelo próprio Deus, o Mestre Jardineiro. Havia somente uma ordenação: “mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17).

A natureza humana caída fala muito claramente, por todos os lados, que no momento em que uma proibição nos chega desde a mais tenra infância até o nosso último suspiro, imediatamente é despertado dentro de nós o desejo pela mesma coisa que ela proibia. Milhares de situações e exemplos podem ser apresentados para provar isso.

O teste da proibição 

Mas havia “lei” no paraíso antes que o homem caísse, e o homem era uma criatura responsável antes de se separar de Deus. Ele era responsável por obedecer à lei que o proibia de comer os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal antes de se tornar um “transgressor”. Deus havia revelado Seus caminhos a ele, como Doador, na maior e mais ampla generosidade. Nada foi retido do homem. Os 10.000 ribeiros que contribuíram para sua felicidade no Éden falavam de um Deus que não reteria do homem nada que fosse bom. “De toda árvore do jardim comerás livremente”, proclamava a liberdade e a plenitude de uma mão da mais ampla bênção. O homem deveria desfrutar de tudo livremente. Uma pequena interdição proibia-lhe de comer do fruto de uma árvore – interdição essa que marcava a responsabilidade que, se transgredida, só acarretaria mal: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). Ao observar essa proibição, ele expressava que sua vontade estava sujeita a Deus, que o havia colocado ali, e o cercado com todas as bênçãos da criatura.

Esse é o princípio de lei. Uma restrição sempre provará a vontade daquele a quem ela é destinada, estando este subordinado ou não a outro. A menor restrição é suficiente para isso. É a maneira de descobrir se o outro está sujeito a você ou não. Se não estiver sujeito, há a recusa da autoridade do outro e, como consequência, duas vontades estão se opondo, uma à outra. Enquanto ao homem que é testado reconhece, em sua consciência, que Deus tem o direito de ser obedecido.

A atenção de Satanás à proibição 

Ora, Satanás não começou chamando a atenção para a bem-aventurança com que o homem fora cercado, nem para o caráter de Deus dando todas as coisas ricamente para serem desfrutadas. Pelo contrário, aproveita a proibição, chamando a atenção apenas para a restrição: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” ao passo que Deus dissera: “De toda árvore do jardim comerás livremente”. O grande golpe de mestre da serpente foi inculcar lentamente a concupiscência na alma, e a desconfiança em Deus – lançar uma suspeita sobre a plenitude e a liberdade de Sua natureza em conceder. Esse foi o veneno da serpente que permeou a humanidade desde aquele dia. Isso foi feito antes mesmo que houvesse um pecado cometido. O diabo interferiu e semeou a desconfiança no coração do homem, criando uma suspeita na alma e separando o homem e seu Criador pela perda de fé n’Ele.

É isso que os homens fazem entre si hoje em dia para alcançar algum objetivo que tenham em vista. Ouso dizer que talvez não pensem assim, mas muitas das tristezas entre os homens, ou mesmo entre irmãos, são causadas por alguma insinuação pelas costas, ou alguma história sussurrada à qual o coração dos outros está pronto para dar ouvidos, o que faz brotar desconfiança entre as almas. Uma vez gerada a desconfiança, segue-se a antipatia, mas sobretudo naquele que prejudicou o outro. É extremamente difícil confiar em um coração que você ofendeu. “A língua falsa odeia aos que ela fere” (Pv 26:28 – ACF). “mas o que renova a questão separa os maiores amigos” (Pv 17:9). “E o que ofendia o seu próximo o repeliu” (At 7:27). Essas passagens (semelhantes em seu caráter) são apenas os efeitos desse princípio do mal. Daí o verdadeiro ditado: “O ferido pode esquecer, o agressor, nunca”.

Restaurar o homem à perfeita confiança em Deus e enfrentar a afronta à Sua natureza foi a obra de Cristo na “consumação dos séculos”. (Hb 9:26)

A “vontade” 

O homem, então, era uma criatura responsável antes de cair. A desconfiança em Deus e a concupiscência foram incutidas na alma da mulher. A vontade foi colocada contra Deus, e no caso de Adão foi a vontade arrogante (pois Adão não foi enganado” – 1 Tm 2:14), e o homem caiu. Uma brecha tão larga quanto os polos surgiu imediatamente entre Deus e o homem – um abismo, impossível de ser reparado ou atravessado novamente. O homem tornou-se “um de Nós”, disse o Senhor, “sabendo o bem e o mal” (Gn 3:22). Isso ele nunca pode desaprender. Nunca mais voltará à inocência.

O que é então “sabendo o bem e o mal”? Isso é algo que se diz da Divindade também – “como um de Nós”, lemos, “sabendo o bem e o mal”. É sentar-se para julgar e dar sentença sobre o bem ou o mal que encontramos em nossa própria alma. Sobre Davi, o rei, foi dito pela sábia mulher de Tecoa: “como um anjo de Deus, assim é o rei, meu senhor, para ouvir o bem e o mal” (2 Sm 14:17). Isso em referência às decisões de julgamento. Lemos isso de Salomão em 1 Reis 3:9 e de Israel em Deuteronômio 1:39; veja também Hebreus 5:14.

Esta é a obra da consciência – tomar conhecimento do mal praticado por uma vontade oposta a Deus, assentar-se para julgá-lo e condená-lo, e infelizmente, apreender o bem, e, ao mesmo tempo, opondo-se a ele – aprová-lo sem o poder para realizá-lo. Esse era um homem caído com consciência. Responsável antes de cair, ele desconfiou de Deus e transgrediu voluntariamente Suas ordens. Ele tinha a capacidade, mesmo quando caído, de sentenciar suas próprias ações pelo conhecimento do bem e do mal – o bem que ele não tinha o poder ou o desejo de praticar, e o mal que ele não era capaz de evitar! Então, finalmente, ele é expulso da presença de Deus, pois havia perdido seu lugar em tal terreno para sempre. Essas três coisas marcaram seu estado: a desconfiança de Deus, o pecado cometido nessa desconfiança e seu lugar irremediavelmente perdido. Essas três coisas são invertidas pelo evangelho. Sua confiança é restaurada pela fé n’Ele como Salvador, seus pecados, que haviam sido cometidos por desconfiança, são removidos e ele é levado para um novo lugar em Cristo, diante d’Ele.

F. G. Patterson

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