Origem: Revista O Cristão – A Boca, os Lábios, a Língua

A Língua

Existem três características especiais da língua como “instrumento de injustiça para o pecado”.

Primeiro, é o grande instrumento de engano e lisonja. Somente de Cristo pode ser dito: “o Qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano” (1 Pe 2:22). Mas em referência a outros, este é o solene veredito: “Porque não há retidão na boca deles; o seu íntimo são verdadeiras maldades; a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua” (Sl 5:9). Tal lisonja e engano tem sido uma marca de falsos profetas e falsos mestres. Esses profetas profetizaram “mentiras”, “enganos”, “coisas suaves” e as pessoas adoravam que assim fosse.

Bajulação 

Os homens podem lisonjear a Deus, assim como Israel da antiguidade. “Quando os matava, então O procuravam; e voltavam, e de madrugada buscavam a Deus Todavia lisonjeavam-No com a boca Porque o seu coração não era reto para com Ele” (Sl 78:34, 36-37 – ACF). O homem pode lisonjear seu semelhante, mas a sabedoria de Deus dá um solene aviso: “Não te intrometas com aquele que lisonjeia com os seus lábios” (Pv 20:19 – ACF).

Ódio 

Em segundo lugar, a língua é o instrumento pelo qual o ódio do coração a Deus – e o desafio do coração a Deus – é frequentemente manifestado. É de fato “um pequeno membro”, mas é “um mundo de iniquidade”; “inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno” (Tg 3:5-6). O pensamento do homem natural é: “Com a nossa língua prevaleceremos; os lábios são nossos; quem é o senhor sobre nós?” (Sl 12:4). Assim é dito a respeito da besta no livro do Apocalipse: “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias e abriu a boca em blasfêmia contra Deus, para blasfemar do Seu nome, e do Seu tabernáculo, e dos que habitam no céu” (Ap 13:5-6).

A língua, por meio da educação, pode ser usada para esconder os pensamentos do coração, mas muitas vezes, em uma manifestação súbita, ela indica o que está passando no coração. É certamente verdade que “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34). Embora a decência convencional possa restringir o homem na presença de seu semelhante, quando a piedade provoca zombaria ou expressão de desprezo, essas palavras vãs são um verdadeiro indicador do estado real do coração diante de Deus.

Presunção arrogante 

Terceiro, a língua é o principal instrumento pelo qual os homens expressam os pensamentos orgulhosos de seu coração, por mais impotentes que sejam para levá-los a efeito. “Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas” (Tg 3:5). É o resultado característico do falso ensino trazido à Igreja (2 Pe 2:18) que os homens falariam “coisas mui arrogantes de vaidades”. Então, novamente, quando “a graça de Deus” é transformada em permissividade da vontade humana, “difamam autoridades superiores” (ARA) e “dizem mal do que não sabem” (Jd 8,10). Poderíamos multiplicar exemplos de como o homem afirma, a cada passo, sua independência de Deus, até que finalmente desafia abertamente a Deus e ao Cordeiro. O homem pode fazer grandes coisas, mas a Palavra de Deus diz: “Não temasO SENHOR faz grandes coisas” (Jl 2:21 – ARA). Deus confronta o homem em terrível julgamento com base na arrogante presunção de sua língua, bem como na voluntariosa audácia de seus atos.

Pronto para ouvir, tardio para falar 

Não é da “língua para falar” que os homens precisam, mas do “ouvido para ouvir”, e nunca a língua será usada corretamente para a glória de Deus até que haja o ouvido para ouvir. “Todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar” (Tg 1:19). Os homens inverteram a ordem divina e ambicionaram a prontidão de fala, embora o ouvido seja surdo para ouvir. Todos querem falar; poucos têm paciência para ouvir. O ato judicial mais doloroso já infligido por Deus a Israel foi deixá-los com “ouvidos negligentes para ouvir”. Isso alarmou o apóstolo quanto aos hebreus convertidos, para que não houvesse um retorno à perdição, porque eles eram “negligentes para ouvir”. O olho pode estar cego, o ouvido ensurdecido e o coração engordado (ou insensível), mas a boca foi deixada intocada para contar sua verdadeira condição. E quando agradou a Deus abrir os olhos de alguém para ver Sua glória, a confissão foi: “ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios” (Is 6:5).

Se a língua deve ser recuperada para a glória de Deus, precisamos começar pelo ouvido. Esta é a ordem divina. O próprio Jesus fala assim: “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem. O Senhor JEOVÁ Me abriu os ouvidos, e Eu não fui rebelde; não Me retiro para trás” (Is 50:4-5). Os homens ainda desejam a língua dos eruditos; confessam que têm incapacidade de se expressar e desejam poder falar como outros que falam de Cristo e Sua salvação, mas ignoram que o que falta é o ouvido obediente.

O ouvido para ouvir 

Quando Moisés recebeu do Senhor o encargo de libertar Israel do Egito, ele viu todas as dificuldades quanto ao povo recebe-lo e de faraó ouvi-lo. Entre outras dificuldades, ele roga: “Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êx 4:10 – ARA). Moisés ignorava que o necessário era o ouvido pronto. Ao que lhe replicou o Senhor: “Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não Sou Eu, o SENHOR? Vai, pois, agora, e Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êx 4:11-12 – ARA). Se Moisés tivesse a língua dos sábios, isso seria por ter seu ouvido despertado para ouvir como os sábios, de outra forma a doutrina seria a doutrina de Moisés, e não a doutrina de Deus.

Mas a ordem divina é vista mais claramente n’Aquele que é Perfeito: “como ouço, assim julgo, e o Meu juízo é justo, porque não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai, que Me enviou” (Jo 5:30). Novamente, quando os judeus se maravilharam, dizendo: “Como sabe Este letras, não as tendo aprendido? Jesus respondeu e disse-lhes: A minha doutrina não é Minha, mas d’Aquele que Me enviou”. E então Ele acrescenta que o verdadeiro aprendizado e a capacidade de falar só podem ser adquiridos na mesma escola. “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele [tem o ouvido pronto], conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo de Mim mesmo” (Jo 7:15-17 – ARA). O ouvido aberto é o caminho para a língua dos eruditos (ou instruídos).

H. H. Snell (adaptado)

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