Origem: Revista O Cristão – A Boca, os Lábios, a Língua
Engano e Mentira
Este é um dos pecados específicos relacionados com a língua, aquele membro indisciplinado que nenhum homem pode domar. Diversas vezes o engano e a mentira são enfaticamente proibidos e condenados pelo Deus da verdade (Cl 3:9; 1 Pe 3:10; Pv 12:22; 24,28).
Nenhum engano em Cristo
Quando Pedro fala da vida do Senhor Jesus como um exemplo para imitarmos, ele enfatiza que nenhum engano foi encontrado em Sua boca. Aqueles que enganam são, portanto, evidentemente muito diferentes de Cristo. Ao escrevermos para aqueles que professam serem filhos de Deus, ao olhar para alguns exemplos desse terrível pecado na Escritura, tomaremos apenas aqueles em que estiver envolvido um filho de Deus, ou pelo menos um professo.
Mentir por causa do medo
Encontramos em Gênesis 18:15, Sara contando uma mentira descarada por causa do medo. Quantas vezes isso acontece, como resultado de termos feito ou dito algo de que nos envergonhamos. Pode ser uma coisa certa, e assim nos envergonhamos de Cristo; ou pode ser uma coisa errada, e temos vergonha de sermos descobertos. Em ambos os casos, uma mentira escapa de nossos lábios antes que percebamos. A cura radical para isso é não fazer o que nos envergonha; ou, se a coisa estiver certa, não nos envergonhar do que fazemos. Se, no entanto, caímos em um pecado, não vamos adicionar outro a ele, mas no momento em que a mentira estiver prestes a sair de nossos lábios, deixemos que o pensamento, “Deus me ouve”, instantaneamente a detenha. Uma mentira desse tipo para se proteger é talvez a mais desprezível, odiada tanto pelos Cristãos quanto pelos homens do mundo. Tendo assim olhado para isso, vamos resolutamente evitá-la, mesmo nas menores coisas, e nunca emprestar nossa língua a tal engano mesquinho.
Mentir para benefício próprio
O próximo exemplo está em Gênesis 27:19, quando Jacó conta uma mentira descarada para benefício próprio – outra variedade desprezível desse pecado de múltiplas faces. Observe também que Jacó era um filho de Deus, e o resultado é que, nos próximos 30 anos de sua vida, ele sofreu as consequências de seu pecado, pelo qual também não ganhou nada, pois Deus lhe teria dado tudo no devido tempo. Algum de nós foi vítima desse pecado? Apressando-nos a ser ricos, a melhorar nossa posição ou, de alguma forma, correr à frente de Deus, alguma vez, por motivos egoístas, dissemos uma mentira? Se assim for, tenho certeza de que sofremos desde então, e não pode haver verdadeira restauração até que essa mentira seja confessada não apenas a Deus, mas ao homem. Muitas vezes, uma mentira leva a outra, como no caso de Jacó, e uma vez embarcado nesse percurso fatal, quem pode dizer qual será o fim? Nunca nos permitamos mentir para nosso próprio benefício. Pense por um momento que negação horrível tal pecado é de tudo o que Jesus já foi ou fez!
Mentir para cobrir um pecado
Depois de vários exemplos, chegamos a Davi, que era culpado tanto de mentir (1 Sm 21:2) quanto de enganar (2 Sm 11) do mais terrível caráter, pela qual ele procurou encobrir um pecado horrível, tornando-o duas vezes pior. Oh, quantas vezes algum pecado anterior é a causa de um longo curso de engano e mentira. Amados amigos, procuremos, acima de tudo, ser retos com Deus, com nossos semelhantes, com nós mesmos – e se cairmos em pecado, nunca procuremos encobri-lo com outro, ainda pior do que o primeiro. Um caminho de engano prejudica positivamente a alma, destruindo toda a simplicidade, todo o gozo, toda a comunhão. O resultado desses pecados no caso de Davi foi um curso de sofrimentos quase sem paralelo em sua gravidade, vindos das mãos de seus próprios filhos. Não pensemos, portanto, em escapar dos olhos de Deus que tudo contemplam.
Hábito de mentir
Encontramos em 1 Reis 13:18 um profeta de Deus mentindo de maneira muito irresponsável, sem qualquer razão aparente. Encontramos tais caráteres agora, mesmo entre o povo de Deus – alguns que aparentemente não têm consideração pela verdade e acham mais fácil contar uma mentira do que evitá-la. O único remédio quando a doença se desenvolveu é ir direto a Deus e clamar a Ele por força e vigilância diária para superá-la. Lembro-me de um desses casos. Percebi que uma pessoa estava quase sempre em silêncio, e um dia perguntei a causa. Ele disse que tinha sido tão viciado em mentir que agora estava determinado a não falar nada se não pudesse falar a verdade direta; portanto, ele raramente abria seus lábios e sempre considerava bem antes de falar. Pecados profundamente enraizados exigem algumas dessas medidas radicais.
Dois casos solenes de mentira
No Novo Testamento, dois casos solenes, um de mentira e outro de engano, em Pedro e Ananias, se destacam acima dos outros. Pedro, alertado pelo Senhor, mas confiante em sua própria força, contou três mentiras para se salvar, na verdade chegando ao ponto de negar o Salvador enquanto Ele estava mudo diante de Seus acusadores. Tais pecados não são desconhecidos mesmo hoje. Muitos de nós temos vergonha de expor nossas opiniões, e quando de repente uma pergunta inesperada é feita, por medo ou vergonha, somos levados a mentir, para o triunfo de Satanás e a tristeza de nosso Senhor. Vigiemos seriamente contra isso, e se apanhados nessa armadilha, vamos imitar Pedro em seu caminho de restauração. É notável ver que aquele que caiu é tão perfeitamente restaurado que não apenas ser capaz de acusar os Judeus do mesmo pecado (At 3:14), mas também foi escolhido por Deus para ser o executor de Sua justiça no flagrante engano de Ananias. Esse também foi um pecado malicioso – um caminho de engano sendo praticado apenas para dar aos outros uma falsa impressão de sua generosidade e parecer diferente do que ele era. Essa é outra variedade comum do pecado de mentir. Ansiosos por estar bem aos olhos de nossos semelhantes, em vez de aos de Deus, não hesitamos às vezes em descer a práticas enganosas para parecermos diferentes do que somos, e assim receber louvor de homens que não merecemos. Certamente, tal caminho só precisa ser apontado para ser condenado por todo coração correto. Todos esses exemplos foram selecionados da vida de professos filhos de Deus, e eles merecem uma consideração cuidadosa, dando, em cada caso, impressionantes ilustrações de causas comuns de engano e mentira entre os Cristãos. Mentiras podem ser ditas sem usar os lábios; podemos agir de modo a enganar e procurar nos desculpar porque não dissemos o que é falso. Esta é uma desculpa inútil e não estará diante de Deus nem por um momento. Todos esses redutos de mentiras Ele varrerá para longe.
A única maneira de sermos felizes diante d’Ele, e sermos semelhantes a Cristo em alguma medida, é virarmos as costas com firmeza e determinação ao engano em todas as suas formas, por palavra ou ação, e determinarmos, na força de Deus, que procuraremos sinceramente dizer e não fazer nada que não seja absolutamente verdadeiro, salvando-nos assim de colher os frutos amargos de vergonha e tristeza que um dia se seguirão. Que Deus ajude cada um de nós que é tentado por este pecado a vencê-lo em Sua força e a aprender a abominá-lo e odiá-lo porque é tão odioso a Cristo e tão desonroso ao Seu nome.
“O lábio de verdade ficará para sempre, mas a língua mentirosa dura só um momento” (Pv 12:19).