Origem: Revista O Cristão – A Boca, os Lábios, a Língua

A Boca, os Lábios, a Língua

O Livro de Provérbios tem muitas referências à “boca”, “lábios” e “língua”. Os versículos a seguir são retirados da tradução de W. Kelly, juntamente com seus comentários. Esses versículos listam os usos positivos e negativos de cada um.

“A boca dos justos” é uma fonte de vida, mas “a boca do tolo” está perto da destruição. A sabedoria é encontrada “nos lábios” dos inteligentes, e eles alimentam muitos, mas “lábios mentirosos” cobrem o ódio. A língua” dos justos é como prata escolhida, mas não é assim o coração dos ímpios. Ensina-nos sempre, Senhor, como “a boca”, “os lábios” e “a língua” se destacam como um meio predominante para expressar boa vontade!

11 A boca do justo é uma fonte de vida; Mas a boca dos ímpios encobre a violência.

12 O ódio suscita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões.

13 Nos lábios do sábio se acha a sabedoria, mas a vara é para as costas do que não tem entendimento (ou coração).

14 O sábio acumula conhecimento, mas a boca do tolo [está] perto da destruição.

18 O que encobre o ódio tem lábios mentirosos, e o que profere calúnias [é] um tolo (ou vil)

19 Na multidão de palavras não falta transgressão; Mas o que refreia os seus lábios procede sabiamente.

20 A língua do justo é como prata escolhida; O coração do ímpio é de pouco valor.

21 Os lábios dos justos alimentam a muitos; Mas os tolos morrem por falta de entendimento” (Pv 10:11-14, 18-21 WK).

A boca do homem tem uma intenção e caráter muito diferentes do que a do animal, onde ela expressa necessidades animais, inócuas ou prejudiciais aos outros. A boca do homem tem um propósito mais nobre e é única, sendo o meio de expressar sua natureza interior como alguém que está em relacionamento, não apenas no reino da natureza que ele deve governar, mas em sujeição a Deus a Quem ele representa ou, infelizmente, mal representa. Aqui, diz-se que a boca de um homem justo é uma fonte de vida (v. 11), pois essa é a mente divina. A pessoa não é simplesmente vista como de Deus, providencialmente, como Agar viu junto à fonte de água no deserto. Essa é uma questão de ver Aquele que é invisível. A pessoa se torna, assim, uma fonte ativa de bênção para os outros e de bênção para aquela natureza que tem agora a mancha da morte pelo pecado do homem desde Adão. Essa bênção é dada antes que o segundo Homem restaure todas as coisas, como Ele certamente fará no devido tempo. Enquanto isso, a boca do justo, pela graça, é uma fonte de vida. Ele é uma testemunha de Deus em Cristo; e assim como ele crê, assim ele fala. Com os ímpios isso é totalmente diferente. Sua boca não apenas pronuncia a violência da vontade própria e da impiedade, mas faz o que é ainda pior ao encobrir a violência que sente, que, se revelada, pode levar a uma cautela ou restrição salutar e advertência solene.

Os lábios 

Observe novamente no versículo 13, somos informados de que “nos lábios do sábio se acha sabedoria; mas a vara é para as costas do que não tem entendimento” (ou coração). Como isso é verdade e evidente nas nossas experiências! Não é só que todo homem sábio tem sabedoria, mas em seus lábios ela é encontrada. Como o ego é traído ao buscá-la de outra forma! Quem procuraria sabedoria em outro lugar a menos que ele (talvez inconscientemente) quisesse o seu próprio caminho? Por outro lado, aquele que não tem coração, no sentido moral, merece a vara para seu próprio castigo. Se seu olho fosse simples, não lhe faltaria luz.

Em seguida, no versículo 18, ouvimos a advertência ainda mais solene contra a má vontade hipócrita, seu caráter e sua consequência natural, e o julgamento de Deus sobre ela, seja o que for que os homens digam. “O que encobre o ódio tem lábios mentirosos, e o que profere calúnias é um tolo”. O Senhor sonda os rins [as mentes – ARC] e os corações, o que não podemos fazer; portanto, precisamos nos beneficiar de Sua Palavra. Mentiras malévolas, quando reveladas, provam o ódio que estava encoberto, e espalhar calúnias expõe o tolo. O oráculo divino não se rebaixa à polidez enganadora da sociedade, mas fala o que todos os santos podem ouvir, seja por conforto ou por admoestação.

Além disso, no versículo 19, somos advertidos contra falar demais, pois nosso Senhor denunciou as vãs repetições em oração, como os gentios, e longas orações em público como os Judeus faziam. É bom em todos os momentos vigiar e abster-se, exceto no incontestável dever. “Na multidão de palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios procede sabiamente”. Não deixemos, então, de pedir ao Senhor que ponha uma guarda à nossa boca e guarde a porta de nossos lábios, como no Salmo 141:3. Nossa natureza maligna está pronta demais para vigiar a boca do próximo para a vergonha da fé e do amor.

A língua 

A língua dos justos, como nos é dito no versículo 20, é como prata escolhida. Isso é surpreendentemente apropriado e sugestivo. Poderíamos pensar que outros metais poderiam ser adequados para a aplicação. Muitas línguas que não são justas cortam como o aço mais brilhante e afiado. Mas, assim como a prata nas associações do santuário apontava para a graça e o ouro para a justiça divina, também no uso entre os homens a prata é especialmente adaptada para examinar feridas sem corroer ou infeccionar. Assim é a língua dos justos, sempre com graça, temperada com sal. Daí o apelo apostólico aos “espirituais” para que restaurem aquele que foi surpreendido em alguma transgressão; os não espirituais tendem a ser severos, enquanto os carnais seriam descuidados e se ressentiriam do verdadeiro julgamento.

O versículo 21 busca e define a bênção positiva. “Os lábios dos justos alimentam a muitos.” A seguir ouve-se de forma contrária: “mas os tolos morrem por falta de entendimento”. O pão que Jesus tomou e deu por meio de Seus discípulos alimentou a multidão, com mais no final do que no início; e é isso que a alma justa encontra no Senhor para muitos em suas muitas necessidades e de mil maneiras. Eles são chamados a testificar d’Ele, e seus “lábios” “alimentarão muitos”. Assim como certamente fazem os tolos que não creem n’Ele, embora possam ouvir com os ouvidos, “morrem por falta de entendimento”. Sua carne, que o Filho do Homem nos deu para comer, e Seu sangue para beber, é a graça mais preciosa de Sua parte, e a verdade mais necessária da nossa; mas ao ouvir isso, muitos de Seus discípulos voltaram e não andaram mais com Ele. Quão verdadeiro e triste é dizer que “os tolos morrem por falta de entendimento!” Esse é o coração perverso, insensível tanto à sua própria pecaminosidade quanto à bondade de Deus, Aquele que em Cristo desceu a todas as profundezas para salvar os perdidos a todo custo.

A língua dos sábios é saúde 

18 “Há uma língua que balbucia como feridas de uma espada; Mas a língua do sábio [é] saúde.

19 O lábio da verdade se firmará para sempre; Mas a língua mentirosa [é] só por um momento.

20 Engano [está] no coração dos que maquinam o mal; Mas para os conselheiros da paz [é] gozo.

21 Nenhum mal sucederá aos justos; Mas os ímpios se encherão de males.

22 Os lábios mentirosos [são] uma abominação para Jeová; Mas aqueles que agem verdadeiramente são o Seu deleite” (Pv 12:18-22 WK).

A fala do tagarela ou do imprudente é comparada mais apropriadamente às feridas de uma espada; isso causa feridas e dor; flui da leviandade, se não da malícia, e não tem como objetivo o bem. A língua do sábio leva convicção a todo coração reto. Ela pode ferir, se o dever exigir isso, com justiça, mas é uma gentileza; essas feridas cicatrizam, pois provam e removem aquilo que só prejudica. A língua do sábio é saúde.

O lábio da verdade pode ser resistido e detestado por aqueles que têm motivos para temê-lo, mas ele permanecerá para sempre. Não há necessidade, portanto, de gastar tempo em defendê-lo ou expor aqueles que são seus adversários. Se alguém esperar em silêncio, mais aparecerá a sua realidade e importância; enquanto uma língua mentirosa é apenas por um momento, exceto entre aqueles que a amam; e onde será o final disso?

O fruto da boca 

20 “O ventre do homem se satisfaz com o fruto de sua boca; Com o aumento dos seus lábios ele se satisfaz.

21 A morte e a vida [estão] no poder da língua; E os que a amam comerão do seu fruto” (Pv 18:20-21 WK).

“O ventre” parece ser empregado aqui em sua dupla aplicação para as afeições mais íntimas, sejam elas boas ou más. A boca revela o coração, como o Senhor nos diz tanto do homem bom quanto do ímpio. Da abundância do coração, fala a boca. Aqui está o outro lado: o interior de um homem está satisfeito com o fruto de sua boca, com o aumento de seus lábios. Que peso, então, tem cada palavra nossa, se trouxermos Deus na questão! Mas se isso satisfaz o homem, o filho de Deus não pode se satisfazer com nada menos do que a Palavra e a graça de Deus. Por isso, também se diz que a morte e a vida estão no poder da língua, e assim as questões relativas ao bem e ao mal. Toda a Escritura declara isso; toda a experiência confirma e ilustra isso.

23 “Quem guarda sua boca e sua língua guarda sua alma dos problemas” (Pv 21:23 WK).

Entretanto, por mais valiosa que seja a habilidade de falar bem, é aconselhável poupar tanto a língua quanto a boca. O momento, o tom, a maneira e a finalidade devem ser considerados, para que uma intenção justa não apenas falhe, mas também provoque. Assim como a boca tem que ter cuidado para não absorver o que não é correto e bom, assim a língua precisa ter cuidado para não deixar escapar o que não é edificante. Manter a boca e a língua como na presença de Deus é manter a alma longe de problemas sem fim.

Proverbs W. Kelly (adaptado)

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