Origem: Revista O Cristão – Pastores
As Três Portas
Para entender o discurso de nosso Senhor em João 10, devemos considerar as circunstâncias em que foi proferido e também distinguir entre as três portas mencionadas.
No capítulo anterior, o Senhor deu visão a um homem que nasceu cego. Quando o Senhor ouviu que o homem havia sido expulso da sinagoga, Ele o encontrou e Se revelou a ele como o Filho de Deus. Ele era evidentemente uma das ovelhas de Cristo e ouviu Sua voz. Foi nessas circunstâncias que nosso Senhor proferiu este discurso penetrante do Pastor e das ovelhas.
A porta para o aprisco
A primeira porta, então, para a qual nosso Senhor chama a atenção é A Porta para o Aprisco. Os governantes e mestres farisaicos estavam no aprisco – a nação judaica – mas não haviam entrado nele pelo caminho divinamente designado. Em vez de entrar pela porta, eles subiram ao aprisco de alguma outra maneira. Eles não eram credenciados por Deus.
Por esta porta, nosso Senhor entrou, e o porteiro abriu para Ele, porque Ele trouxe todas as credenciais pertencentes ao Pastor de Israel, o verdadeiro Pastor das ovelhas. Os profetas há muito tempo haviam marcado Suas características. Moisés escreveu sobre Ele como “O Pastor, a Pedra de Israel” (Gn 49:24), e disse ao povo: “O Senhor, vosso Deus, vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a Ele ouvireis” (At 7:37). Além disso, somos informados de que Suas “origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5:2). Homens sábios anunciaram Sua vinda ao mundo, como Sua estrela nos céus os havia guiado. O anjo do Senhor visitou os pastores e anunciou as boas novas, dizendo: “na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:11). Mas cabia a João anunciá-Lo publicamente como o Filho de Deus e o Cordeiro de Deus. Assim, o Homem Cristo Jesus trouxe todas as provas com Ele de que Ele era o Pastor de Jeová, e para Ele o porteiro abriu. Além disso, Ele chamou Suas próprias ovelhas pelo nome; seja Mateus, Maria Madalena, uma adúltera samaritana ou pescadores diligentes, aqueles a quem Ele chamou ouviram Sua voz e O seguiram. Ele amava Suas ovelhas e, no mais puro amor, deu voluntariamente Sua vida por elas, pois Seu propósito era reuni-las em um só rebanho (Jo 10:16). Assim, vemos claramente que Ele entrou no aprisco pela porta e que manifestou de todas as maneiras que Ele era “o Pastor das ovelhas”.
A porta das ovelhas
A segunda porta mencionada neste belo discurso é A Porta das Ovelhas – O próprio Cristo, a porta pela qual as ovelhas seriam levadas para fora do judaísmo, pois o Pastor das ovelhas não apenas “chama Suas próprias ovelhas pelo nome”, mas “as traz para fora” (v. 3).
É muito importante ver isso claramente. É-nos dito que Jesus veio para os Seus (Sua nação amada), e os Seus não O receberam, pois eles se afastaram terrivelmente de Deus. Embora eles defendessem a observância exterior da lei, eles se esqueceram tanto de Deus que isso se tornou uma mera formalidade. A nação havia sido entregue aos gentios, no desagrado governamental de Deus, por causa de seus pecados. Portanto, não encontramos nosso Senhor restabelecendo o judaísmo; em vez disso, Ele as conduziu Consigo, individualmente, para fora das coisas corruptas. Quando conhecem a Cristo e foram associados a Ele, e sabendo que Ele “tira para fora as Suas ovelhas” e “vai adiante delas”, foram constrangidos a segui-Lo. Cristo não é apenas o Bom Pastor, mas “a Porta das ovelhas” – a Porta pela qual as ovelhas foram tiradas de um judaísmo corrompido, por meio de Seu chamado para Si.
No início da história de Israel, quando o nome de Jeová foi desonrado pelo pecado do bezerro de ouro, descobrimos que “tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial… e aconteceu que todo aquele que buscava o SENHOR saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial” (Êx 33:7). Assim, vemos que Moisés conduziu os fiéis PARA FORA.
Novamente vemos nas epístolas que nos últimos dias, quando a profissão do Cristianismo estaria associada a todos os tipos de mal e “tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”, o caminho dos fiéis está claramente marcado: “Destes afasta-te” (2 Tm 3:1-5). Em outros lugares, os fiéis são ordenados a sair “pois, a Ele (a Cristo) fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:13). Na última epístola que Paulo escreveu, ele contempla a terrível corrupção e o afastamento da verdade, e apela aos santos por fidelidade individual ao Senhor. Ele os exorta a se separarem do mal. “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, [se alguém tiver se purificado a si mesmo desses (vasos), em se separando a si mesmo deles – JND] será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Tm 2:21). Essas e outras passagens mostram que, quando o mal e a corrupção entrarem, os fiéis devem se purificar disso. Nisso, o Senhor é “a Porta das ovelhas”, bem como seu Líder. Portanto, ninguém pode estar em uma posição correta aqui sem ter comunhão pessoal com o Senhor – a Porta das ovelhas – e estar sujeito à orientação de Sua Palavra e Espírito. Dificuldades e incertezas logo são removidas quando as almas realmente se colocam diante do Senhor e estão dispostas a serem guiadas por Ele. O Senhor é o Líder, a Porta e o Objeto para aqueles que vão a Ele, e podemos ter certeza de que Sua presença e bênção especiais estarão fora daquilo que os homens tentam credenciar com o nome de Cristo, mas que é corrupto e mau. Assim, vemos que Cristo sendo a Porta das ovelhas para tirar os Seus do judaísmo corrompido está de acordo com um princípio divino de ação, que é igualmente obrigatório nestes dias de Cristianismo corrompido. O caminho dos fiéis agora é certamente sair daquilo que desonra Seu nome, e encontrar ali Sua presença e Sua bênção. Felizes, de fato, são aqueles que sabem o que é estar diante do Senhor, o que é ser conduzido por Ele e estar fora com Ele, separados de tudo o que desonra Seu nome.
A porta da salvação
A terceira porta mencionada por nosso Senhor neste discurso é A Porta da Salvação. Ele disse: “Eu Sou a Porta; se alguém entrar por Mim, será salvo” (Jo 10:9 – ARA). Essa Porta é Cristo. Assim, o Senhor Se apresentou como o único Caminho da salvação, e a porta está totalmente aberta agora, não apenas para os judeus, mas também para os gentios. Observe, Ele é “a Porta”; não há outra. Não é uma passagem longa, sombria e tortuosa, mas uma porta, e sabemos que para entrar em uma porta, é necessário apenas um passo. Uma pessoa que está do lado de fora da porta dá um passo, e está dentro; ela entrou. E assim, a alma que agora crê no testemunho de Deus da verdade da salvação somente por Cristo, entra imediatamente na presença de Deus por fé, por meio de Jesus, o Salvador. A salvação, então, é somente por Cristo. Ninguém que o deseje está excluído dessa maravilhosa bênção, pois está aberta a qualquer “alguém”. “Se alguém entrar por Mim, será salvo”. Tendo recebido Jesus como a Porta e tendo entrado por fé, ele tem direito à salvação – salvação dos pecados, da condenação, da ira, do inferno; ele é salvo com uma salvação eterna. Quando alguém conhece assim a bem-aventurança de ter entrado pela “Porta”, aceitando o Senhor em Sua Palavra, ele é um filho de Deus por fé em Cristo Jesus. Ele conhece o Bom Pastor, tendo ouvido Sua voz e estando disposto a ser guiado por Ele, ele é realmente abençoado.
Por fim, observe que o tal “entrará, e sairá, e achará pastagens”. Ele pode entrar na presença de Deus dentro do véu e encontrar força e conforto lá, onde está o Bom, Grande e Sumo Pastor. Ele também pode sair no serviço do Senhor e encontrar Sua presença e bênção ao procurar alimentar e refrescar Suas ovelhas e cordeiros, de acordo com aquela palavra: “e o que regar também será regado” (Pv 11:25).