Origem: Revista O Cristão – Edificando Sabiamente
Noé Construindo a Arca e Noé Vivendo na Arca
Duplo testemunho Cristão
Nos capítulos 6 e 7 de Gênesis, encontramos Noé em duas posições. No capítulo 6 ele estava construindo a arca, e no capítulo 7 ele estava vivendo na arca.
Na primeira posição, estava cercado por um mundo hostil e incrédulo, para o qual ele era um pregoeiro da justiça (2 Pe 2:5), enquanto em sua própria caminhada pessoal, que também era um testemunho de que o juízo se aproximava, ele estava construindo uma arca. Todas as suas expectativas e esperanças estavam centradas naquela arca. O mundo havia se corrompido, e o fim de toda a carne aos olhos de Deus havia chegado. Noé esperou pelo juízo do mundo. A iniquidade do mundo há muito tempo havia chegado ao seu ponto mais alto, e nada restava senão o mais catastrófico e espantoso juízo, quando chegou o seu momento nos conselhos de Deus.
Na segunda posição, ele foi colocado na arca que foi fechada pela própria mão do Senhor (Gn 7:16) e estava assentado na arca que flutuava, com segurança, sobre as águas do juízo. Durante um ano inteiro ele estava seguramente flutuando sobre as vagas e as ondas do juízo. Por estar coberta de betume, por dentro e por fora, nem uma gota das poderosas águas chegou a ele naquele lugar seguro. A ruína e a morte estavam ao redor e debaixo dele; o único lugar onde havia vida e sustento da vida estava na arca.
Construindo a arca
Tudo isso fala ao Cristão, com a diferença de que ele está, em figura, em ambas as posições ao mesmo tempo; o testemunho do Cristão é defeituoso quando ele não testemunha isso. Em Filipenses 3, o Cristão está construindo a arca e, assim, condenando o mundo que caminha para o juízo; Cristo é seu único Objeto e esperança. Tudo o que não serve ao seu propósito na “uma coisa” que o ocupa é “escória e esterco”. E tudo é deixado de lado como inútil, pois tem cheiro da vida humana e do orgulho, tudo o que está prestes a ser submergido nas poderosas águas do juízo, ou é deixado de lado como um obstáculo ao testemunho do obreiro Cristão, perante um mundo que está rejeitando Deus em Cristo. O mundo ao redor é hostil e incrédulo – falando de progresso e melhoria, adorno e beleza; confiante em seus próprios poderes para reparar a distância entre ele e Deus. Remover a sentença do juízo sob a qual ele se encontra, arrancando seus “espinhos e cardos” e “comprando e vendendo, plantando e edificando”, é ignorar a enchente do juízo que fluiu sobre ele na cruz.
Vivendo na arca
A arca é o objeto do Cristão; “conhecê-Lo (Cristo)” é o seu objetivo. A justiça humana é posta de lado como inútil, a confiança em si mesmo ignorada, “as coisas” – “o que para mim” – parecem ser ganho são contadas como perda para a arca. “Todas as coisas” têm seu próprio valor, mas são como “escória e esterco” para a alma que está construindo uma arca e, por seu andar, condenando aqueles “cujo fim é a perdição, cujo deus é o ventre… que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3:19 – ACF). Todas as expectativas, as esperanças e as perspectivas do Cristão estão centradas em Cristo e no desejo de conhecê-Lo em glória e no poder de Sua ressurreição, que opera nele para levá-lo até lá. Ele deseja comunhão com os Seus sofrimentos, e conformidade com a Sua morte, seja por qualquer meio que o faça alcançar a ressurreição dentre os mortos. Comunhão de Seus sofrimentos e conformidade com Sua morte são cortejados e desejados, servindo como ajuda para construir a arca, por assim dizer, onde todas as suas expectativas estão centradas. Tudo o que não pode ser trazido para a arca é posto de lado como um peso; tudo o que pode ser trazido é cultivado e valorizado.
Mas enquanto o Cristão está construindo assim uma arca, ele também está “fechado dentro” em Cristo, (como Noé estava na arca) e, por Sua ressurreição e por aquele poder que operou n’Ele, o Cristão está ressuscitado juntamente com Cristo, e assentado nos lugares celestiais n’Ele (Ef 2). Enquanto o mundo está envolto nas águas de um juízo mais poderoso do que houve no dilúvio, o Cristão está no lugar seguro. Nem uma gota de suas águas pode alcançá-lo durante todo o período, até que o juízo seja retirado. Ele só tem que flutuar sobre tudo isso, desfrutando da comida e da vida que está na arca. Ele possui “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1). Ele está acima de toda a ruína e morte aqui embaixo, em Cristo, e ele acha isso um ganho infinito.
Viver para Cristo
Você acha que Noé perdeu alguma coisa ao ser fechado na arca? Acha que ele estava arrependido de ter desistido de todos os seus bens terrenais? Eles eram de pouco valor quando foram afundados sob as águas da morte, enquanto aquilo que era sua expectativa e esperança andava triunfante sobre as ondas! Nem uma única bênção viva lhe faltava na arca; nem uma única coisa nutritiva de “toda a comida que se come” estava ausente. As pessoas falam como se tivessem uma grande perda se fossem assim fechadas dentro em Cristo. Todo belo objeto vivo foi fechado dentro da arca com Noé, enquanto toda coisa mortífera foi fechada fora no dilúvio das águas. As pessoas têm medo de abandonar as coisas que lhes impedem de desfrutar de Cristo, temendo que, afinal, elas não fossem recompensadas cem vezes mais se o fizessem. Elas falam do juízo que paira sobre o mundo como uma nuvem de trovão e, ao mesmo tempo, são muitas vezes como Ló, que disse coisas verdadeiras, mas que “foi tido, porém, por zombador aos olhos de seus genros” (Gn 19:14). Talvez você veja pessoas assim pregando e ensinando, e ao mesmo tempo no mundo ministrando do mundo ao estado moral do mundo, por meio de sua posição, status ou outras coisas. Que interesse tem tais pessoas para falar sobre juízo, assim como Ló, e ao mesmo tempo estar como ele, assentados à porta deste mundo?
Podemos dizer honestamente: “Eu quero estar fechado em Cristo. Eu quero me alimentar de todo o sustento e vida que há ali. Eu quero não apenas construir a arca, mas estar na arca – fechado n’Ele, e n’Ele percebendo que tudo o que não está n’Ele tem cheiro de morte e juízo”? Se o Cristão tem qualquer outro objetivo diante de sua alma que não seja o de buscar ganhar a Cristo, ele não está em seu verdadeiro lugar; ele não está construindo a arca e condenando o mundo. Por outro lado, se ele não está mostrando claramente que aceitou o fato de que o fim de toda a carne (e sua própria carne também) chegou aos olhos de Deus e que ele está fechado em Cristo, andando triunfalmente sobre o juízo pelo qual o mundo está envolto, ele não está testemunhando e andando no poder do que ele professa. Seu testemunho é falho e comparativamente inútil.
Que o Senhor dê essa condição de alma ao Seu povo muito amado, e que eles, por outro lado, desejem tal condição de alma.
F. G. Patterson, Words of Truth, Vol. 2 (adaptado)