Origem: Revista O Cristão – Ressurreição

Vitória Sobre a Morte

“Pois eles ainda não conheciam a Escritura que dizia que Ele devia ressuscitar dentre os mortos” (Jo 20:9 – JND).

Ressurreição dentre os mortos é a vitória sobre a morte e a sepultura. É um mistério o qual, por muitas vezes, foi achado estar além dos pensamentos dos discípulos. Ao desceram do monte após a transfiguração e depois, quando estavam juntos a caminho de Jerusalém, eles revelam como eram inaptos a respeito desse mistério e mostram que seus pensamentos nunca caminharam sob a luz dele. E, no entanto, isso foi relatado na Escritura. O sinal de Jonas, o profeta, entre outras testemunhas, havia mostrado isso, pois, de acordo com esse sinal, o Filho do Homem estaria somente três dias no coração da Terra. De forma geral, a ressurreição era entendida, mas essa forma especial dela não era.

Uma ressurreição para a perdição ou para a vitória? 

No entanto, a ressurreição em seu caráter comum, ou a ressurreição do último dia, é apenas um reaparecimento para julgamento. Não é vitória, como foi a ressurreição do Senhor e como está destinada a ser a ressurreição dos justos. É antes a derrota, ou a confirmação da condenação dos ímpios. E essas verdades ou mistérios (quando assim corretamente colocados em seus lugares) nos fazem ver que a ação de uma alma tão amorosa como Maria Madalena nesse capítulo é, em certo sentido, algo desprovido, enquanto a unção que Maria de Betânia fez, em João 12, ao contrário, torna-se, aos nossos olhos, algo muito abençoado. Havia uma inteligência divina na atitude de Maria, em Betânia. Aquela unção nos diz que ela conhecia o segredo da vitória de seu Senhor sobre a morte. A quebra do vaso de nardo puro era sua maneira de celebrar essa vitória antes que ela fosse realizada, assim como a inscrição na cruz era a maneira de Deus antecipar e celebrar a mesma vitória.

Preeminência e poder de Cristo 

Os santos compartilharão esse triunfo com o seu Senhor, mas ainda assim a conquista e o dia pertencem a Ele. Ele é as Primícias da colheita, o Primogênito dentre os mortos. Ele deve ter a preeminência nisso, como em tudo. E essa preeminência é impressionante e finamente vista, como em uma figura, quando olhamos para o sepulcro vazio neste capítulo.

Os lençóis que tinham sido enrolados sobre o corpo do Senhor estavam lá, e havia também o lenço que tinha estado sobre Sua cabeça. Tudo o que O predia foi afrouxado, nada que O amarrava permaneceu. Sua ressurreição havia feito isso. Não foi assim quando Lázaro ressuscitou, pois não havia vitória sobre a morte no corpo de Lázaro. Mas aqui, no horto do sepulcro, havia a ressurreição de Alguém que não podia ser retido pela morte (At 2:24). As faixas mortuárias de Lázaro foram desatadas, mas aqui, a ressurreição as soltou.

E mais do que isso, não há qualquer sinal de esforço aqui. Os lençóis estavam deixados de lado em ordem. Não houve distúrbio. A vitória, evidentemente, havia sido obtida sem luta. Na verdade, ela já havia sido alcançada no Calvário, quando o Fiador entregou o espírito. A vitória agora deve ser declarada em vez de ser conquistada. Ainda assim, no entanto, em toda essa maravilhosa cena, podemos encontrar o Senhor no lugar de preeminência, pois, como lemos, o lenço que estava sobre Sua cabeça é visto estando num lugar à parte. Todos os lençóis estavam lá. O corpo foi libertado da cabeça aos pés. Mas ainda assim, o lenço que estava sobre a cabeça encontra-se num lugar à parte. Assim, isso é preeminente e perceptível, mesmo em meio a outras glórias, outros despojos da guerra gloriosa, e testemunha a completa e pacífica vitória. E assim, seguindo esse padrão, acontece o mesmo com o mistério. As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, o corpo de Cristo. Ela compartilha da vida do Filho de Deus, e as portas do Hades não podem prevalecer. Mas toda essa virtude que pertence à Igreja vem de ela ter essa vida. Tudo é encontrado nessa vida e só aí. Mas quanto a Ele, não era possível que Ele fosse retido pela morte. O corpo pode participar do triunfo, e assim será, mas a vida e o poder, que asseguram e vencem o dia sobre a morte, são todos d’Ele.

Contemplado por anjos 

Os anjos aprendem suas lições pelo que veem, como lemos: “visto dos anjos”, e novamente: “para as quais coisas os anjos desejam bem atentar”. E junto com isso, quando olham e aprendem a lição, não há nenhum obstáculo moral neles. Esse é o lugar deles na escola de Deus. Eles não estão pessoalmente interessados na lição, como nós; eles são meros espectadores. Mas então, o poder de visão que eles têm é perfeito – não obscurecido por qualquer depravação moral.

De acordo com isso, eles são vistos neste capítulo. Eles aprendem o mistério da ressurreição – ressurreição dentre os mortos ou vida em vitória – por vista, mas eles aprendem de uma só vez. Eles não aprendem a lição como nós. Aprendem isso como espectadores admirados; nós aprendemos por meio de nossas necessidades e misericórdias. Eles podem aprender mais rapidamente do que nós, mas não podem aprender segundo um método tão precioso e tão cheio de gratidão Àquele que é o mesmo Mestre.

Maria no sepulcro 

Ainda temos neste belo capítulo mais destaques. Os anjos aprendem a ressurreição do Senhor ao verem o sepulcro vazio. Eles se assentam lá, e contemplam, se maravilham e adoram, conhecendo o mistério de uma só vez e sem esforço, ao verem o lugar onde o Senhor tinha estado, mas a pobre Maria Madalena era tardia em ouvir, e muitos de nós somos ainda mais, pois Satanás e a natureza têm um poder ofuscante em nós, mas Satanás e a natureza não se interpõem no caminho dos anjos. Maria tem que aprender a lição com uma repreensão, mas ainda assim ela aprende isso como alguém que estava pessoalmente preocupada com isso, e isso provoca nela um interesse por Aquele que estava ensinando a lição, para além daquilo que os anjos poderiam ser despertados. Ela era como alguém num naufrágio a quem um gracioso Libertador estava resgatando; os anjos eram apenas como a multidão admiradora na praia. O divino Libertador pode obter deles o Seu louvor, mas ela é o Seu prêmio.

Essa é a diferença – uma diferença de não pequeno valor na avaliação da graça, nos cálculos de um coração “que se deleita na misericórdia” e encontra maior gozo na ovelha recuperada do que nas noventa e nove que não se desgarraram.

E o Senhor, satisfeito com tais discípulos de Sua graça, é visto neste capítulo como paciente e gracioso em ensinar essa lição do sepulcro vazio, ou o mistério da ressurreição dentre os mortos, seja para os discípulos de coração tardio, para Maria no horto, para a companhia reunida dentro de portas fechadas em Jerusalém, ou para o alheio Tomé oito dias depois. E Ele ensina a eles de modo a encher cada espírito com a lição, e isso significa aprender mistérios de fato, ou com um testemunho divino. Madalena O segue em espírito para o céu; os discípulos, recebendo Sua vida ressuscitada, saem para publicá-la, e Tomé O adora em Suas glórias, na convicção e satisfação de Seu coração iluminado.

Assim, seguindo esses caminhos, vemos as diferenças. Diante de nós estão Maria de Betânia, os discípulos deste capítulo e os anjos.

Maria de Betânia 

Maria de Betânia já tinha conhecido esse mistério da vida em vitória, ou ressurreição dentre os mortos, e em espírito havia praticado ou vivido essa lição. Ela ungiu o Senhor para a Pascoa, precisamente quando estava a caminho de Seu sepultamento, antecipando Sua ressurreição, ou movendo O diante de Deus como o molho (ou feixe – ARA) das primícias (Lv 23:10-11). Ela olhou para Ele como se já estivesse do outro lado da morte e da sepultura e O ungiu por Suas glórias vivas e eternas. Ela falava da vida no meio da morte, da vitória do Filho de Deus, antes que Ele encontrasse o inimigo para lutar a batalha. Com seu vaso de nardo puro ou seu palácio de marfim, ela havia saudado ou alegrado o consagrado Rei e Sacerdote de Deus. Os discípulos aprendem isso com lentidão de coração, alguns mais, outros menos, sob o paciente ensinamento de seu divino Mestre. Mas eles aprendem como precisando disso para si mesmos.

Assim é com essas diferentes classes na escola de Deus. Mas posso acrescentar como sendo a moral de tudo isso, que é melhor viver nossas lições do que meramente aprendê-las; melhor como Maria de Betânia, praticá-las no poder e na experiência de nossa alma do que estar colhendo-as repetidas vezes a partir das palavras de nosso divino Mestre. Todavia, assim é Sua graça e o gozo que Ele encontra em Sua própria misericórdia. E, em Sua avaliação, é melhor que aprendamos Suas lições como pecadores do que como anjos – melhor aprender a maravilha do sepulcro vazio, o mistério da vida em vitória ou ressurreição dentre os mortos por meio de nossas próprias necessidades e misericórdias do que como meros espectadores.

Os anjos podem aprender, de forma segura, as grandes coisas de Cristo olhando para o que está acontecendo, como vimos neste capítulo. Eles não têm escola de consciência para ir, nenhuma necessidade pessoal, em meio a qual possam descobrir e reunir as misericórdias de Deus. Mas, de forma alguma podemos aprender as mesmas lições (pelo menos, na avaliação de Deus), se não as aprendermos na consciência, por meio de nossas necessidades e nossas misericórdias, não como anjos espectadores, mas como pecadores interessados – como aqueles que sabem que não podem enfrentar a eternidade a não ser a partir das lições que aprendem no sepulcro vazio de Jesus.

A resposta à fé desde o princípio 

A verdade que foi desde o princípio é aprendida ali, e essa é a vitória do Filho de Deus por nós pecadores. Por causa disso, o sangue no altar de Noé no passado e o ainda mais distante cordeiro de Abel agiram para com Deus do modo como fizeram. Por causa disso, a verga da porta aspergida abrigou Israel no lugar da morte e no dia do julgamento. E por causa disso, no decorrer de todas as gerações, a fé dos pecadores encontrou paz com Deus. A ressurreição dentre os mortos nos diz que a Semente da mulher, embora ferida no calcanhar, esmagou a cabeça do inimigo. Fala do mistério da vida em vitória, da vida recuperada para os pecadores, da presença de Deus restaurada para nós em paz e liberdade.

Nada além da ressurreição dentre os mortos poderia ter feito isso. Se Cristo não tivesse ressuscitado, ainda estaríamos em nossos pecados. A ressurreição no último dia, novamente eu digo, é derrota. Veja isso em Apocalipse 20. Isso não é digno de ser chamado de ressurreição. É o culpado levado a julgamento. Mas uma ressurreição como a de Cristo é vitória, e assim é a ressurreição de 1 Coríntios 15. É antes do último dia, na “vinda de Cristo”, e é uma ressurreição dentre os mortos, como a d’Ele foi, pois ela é somente dos “que são Seus”.

Que possamos esperar por isso, queridos irmãos!

Present Testimony, vol. 6 (adaptado)

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