Origem: Revista O Cristão – As Mãos

Trabalhando com Suas Mãos

Há uma exortação em Efésios que surpreende um pouco por sua própria obviedade: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Ef 4:28). Devemos lembrar de que as primeiras assembleias eram formadas por pessoas recém-saídas do paganismo, com todas as suas abominações, e consistiam em parte de escravos, uma classe oprimida e degradada, entre os quais o furto era praticado sem escrúpulos ou vergonha. A exortação também vai além do roubo declarado e, em princípio, condena toda a obtenção de vantagem injusta, como até mesmo a moralidade “menos restrita” de nossos dias, muitas vezes, condena, embora de maneira mais fraca. Mas o interesse da exortação reside mais no motivo do que no curso da conduta imposta. Se os crentes estivessem debaixo da lei, um simples apelo ao oitavo dos dez mandamentos teria sido suficiente. Mas, não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça. Então, qual é a obrigação imposta por essa posição? Não apenas para fazer “a justiça da lei”, mas muito mais. Cristo parou de fazer a justiça da lei? Pelo contrário, Ele foi muito além disso. A lei exige que amemos o próximo como a nós mesmos, mas não exige que entreguemos a vida pelo próximo. Isso, no entanto, foi o que Cristo fez, e se a vida de Cristo está em nós, “devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3:16). Tão extremo sacrifício pode de fato ser raramente exigido, mas esse espírito pode sempre ser mostrado. Cristo não só não prejudicou o homem, mas “sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis” (2 Co 8:9). Toda a Sua vida foi de amor abnegado. Quão lindamente isso reaparece em Paulo: “de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” (2 Co 12:15). O Cristão deve andar no mesmo caminho, pois tem a mesma vida, não apenas abstendo-se de furtar, ou de obter uma vantagem injusta, mas trabalhando para ter meios de repartir “com o que tiver necessidade”.

Isto o Espírito Santo, por uma das mais simples exortações da Escritura – uma exortação que, por causa de seu caráter comum, pode parecer dificilmente digna de um lugar em tal epístola – revela uma das diferenças mais marcantes entre lei e graça. A lei simplesmente proíbe o mal; a graça se deleita em fazer o bem. A lei é o que Deus exige do homem; a graça é o que Deus é em Si mesmo. Quão triste, então, é vermos os crentes, que foram trazidos à liberdade e associados a Cristo, voltando para a classe inferior de motivos e princípios e colocando-se novamente em cativeiro sob um sistema para o qual são declarados “mortos pelo corpo de Cristo”. Toda a “justiça da lei” brilhou nos caminhos de Cristo, e brilhará nos caminhos de quem permanece em Cristo. Mas quão infinitamente além da lei é a graça revelada em cada ação daquela vida perfeita! E isso é o que aparecerá, é claro, em um grau muito inferior, mas ainda como um fruto real de permanecermos n’Ele, e andando no poder da nova vida na qual somos vivificados junto com Ele.

Christian Friend, vol. 6

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