Origem: Livro: A Primeira e Segunda Epístolas de PEDRO

SOFRENDO NA CARNE – Capítulo 4:1-11

Vs. 1-2 – Pedro prossegue com outro aspecto dos sofrimentos dos santos – sofrendo na carne. Ele diz: “ORA, pois, já que Cristo padeceu por nós na (em [a] – JND) carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na (em [a] – JND) carne já cessou do [terminou com o – JND] pecado; para que, no tempo que vos resta na (em [a] – JND) carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus”. Como já observamos, no curso desta epístola, Pedro traz os sofrimentos de Cristo como um modelo ou como motivação para encorajar os santos a viver uma vida piedosa. Neste quarto capítulo, Seus sofrimentos são colocados diante de nós como modelo. Esta passagem não poderia estar se referindo aos sofrimentos expiatórios de Cristo (como no capítulo 3:18), porque somos exortados a imitá-Lo, e nunca nos seria pedido para imitá-lo e fazermos expiação – somente Ele poderia realizar essa grande obra.

O argumento de Pedro aqui é que, uma vez que Cristo “padeceu” ao fazer a vontade de Deus, devemos estar preparados para fazê-la também. Precisamos ter “este mesmo pensamento” que Ele tinha. Quanto à Sua disposição, Ele preferia sofrer a pecar; preferia morrer a desobedecer. Mas no que diz respeito à Sua santa constituição, Ele não podia pecar, porque não tinha a natureza pecaminosa caída (a carne). Portanto, nunca houve n’Ele conflito entre pecar ou não pecar. A tradução de J. N. Darby coloca o artigo “a” antes de “carne” entre colchetes, indicando que a palavra não está no texto grego. Por isso, Cristo sofreu em carne, mas não na carne – isto é, na natureza pecaminosa caída.

Esta passagem não ensina que o Senhor teve desejos pecaminosos, mas os venceu. Tal doutrina é blasfema. Para uma pessoa pecar, ela deve ter uma natureza pecaminosa. A natureza pecaminosa é a árvore má que produz seus frutos na forma de más obras – pecados. Mas essa árvore má não estava no Senhor. Ele não tinha uma natureza pecaminosa; Ele tinha uma natureza humana santa que não podia pecar (Lc 1:35; Jo 14:30).

Fazendo a Vontade de Deus 

“A vontade de Deus” deve ser a fonte da vida moral de todo Cristão. Fazer Sua vontade deve ser um compromisso dentro de nosso coração e mente. O Senhor é nosso grande Exemplo aqui. Ele disse: “Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:7). Ele também disse: “Porque Eu desci do céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade daqu’Ele que Me enviou” (Jo 6:38). Mas fazer a vontade de Deus custou muito ao Senhor. Em relação ao cálice do juízo, que desejou que passasse d’Ele para não o beber, Ele submeteu Sua vontade a Deus, e disse: “todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres” (Mt 26:39). Ele tomou o cálice da mão do Pai e em perfeita obediência foi até a cruz e o bebeu (Jo 18:11) – e somos gratos por Ele ter feito isso, pois se não o tivesse feito, Deus não poderia nos salvar!

Para nós, o sofrimento “na carne” envolve a recusa das concupiscências e seduções do pecado, e isso resulta no deixar de pecar. Se satisfazemos a carne, não sofremos, mas pecamos, e isso desagrada ao Senhor e nos dá uma má consciência. Portanto, esse tipo de sofrimento é diferente dos sofrimentos até agora tratados na epístola. Sofrer por causa da consciência (cap. 2:19) e sofrer por causa da justiça (cap. 3:14), são sofrimentos que vêm sobre nós pela hostilidade de pessoas más e ofensivas – mas aqui o sofrimento é auto infligido, por assim dizer. Escolhemos fazer a vontade de Deus e isso envolve recusar os desejos pecaminosos da carne; como resultado, sofremos. Isso não deve significar que o sofrimento na carne é um estilo de vida monástico, no qual não há gozo. Pelo contrário, andar no caminho de fé no serviço do Senhor (no qual enfrentamos sofrimento de fora e de dentro) é a vida mais feliz que uma pessoa pode ter. Isso pode parecer contraditório, mas é um fato.

O versículo 2 mostra que Deus tem uma razão muito boa para que deixemos de pecar – é para que possamos ser usados no serviço do Mestre. Sofrer na carne nos deixa livres para fazermos a vontade de Deus. Assim, o Cristão deve gastar “o tempo que nos resta”, não mais perseguindo prazeres pecaminosos que são apenas por um tempo (Hb 11:25), mas fazendo “a vontade de Deus”.

O Tempo que nos Resta 

Vs. 3-4 – Em seus dias de não convertidos, esses judeus não viveram de maneira diferente dos gentios, no que diz respeito à satisfação dos desejos naturais da carne. Pedro diz: “Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias; E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução [corrupção – JND], blasfemando [falando mal – JND] de vós”. Como israelitas, eles estavam em um relacionamento de aliança exterior com Deus, o que exigia que vivessem uma vida santa (cap. 1:16). Mas eles desconsideraram aquele compromisso da aliança e viveram “no tempo passado” de acordo com a profanidade que caracterizava “os gentios” – e isso desonrava a Deus (Rm 2:17-24). Assim, na religião dos judeus, eles tinham estado cerimonialmente “perto” de Deus, mas, infelizmente, estavam moralmente “longe” d’Ele (Ef 2:17; Mt 15:8).

Esses judeus procuravam conquistar o favor de seus vizinhos gentios pagãos, em cujas terras moravam, participando de seus costumes corruptos. Mas o chamado de Deus mudou tudo. Eles foram salvos pela graça de Deus e começaram a marchar num ritmo diferente. Os gentios entre os quais viviam não entendiam por que eles haviam se desviado tão repentina e completamente do estilo de vida corrupto que haviam seguido anteriormente. Não tendo conhecimento de Deus, nem dos desejos santos da nova natureza, seus velhos amigos deduziram que eles estavam agindo por algum motivo maligno e, consequentemente, “falaram mal” (TB) contra eles. Da mesma forma, todos os que se convertem a Cristo devem estar preparados para tratamento semelhante vindo de seus companheiros não salvos. Quando eles param com as coisas pecaminosas que outrora seguiram e começam a seguir a Cristo, há considerável repercussão do mundo; isso levará a críticas e ao falar mal do crente.

Aprendemos nos versículos 2-3 que cada Cristão tem duas partes em sua vida na Terra. São elas:

  • “O tempo passado” (v. 3).
  • “O tempo que resta” (v. 2).

Todo crente verdadeiramente convertido admitirá prontamente que a sua vida anterior à sua conversão não passava de vontade própria, prazer próprio e busca da vaidade, e que tudo isso é tempo perdido. Não podemos fazer nada sobre o tempo passado em nossa vida; são “águas passadas” que não podemos recuperar. Mas podemos fazer algo sobre o tempo que nos resta! Todo Cristão vivo está na linha divisória entre essas duas partes de sua vida, com uma escolha sobre o que vai fazer com a parte de sua vida que resta. Uma pergunta que podemos nos fazer é: “O que eu vou fazer com o tempo que me resta?” Em 2 Coríntios 5:15, o apóstolo Paulo diz que há somente duas maneiras nas quais os Cristãos podem viver sua vida. Ela pode ser vivida “para si” (para seus próprios interesses), ou pode ser vivida “para aqu’Ele” (para promover os interesses de Cristo). Ele também diz que o amor de Cristo nos constrange a entregar o tempo que nos resta aos Seus interesses, e assim causar um impacto neste mundo por Ele. Como ninguém sabe quanto tempo tem para viver, ninguém sabe quanto será o tempo que lhe resta. Assim sendo, precisamos orar a oração de Moisés: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios” (Sl 90:12).

O Julgamento dos Vivos e dos Mortos 

Vs. 5-6 – Pedro nos assegura que todos (judeus ou gentios) que seguem uma vida ímpia um dia “hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos” (At 10:42; Rm 14:12). O julgamento dos vivos e dos mortos são duas coisas distintas envolvendo todos os que são ímpios na raça humana. Esses dois julgamentos serão executados em dois momentos diferentes no futuro. O apóstolo Paulo indica que o julgamento dos vivos começa “na Sua Aparição” (2 Tm 4:1 – JND), quando “Se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Ts 1:7-8). Aí está incluído o juízo da sega [colheita] (Ap 14:14-16; Mt 13:37-42, 24:36-41), o juízo da vindima (Ap 14:17-20; Is 63:1-6), e o julgamento em sessão – antes de o reino milenar de Cristo ser estabelecido (Mt 25:31-46) e durante seu curso (Sl 101:8; Sf 3:5). Nesse mesmo versículo (2 Tm 4:1), Paulo também indica que o julgamento dos mortos ocorrerá em “Seu reino”, sem ser específico em relação a quando em Seu reino. O apóstolo João nos dá o tempo exato; é no final do reinado de 1.000 anos do reino de Cristo, no “grande trono branco” (Ap 20:11-15; Is 24:22).

Pedro segue explicando que a base de todo o julgamento é o testemunho que Deus deu aos homens; isso os torna responsáveis. Ele diz: “Para este fim também as boas novas foram pregadas aos mortos [àqueles que estão mortos – KJV], para que sejam julgados, quanto ao homem, segundo a carne, mas vivos, quanto a Deus, segundo o Espírito” (v. 6 – JND).

Alguns receberam mais luz (verdade) do que outros, e são, portanto, mais responsáveis, mas todos os homens tiveram alguma luz de Deus e, portanto, são “inescusáveis” (Rm 1:20).

O “evangelho” de que Pedro fala aqui não é o evangelho da graça de Deus que é pregado nesta era Cristã, que anuncia a obra consumada de Cristo na cruz e a salvação pela fé n’Ele (At 20:24). São as boas novas que foram proclamadas aos homens em eras passadas pelos servos do Senhor, como Noé (2 Pe 2:5). “Aqueles que estão mortos” (KJV) são os que viveram naqueles tempos. Eles estão mortos agora, mas não estavam mortos quando o evangelho lhes foi pregado (cap. 3:19-20). Um testemunho suficiente de Deus lhes foi dado, mas, infelizmente, eles o rejeitaram. Eles, portanto, estarão diante de Deus para receber sua justa punição naquele dia vindouro (Ap 20:11-15).

Sempre houve de alguma forma um testemunho do evangelho de Deus para o homem. Isso separou a raça humana em duas grandes classes: aqueles que o recusam e provam sua falta de fé vivendo “segundo os homens na carne” e aqueles que o creem e provam sua fé vivendo “segundo Deus em espírito”.

Coisas que Deveríamos Estar Fazendo no Tempo que nos Resta 

Vs. 7-11 – Pedro então fala do presente efeito que isso deveria ter sobre nós. O fato de que Cristo está “preparado para julgar” (v. 5), deixa claro que “já está próximo o fim de todas as coisas” (Veja Tiago 5:9). Se há algum atraso, é porque Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos venham ao arrependimento (2 Pe 3:9). Por esta razão, Ele tem prolongado o dia da graça. Assim como Deus prorrogou “ainda sete dias” em derramar o juízo no tempo de Noé (Gn 7:4), Ele está retendo o juízo hoje para dar aos homens a oportunidade de serem salvos nesta “hora undécima” (Mt 20:6).

Em vista do fato de que o fim de todas as coisas está próximo, Pedro prossegue com várias exortações breves que descrevem o que todo Cristão deveria estar fazendo com o tempo que lhe resta.

SER SÓBRIO (v. 7) 

Sobriedade nos é ordenada primeiro. Ele diz: “portanto sede sóbrios” (Veja o capítulo 1:13.) Isso não significa que devemos andar com um semblante triste, mas perceber que com as questões finais e eternas diante de nós, e apenas um pouco de tempo restando para vivermos para o Senhor, o tempo que nos é dado não deve ser desperdiçado nas frivolidades do mundo. Envolver-se em tais coisas quando estamos prestes a entrar na eternidade, é não ser sóbrio. Precisamos lembrar que tudo o que é material neste mundo será queimado um dia (2 Pe 3:7), e somente o que é feito por Cristo durará. Como brasas tiradas do fogo, nosso propósito na Terra é promover os interesses de Cristo.

VIGIAR (v. 7) 

Ele também diz: “vigiai em oração”. Como somos peregrinos passando pela terra de um inimigo, precisamos estar vigilantes e atentos o tempo todo. (Veja o capítulo 5:8.) Há muitos perigos no caminho e um inimigo sempre presente que tem propósito de nos fazer tropeçar. “Orações” são encorajadas porque nos trazem para a presença de Deus onde há segurança (Dt 33:12; Mt 26:41).

TER ARDENTE AMOR UNS PARA COM OS OUTROS (v. 8) 

Em contraste com a frieza do mundo, o círculo Cristão deve ser marcado pelo calor do amor genuíno uns pelos outros. Pedro diz: “Mas, sobretudo, tende ardente caridade [amor] uns para com os outros; porque a caridade [amor] cobrirá a multidão de pecados”. Ao dizer: “sobretudo, ele quis dizer que devemos dar prioridade a isto. Esta exortação mostra que todos os crentes têm a responsabilidade de contribuir para esta feliz condição, que deve prevalecer na companhia Cristã, amando-se uns aos outros fervorosamente. O amor cobre uma “multidão de pecados”. Isso não significa que devemos proteger o mal na assembleia e evitar agirmos com responsabilidade em casos de disciplina, mas que as falhas e fracassos dos Cristãos não devem ser amplamente alardeados. O amor não anuncia os pecados de companheiros crentes, e especialmente, não diante do mundo (Pv 10:12, 19:11; Tg 5:20); isto somente dará aos inimigos de Cristo a chance de “atirar uma pedra” no testemunho Cristão (Veja 2 Samuel 1:20).

SER HOSPITALEIRO (v. 9) 

Para promover o amor e a comunhão dentro da comunidade Cristã, deveríamos ter nosso lar aberto aos santos, quando surge oportunidade (Pv 9:4-5; 3 Jo 5-7). Assim, Pedro diz: “Sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações”. A hospitalidade é exemplificada em Abraão e Sara (Gn 18:1-7). Ele e sua esposa aproveitaram a oportunidade para praticar a “hospitalidade” e, no caso deles, “não o sabendo, hospedaram anjos!” (Hb 13:2) É realmente triste quando os santos de uma determinada localidade não conhecem a casa uns dos outros. “Murmurações” é fazer esse serviço reclamando (Lc 10:40).

MINISTRAR A PALAVRA (vs. 10-11) 

Pedro então aborda o assunto de ministrar a Palavra entre os santos. Esta é outra coisa importante que deveríamos estar fazendo com o tempo que nos resta na Terra. Ele diz: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força [habilidade – JND] que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (ARA). A expressão “cada um” indica que a cada Cristão foi dado um dom espiritual para exercer (Mt 25:15; 1 Co 12:7; Ef 4:7) e, portanto, todos temos algo a fazer para Deus em Seu reino (Mc 13:34). Não há zangões na colmeia de Deus! Os tipos de dons que Pedro está focando aqui são aqueles que têm a ver com ministrar a Palavra – seja na pregação, ou ensino, ou na exortação prática (Rm 12:6-8a).

Pedro distingue “dom” e “habilidade”. A habilidade tem a ver com os poderes naturais de intelecto e personalidade de uma pessoa que são formados nela desde o nascimento; ao passo que um dom, no sentido em que é usado na Escritura, é algo espiritual dado a uma pessoa quando ela crê no evangelho e recebe o Espírito Santo. Aprendemos de Mateus 25:15 que quando o Senhor dá a um crente um dom espiritual, esse dom combina com a capacidade natural da pessoa. O homem deu “talentos” aos seus servos (que correspondem a esses dons espirituais) “a cada um segundo a sua própria capacidade [particular habilidade – JND](ARA). Vemos a sabedoria de Deus nisso. O Senhor não dá a uma pessoa um dom espiritual e o chama para um trabalho específico sem que essa pessoa tenha alguma habilidade natural para isso. Sua habilidade natural complementará seu dom espiritual “como uma mão se encaixa em uma luva”. Por exemplo, para uma pessoa com uma personalidade extrovertida poderia ser dado receber o dom de um evangelista, porque esse dom requer que a pessoa seja capaz de alcançar as pessoas e falar-lhes livremente, o que seria difícil para uma pessoa naturalmente reservada. Ou, uma pessoa com poderes intelectuais naturalmente aguçados poderia receber o dom de ensinar, o que requer uma mente organizada.

Comentando Mateus 25:15, W. Kelly disse: “Há duas coisas no servo – ambas de importância: Ele lhes deu dons, mas foi de acordo com suas várias habilidades. O Senhor não chama alguém para um serviço especial, sem que tenha a habilidade para a responsabilidade que lhe foi confiada. O servo deve ter certas qualificações naturais e adquiridas, além do poder do Espírito de Deus… É claro que há certas qualidades no servo, independentemente do dom que o Senhor coloca nele. Seus poderes naturais são o vaso que contém o dom e onde o dom deve ser exercido”. Lectures on the Gospel of Matthew, pág. 472).

Nota: não há uma sugestão aqui, nem em qualquer outro lugar na Escritura, de uma pessoa que tenha um dom para ministrar a Palavra, sendo treinada e ordenada em um seminário antes de exercer seu dom. A Bíblia ensina que se uma pessoa tem certo dom, a posse dele em si é a garantia de Deus para usá-lo. Pedro ensina isso nos versículos 10-11. Ele diz: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu” (v. 10). Ele não diz: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu e seja treinado e ordenado por um seminário, e então ministre”. E novamente, ele diz: “se alguém administrar, administre segundo o poder [habilidade] que Deus dá” (v. 11). Ele não diz: “Deixe-o ir à escola obter um certificado, e depois deixe-o falar na assembleia”. O apóstolo Paulo confirma isso: “De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar haja dedicação ao ensino; Ou o que exorta, use esse dom em exortar” (Rm 12:6-8). Veja também 1 Coríntios 14:26. O que é requerido em ministrar a Palavra é falar “segundo os oráculos de Deus” – (ARA). Isto é ministrar com um senso consciente de que estamos falando em nome de Deus, como Seus porta-vozes e, portanto, isso deve ser feito com precisão e reverência para representá-Lo apropriadamente.

Uma ideia equivocada em relação a dons que é comum na Cristandade hoje em dia é a ideia de que a capacidade natural de uma pessoa é o seu dom espiritual. Pessoas com talentos naturais (nos esportes, ou música, etc.) são encorajadas a buscar essas coisas e a fazer delas sua carreira na vida, porque é seu dom, com que devem glorificar a Deus. Os chamados “cultos de adoração” são organizados para apresentar o desempenho desses talentos naturais. No entanto, isso tende a promover a glória humana e a busca do louvor aos homens, em vez de trazer glória e louvor a Deus. Muitas vezes, os chamados “cultos da igreja” são reduzidos a não muito mais que um show de talentos. Tal atividade faz da Igreja uma instituição mundana. Na Escritura, os dons espirituais são para promover as coisas espirituais que ajudam os santos na “santíssima fé” (Judas 20). J. N. Darby disse: “É inteiramente falso o princípio que dons naturais são uma razão para usá-los. Posso ter surpreendente força ou velocidade para correr; com uma eu derrubo um homem e com a outra eu ganho um prêmio. Música pode ser a coisa mais refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu creio ser da mais alta importância. Os Cristãos perderam sua influência moral admitindo a natureza e o mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse você não pode misturar carne e Espírito” (Letters, vol. 3, pág. 476).

Despenseiros 

Como “bons despenseiros da multiforme graça de Deus”, devemos usar para a glória do Senhor tudo o que Ele tem colocado em nossas mãos – tanto material como espiritualmente. Se alguma quantia de riqueza material chegou às nossas mãos, devemos usá-la com a percepção de que não podemos guardar essas coisas para sempre e, portanto, elas devem ser colocadas no altar de Deus (por assim dizer) e usadas para promover Seu reino. Ao fazer isso, estamos “entesourando” aquilo que pode ser levado para o próximo mundo no “futuro” (1 Tm 6:17-19). Da mesma forma, com as coisas espirituais; devemos “negociar” com a verdade que adquirimos ensinando-a aos outros e fazendo-os entendê-la (Lc 19:13). Assim, nós os ajudamos espiritualmente no caminho da fé. A administração Cristã, portanto, é dupla. Envolve:

  • Lidar com coisas materiais para o Senhor (Lc 16:9-12).
  • Lidar com as coisas espirituais para o Senhor (1 Co 4:1).

O ponto proeminente de Pedro nesta passagem (v. 10-11) é que a Igreja precisa desesperadamente do ministério da Palavra no sentido de ensino e exortação espiritual. Aqueles que têm um dom para ajudar os santos desta maneira devem ser exercitados sobre o uso do que resta de seu tempo neste importante serviço. Pedro acrescenta que o objetivo de todo esse ministério da Palavra é “para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo”. Isso resultará em “glória e poder” sendo dados a Ele “para todo o sempre [pelos séculos dos séculos – ARA], que é o estado eterno. Isso mostra que os dons espirituais não são para a glorificação de nós mesmos, mas para a glorificação de Cristo.

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