Origem: Livro: A Primeira e Segunda Epístolas de PEDRO

SOFRIMENTO PELO NOME DE CRISTO – Capítulo 4:12-19

Pedro passa a falar de outro aspecto de sofrimentos que os santos fiéis encontrarão – sofrimentos pelo nome de Cristo. Ele diz: “Amados, não estranheis a ardente provação que há no meio de vós, e que vem para vos pôr à prova, como se vos acontecesse coisa estranha, mas visto que sois participantes dos sofrimentos de Cristo, regozijai-vos, para que também na revelação da Sua glória exulteis cheios de júbilo. Se sois vituperados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois; porque o Espírito da glória, e de Deus repousa sobre vós” (TB). Pedro já falou de sofrimento por causa da justiça (cap. 3:14-16), mas isso do que fala agora é de um caráter superior de sofrimento, porque envolve confessar o nome de Cristo. J. N. Darby disse: “Aquilo [o sofrimento] que é pelo nome d’Ele é um tipo superior, do que pelo bem da justiça” (Collected Writings, vol. 28, pág. 186).

Assim, é possível sofrer por fazer o que é certo, sem relacionar-se publicamente o motivo a Cristo. Mas quando confessamos a Cristo e O trazemos para o cenário, como sendo a razão pela qual fazemos o que fazemos, então a perseguição aumenta. Podemos dizer a alguém que não queremos fazer algo porque não seria correto e, como resultado, sofremos certa medida de reprovação por isso. Mas quando dizemos que não queremos fazê-lo porque somos crentes no Senhor Jesus Cristo e não queremos desagradá-Lo, então a perseguição e a reprovação se intensificam. Este é o aspecto do sofrimento ao qual Pedro se refere nesta passagem.

V. 12 – Ao dizer a esses queridos crentes que não deveriam pensar que a prova de aflição que estavam experimentando era uma “coisa estranha”, mostra que sofrer pelo “nome de Cristo” é normal para o Cristianismo. Assim, “a ardente prova” da perseguição não deve ser considerada como uma surpresa. É bem simples; se o crente confessar a Cristo, que é rejeitado, ele também será rejeitado. Isso é algo que deve ser esperado porque o mundo pelo qual passamos é naturalmente oposto a Cristo, e qualquer testemunho de Cristo não pode ser tolerado (Jo 15:20). O mundo pode tolerar usuários de drogas, imoralidade, religião, mas não pode tolerar Cristãos que confessam a Cristo. Quanto mais fiel for o testemunho de Cristo, mais o crente sofrerá. Eles foram, portanto, instruídos a “regozijarem-se” porque sofrendo desta maneira, eles seriam “participantes” do tormento das “aflições de Cristo” (v. 13) – e isso é um privilégio (Mc 10:39; At 5:41; Fp 1:29).

Dois Aspectos do Gozo 

V. 13 – Para encorajá-los a confessarem a Cristo corajosamente, Pedro fala de dois aspectos do gozo que eles teriam. Eles teriam um gozo futuro por ocasião da “revelação da Sua glória” na Sua Aparição. Naquele tempo, Cristo virá com Seus santos celestiais (1 Ts 3:13; Jd 14) e sua recompensa por se identificarem com Ele no tempo de Sua rejeição será mostrada diante do mundo. Eles “se exultarão cheios de júbilo” (TB). Assim, cada pequena porção de sofrimento pelo nome de Cristo nos dias de hoje será compensada naquele dia.

Vs. 14 – Eles também teriam um gozo presente no meio de sua provação. Pedro acrescenta: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois”. Isto porque Cristo é “glorificado” por meio da nossa confissão d’Ele e há um gozo especial em confessar a Cristo, o qual é conhecido apenas por aqueles que o fazem. Paulo e Silas são um exemplo aqui. Quando eles estavam em Filipos, eles pregaram a Cristo e, consequentemente, foram espancados e lançados na prisão – ainda assim cantaram louvores a Deus na cadeia! (At 16:22-25)

Em tais situações, o “Espírito” de Deus repousa com aprovação “sobre” o crente e presta um testemunho poderoso para todos ao redor. Isso é algo que o próprio crente pode nem mesmo estar consciente. Compare com Êxodo 34:29 – “Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia”. Estêvão é o exemplo do Novo Testamento (At 6:15). J. N. Darby apropriadamente disse: “Nunca deixe de confessar a Cristo; isso fará com que seu rosto brilhe”. Esta passagem mostra que o Espírito de Deus não apenas habita nos crentes (Jo 14:17; At 2:4; 2 Tm 1:14; Tg 4:5), mas Ele também repousa sobre os crentes.

Não é aconselhável, mas esse tipo de sofrimento pode ser evitado ao não confessar a Cristo diante dos homens – mas nosso poder no testemunho e nosso gozo se perderão. Vemos disso que o fogo da perseguição não destrói a Igreja de Deus. De fato, quanto mais a Igreja é chamada a sofrer por Cristo, com mais força ela cresce espiritualmente! (2 Ts 1:3-4) Compare Êxodo 1:12. É triste dizer que é a contenda interna, não perseguição, que destrói o testemunho da Igreja.

Deus usa a pressão das provações para nos fazer crescer espiritualmente (Sl 4:1 – JND). Tem sido dito que os santos progridem espiritualmente em três provações principais:

  • Pobreza.
  • Perseguição.
  • Doença.

Vs. 15-16 – Pedro diz que, por outro lado, se sofrermos como um “malfeitor”, há motivo para nos envergonharmos; desonramos o nome de Cristo. Mas se sofrermos “como Cristãos” (isto é, por sermos Cristãos), não deveríamos nos envergonhar, pois é uma honra sofrer por Ele. Pode parecer estranho que Pedro falasse de um “intrometido” ao lado de um “homicida”, etc. Mas isso apenas mostra que um Cristão pode cometer qualquer pecado do catálogo, se sair da comunhão com o Senhor, porque ele ainda tem em si a natureza caída pecaminosa; não melhora por nascer de novo (Jo 3:6).

O Governo de Deus 

Vs. 17-19 – Para que ninguém pense levianamente sobre o filho de Deus praticando o mal, Pedro introduz novamente o assunto do governo de Deus, como um aviso para os Cristãos descuidados. Ele diz: “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” Deus certamente não quer ver seus filhos fazendo algo errado. Mas se formos obstinados ou descuidados em relação a nosso caminhar, Ele tem Seus caminhos em Seu governo para chamar nossa atenção – e isso às vezes pode ser doloroso. Como nosso Pai amoroso que Se preocupa com o nosso desenvolvimento moral e espiritual (Hb 12:5-11), Ele não passa por cima dessas coisas, mas trabalha por meio de Suas disciplinas e repreensões para nos ensinar a andar em santidade e em dependência d’Ele. (Sl 119:67, 71). Ele pode usar qualquer tipo de aflição e provação na disciplina de Seus filhos – até as injustas perseguições do mundo.

Pedro explica que o “julgamento” governamental de Deus sempre começa com aqueles que tiveram mais luz (Ez 9:6). O princípio é este: quanto maiores os privilégios que foram concedidos, maior a responsabilidade (Lc 12:47-48). Isso é verdade tanto em nível pessoal quanto em nível coletivo. A igreja professa (Cristandade), que é “a casa de Deus” hoje, definitivamente teve mais luz de Deus entre todas as pessoas na Terra. Portanto, é muito mais responsável do que o mundo pagão que não teve a mesma exposição ao evangelho.

Ele então levanta a questão sobre qual será “o fim” daqueles “que são desobedientes ao evangelho de Deus”. Ele diz: “E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador?” Seu ponto aqui é que, se Deus não poupa aqueles em Sua casa que estão declaradamente em um relacionamento com Ele, quando fazem algo errado, quanto menos poupará aqueles fora de Sua casa que não têm relacionamento com Ele? Ele não apenas os julga governamentalmente agora, mas também serão julgados eternamente num dia vindouro – um pensamento solene, de fato!

O aspecto da salvação de que Pedro fala aqui é aquele que é influenciado à medida que nos movemos em nosso caminho neste mundo, e isso resultará em nossa plena salvação no final da jornada quando o Senhor vier (cap. 1:5). As dificuldades a que ele se refere são os perigos e provações espirituais relacionados com a confissão de Cristo, e também, as correções que nosso Pai pode trazer sobre nós se e quando andamos em caminhos de injustiça. A nota de rodapé da Tradução do J. N. Darby declara: “Salvos aqui na Terra, como por meio das provações e juízos que assediam especialmente os Cristãos judeus”.

Vs. 19 – Pedro conclui o assunto oferecendo uma palavra de encorajamento a todos os que sofrem desse modo. Se eles forem encontrados sofrendo “segundo a vontade de Deus” – isto é, por sua confissão de Cristo – eles devem se encomendar à Deus. Nota: eles não são instruídos a apelar para as autoridades civis por proteção (como fizeram os reformadores quando eles foram perseguidos pelos católicos), mas “encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem”. Ele é um “fiel Criador” e é “o Salvador [Preservador – JND] de todos os homens, principalmente dos fiéis” (1 Tm 4:10). Podemos sempre nos voltar para Ele em nosso sofrimento e lá encontrar um consolo (Sl 91:1-2). É somente o poder de Deus que pode nos sustentar quando estamos sob essas provações (Sl 18:29).

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